MANOEL DE BARROS, O POETA DAS ÁGUAS
Em Compêndio para uso dos pássaros, Manoel de Barros não deixa dúvidas quanto a viver em permanente estado de poesia. Creio mesmo que, nos treze poemas que compõem o livro, encontra-se um programa de vida, onde o fazer literário é a chave para o voo sem limites.
Tudo começa num sussurro de versos com a Água-mãe.
Fruto formado, o menino desce ao fundo e retorna, ininterruptamente, carregando, no coração, imagens iluminadas de sol.
Nasce o dia do poeta.
Manoel acorda com o pássaro estelar e começa a escrever seu amor pela palavra, em agradecimento pelo carinho fartamente retribuído.
E se lhe falta matéria, como o Grivo de Guimarães Rosa sai em busca do "quem" de tudo, trnasformado, se necessário, em cigarra, pedra, bicho ou luar, porque pleno de poesia.
O crescimento é interior; e o musgo que cobre o corpo da natureza e de Manoel, unindo compêndio e sinfonia, será a seiva que lhes dará força para cumprir a longa trajetória.
Já se viu que Manoel de Barros é um Iniciado e, talvez por isso, defina a poesia como "os silêncios sem poro". E aqui a mesma voz o reaproxima do Rosa, pela boca de Massacongo, para quem certas coisas são "assuntos dos silêncios". Para ambos, de forma intensa e única, cada qual com sua beleza e vigor.
Em síntese, todos nós ouviremos nossos pássaros e, com os de Manoel de Barros, exerceremos o ato de criação.
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