quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Jorge Teillier, PARA FALAR COM OS MORTOS

Para falar com os mortos
há que escolher as palavras
que eles reconheçam facilmente
como suas mãos
reconheciam o pelo de seus cães na escuridão.
Palavras claras tranquilas
como a água da torrente domesticada na copa
ou as cadeiras arrumadas pela mãe
depois que os convidados se foram.
Palavras que a noite acolha
como os pântanos e os fogos-fátuos.

Para falar com os mortos
há que saber esperar:
todos são medrosos
como os primeiros passos de uma criança.
Mas se tiveres paciência
um dia nos responderão
com uma folha de álamo presa por um espelho
quebrado,
com uma chama de súbito reanimada na lareira,
com um regresso escuro de pássaros
defronte do olhar de uma moça
que aguarda imóvel no umbral.

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