Eu venho de uma estirpe de mulheres sozinhas
eficazes
desimpedidas
derrotadas antes de nascer
pela morte
sempre guardadas
como sementes que o vento arrasta
entregues ao sacrifício da vida
sem um futuro nem um presente
sem herdeiros que as resguardem
aprendidas em solidão
elas próprias se alimentando
fazendo de cada dia uma vitória estéril
mulheres que falam de muito longe
afogadas em seu desajeito e na bruma do desejo
mulheres sozinhas que arruinaram as suas mãos
no ofício duro que lhe entregaram as paredes brancas
e perderam os seus dias entre tosses e dores do peito
conhecendo tudo da pobreza
adminstrando os silêncios e o alimento diário entrando nas jornadas
com uma dor irremediável
estirpe sem grandes ambições
doces mulheres que amaram sem resposta
e foram uma atrás da outra
de mãos dadas
fundando a cadeia do desamparo
(Tradução: Thiago de Mello)
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