comoção
A noção do futuro vem com o tempo passado
Explico
Os jovens não têm conhecimento do futuro porque ainda não tiveram necessidade de ter esperança se fixam no presente como se não houvesse amanhã e quando acordam -- ou seja, amadurecem, por acúmulo de tempo --, é que percebem que a vida tem um único rumo, certo e verdadeiro
Poesia, música e pensamentos, muitos pensamentos ao vento, pensamentos em movimento...
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Francisco Matos Paoli, poeta portoriquenho
Porque sou o poeta,
de quem a palavra burla,
preparo o céu para este mundo vão.
E quando chocam os seres,
que impassível evasão, que pavio de chama
enterrada,
que decisão baldia
querer que todo poema se levante do ruído
e possa representar a ideia,
o fantasma infinito dos voos,
a eucaristia que se reconhece
pela maneira de partir o pão.
Sei que o vizinho faz uum esforço
grande
para ser homem,
sei que devo falar com harmonia,
apaziguar o leão que devora o crepúsculo.
De repente me eterneço,
me lanço na corrente nobre,
espanco os astros com a mão e digo:
melhor é o silêncio quando se está morto
e nem podemos melhorar o dia
comum
preso à nossa lágrima.
Ma tenho que lutar e lutar.
Lúcifer é a incomunicação,
o fácil soletrar que idiotiza,
o sedente que
por abundância de atmosfera
põe a perder o pranto,
essa tatuagem do esquecimento
que ainda fica no encarnado.
Quisera viver
sem ter de ser profeta,
estar aberto na água como a flor de lótus,
perder o rstro da noite,
não sustentar mais a pérola do absimo,
fugir para o cafezal florido
que louva em simplicidade.
Mas é impossível, Deus meu.
Se não enlouqueço agora,
O que será do sêmen da imagem?
Para que desejo o endurecido
símbolo dos grandes congelados da história?
Para que sou farsante
Que se desvie na memória fugidia,
Todo rodeado de margens,
Todo povoado de insbstância,
Todo clamante no deserto.
(Tradução: Thiago de Mello).
de quem a palavra burla,
preparo o céu para este mundo vão.
E quando chocam os seres,
que impassível evasão, que pavio de chama
enterrada,
que decisão baldia
querer que todo poema se levante do ruído
e possa representar a ideia,
o fantasma infinito dos voos,
a eucaristia que se reconhece
pela maneira de partir o pão.
Sei que o vizinho faz uum esforço
grande
para ser homem,
sei que devo falar com harmonia,
apaziguar o leão que devora o crepúsculo.
De repente me eterneço,
me lanço na corrente nobre,
espanco os astros com a mão e digo:
melhor é o silêncio quando se está morto
e nem podemos melhorar o dia
comum
preso à nossa lágrima.
Ma tenho que lutar e lutar.
Lúcifer é a incomunicação,
o fácil soletrar que idiotiza,
o sedente que
por abundância de atmosfera
põe a perder o pranto,
essa tatuagem do esquecimento
que ainda fica no encarnado.
Quisera viver
sem ter de ser profeta,
estar aberto na água como a flor de lótus,
perder o rstro da noite,
não sustentar mais a pérola do absimo,
fugir para o cafezal florido
que louva em simplicidade.
Mas é impossível, Deus meu.
Se não enlouqueço agora,
O que será do sêmen da imagem?
Para que desejo o endurecido
símbolo dos grandes congelados da história?
Para que sou farsante
Que se desvie na memória fugidia,
Todo rodeado de margens,
Todo povoado de insbstância,
Todo clamante no deserto.
(Tradução: Thiago de Mello).
Manuel Del Cabral, poeta dominicanense -- AR
Numa esquina está o ar
de joelhos...
Dois sabres analfabetos
o vigiam.
Eu sei porém que é do povo
minha voz bem levantada.
Dá fala aos mortos sem cruzes
minha guitarra.
Pedro se chamam os ossos
daquele que cruz não teve.
Mas agora a terra inteira
se chama Pedro.
Aqui está o ar em seu lugar
e está inteiro...
Aqui...
Madeira de carne alta,
terra solta,
minha guitarra.
(Tradução: Thiago de Mello).
de joelhos...
Dois sabres analfabetos
o vigiam.
Eu sei porém que é do povo
minha voz bem levantada.
Dá fala aos mortos sem cruzes
minha guitarra.
Pedro se chamam os ossos
daquele que cruz não teve.
Mas agora a terra inteira
se chama Pedro.
Aqui está o ar em seu lugar
e está inteiro...
Aqui...
Madeira de carne alta,
terra solta,
minha guitarra.
(Tradução: Thiago de Mello).
Juana de Ibarbourou, poeta uruguaia -- A NOITE
A fábula do dia
Termina na garganta da tarde
Detúnica roxa. Somente arde
A última palavra desmedida,
A do amor que não se acaba nunca,
Final mentira.
A noite, besta triste.
Chega insone e calada.
Nem um anjo a acompanha,
Nem a esperança sabe a sua medida.
Quando a luz retorna
E a aljôfar adoça as graminhas
Da aurora, sempre desesperada,
Se enforca no cipreste da manhã.
A noite, besta ávida.
E de sua morte se alça o novo dia
Fatigado de dores e enganos.
(Tradução: Thiago de Mello).
Termina na garganta da tarde
Detúnica roxa. Somente arde
A última palavra desmedida,
A do amor que não se acaba nunca,
Final mentira.
A noite, besta triste.
Chega insone e calada.
Nem um anjo a acompanha,
Nem a esperança sabe a sua medida.
Quando a luz retorna
E a aljôfar adoça as graminhas
Da aurora, sempre desesperada,
Se enforca no cipreste da manhã.
A noite, besta ávida.
E de sua morte se alça o novo dia
Fatigado de dores e enganos.
(Tradução: Thiago de Mello).
Fernando Pereda, poeta uruguaio --SUCESSOS REAIS
A José Bergamim
Essa hora que não sabemos
pode chegar a desoras,
e de uma aurora a outra aurora
chegar quando não sabemos.
Quando a alma já nem suspira
para saber se está ouvindo
notícias que vêm da cinza.
Cantar e ressuscitar?
Quem cantando assim esquecera
passos de sua caveira!
Não basta ressuscitar.
Não basta. Cuidado, amor:
porque essas cores finais
não parecem naturais.
E entre contigo, entre amor,
minutos inventaremos
se nem a hora sabemos.
Se cob erta ou descoberta
pode ela chegar mais cedo,
diz adeus com tua mão
o fogo que mais desperta,
como estar queimando alerta?
que de uma aurora a outra aurora
pode chegar a desoras.
(Tradução: Thiago de Mello).
Essa hora que não sabemos
pode chegar a desoras,
e de uma aurora a outra aurora
chegar quando não sabemos.
Quando a alma já nem suspira
para saber se está ouvindo
notícias que vêm da cinza.
Cantar e ressuscitar?
Quem cantando assim esquecera
passos de sua caveira!
Não basta ressuscitar.
Não basta. Cuidado, amor:
porque essas cores finais
não parecem naturais.
E entre contigo, entre amor,
minutos inventaremos
se nem a hora sabemos.
Se cob erta ou descoberta
pode ela chegar mais cedo,
diz adeus com tua mão
o fogo que mais desperta,
como estar queimando alerta?
que de uma aurora a outra aurora
pode chegar a desoras.
(Tradução: Thiago de Mello).
Mario Benedetti, poeta uruguaio -- CADA VEZ QUE ALGUÉM MORRE
Cada vez que alguém morre
digo alguém a quem amo
sinto que meu pai torna a morrer
será porque cada dor recente
traz a marca de uma dor antiga
por exemplo este dia em que árvore alguma
está de verde e não ouço os latidos
da memória constelada
e um só cachorro uiva por via das dúvidas
torna a meter-me n aquele outro
interminável em que meu pai
se foi mudando lentamente
de bom velho em coisa pouca
de coisa pouca em queixa imóvel
de queixa imóvel em resto inútil.
(Tradução: Thiago de Mello).
digo alguém a quem amo
sinto que meu pai torna a morrer
será porque cada dor recente
traz a marca de uma dor antiga
por exemplo este dia em que árvore alguma
está de verde e não ouço os latidos
da memória constelada
e um só cachorro uiva por via das dúvidas
torna a meter-me n aquele outro
interminável em que meu pai
se foi mudando lentamente
de bom velho em coisa pouca
de coisa pouca em queixa imóvel
de queixa imóvel em resto inútil.
(Tradução: Thiago de Mello).
Jorge Arbeleche, poeta uruguaio -- FESTA
porque venho de um lugar
onde parece que sempre vai chover
e a água se resolve em pedra e bruma
porque volto
para onde meus vivos vivem
onde meus mortos jazem sob ciprestes
de opaca raiz escura e sobem
azuis e ondulantes debaixo do céu
de esmalte de um céu distante
para cingir as cinturas
como adolescentes alvoroçando o ar
como uma Santa Rita com seu laço de amor,
enamorados
no meio exato da luz alegre
porque volto a meus lares
onde o mundo é festa
quando o azeite de ouro dos dias
se cozinha o alho da vida
o mundo é festa
quando a montanha ama se ama com a nuvem
sob o branco sorriso dos deuses
quando os rios copulam
com a lava escondida das rochas
quando a árvore avermelhada do outono estende
para o verão os brotos germinais
que balançarão a brisa excitada
pelo salto suspenso do gamo
o vertical aroma do jasmim
e a perfurante pecunha do bisonte.
O mundo é festa.
(Tradução: Thiago de Mello).
onde parece que sempre vai chover
e a água se resolve em pedra e bruma
porque volto
para onde meus vivos vivem
onde meus mortos jazem sob ciprestes
de opaca raiz escura e sobem
azuis e ondulantes debaixo do céu
de esmalte de um céu distante
para cingir as cinturas
como adolescentes alvoroçando o ar
como uma Santa Rita com seu laço de amor,
enamorados
no meio exato da luz alegre
porque volto a meus lares
onde o mundo é festa
quando o azeite de ouro dos dias
se cozinha o alho da vida
o mundo é festa
quando a montanha ama se ama com a nuvem
sob o branco sorriso dos deuses
quando os rios copulam
com a lava escondida das rochas
quando a árvore avermelhada do outono estende
para o verão os brotos germinais
que balançarão a brisa excitada
pelo salto suspenso do gamo
o vertical aroma do jasmim
e a perfurante pecunha do bisonte.
O mundo é festa.
(Tradução: Thiago de Mello).
Ida Gramcko, poeta venezuelana -- IMENSO ESPAÇO ABERTO,
Intimidade,
Mão a nuvem que se entrega ao vento,
e vento a pele que se entrega ao mar,
e mar, areias de um fugaz deserto,
porque de pronto é outro e longe lá,
bosque, furor, enamorado corpo,
O sexo longíssimo, amizade.
De pronto, pronto! Que portento!
De pronto o mar, o mar, o mar, o mar!
Fuga de tudo para o próprio porto
e encontrá-lo de novo sem idade
(Tradução: Thiago de Mello).
Mão a nuvem que se entrega ao vento,
e vento a pele que se entrega ao mar,
e mar, areias de um fugaz deserto,
porque de pronto é outro e longe lá,
bosque, furor, enamorado corpo,
O sexo longíssimo, amizade.
De pronto, pronto! Que portento!
De pronto o mar, o mar, o mar, o mar!
Fuga de tudo para o próprio porto
e encontrá-lo de novo sem idade
(Tradução: Thiago de Mello).
Rafael Cadenas, poeta venezuelano -- UMA ILHA
Venho de um reino estranho
venho de uma ilha iluminada,
venhos dos olhos de uma mulher.
Descendo pelo dia, pesadamente.
Música perdida me acompanha.
Uma pupila
carregadora de frutos
abandonados
se adentra
no que vê.
Minha fortaleza,
minha última linha,
minha fronteira com o vazio
hoje caiu.
(Tradução: Thiago de Mello).
venho de uma ilha iluminada,
venhos dos olhos de uma mulher.
Descendo pelo dia, pesadamente.
Música perdida me acompanha.
Uma pupila
carregadora de frutos
abandonados
se adentra
no que vê.
Minha fortaleza,
minha última linha,
minha fronteira com o vazio
hoje caiu.
(Tradução: Thiago de Mello).
Eugenio Montejo, poeta venezuelano -- AS ÁRVORES
Falam pouco as árvores, se sabe.
Levam a vida inteira meditando
e movendo os seus ramos. Basta vê-las no autono,
quando se juntam nos parques
só conversam as mais velhas,
as que repartem as nuvens e os pássaros,
mas a voz delas se perde entre as folhas
e muito pouco nos chega, quase nada.
Como é difícil encher um livro
com pensamentos de árvores.
Tudo nelas é vago, fragmentário.
hoje, por exemplo, ao ouvir o grito
de um tordo negro, já a caminho de casa,
grito final de quem não aguarda outro verão,
compreendi que em sua voz faltava uma árvore,
uma de tantas,
mas não sei o que fazer com esse grito,
nem sei como anotá-lo.
(Tradução: Thiago de Mello)
Levam a vida inteira meditando
e movendo os seus ramos. Basta vê-las no autono,
quando se juntam nos parques
só conversam as mais velhas,
as que repartem as nuvens e os pássaros,
mas a voz delas se perde entre as folhas
e muito pouco nos chega, quase nada.
Como é difícil encher um livro
com pensamentos de árvores.
Tudo nelas é vago, fragmentário.
hoje, por exemplo, ao ouvir o grito
de um tordo negro, já a caminho de casa,
grito final de quem não aguarda outro verão,
compreendi que em sua voz faltava uma árvore,
uma de tantas,
mas não sei o que fazer com esse grito,
nem sei como anotá-lo.
(Tradução: Thiago de Mello)
Luis Alberto Crespo, poeta venezuelano -- TRÊS
A folha seca
pelo que disseste
O vento sem cessar
por que nos encontramos
A velhice
por querer ser tu e eu
O sudário
por desejar nos ver na sombra
O pó
por ter que viver
O abandono
por aspirar o eterno
pelo que disseste
O vento sem cessar
por que nos encontramos
A velhice
por querer ser tu e eu
O sudário
por desejar nos ver na sombra
O pó
por ter que viver
O abandono
por aspirar o eterno
María Antonieta Flores, poeta venezuelana -- MORADA ANTIGA
Eu venho de uma estirpe de mulheres sozinhas
eficazes
desimpedidas
derrotadas antes de nascer
pela morte
sempre guardadas
como sementes que o vento arrasta
entregues ao sacrifício da vida
sem um futuro nem um presente
sem herdeiros que as resguardem
aprendidas em solidão
elas próprias se alimentando
fazendo de cada dia uma vitória estéril
mulheres que falam de muito longe
afogadas em seu desajeito e na bruma do desejo
mulheres sozinhas que arruinaram as suas mãos
no ofício duro que lhe entregaram as paredes brancas
e perderam os seus dias entre tosses e dores do peito
conhecendo tudo da pobreza
adminstrando os silêncios e o alimento diário entrando nas jornadas
com uma dor irremediável
estirpe sem grandes ambições
doces mulheres que amaram sem resposta
e foram uma atrás da outra
de mãos dadas
fundando a cadeia do desamparo
(Tradução: Thiago de Mello)
eficazes
desimpedidas
derrotadas antes de nascer
pela morte
sempre guardadas
como sementes que o vento arrasta
entregues ao sacrifício da vida
sem um futuro nem um presente
sem herdeiros que as resguardem
aprendidas em solidão
elas próprias se alimentando
fazendo de cada dia uma vitória estéril
mulheres que falam de muito longe
afogadas em seu desajeito e na bruma do desejo
mulheres sozinhas que arruinaram as suas mãos
no ofício duro que lhe entregaram as paredes brancas
e perderam os seus dias entre tosses e dores do peito
conhecendo tudo da pobreza
adminstrando os silêncios e o alimento diário entrando nas jornadas
com uma dor irremediável
estirpe sem grandes ambições
doces mulheres que amaram sem resposta
e foram uma atrás da outra
de mãos dadas
fundando a cadeia do desamparo
(Tradução: Thiago de Mello)
365 dias com poesia, 27 de fevereiro de 2013 -- porreta
porreta
Ao Papa Bento XVI
quase três bilhões de cidadãos acreditam
numa vontade
enquanto isso
bispos
sacrificam uma verdade
(em parte)
em partes desiguais
alimentam a matilha que se veste se ergue e reza não sabendo bem para quem
(também não sei)
sem acreditar
naquela ideia inicial que deu origem à própria igreja
instigam um
paradoxo porreta
que ninguém consegue explicar
Ao Papa Bento XVI
quase três bilhões de cidadãos acreditam
numa vontade
enquanto isso
bispos
sacrificam uma verdade
(em parte)
em partes desiguais
alimentam a matilha que se veste se ergue e reza não sabendo bem para quem
(também não sei)
sem acreditar
naquela ideia inicial que deu origem à própria igreja
instigam um
paradoxo porreta
que ninguém consegue explicar
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
365 dias com poesia, 26 de fevereiro de 2013 -- CUSPE
CUSPE
nunca mais truques
surtos de surras
uvas amassadas
por pés maltratados pela vida
nunca mais muques
sustos de chuva
culpas amassadas
por seios maltratados pela vida
nunca mais nunca mais
cuspo em palavras
soltas amassadas
todas todos maltratados pela vida
nunca mais truques
surtos de surras
uvas amassadas
por pés maltratados pela vida
nunca mais muques
sustos de chuva
culpas amassadas
por seios maltratados pela vida
nunca mais nunca mais
cuspo em palavras
soltas amassadas
todas todos maltratados pela vida
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Amado Nervo, EN PAZ
Muy cerca de mi ocaso, yo te bendigo, Vida,
Porque nunca me diste ni esperanza fallida
Ni trabajos injustos, ni pena inmerecida.
Porque veo al final de mi rudo camino
Que yo fui al arquitecto de mi propio destino:
Que si extraje las mieles o la hiel de las cosas
Fue porque en ellas puse heil o mieles sabrosas;
cuando planté rosales, coseché siempre rosas
Cierto, a mis lozanías va a seguir el invierno,
Pero tú no me dijiste que mayo fuese eterno.
Hallé sin duda largas las noches de mis penas.
mas no me prometiste solo noches buenas
Y en cambio tuve algunas santamente serenas...
Amé, fui amado, el sol acarició mi faz.
Vida, nada me debes! Vida, estamos en paz!
EM PAZ
Perto de meu ocaso, te bendigo, Vida,
Porque nunca me deste nem desesperança
nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.
Porque vejo ao final de meu caminho rude
Que fui arquiteto de meu próprio destino
Se consegui extrair o mel das coisas
foi porque colhi rosas
do mel de rosas que plantei.
Certo, de que vem o inverno
pois contigo aprendi que não há maio eterno.
Tive, sem dúvida, largas noites duras,
Você nunca me prometeu noites amenas
Porém tive algumas anjas, serenas.
Amei, fui amado, o sol acariciou-me a face.
Vida, nada me deves! Vida, estamos em paz!
Porque nunca me diste ni esperanza fallida
Ni trabajos injustos, ni pena inmerecida.
Porque veo al final de mi rudo camino
Que yo fui al arquitecto de mi propio destino:
Que si extraje las mieles o la hiel de las cosas
Fue porque en ellas puse heil o mieles sabrosas;
cuando planté rosales, coseché siempre rosas
Cierto, a mis lozanías va a seguir el invierno,
Pero tú no me dijiste que mayo fuese eterno.
Hallé sin duda largas las noches de mis penas.
mas no me prometiste solo noches buenas
Y en cambio tuve algunas santamente serenas...
Amé, fui amado, el sol acarició mi faz.
Vida, nada me debes! Vida, estamos en paz!
EM PAZ
Perto de meu ocaso, te bendigo, Vida,
Porque nunca me deste nem desesperança
nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.
Porque vejo ao final de meu caminho rude
Que fui arquiteto de meu próprio destino
Se consegui extrair o mel das coisas
foi porque colhi rosas
do mel de rosas que plantei.
Certo, de que vem o inverno
pois contigo aprendi que não há maio eterno.
Tive, sem dúvida, largas noites duras,
Você nunca me prometeu noites amenas
Porém tive algumas anjas, serenas.
Amei, fui amado, o sol acariciou-me a face.
Vida, nada me deves! Vida, estamos em paz!
sábado, 23 de fevereiro de 2013
Verissimo -- Bilhar
Da série "Poesia numa hora dessas?!"
"E essa agora?
Se o que explodiu sobre a Rússia mostrou alguma coisa foi que o m eteoro não tem hora."
O mais assustador do meteoro que cruzpou o céu da Sibéria e explodiu no ar como várias bombas atômicas é que ele chegou sem ser anunciado. Com todas as atenções voltadas para um asteroide, o que passou de raspão, o meteoro da Sibéria entrou pela porta dos fundos sem ser detectado. A desculpa é que era pequeno demais para chamar a atenção e por isso os alarmes não funcionaram. Nossa ilusão, até agora, era que qualquer detrito espacial que se aproximasse de nós seria identificado e rotulado, e sua trajetória calculada até o último milímetro com grande antecedência, o que nos daria tempo para preparar o espírito -- ou usar nossos cartões de crédito até o limite -- no caso de a colisão com a Terra ser inevitável. Agora sabemos que qualquer coisa menor do que meio campo de futebol pode chegar de surpresa e explodir sobre nossas cabeças. Só nos faltava essa.
Imagino que tenha gente pensando em como evitar a catástrofe, no caso de um asteroide giigante vir em nossa direção. O cinema já previu algumas soluções, como a de mandar um foguete com ogiva nuclear desintegrar o bólido antes que ele nos atinja. O problema é o asteroide grande se desintegrar em va´rios asteroides pequenos, como o meteoro que assustou a Sibéria, o que não seria vantagem. Outra dúvida é como nós nos comportaríamos se nenhum plano de defesa se mostrasse viável e nosso destino fosse, fatalmente, o dos dinossauros, que desapareceram depois que o choque de um asteroide mudou o clima da Terra. Como a perspectiva de uma morte coletiva, que não distinguisse classes, ricos e pobres, virtuosos e pecadores, afetaria as relações humanas, nos nossos últimos dias de existência? Não tenho nenhuma vontade de descobrir. Se bem que a situação até daria uma boa crônica.
Corpos celestes se chocando no espaço lembram o que disse o Einstein sobre a aparente desorganização do Universo. Ele negou que fosse tudo aleatório e não seguisse nenhum plano. Deus, afirmou Einstein numa frase que ficou famosa, não joga dados com o Universo. Tinha razão. Não joga dados, joga bilhar.
(O Globo, de 21/02/2013)
"E essa agora?
Se o que explodiu sobre a Rússia mostrou alguma coisa foi que o m eteoro não tem hora."
O mais assustador do meteoro que cruzpou o céu da Sibéria e explodiu no ar como várias bombas atômicas é que ele chegou sem ser anunciado. Com todas as atenções voltadas para um asteroide, o que passou de raspão, o meteoro da Sibéria entrou pela porta dos fundos sem ser detectado. A desculpa é que era pequeno demais para chamar a atenção e por isso os alarmes não funcionaram. Nossa ilusão, até agora, era que qualquer detrito espacial que se aproximasse de nós seria identificado e rotulado, e sua trajetória calculada até o último milímetro com grande antecedência, o que nos daria tempo para preparar o espírito -- ou usar nossos cartões de crédito até o limite -- no caso de a colisão com a Terra ser inevitável. Agora sabemos que qualquer coisa menor do que meio campo de futebol pode chegar de surpresa e explodir sobre nossas cabeças. Só nos faltava essa.
Imagino que tenha gente pensando em como evitar a catástrofe, no caso de um asteroide giigante vir em nossa direção. O cinema já previu algumas soluções, como a de mandar um foguete com ogiva nuclear desintegrar o bólido antes que ele nos atinja. O problema é o asteroide grande se desintegrar em va´rios asteroides pequenos, como o meteoro que assustou a Sibéria, o que não seria vantagem. Outra dúvida é como nós nos comportaríamos se nenhum plano de defesa se mostrasse viável e nosso destino fosse, fatalmente, o dos dinossauros, que desapareceram depois que o choque de um asteroide mudou o clima da Terra. Como a perspectiva de uma morte coletiva, que não distinguisse classes, ricos e pobres, virtuosos e pecadores, afetaria as relações humanas, nos nossos últimos dias de existência? Não tenho nenhuma vontade de descobrir. Se bem que a situação até daria uma boa crônica.
Corpos celestes se chocando no espaço lembram o que disse o Einstein sobre a aparente desorganização do Universo. Ele negou que fosse tudo aleatório e não seguisse nenhum plano. Deus, afirmou Einstein numa frase que ficou famosa, não joga dados com o Universo. Tinha razão. Não joga dados, joga bilhar.
(O Globo, de 21/02/2013)
Zuenir Ventura -- O que diria Jesus?
A revista Visão, de Portugal, fez uma enquete junto a personalidades da cultura e da política portuguesas para especular sobre o que Jesus diria se aqui voltasse. Com bom humor cristão, o romancista António Lobo Antunes desqualificou o trabalho: "Como voltar se de cá Ele nunca saiu?". Mas digamos que Ele tenha dado uma saidinha e que viria não ainda para julgar os vivos e os mortos, mas numa visita rápida para ver como estão as coisas.Não se trata de um exercício de adivinhação, e sim de hipóteses com base nos textos bíblicos, o que nos permite entrar no jogo também fazendo nossas simulações. Por exemplo, Cristo com certeza ficaria feliz de constatar que, em tempos de Twitter, nenhum líder tem tantos seguidores quanto Ele: de 2 a 3 bilhões. Por outro lado, em termos de qualidade, não ia ficar nada satisfeito com o que veria à direita e à esquerda, fora e dentro da igreja. A primeira decepção seria constatar que a sua pregação de paz e amor foi substiuída pela violência urbana e pelas guerras praticadas em nome do Pai.
E o que Ele diria da crise atual -- econômica, financeira e moral -- e da má distribuição da riqueza, contra a qual tanto pregou? Certamente se indignaria ao saber que o número de pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia nos 49 países mais pobres do mundo duplicou nos últimos 30 anos, chegando a 307 milhões. E que, enquanto isso, as dez mais ricas têm mais dinheiro do que Suécia, Finlândia e cada um de outros 150 países. A concentração pode ter sido consequência de Sua parábola: "É mais fácil um camelo passar pelo furo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.". Vai ver que, diante da anunciada dificuldade de entrar lá em cima, os ricos tenham preferido permanecer aqui no Reino da terra, que é para eles um paraíso.
O maior desgosto do nosso Salvador, porém, seria descobrir o risco de descer conclamando inocentemente -- "Deixai vir a mim as criancinhas" -- e ser mal interpretado, tendo em vista a onda de escândalos de pedofilia que atinge o clero. Imagina se a Sua chegada coincidisse com a divulgação do dossiê de 300 páginas elaborado a pedido do Papa por três cardeais e que é uma espécie de radiografia do Vaticano -- uma antologia de escabrosos casos de corrupção, promiscuidade, desvio de dinheiro, escândalos sexuais, rede de prostituição homossexual. Chocado, bento XVI teria desabafado afirmando que o seu sucessor deverá ser bastante "forte, santo e jovem para enfrentar o que o espera". Tomara que Jesus interfira na escolha, em vez de , desiludido, repetir a velha piada: "Pare o mundo quwe quero descer".
(O Globo, de 23/02/2013)
E o que Ele diria da crise atual -- econômica, financeira e moral -- e da má distribuição da riqueza, contra a qual tanto pregou? Certamente se indignaria ao saber que o número de pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia nos 49 países mais pobres do mundo duplicou nos últimos 30 anos, chegando a 307 milhões. E que, enquanto isso, as dez mais ricas têm mais dinheiro do que Suécia, Finlândia e cada um de outros 150 países. A concentração pode ter sido consequência de Sua parábola: "É mais fácil um camelo passar pelo furo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.". Vai ver que, diante da anunciada dificuldade de entrar lá em cima, os ricos tenham preferido permanecer aqui no Reino da terra, que é para eles um paraíso.
O maior desgosto do nosso Salvador, porém, seria descobrir o risco de descer conclamando inocentemente -- "Deixai vir a mim as criancinhas" -- e ser mal interpretado, tendo em vista a onda de escândalos de pedofilia que atinge o clero. Imagina se a Sua chegada coincidisse com a divulgação do dossiê de 300 páginas elaborado a pedido do Papa por três cardeais e que é uma espécie de radiografia do Vaticano -- uma antologia de escabrosos casos de corrupção, promiscuidade, desvio de dinheiro, escândalos sexuais, rede de prostituição homossexual. Chocado, bento XVI teria desabafado afirmando que o seu sucessor deverá ser bastante "forte, santo e jovem para enfrentar o que o espera". Tomara que Jesus interfira na escolha, em vez de , desiludido, repetir a velha piada: "Pare o mundo quwe quero descer".
(O Globo, de 23/02/2013)
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
365 dias com poesia, 23 de fevereiro de 2013 -- The monks
The monks
alegria das labaredas
o progresso
é o sorriso do leão
brilho que cega
olhos sem paixão
inibe a história
insiste em fazer sombra
institui tanto tontas presenças mongas
monges rezando para um deus preocupado
com o estado das coisas num estado de coisas
que até Deus duvida
alegria das labaredas
o progresso
é o sorriso do leão
brilho que cega
olhos sem paixão
inibe a história
insiste em fazer sombra
institui tanto tontas presenças mongas
monges rezando para um deus preocupado
com o estado das coisas num estado de coisas
que até Deus duvida
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
Juan Gris, opinión sobre las posibilidades de la pintura
Todas las construcciones del mundo natural, sea orgánico o inorgánico, son arquietecturas. Es la estructura molecular de un cuerpo lo que le da su individualidad a la vez que lo diferencia de los demás. Los fenómenos de cristalización nos ofrecen bellos ejemplos de arquitectura natural, pues un mismo cuerpo se cristaliza siempre en el mismo volumen y con la misma forma. El oxígeno y el hidrógeno, en presencia el uno del otro, se combinan em ciertas proporciones para crear un número deternminado de moléculas nuevas que depende de las cantidades de los elementos que hayan entrado en la mezcla, ni más ni menos. Se ha realizado la síntesis del agua, en calidad y en cantidad. Esto es una arquitectura química, una auténtica arquitectura, porque el resultado de esta combinación tiene una unidad, una homogeneidad y unas proporciones que la constituyen. Tiene una nueva individualidad. Pero si mezclamos agua con vino, por ejemplo, sólo obtenemos una construcción. El resultado no tiene propiedades químicas nuevas ni tiene unidad, homogeneidad o individualidad. No es, en definitiva, una síntesis... No se puede desmontar una arquitectura y que sus piezas conserven una autonomía o una vida aislada. Un fragmento de arquitectura no es más que un trozo extraño y truncado cuya existencia sólo se justifica en le sitio preciso donde le corresponde estar. Por consiguinte, la construcción es una mera imitación de la arquitectura. La técnica de la pintura es la arquitectura coloreada y lisa y no la construcción. Es la relación entre los colores y las formas que los contienen.
Se puede afirmar ahora que si la estética es el conjunto de relaciones entre la pintura y el mundo exterior, correspondencias que conducen al tema, la técnica es el conjunto de las relaciones entre las formas y los colores que contienen, y entre las propias formas coloreadas. esto es la composición y conduce al cuadro...
Cada forma en un cuadro ha de responder a tres funciones: al elemento que representa, al color que contiene y a las otras formas que, con ella, componen la totalidad del cuadro. En otras palabras: Ha de responder a una estética, ha de tener un valor absoluto dentro del sistema de relaciones arquitectónicas y un valor relativo en la arquitectura particular del cuadro.
Se puede afirmar ahora que si la estética es el conjunto de relaciones entre la pintura y el mundo exterior, correspondencias que conducen al tema, la técnica es el conjunto de las relaciones entre las formas y los colores que contienen, y entre las propias formas coloreadas. esto es la composición y conduce al cuadro...
Cada forma en un cuadro ha de responder a tres funciones: al elemento que representa, al color que contiene y a las otras formas que, con ella, componen la totalidad del cuadro. En otras palabras: Ha de responder a una estética, ha de tener un valor absoluto dentro del sistema de relaciones arquitectónicas y un valor relativo en la arquitectura particular del cuadro.
365 dias com poesia, 22 de fevereiro de 2013 -- confete
confete
Fé
É escolha
Escolher crer
No perfume
Da flor
(amor)
Que não se vê
E como toda escolha
Só favorece quem a escolhe
E desculpem
Não desfavorece o que não crê
Porque esse não sente o cheiro
E portanto
Não sente o sabor do que está perdendo
Mas pode amar com outro nome
E acreditar em outro cheiro
Porque todos acabam sentindo o mesmo medo de viver
Com ou sem fé
Fé
É escolha
Escolher crer
No perfume
Da flor
(amor)
Que não se vê
E como toda escolha
Só favorece quem a escolhe
E desculpem
Não desfavorece o que não crê
Porque esse não sente o cheiro
E portanto
Não sente o sabor do que está perdendo
Mas pode amar com outro nome
E acreditar em outro cheiro
Porque todos acabam sentindo o mesmo medo de viver
Com ou sem fé
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Seamus Heaney, O PRIMEIRO VOO
Era mais sonambulismo que espasmo
e contudo era um tempo de tempos
também em espasmo --
os laços e os nós que nos traspassavam
romperam-se
ao longo das fibras do grão.
Quando cheguei perto de calhaus e bagas,
do cheiro de alho silvestre, reaprendendo
a acústica da geada
e o sentido do canto do pássaro,
minha sombra sobre o prado
não era mais que um desdobro,
meu lugar vazio uma escusa
para mudanças no campo, velhas reprises
de dívidas e traições.
Um por um vieram à árvore
com uma pedra em cada bolso
usando o pio para atrair-me
e eu colidi e cascateei
entre folhas quando se foram,
meu ponto de repouso perturbado.
Eu estava atolado em compromisso
até que se puseram a me proclamar
um comedor dos campos de batalha
e assim dominei novas escalas do ar
para observar fora de alcance
suas fogueiras em morros, seus comícios
e seus jejuns, os recrutas da Escócia
como sempre, e o pessoal de arte
desviando os cantos rítmicos
para aparar a investida dos ventos
que eu acolheria e galgaria
como todo o meu poder de resistência.
e contudo era um tempo de tempos
também em espasmo --
os laços e os nós que nos traspassavam
romperam-se
ao longo das fibras do grão.
Quando cheguei perto de calhaus e bagas,
do cheiro de alho silvestre, reaprendendo
a acústica da geada
e o sentido do canto do pássaro,
minha sombra sobre o prado
não era mais que um desdobro,
meu lugar vazio uma escusa
para mudanças no campo, velhas reprises
de dívidas e traições.
Um por um vieram à árvore
com uma pedra em cada bolso
usando o pio para atrair-me
e eu colidi e cascateei
entre folhas quando se foram,
meu ponto de repouso perturbado.
Eu estava atolado em compromisso
até que se puseram a me proclamar
um comedor dos campos de batalha
e assim dominei novas escalas do ar
para observar fora de alcance
suas fogueiras em morros, seus comícios
e seus jejuns, os recrutas da Escócia
como sempre, e o pessoal de arte
desviando os cantos rítmicos
para aparar a investida dos ventos
que eu acolheria e galgaria
como todo o meu poder de resistência.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
365 dias com poesia, 25 de fevereiro de 2013 -- ex-pinhos
Ex-pinhos
dar a outra face é perdoar
mas não
perdoar o outro
e sim perdoar
a vontade de vingança que sentimos
(que mentimos não sentir)
perdoar é dar a outra face a nós mesmos
esquecer o verbo vingar
(esquecendo de mastigar espinhos
teremos hálito de pinhos)
dar a outra face é perdoar
mas não
perdoar o outro
e sim perdoar
a vontade de vingança que sentimos
(que mentimos não sentir)
perdoar é dar a outra face a nós mesmos
esquecer o verbo vingar
(esquecendo de mastigar espinhos
teremos hálito de pinhos)
365 dias com poesia, 24 de fevereiro de 2013 -- linho
linho
tigre de dentes de sabre
vontade de arder
nas rimas
nas tintas
tinto é a cor do seu sangue,
criatividade
aspereza de camisa de linho
acessa em ouro
azul
(que inventei para você e para mim)
crio a dor e sinto
finjo a cor e pimba
acertei no amor
e sou feliz
tigre de dentes de sabre
vontade de arder
nas rimas
nas tintas
tinto é a cor do seu sangue,
criatividade
aspereza de camisa de linho
acessa em ouro
azul
(que inventei para você e para mim)
crio a dor e sinto
finjo a cor e pimba
acertei no amor
e sou feliz
365 dias com poesia, 21 de fevereiro de 2013 -- euforia
euforia
se ainda houvessem mestres
poderia ser um discípulo
gostaria de aprender menos sozinho
sonhar o sonho possível acompanhado
de mãos dadas com a coragem de tentar
ouvir histórias
por outros vividas
vívidas sensações compartilhadas
mas isso hoje é utopia
o mundo está em luto de euforia isolada
se ainda houvessem mestres
poderia ser um discípulo
gostaria de aprender menos sozinho
sonhar o sonho possível acompanhado
de mãos dadas com a coragem de tentar
ouvir histórias
por outros vividas
vívidas sensações compartilhadas
mas isso hoje é utopia
o mundo está em luto de euforia isolada
365 dias com poesia, 20 de fevereiro de 2013 -- toscos
toscos
A Antonio Saura
fúria
que sobra roja,
louco desbravar
de olhares vazios
insígnias do nada,
(de nada por avisar)
somos poucos enfrentando o silêncio
somos toscos homens toscos quando esquecemos os olhos vermelhos que sofremos
A Antonio Saura
fúria
que sobra roja,
louco desbravar
de olhares vazios
insígnias do nada,
(de nada por avisar)
somos poucos enfrentando o silêncio
somos toscos homens toscos quando esquecemos os olhos vermelhos que sofremos
365 dias com poesia, 19 de fevereiro de 2013 -- Maestro
Maestro
A Tom Jobim
Se tivéssemos seus olhos
Maestro
Seríamos o puro
Som
Do silêncio
Que reage acossado pelo vento
Produzindo uma verde melancolia
Seríamos melhores
Porque de madeira nobre
E curvaríamos a desilusão
Da solidão
Com flores
Que cantaríamos azuis
Seu tom não nos ofenderia
Ao contrário
Seria
O dia
Entre os dias
Seria fria a sensação
De olhares cinzas
Em nossas vidas
Tão atingidas
Seu tom
Seria a gargalhada do bar
Com poetas e instrumentistas
Que não mentiriam
Apenas
Plantariam
Sons
Sim
Simples
Sons
Ai de mim!
A Tom Jobim
Se tivéssemos seus olhos
Maestro
Seríamos o puro
Som
Do silêncio
Que reage acossado pelo vento
Produzindo uma verde melancolia
Seríamos melhores
Porque de madeira nobre
E curvaríamos a desilusão
Da solidão
Com flores
Que cantaríamos azuis
Seu tom não nos ofenderia
Ao contrário
Seria
O dia
Entre os dias
Seria fria a sensação
De olhares cinzas
Em nossas vidas
Tão atingidas
Seu tom
Seria a gargalhada do bar
Com poetas e instrumentistas
Que não mentiriam
Apenas
Plantariam
Sons
Sim
Simples
Sons
Ai de mim!
365 dias com poesia, 18 de fevereiro de 2013 -- Em bom português
Em bom português
O importante não é acertar
É tentar
Desmascarar os próprios truques
Não se entregar à facilidade do conhecido
Testar
(bater com a testa, seja em bom português ou num mau frânces)
Contestar
Discutir tudo
Dificultar atributos
Possivelmente já descobertos
Não se deixar cair em tentação
Se livrar da fácil reza por sorte
Procurar trabalhar mais onde houver incompreensão
Inventar pressão onde houver facilidade
O importante não é acertar
É tentar
Desmascarar os próprios truques
Não se entregar à facilidade do conhecido
Testar
(bater com a testa, seja em bom português ou num mau frânces)
Contestar
Discutir tudo
Dificultar atributos
Possivelmente já descobertos
Não se deixar cair em tentação
Se livrar da fácil reza por sorte
Procurar trabalhar mais onde houver incompreensão
Inventar pressão onde houver facilidade
365 dias com poesia, 17 de fevereiro de 2013 -- é terno
é terno
A Antonio López
o atraso
é necessário
na pintura
realista
o momento não é instantâneo
(não é imagem estática do passado)
o momento
é eternizado num abraço
apertado
infância sorrida
captada para todo o sempre
amém
A Antonio López
o atraso
é necessário
na pintura
realista
o momento não é instantâneo
(não é imagem estática do passado)
o momento
é eternizado num abraço
apertado
infância sorrida
captada para todo o sempre
amém
365 dias com poesia, 16 de fevereiro de 2013 -- DEUS É ARTE!
DEUS É ARTE!
Deus é o futuro
porque
seguimos acreditando que devemos seguir algo que nos deu sombra
Arte é o futuro
porque
uma obra de arte é uma obra que nos ensina a caminhar para frente
com a sombra de Deus que é a experiência: sofrimentos futuros desejos passados
Se tudo isso tiver algum significado
Deus é arte!
Deus é o futuro
porque
seguimos acreditando que devemos seguir algo que nos deu sombra
Arte é o futuro
porque
uma obra de arte é uma obra que nos ensina a caminhar para frente
com a sombra de Deus que é a experiência: sofrimentos futuros desejos passados
Se tudo isso tiver algum significado
Deus é arte!
365 dias com poesia, 15 de fevereiro de 2013 -- caminho
caminho
A Drummond
cato pedras
das
que pelo caminho
me deixou o poeta
pesam
e como pesam
as despedidas
envelheço
do peso
de carregar
notícias
que rimam
mas não são belas
são o que são
completas
de vida
de pedras
no caminho que sigo sem sabedoria
A Drummond
cato pedras
das
que pelo caminho
me deixou o poeta
pesam
e como pesam
as despedidas
envelheço
do peso
de carregar
notícias
que rimam
mas não são belas
são o que são
completas
de vida
de pedras
no caminho que sigo sem sabedoria
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
365 dias com poesia, 14 de fevereiro de 2013 -- estopa
estopa
A
Manolo Valdés
num
pedaço de estopa
(saca
de juta rota)
gravei
seus olhos em azul
colei
um
sorriso
cinza,
rindo
em
olhos recortados
também
pintei
um
passado
(...também
pintei
um
passado...)
que
não existiu
Seamus Heaney, PUNIÇÃO
Posso sentir o tirão
da corda em sua
nuca, o vento
no peito mudo.
Ele infla os mamilos
em contas de âmbar,
freme o frágil cordame
das costelas.
Posso ver o corpo
submerso no pântano,
a pedra pesando,
os talos e ramos flutuantes.
Sob os quais no princípio
ela era arvoreta escorchada
que é extraída
osso-roble, cérebro-pinha:
a cabeça calva
um retolho de milho negro,
a venda uma suja bandagem,
o laço um anel
para guardar
as lembranças do amor.
Pequena adúltera,
antes de a terem punido
tinha cabelo loiro-linho,
era subnutrida, e o rosto
negro-breu era belo.
Pobre bode expiatório,
eu quase a amo
mas teria atirado, sei,
as pedras do silêncio.
Sou o artificioso voyeur
das combas escurecidas
e expostas do cérebro,
das cilhas dos músculos
e dos ossos numerados:
eu que fiquei calado
quando as irmãs traiçoeiras,
coifadas com breu,
choraram junto ao parapeito,
que fui conivente
no civilizado ultraje,
todavia entendi a exata
e tribal, íntima vingança.
PUNISHMENT
Ican feel the tug
of the halter at the nape
of her neck, the wind
on her naked front.
It blows her nipples
to amber beads,
it shakes the frail rigging
of her ribs.
I can see her drowned
body in the bog,
the weighing stone,
the floating rods and boughs.
Under which at first
she was a barked sapling
that is dug up
oak-bone, brain-firkin:
her shaved head
like a stubble of black corn,
her blindfold a soiled bandage,
her noose a ring
tostore
the memories of love.
Little adulteress,
before they punished you
you were flaxen-haired,
undernourished, and your
tar-black face was beautiful.
My poor scapegoat,
I am love you
but would have cast, I know,
the stones of silence.
I am the artful voyeur
of your brain´s exposed
and darkened combs,
your muscles´wedding
and all your numbered bones:
I who have stood dumb
when your betraying sisters,
cauled in tar,
wept by the railings,
who would connive
in civilized outrage
yet understand the exact
and tribal, intimate revenge.
da corda em sua
nuca, o vento
no peito mudo.
Ele infla os mamilos
em contas de âmbar,
freme o frágil cordame
das costelas.
Posso ver o corpo
submerso no pântano,
a pedra pesando,
os talos e ramos flutuantes.
Sob os quais no princípio
ela era arvoreta escorchada
que é extraída
osso-roble, cérebro-pinha:
a cabeça calva
um retolho de milho negro,
a venda uma suja bandagem,
o laço um anel
para guardar
as lembranças do amor.
Pequena adúltera,
antes de a terem punido
tinha cabelo loiro-linho,
era subnutrida, e o rosto
negro-breu era belo.
Pobre bode expiatório,
eu quase a amo
mas teria atirado, sei,
as pedras do silêncio.
Sou o artificioso voyeur
das combas escurecidas
e expostas do cérebro,
das cilhas dos músculos
e dos ossos numerados:
eu que fiquei calado
quando as irmãs traiçoeiras,
coifadas com breu,
choraram junto ao parapeito,
que fui conivente
no civilizado ultraje,
todavia entendi a exata
e tribal, íntima vingança.
PUNISHMENT
Ican feel the tug
of the halter at the nape
of her neck, the wind
on her naked front.
It blows her nipples
to amber beads,
it shakes the frail rigging
of her ribs.
I can see her drowned
body in the bog,
the weighing stone,
the floating rods and boughs.
Under which at first
she was a barked sapling
that is dug up
oak-bone, brain-firkin:
her shaved head
like a stubble of black corn,
her blindfold a soiled bandage,
her noose a ring
tostore
the memories of love.
Little adulteress,
before they punished you
you were flaxen-haired,
undernourished, and your
tar-black face was beautiful.
My poor scapegoat,
I am love you
but would have cast, I know,
the stones of silence.
I am the artful voyeur
of your brain´s exposed
and darkened combs,
your muscles´wedding
and all your numbered bones:
I who have stood dumb
when your betraying sisters,
cauled in tar,
wept by the railings,
who would connive
in civilized outrage
yet understand the exact
and tribal, intimate revenge.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
365 dias com poesia, 13 de fevereiro de 2013 -- Caqui
Caqui
nenhuma
regra
dramatical
me
prende
aqui
quem estabelece
que
cara fazer como dizer o que dizer sou eu
aqui
um caqui toma a cor que eu quiser
(amarelo-ouro,
pronto!)
Um
quadro é um círculo
Um
livro uma imagem
Aqui
quem estabelece os artigos é meu gosto
Um
tanto quanto torto mas meu
Por
isso escolhi dizer o que direi:
Fazer
para ser é melhor do que fazer para ter
Seamus Heaney, RELÍQUIA DE MEMÓRIA
As águas do lago
Petrificam madeira:
Velhos remos e mourões
Ao longo dos anos
Endurecem veios,
Confinam aparições
De seiva e sazão.
Os baixios marulham
Em toma lá, dá cá:
Abluções constantes,
Tal amor que se afoga
Estupefaz estaca
Em estalagmite.
Lava morta,
A estrela que esfria,
Carvão e diamante,
Ou súbito nascer
De meteoro que ardia
São simples demais,
Sem a sedução
Que relíquia armazena --
Um fragmento de pedra
Na estante da escola,
Cor de mingau de aveia.
RELIC OF MEMORY
The lough waters
Can petrify wood:
Old oars and posts
Over the years
Harden their grain,
Incarcerate ghosts
Of sap and season.
The shallows lap
And give and take:
Constant ablutions,
Such drowing love
Sturn a stake
To stalagmite.
Dead lava,
The cooling star,
Coal and diamond
Or sudden birth
Of burnt meteor
Are too simple,
Without the lure
That relic stored --
A piece of stone
On the shelf at school,
Oatmeal coloured.
Petrificam madeira:
Velhos remos e mourões
Ao longo dos anos
Endurecem veios,
Confinam aparições
De seiva e sazão.
Os baixios marulham
Em toma lá, dá cá:
Abluções constantes,
Tal amor que se afoga
Estupefaz estaca
Em estalagmite.
Lava morta,
A estrela que esfria,
Carvão e diamante,
Ou súbito nascer
De meteoro que ardia
São simples demais,
Sem a sedução
Que relíquia armazena --
Um fragmento de pedra
Na estante da escola,
Cor de mingau de aveia.
RELIC OF MEMORY
The lough waters
Can petrify wood:
Old oars and posts
Over the years
Harden their grain,
Incarcerate ghosts
Of sap and season.
The shallows lap
And give and take:
Constant ablutions,
Such drowing love
Sturn a stake
To stalagmite.
Dead lava,
The cooling star,
Coal and diamond
Or sudden birth
Of burnt meteor
Are too simple,
Without the lure
That relic stored --
A piece of stone
On the shelf at school,
Oatmeal coloured.
Seamus Heaney, INTERRUPÇÃO LETIVA
Passei toda a manhã na enfermaria do colégio
Contando os sinos a repicarem o fim das aulas.
Às duas os vizinhos me levaram para casa.
Na varanda encontrei meu pai chorano --
Ele sempre enfrentara enterros sem se perturbar --
E Big Jim Evans dizendo que era um revés terrível.
O bebê rulava, ria e embalava o carrinho
Quando entrei, e fiquei desconcertado com os velhos
Que se levantavam para ne apertar a mão
E falar que tinham "pena do meu penar".
Cochichava-se aos estranhos que eu era o mais velho,
Em colégio interno, e minha mãe segurava minha mão
Na dela, a tossir suspiros de cólera sem lágrimas.
Às dez horas a ambulância chegou
Com o corpo, lavado e enfaixado pelos enfermeiros.
Na manhã seguinte subi ao quarto. Frua-neves
E velas serenavam a cabeceira; via-o
Pela primeira vez em seis semanas. Mais pálido
Agora, com um calombo na têmpora esquerda,
Jazia no caixão de quatro pés como no berço.
Sem sinal que se visse, o pára-choque o pegou sem engano.
Caixão de quatro pés, um pé para cada ano.
MID-TERM BREAK
I sat morning in the college sick bay
Counting bells knelling classes to a close
At two o´clock neighbours drove me home.
Inthe porch I met my father crying --
He had always taken funerals in his stride --
And Big Jim Evans saying it was a hard blow.
The baby cooed an laughed and rocked the pram
When I came in, and I was embarrassed
By old men standing up to shake my hand
And tell me they were "sorry for my trouble".
Whispers informed strangers I was the eldest,
Away at school, as my mother held my habd
In hers and coughed out angry tearless sighs.
At ten o´clock the ambulance arrived
With the corpse, stanched and bandaged by the nurses.
Next morning I went up into the room. Snowdrops
And candles soothed the bedside; I saw him
For the first time in six weeks. Paler now,
Wearing a poppy bruise on his left temple,
He lay in the four foot box as in his cot.
No gaudy sacars, the bumper knocked him clear.
A four foot box, a foot for every year.
Contando os sinos a repicarem o fim das aulas.
Às duas os vizinhos me levaram para casa.
Na varanda encontrei meu pai chorano --
Ele sempre enfrentara enterros sem se perturbar --
E Big Jim Evans dizendo que era um revés terrível.
O bebê rulava, ria e embalava o carrinho
Quando entrei, e fiquei desconcertado com os velhos
Que se levantavam para ne apertar a mão
E falar que tinham "pena do meu penar".
Cochichava-se aos estranhos que eu era o mais velho,
Em colégio interno, e minha mãe segurava minha mão
Na dela, a tossir suspiros de cólera sem lágrimas.
Às dez horas a ambulância chegou
Com o corpo, lavado e enfaixado pelos enfermeiros.
Na manhã seguinte subi ao quarto. Frua-neves
E velas serenavam a cabeceira; via-o
Pela primeira vez em seis semanas. Mais pálido
Agora, com um calombo na têmpora esquerda,
Jazia no caixão de quatro pés como no berço.
Sem sinal que se visse, o pára-choque o pegou sem engano.
Caixão de quatro pés, um pé para cada ano.
MID-TERM BREAK
I sat morning in the college sick bay
Counting bells knelling classes to a close
At two o´clock neighbours drove me home.
Inthe porch I met my father crying --
He had always taken funerals in his stride --
And Big Jim Evans saying it was a hard blow.
The baby cooed an laughed and rocked the pram
When I came in, and I was embarrassed
By old men standing up to shake my hand
And tell me they were "sorry for my trouble".
Whispers informed strangers I was the eldest,
Away at school, as my mother held my habd
In hers and coughed out angry tearless sighs.
At ten o´clock the ambulance arrived
With the corpse, stanched and bandaged by the nurses.
Next morning I went up into the room. Snowdrops
And candles soothed the bedside; I saw him
For the first time in six weeks. Paler now,
Wearing a poppy bruise on his left temple,
He lay in the four foot box as in his cot.
No gaudy sacars, the bumper knocked him clear.
A four foot box, a foot for every year.
Seamus Heaney, CAVAR
Entre o dedo e o dedão a cabeta
Parruda pousa; como arma paga.
Sob minha janela, um som raspante e claro
Quando a pá penetra a crosta do carvalho:
Meu pai, cavando. Olho para baixo.
Até seu dorso reteso entre os canteiros
Encurvar-se, brotarem vinta anos atrás
Dbrando-se em cadência nos batatais
Onde estava cavando.
Achanca aninhada no rebordo, o cabo
Alçado contra o joelho interno com firmeza.
Ele extirpava talos altos, fincava o fio luzidio
Para espalhar batatas novas que colhíamos
Adorando a fresca dureza nas mãos.
Por Deus, o velho sabia usar uma pá.
Tal qual o velho dele.
Meu avô cortou mais turfa num dia
Do que outro homem no pântano de Toner.
Uma vez leveileite numa garrafa
Mal rolhada com papel. Ele aprumou-se
Para bebê-lo, e em seguida pôs-se a
Talhar e fatiar com precisão, lançando
Torrões nos ombros, indo mais embaixo atrás
Da turfa boa. cavando.
O cheiro frio de barro de batata, o chape e o trape
De turfa empapada, os curtos cortes de um fio
Nas raízes vivas despertam em minha cabeça.
Mas pá não tenho para seguir homens como eles.
Entre o dedo e o dedão a caneta
Parruda pousa.
Vou cavar com ela.
DIGGING
Between my finger and my thumb
The squat pen rests; snug as a gun
Under my window, a clean rasping sound
When the sapde sinks into gravelly ground:
My father, digging. I lo digging.
Till his straining rump among the flowerbeds
Bends low, comes up twenty years away
Stoping in rhythm through potato drills
Where he was digging.
The coarse boot nestled on the lug, the shaft
Against the inside knee was levered firmly.
He rooted out tall tops, buried the brigth edge deep
To scatter new potatoes that we picked
Loving their cool hardness in our hands.
By God, the old man could handle a spade.
Just his old man.
My grandfather cut more turf in a day
Than any other man on Toner's bog.
Once I carried him milk in a bottle
Corked sloppily with paper. He straightened up
To drink it, then fell to right away
Nicking and slicing neathy, heaving sods
Over his shoulder, going down and down
For the good turf. Digging.
The cold smell of potato mould, the squelch and slap
Of soggy peat, the curt cuts of an edge
Through living roots awaken in my head.
But I've no spade to follw men like them.
Between my finger and my thumb
The squat pen rests.
I´ll dig with it.
Parruda pousa; como arma paga.
Sob minha janela, um som raspante e claro
Quando a pá penetra a crosta do carvalho:
Meu pai, cavando. Olho para baixo.
Até seu dorso reteso entre os canteiros
Encurvar-se, brotarem vinta anos atrás
Dbrando-se em cadência nos batatais
Onde estava cavando.
Achanca aninhada no rebordo, o cabo
Alçado contra o joelho interno com firmeza.
Ele extirpava talos altos, fincava o fio luzidio
Para espalhar batatas novas que colhíamos
Adorando a fresca dureza nas mãos.
Por Deus, o velho sabia usar uma pá.
Tal qual o velho dele.
Meu avô cortou mais turfa num dia
Do que outro homem no pântano de Toner.
Uma vez leveileite numa garrafa
Mal rolhada com papel. Ele aprumou-se
Para bebê-lo, e em seguida pôs-se a
Talhar e fatiar com precisão, lançando
Torrões nos ombros, indo mais embaixo atrás
Da turfa boa. cavando.
O cheiro frio de barro de batata, o chape e o trape
De turfa empapada, os curtos cortes de um fio
Nas raízes vivas despertam em minha cabeça.
Mas pá não tenho para seguir homens como eles.
Entre o dedo e o dedão a caneta
Parruda pousa.
Vou cavar com ela.
DIGGING
Between my finger and my thumb
The squat pen rests; snug as a gun
Under my window, a clean rasping sound
When the sapde sinks into gravelly ground:
My father, digging. I lo digging.
Till his straining rump among the flowerbeds
Bends low, comes up twenty years away
Stoping in rhythm through potato drills
Where he was digging.
The coarse boot nestled on the lug, the shaft
Against the inside knee was levered firmly.
He rooted out tall tops, buried the brigth edge deep
To scatter new potatoes that we picked
Loving their cool hardness in our hands.
By God, the old man could handle a spade.
Just his old man.
My grandfather cut more turf in a day
Than any other man on Toner's bog.
Once I carried him milk in a bottle
Corked sloppily with paper. He straightened up
To drink it, then fell to right away
Nicking and slicing neathy, heaving sods
Over his shoulder, going down and down
For the good turf. Digging.
The cold smell of potato mould, the squelch and slap
Of soggy peat, the curt cuts of an edge
Through living roots awaken in my head.
But I've no spade to follw men like them.
Between my finger and my thumb
The squat pen rests.
I´ll dig with it.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
365 dias com poesia, 12 de fevereiro de 2013 -- tintos e tintas
tintos e tintas
A Adriana Varejão
Mais uma cesta
Varejão!
(Sangue e porrada na madrugada)
Peças do barroco rojo, vermelho barro podre
Como somos
Individualistas
Egoístas ao extremo (o extremo norte acabou com suas certezas)
Somos sul fool cool , bobos de uma corte que não mais existe
Somos tristes Fogo frio Azul destino de meninos levados
Ao extremo de nossas forças que são barrocas
Porque poucas mas bem aproveitadas
Azeitadas em bacalhau, feijão e samba
Bambas onde mais é mais
Bambas com pincéis, tintos e tintas
A Adriana Varejão
Mais uma cesta
Varejão!
(Sangue e porrada na madrugada)
Peças do barroco rojo, vermelho barro podre
Como somos
Individualistas
Egoístas ao extremo (o extremo norte acabou com suas certezas)
Somos sul fool cool , bobos de uma corte que não mais existe
Somos tristes Fogo frio Azul destino de meninos levados
Ao extremo de nossas forças que são barrocas
Porque poucas mas bem aproveitadas
Azeitadas em bacalhau, feijão e samba
Bambas onde mais é mais
Bambas com pincéis, tintos e tintas
365 dias com poesia, 11 de fevereiro de 2013 -- carnaval
carnaval
enquanto os mascarados
mascaram a tristeza de alegria
rio nervoso de toda batucada
tento lembrar das letras dos novos sambas
enredos bastante parecidos entre si
mesmo ritmo corrido que já ouvi...
ninguém imagina:
minha cabeça está um carnaval só
enquanto os mascarados
mascaram a tristeza de alegria
rio nervoso de toda batucada
tento lembrar das letras dos novos sambas
enredos bastante parecidos entre si
mesmo ritmo corrido que já ouvi...
ninguém imagina:
minha cabeça está um carnaval só
domingo, 10 de fevereiro de 2013
Paul Klee, poema que deu origem ao quadro "Outrora Surgido do Cinzento da Noite"
Outrora surgido do cinzednto da noite
tornado depois pesado e caro
com a força do fogo,
cheio de Deus e vencido à noite.
Então, cercado de pavor, no azul do éter,
escapa-se por cima das neves geladas
ao encontro dos sábios astros
tornado depois pesado e caro
com a força do fogo,
cheio de Deus e vencido à noite.
Então, cercado de pavor, no azul do éter,
escapa-se por cima das neves geladas
ao encontro dos sábios astros
Roberto Pontual falando sobre Carlos Scliar
(...) Eu o chamaria mesmo de pintor do mundo mergulhado no tempo e no silêncio. Do mundo em pouso, ardentemente repousado, se entreguando ao olhar, sabendo-se foco de uma visão e de uma mais que exigente vontade. Tudo o que Scliar busca trazer para a pele e o coração de sua pintura é a vibração interior de cada um dos habitantes habitados do mundo. Vibração nascida do simples fato de alguém o estar verdadeiramente percebendo, saído enfim de dentro de si próprio - esforço e recompensa muito raros na vida de qualquer um de nós. A luz e a luminosidade, por exemplo, ao lado da colagem com velhos manuscritos e pápeis antigos de parede, fundando atmosferas interrogativas dos passos do tempo, compõem partículas das leis atuantes nos seus quadros. São essas leis que terminam por fazer de cada fruta, de cada bule, de cada lampião, de cada barco, de cada vela, de cada taça, de cada casa uma pura vibração cromática. Prazer da cor avivada e ensurdecida no espanto de tranquila metafísica (Morandi vem imanar-se a Matisse), com os seus contrastes de claro e escuro, suas transparências, seus desdobramentos como espelhos prismáticos, suas superposições entre a ambivalência e a fluidificação. No fluxo do tempo, o silêncio é dínamo, com suas formas, cores e gestos próprios.
365 dias com poesia, 10 de fevereiro de 2013 -- artefato
artefato
A Carlos Scliar
aquele que grita em silêncio
o segredo
preto (ouro)
frio (cabo)
aquele que inventa
a cor física da dor
em linhas de guerra
absurda(s)
muda(s) de esperança
sincera (s)
para comunicar
o simples
ato de amar
A Carlos Scliar
aquele que grita em silêncio
o segredo
preto (ouro)
frio (cabo)
aquele que inventa
a cor física da dor
em linhas de guerra
absurda(s)
muda(s) de esperança
sincera (s)
para comunicar
o simples
ato de amar
sábado, 9 de fevereiro de 2013
Poema de Anna Letycia sobre Carlos Scliar
"Ou tu és um monstro de força, ou bem me podias ensinar como construíste tua casa no meio da ventania"
é o amigo constante,
é a presença solidária,
é o pintor famoso,
o trabalhador incansável
que perturba aquele que ao seu lado
tenta acompanhar seu ritmo,
(o que já por diversas vezes aconteceu comigo).
é o operário-padrão,
é o artista criador de mundos imaginados,
embora vistos e revistos,
é o "poeta, recuperador da presença perdida",
é o cinéfilo exacerbado,
é o que não explode em rancor, ams em soluços,
porque "por mais enterrado que esteja,
um depósito de munições é alguma coisa sempre a
ir pelos ares".
é aquele que anda sempre em preparativos:
"Vivo assim amontoado, renovando, corrigindo,
experimentando, caindo e me aprumando.
Assim, não chegará jamais o dia da minha
inauguração."
é o que não teme enfrentar "denúncia de novo assalto
dos homens contra os homens".
é o guri,
é o Scliar.
é o amigo constante,
é a presença solidária,
é o pintor famoso,
o trabalhador incansável
que perturba aquele que ao seu lado
tenta acompanhar seu ritmo,
(o que já por diversas vezes aconteceu comigo).
é o operário-padrão,
é o artista criador de mundos imaginados,
embora vistos e revistos,
é o "poeta, recuperador da presença perdida",
é o cinéfilo exacerbado,
é o que não explode em rancor, ams em soluços,
porque "por mais enterrado que esteja,
um depósito de munições é alguma coisa sempre a
ir pelos ares".
é aquele que anda sempre em preparativos:
"Vivo assim amontoado, renovando, corrigindo,
experimentando, caindo e me aprumando.
Assim, não chegará jamais o dia da minha
inauguração."
é o que não teme enfrentar "denúncia de novo assalto
dos homens contra os homens".
é o guri,
é o Scliar.
Scliar, por Antônio Houaiss
"O substrato humano de Carlos Scliar -- se cerca de vinte e cinco anos de convívio episódico mas fraterno que permitem presumir o como de gérmen que se esconde sob a casca --, o substarto de Scliar parece ser a busca do impossível: a busca do simples. Dimples, esse algo que se sonhou estar no início e se complicou depois, perdendo-se; ou esse algo de captação quase inefável que deve de fato a um tempo a essência, existência, vivência, fluência, aparência do esforço de perceber, aprender, entender, compreender o interlocutor -- seja este uma criança, uma mulher, uma coxilha, uma trincheira, um boi, um bule, uma página, um céu, uma água. Tal simples, se atingido é gérmen de tudo, sobretudo da máxima significação sob a capa do máximo despojamento.
Vivendo os anos da atualidade desumanizante, em que se vem cada vez mais deixando de ser, para cada vez mais fazer; a fim de cada vez mais ter, com o risco de cada vez menos estar a negar enfim ser -- Scliar tem conseguido fazer, ter, estar, continuado a ser, e ser presença que revela a ausência buscada, o simples, mesmo que este seja a utopia.
Mas nele, creio, a busca se fez há muito o instável instante permanete da apreensão do simples; no convívio humano, no apoio aos artistas colegas seus aos quais não se impõe mas em que desperta solidário a ascese da indagação metódica daquilo que seja o seu dele ser, na tarefa de plantar raízes de sua mentação factitiva sobre a superfície proposta, no diálogo interior com as coisas e os seres, e nessa invonlutária mas poderosa influência na arte atual brasileira -- se mais não fosse (e o é) pela limpeza integral de sua cozinha.
Pois não se ignora que Scliar (a arte dele, sobretudo) é, de um lado, parte da paisagem simbólica de muitos nós, um ensinador de ver e sentir e perceber e apreender, e é, de outro lado, rejeitado polarmente por uns poucos, porque não captaria a totalidade fugidia.
Sou dos que, no essencial simples tão sofridamente revelado em cada obra de Scliar, vêem também a captação da totalidade não fugidia: e, por isso, convivo com sua arte em dupla operação afetiva: porque amo o miniverso de seus simples, em que, cada um, amo o universo.
E a lição, aliás, que leio na sua presença entre nós.
Amém.
Vivendo os anos da atualidade desumanizante, em que se vem cada vez mais deixando de ser, para cada vez mais fazer; a fim de cada vez mais ter, com o risco de cada vez menos estar a negar enfim ser -- Scliar tem conseguido fazer, ter, estar, continuado a ser, e ser presença que revela a ausência buscada, o simples, mesmo que este seja a utopia.
Mas nele, creio, a busca se fez há muito o instável instante permanete da apreensão do simples; no convívio humano, no apoio aos artistas colegas seus aos quais não se impõe mas em que desperta solidário a ascese da indagação metódica daquilo que seja o seu dele ser, na tarefa de plantar raízes de sua mentação factitiva sobre a superfície proposta, no diálogo interior com as coisas e os seres, e nessa invonlutária mas poderosa influência na arte atual brasileira -- se mais não fosse (e o é) pela limpeza integral de sua cozinha.
Pois não se ignora que Scliar (a arte dele, sobretudo) é, de um lado, parte da paisagem simbólica de muitos nós, um ensinador de ver e sentir e perceber e apreender, e é, de outro lado, rejeitado polarmente por uns poucos, porque não captaria a totalidade fugidia.
Sou dos que, no essencial simples tão sofridamente revelado em cada obra de Scliar, vêem também a captação da totalidade não fugidia: e, por isso, convivo com sua arte em dupla operação afetiva: porque amo o miniverso de seus simples, em que, cada um, amo o universo.
E a lição, aliás, que leio na sua presença entre nós.
Amém.
365 dias com poesia, 09 de fevereiro de 2013 -- Obras de arte
Obras de arte
Para onde iremos depois?
Iremos para o nada físico
O tudo se significarmos
Algo?
Essência de antepassados
Gravada na memória dos que lembrarem
Da nossa passagem
Obra de arte
Nos olhos de filhos, amigos
Que em poucos momentos
Ouvirão um pranto
Verão um canto
Suspirarão num canto
A falta que fazemos porque somos eles também
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
Antonio López, por Giovanni Testori
" ...Detrás de los cuadros, las esculturas y los bajorrelieves de López hay exactamente lo más opuesto a un objetivo, en la misma medida que a su lado se coloca algo que se halla exactamente en los antípodas de un fotograma. Toda su obra se nutre con una especie de secreta pulsación psíquica y, conjuntamente, de una milesimal capacidad de advertir los cambios, las crecidas, las devastaciones que el tiempo va imprimiendo en la existencia de los países, de los hombres y de las cosas (y los pertinentes peligros, además de las pertinentes e impalpables amenazas).
Mientras tanto, iconográficamente, no hay cuadro, relieve o dibujo de López que no haga referencia al reducidísimo círculo de su estudio, de su casa, de sus pasillos, de sus habitaciones, de sus familiares, de su pequeño huerto y de su minúsculo jardín. En suma, de todo aquello que ha visto, tocado, habitado, amado, abrazado, sobado, de lo que ha vivido y no lo que ha fotografiado.
Así, si lo principal y concreto del objetivo ( de la pintura que plagia los productos) es apresar y dar testemonio del instante, lo principal e lo particular de la poesía de López reside en la destrucción de ese instante y en el introducirse, momento a momento, milímetro a milímetro dentro de las grietas del tiempo, y por aquella sutilísima y tortuosa vía hecha de aproximaciones y de alejamientos, alcanzar una especie de "summa" de todo posible pasado y, conjuntamente, de una especie de presagio y anuncio de todo futuro. Aquel amor y aquella identificación de su pintura con las incrustaciones de líquenes, con el polvo, los mohos y las devastaciones salítricas de los muros, con su agrietarse, abrirse y caer lentamente a los pies de una tierra desolada, amor e identificación que se observan taambién técnicamente en sus primeras obras...".
Mientras tanto, iconográficamente, no hay cuadro, relieve o dibujo de López que no haga referencia al reducidísimo círculo de su estudio, de su casa, de sus pasillos, de sus habitaciones, de sus familiares, de su pequeño huerto y de su minúsculo jardín. En suma, de todo aquello que ha visto, tocado, habitado, amado, abrazado, sobado, de lo que ha vivido y no lo que ha fotografiado.
Así, si lo principal y concreto del objetivo ( de la pintura que plagia los productos) es apresar y dar testemonio del instante, lo principal e lo particular de la poesía de López reside en la destrucción de ese instante y en el introducirse, momento a momento, milímetro a milímetro dentro de las grietas del tiempo, y por aquella sutilísima y tortuosa vía hecha de aproximaciones y de alejamientos, alcanzar una especie de "summa" de todo posible pasado y, conjuntamente, de una especie de presagio y anuncio de todo futuro. Aquel amor y aquella identificación de su pintura con las incrustaciones de líquenes, con el polvo, los mohos y las devastaciones salítricas de los muros, con su agrietarse, abrirse y caer lentamente a los pies de una tierra desolada, amor e identificación que se observan taambién técnicamente en sus primeras obras...".
365 dias com poesia, 08 de fevereiro de 2013 -- tricot
tricot
Está cada vez mais difícil rimar
Descobrir novas palavras
Desvendar esconderijos dos sentimentos vividos
Está cada vez mais difícil sentir
Dói muito mais porque é uma volta
Uma revolta mais destemida
Dá medo sentir
Mais fácil mentir
Solidez
Esconder a lágrima
Debaixo do travesseiro
Ficar lendo dormindo comendo
Entristecendo
E cosendo esdrúxulas desculpas
Para a cristaleira, que não responde
Está cada vez mais difícil rimar
Descobrir novas palavras
Desvendar esconderijos dos sentimentos vividos
Está cada vez mais difícil sentir
Dói muito mais porque é uma volta
Uma revolta mais destemida
Dá medo sentir
Mais fácil mentir
Solidez
Esconder a lágrima
Debaixo do travesseiro
Ficar lendo dormindo comendo
Entristecendo
E cosendo esdrúxulas desculpas
Para a cristaleira, que não responde
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
Antonio López, opinion
"Cuando empieza a trabajar, el pintor europeo siente que ha heredado un fondo inmenso de representaciones, y se siente el último en llegar. Los temas no han variado mucho: la vida, la muerte, el amor. El mundo real es el mismo, porque si lo analizamos como idea, como proyecto, como representación plástica, independiente del motivo concreto, un animal desollado no deja de ser como una persona desollada, por lo que a la tradición de representaciones de animales desollados podemos añadir la de temas como el martirio de San Bartolomé. En el fondo, es una imagen muy cruel, terrible, dura, pero con un sentido plástico innegable: la presividade extrema de lo físico, como carne, como muerte"
365 dias com poesia, 07 de fevereiro de 2013 -- pingo
pingo
estive tentando desenhar algo abstrato que me emocionasse
como qualquer sensação do passado
ainda não sei pintar no papel o sentimento que chamam saudade
e que chamarei para mim: pingo fresco de eternidade
estive tentando desenhar algo abstrato que me emocionasse
como qualquer sensação do passado
ainda não sei pintar no papel o sentimento que chamam saudade
e que chamarei para mim: pingo fresco de eternidade
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
365 dias com poesia, 06 de fevereiro de 2013 -- paraquedista
paraquedista
entre notas
de um perfume de vida
espremi meu olhar
que nada tem de azul,
mesmo sentido da vida,
espremi para respirar
e consegui me manter vivo
delirando perigos
deslizando em precipícios,
que nada têm de românticos,
rimam aqui porque aqui é um poema
diferente da vida
sem riscos físicos
o que me possibilita abusar e pular
entre notas
de um perfume de vida
espremi meu olhar
que nada tem de azul,
mesmo sentido da vida,
espremi para respirar
e consegui me manter vivo
delirando perigos
deslizando em precipícios,
que nada têm de românticos,
rimam aqui porque aqui é um poema
diferente da vida
sem riscos físicos
o que me possibilita abusar e pular
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
365 dias com poesia, 05 de fevereiro de 2013 -- cantiga
cantiga
“Ele se achava tão grande que podia fazer qualquer coisa!”
Era o que achavam
mas
nosso personagem não achava, ele procurava o achado
colocava todos os dias os olhos e as mãos no machado e pensava:”Posso derrubar qualquer árvore...”, mas descansava desse pensamento tolo, respirava e revolvia o passado, transformando dor em lembranças, e, enquanto narrava, sorria cada descoberta de cor antiga...
“Ele se achava tão grande que podia fazer qualquer coisa!”
Era o que achavam
mas
nosso personagem não achava, ele procurava o achado
colocava todos os dias os olhos e as mãos no machado e pensava:”Posso derrubar qualquer árvore...”, mas descansava desse pensamento tolo, respirava e revolvia o passado, transformando dor em lembranças, e, enquanto narrava, sorria cada descoberta de cor antiga...
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
365 dias com poesia, 04 de fevereiro de 2013 -- cubano
cubano
A Anderson Silva
não me interessa ficar lendo velhos poemas
mesmo os meus já se foram de mim
gosto do gosto novo de acre
do gosto novo de arte que trago, largo um
último gole dum rum cubano
último golpe num fulano que só treina não luta
encaro um artista plástico de plástico
que é rijo e
se liga nos meus defeitos
esquivando ressentimento
por não ter coragem de golpear
A Anderson Silva
não me interessa ficar lendo velhos poemas
mesmo os meus já se foram de mim
gosto do gosto novo de acre
do gosto novo de arte que trago, largo um
último gole dum rum cubano
último golpe num fulano que só treina não luta
encaro um artista plástico de plástico
que é rijo e
se liga nos meus defeitos
esquivando ressentimento
por não ter coragem de golpear
domingo, 3 de fevereiro de 2013
365 dias com poesia, 03 de fevereiro de 2013 -- A correnteza
A correnteza
ainda há pouco estava brincando de aprender a falar andava na praia e meu pai duvidava de quantos cachorros-quentes eu iria comer não faz muito tempo aprendi a ceder um pedaço de bife para meu filho mais novo os mais velhos sofreram com um pai lutando pela vida sem saber muito bem qual direção tomar para descansar hoje na idade em que os cabelos brancos vão aparecendo estou sempre aprendendo que não posso parar a vida sempre nos empurra como a correnteza nos puxa para dentro do mar
ainda há pouco estava brincando de aprender a falar andava na praia e meu pai duvidava de quantos cachorros-quentes eu iria comer não faz muito tempo aprendi a ceder um pedaço de bife para meu filho mais novo os mais velhos sofreram com um pai lutando pela vida sem saber muito bem qual direção tomar para descansar hoje na idade em que os cabelos brancos vão aparecendo estou sempre aprendendo que não posso parar a vida sempre nos empurra como a correnteza nos puxa para dentro do mar
sábado, 2 de fevereiro de 2013
365 dias com poesia, 02 de fevereiro de 2013 -- mACHADO
mACHADO
A Lucio Muñoz
Só acha quem quer achar
(trabalho)
Um achado é um pedaço de
Dente de tigre da criatividade que grita
(enrola a língua e diga que me ama)
Voo de águia de peixe agulha de fio de malha cerzido
Achar um pedaço de ilusão
É só para quem procura
Curar a solidão de olhos sem paixão com mistério
A Lucio Muñoz
Só acha quem quer achar
(trabalho)
Um achado é um pedaço de
Dente de tigre da criatividade que grita
(enrola a língua e diga que me ama)
Voo de águia de peixe agulha de fio de malha cerzido
Achar um pedaço de ilusão
É só para quem procura
Curar a solidão de olhos sem paixão com mistério
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
365 dias com poesia, 01 de fevereiro de 2013 -- cosmo e damião
cosmo e damião
Aos compadres Naná e Pereira
na vida ajudar não é obrigatório na vida corrida que levamos vamos nos distanciando de tudo de todos e às vezes nem percebemos que chove que os sonhos morrem e que com eles morremos todos enquanto nos isolamos com desgosto poderíamos rir de nossas dificuldades e juntos nos ajudarmos com carinho de pessoas normais mas de vez em quando escolhemos fingir não sentir e não sentindo não sorrir e é aí onde começam os problemas todos os problemas que inventamos para correr e nos distanciarmos não dos outros mas de quem somos e aí de vez esquecemos o cosmo e o damião (que é a ilusão)
Aos compadres Naná e Pereira
na vida ajudar não é obrigatório na vida corrida que levamos vamos nos distanciando de tudo de todos e às vezes nem percebemos que chove que os sonhos morrem e que com eles morremos todos enquanto nos isolamos com desgosto poderíamos rir de nossas dificuldades e juntos nos ajudarmos com carinho de pessoas normais mas de vez em quando escolhemos fingir não sentir e não sentindo não sorrir e é aí onde começam os problemas todos os problemas que inventamos para correr e nos distanciarmos não dos outros mas de quem somos e aí de vez esquecemos o cosmo e o damião (que é a ilusão)
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