domingo, 1 de junho de 2014

Cesário Verde, VAIDOSA



 VAIDOSA


Dizem que tu és pura como um lírio
E mais fria e insensível que o granito,
E que eu que passo aí por favorito
Vivo louco de dor e de martírio.

Contam que tens um modo altivo e sério,
Que és muito desdenhosa e presumida,
E que o maior prazer de tua vida,
Seria acompanhar-me ao cemitério.


Chamam-te a bela imperatriz das fátuas,
A déspota, a fatal, o figurino,
E afirmam que és molde alabastrino,
E não tens coração, como as estátuas.

E narram o cruel martirológio
Dos que são teus, ó corpo sem defeito,
E julgam que é monótono o teu peito
Como o bater cadente dum relógio.

Porém eu sei que tu, que como um ópio
Me matas, me desvairas e adormeces,
És tão loura e dourada como as messes
E possuis muito amor...amor-próprio.

1874

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