A humanidade, também a despeito de sua tendência gregária e de sua necessidade imperiosa de subordinação e segurança, forja por sua vez, de tempos em tempos, a mensagem de um emancipador, que lhe permite sonhar com justiça e libertação. À tensão insolúvel dessa cena subjaz o caráter fortemente ambíguo das figuras antagônicas:: Cristo é o redentor idealista, exigente e cruel, só um pequeno número de eleitos é capaz de segui-lo, é orgulhoso e não compreende os humildes; o inquisidor é um impostor que consola os homens do tormento moral de ser independentes, compreende sua fraqueza e se sofrimento, pressente e alimenta sua secreta culpa e seu desejo insaciável de subserviência, proporciona-lhes a felicidade infantil de obedecer. É Cristo quem tortura os homens, é o Anticristo quem os ajuda a aceitar sua insuperável impotência. A cena, portanto, subsiste como abertura para a trágica pergunta que o romancista faz a si mesmo e dirige à humanidade.
O Grande Inquisidor abarca a significação profética do chefe e das massas dos totalitarismos do século XX. De maneira surpreendente e artisticamente bastante exitosa, Ivan é o personagem mas poderoso e convincente: é ele, o Anticristo, nova encarnação do espírito de destruição, que atrai e fascina o leitor. Poderia ser sua a célebre frase que Jean-Paul Sartre toma de Dostoiévski: "Se Deus não existe, tudo é permitido". O filósofo frânces adota essa afirmação como "ponto de partida do existencialismo".
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