"O pampa e eu
Nada a morte empresta,
nada, salvo a si mesma.
Aborrecida, sem pressa.
E não se aplaca. A beleza
sepultada, é que se adensa.
Nem rendas a morte estende
aos filhos de sua promessa.
Nivela mais do que empresta.
Cobra bem mais do que vende.
Devolve o rico ao indigente
pela morte, o capital
roubado por baixo, rente
e por cima, com o pedal
de subalternos clientes.
Devolve com o mesmo aval
ou apólices, sob o verde.
E ambos contraparentes,
unidos no mesmo forro
vegetal, fazem, inermes,
o que não fizeram, vivos,
na transação com os vermes
ou quites, por bem ou mal,
suprem cheques de raízes
na seiva do cafezal.
Ou são bornal de sementes
os mortos, juntos ao bico
de andorinhas no varal.
Com o pampa, abraçado, eu fico.
Vão cavalos pela noite,
noites vão sobre a garupa
e a barriga, como pombas
arrulhando esporas juntas.
Porém, com o pampa eu fico.
Na gula não habitual
dos arrozais com seu texto
irrigado de água, vingo.
Embora seja cristal
numa redoma de trigo
com a terra na morte,
eu fico. Nos alazões
que andam silvos,
sibilantes sobre o prado,
plúmbeo, vergado eu fico.
E quando eu e o tordilho
nos completarmos no trote
e a crina do ar se corte
tal o cordão, a um filho,
pelas bridas eu fico.
No coice da estrela d'alva,
ao amanhecer com as vinhas,
eu fico. A morte é sozinha,
por vezes, adolescente.
Mas o pampa sabe sempre,
com presteza o que ela sente.
E a sós ficarei com ela.
Nenhuma morte é maior
que a terra dentro de nós.".
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