domingo, 26 de junho de 2011

ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO, poeta

"UMA NOITE SÓ TUA

Carregas no teu bolso uma noite só tua.
Um poema? uma canção? o rascunho de um grito?
Supões (por que o supões?) que te mudaste em mito.
Que não é (se já foste) e que a alma é fria e nua.


como uma extensa praia, uma deserta rua.
Um poema? uma canção? o rascunho de um grito?
Carregas no teu bolso uma noite só tua.
Vais levando contigo um tátil infinito.


Supões (por que supões?) que não pertences mais
à terra, nem ao céu: o que quiseste, aflito,
é cinza só, e nuvem. Num silêncio cais


tão forte e tão absurdo, que teu corpo flutua.
Um poema? uma canção? o rascunho de um grito?
Carregas no teu bolso uma noite só sua.".

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