segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Aleksandr Kúshner, O ESTOJO DE DESENHO

Passados a idade madura, o horizonte
longínquo e tudo o que já aconteceu,
lembro-me de meu primeiro estojo de desenho
e de seu forro de flanela verde escura.
O tira-linhas em seu sulco
e os fabulosos gizes de cor.
Com a unha eu erguia a lingueta de ferro.
Pegava o gélido compasso,
abria-o e, como um acrobata de circo,
dava-lhe uma bela reviravolta
para que, demonstrando a sua precisão
ideal, ele voltasse, todo orgulhoso,
ao ponto de onde tinha partido.
Adeus, tintas sufocantes, adeus!
Que só me reste a suave ladeira!
Naquele tempo, a geometria
reinava e, com ela, reinava a harmonia.
E os meus gostos de menino
fundiam-se em uníssono com o século.
Mas por trás da vidraça estavam as Musas,
todas as nove, e falavam de mim...

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