domingo, 13 de abril de 2014

Isaiah Berlin, sobre as identidades nacionais

Este profundo conflito interno entre convicção intelectual e predileção emocional, por vezes uma sensação quase física, é uma enfermidade muito característica russa(...). Em alguma medida, este peculiar amálgama de amor e ódio é intrínseco ao sentimento contemporâneo russo (1947) sobre a Europa: de um lado, um respeito intelectual, inveja, admiração, desejo de emular e exceder; de outro, hostilidade emocional, suspeita, desprezo, um sentimento de desajeitamento, de trop, exclusão. Disso resulta a alternância entre uma excessiva prostração e uma agressiva desatenção em face dos valores ocidentais.(...) uma noção do Ocidente como sendo invejosamente autocontido, perspicaz, eficiente e bem-sucedido; mas, também, contorcido, frio, mesquinho, calculador e enclausurado, incapaz de uma visão ampla e emoções generosas, incapaz de um sentimento que por vezes se eleva em demasia e transborda do seu leito, incapaz de abandonar tudo e sacrificar-se em resposta a um singular desafio histórico, incapaz de alcançar um pleno florescimento de vida.

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