quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Eduardo Lizalde, PARECE QUE TUDO ESTÁ ACABADO

Moralistas,
cristãos e  marxistas,
liberais ou beatos
de grandiosas igrejas e sistemas
-- ou simples sindicatos --,
tenho e trago, de verdade,
muito más, péssimas notícias:
a ética não existe
e nossa raça
não possui defesa mais razoável
que a dos coleópteros
ou dos marsupiais.


O homem,
esta dsaborosa tautologia do ser,
defende em altos termos sua prole,
cuida de seus filhotes
-- diz ele, dizemos --
está contra os genocidas,
a guerra e o fascismo,
o autoritarismo da esquerda.

Mas possui fundamentos muito leves:
Sua alta moral é folhagem poderosa
com raízes de feto.

O que mais, como dizê-lo?
Não somos mais do que focas
ou renas,
formigas presunçosas.


Quando digo te amo
-- ou tu o dizes, isso é mais misterioso --,
o que significam essas palavras?
i.   Que existe somente um ato de consciência afetivo?
ii.   Que se tal ato existe como único,/gratificante ato amatório,/idêntico a si mesmo cada vez que ocorre,/é isso o que se pode/como um ato de amor descrever?
iii.   Que se a expressão te amo é concebida como informe/do amatório ato alheio,/é realmente possível perceber o sentido
-- se existe --
de tal informe?
Se a língua é tão vaga,
objetável, privada?
É-o mais caso essa linguagem interna
-- que é somente interna mas não é linguagem --
das paixões e dos sentimentos
sem ritmo racional
que estala, brota em duas palavras ou mais,
para suprir essenciais carências?
O máximo que uma pessoa descobre
se outra diz te amo
é que algo passa lá
como uma ação frustrada por natureza,
que existe um movimento...
e a primeira pessoa responde então:
eu te amo também,
como opondo
ao planeta invisível que atrai o cego
outro planeta, visível, porém escuro
para o vidente fascinado

Nenhum comentário:

Postar um comentário