Para don Sergio Méndez Arceo
Afortunadamente, Deus,
afortunadamente para ti,
não existes.
Se tu houvesses misturado neste horrendo assunto,
se existisses.
Grande era o risco:
teriam te julgado em Nüremberg
como criminoso de guerra,
com outras inocentes e alemãs
criaturinhas tuas
e como o principal entre os delinquentes, o lobo entre os lobos.
Somente o papa Pio XII
(sempre tão piedoso como seu apelativo)
confabulando ternamente com os nazis,,
por puríssima bondade seguramente,
e docemente aliado com as piores causas,
teria te defendido.
Que coisas terias passado!
terias -- estou intimamente persuadido --,
abjurado
da filosofia tomista
e ostentado
tua caderneta do partido comunista antes oculta,
e terias criado em Auschwitz
uma suntuosa câmara de gás,
com outra cruz no meio,
para autoexecutar-te
e autocrucificar-te sozinho frente ao mundo
com tua estrela infamante de judeu
pendurada no pescoço.
Que reprise do Gólgora, meu Deus!
Que encerramento para o Novo Testamento!
É somente um belo sonho,
mas de boa vontade
eu teria posto o punho e o polegar para baixo
em tua presença,
porque, mesmo sem existir,
tu és o verdadeiro responsável,
e exatamente por isso
-- creio que o disse algum russo -,
porque tu cometeste a vileza espantosa
de não existir,
tudo está permitido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário