sábado, 8 de setembro de 2012

José Watanabe, O ESQUILO

Um esquilo contente, diário, vem ao meu balcão.
Apanha nervosamente o pão que lhe deixo e foge para o
bosque.
Sua fuga parece guiada
por outro esquilo que sai de si mesmo e o antecede
um segundo
sempre,
e atrás dele vai deixando ainda outro, um ágil traço
que se desvanece milagrosamente no ar ordinário.
Assim o esquilo vai, como um curioso jogo ótico de
velozes
            figuras
que nunca se encaixam.
Como a vibração de álguem que corre atrás de
uma      
 
         cerca.


Este foi um exercício muito subjetivo de descrição
que escrevi antes da cirurgia num hospital de
Hannover.
Ficou inacabado
porque não soube conduzir com clareza seu sentido.
Talvez quisesse falar dos animais de vida vibrátil
e também capazes de ser de quietude
como o esquilo que se recolhe ao fundo de uma cova
e hiberna
fetal
quase morto
          e o tempo passa, mas não para ele.
Ou acaso quis falar de ressureições. Eu buscava
desesperadamente esse sentido. Sim,
porque quando o esquilo volta, traz ainda
a incredulidade de seu despertar, transforma-se,
         e, eventualmente,
é uma mulher, o verão, ou qualquer contentamento.

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