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a Jorge Teiller
Quando bebíamos as cervejas eram azuis
Com teus olhos de morango nu inventavas o mar e sua cólera incerta
Em teus longos cabelos de outono cresciam pombas adorando o orvalho
É mais certa a solidão do que o tempo dizias
E a claridade dos caracóis alçava seus anéis de fogo
Quando bebíamos as cervejas eram azuis
Nunca tiveste uma ideia fixa do sonho
Teus filhos aprenderam a lançar maçãs ao céu
E sorrias não sem antes saber o que era a sorte
Buscaste a paz depois do combate
E a chuva sucedeu à vida.
IRENE
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Minha mãe foi operária
Nas manhãs se vestia da cor dos telhados
E nas noites lia o coração de todos os rapazes
Jamais entregou seus sonhos ao canto dos pássaros
Nem sua vida às árvores que morriam como o homem
Com a fumaça das fábricas
Um dia
A chuva não distinguiu as letras de suas mãos
E a deixou como uma pomba trespassada
Nas janelas da rua
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(Ao Ernesto Cardenal)
Nunca te perguntei quem foste
Te quis como eras
Jamais te falei da solidão ou dos trigos
Simplesmente construí minha vida
Com teus silêncios e temores
Gravei em mim teu olhar como um ramo de açucenas
Que foi para mim
A única esperança de meus bosques
Fui-te franco, também me foste
Por isso jamais houve entre nós
Mentiras e rancores
Agora
no entanto
Tudo é mais simples
Tua morte converteu-me
No órfão mais triste da noite.
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