sábado, 8 de setembro de 2012

Juan Cristóbal, Fragmentos

1

                                       a Jorge Teiller


Quando bebíamos as cervejas eram azuis
Com teus olhos de morango nu inventavas o mar e sua cólera incerta
Em teus longos cabelos de outono cresciam pombas adorando o orvalho
É mais certa a solidão do que o tempo dizias
E a claridade dos caracóis alçava seus anéis de fogo
Quando bebíamos as cervejas eram azuis
Nunca tiveste uma ideia fixa do sonho
Teus filhos aprenderam a lançar maçãs ao céu
E sorrias não sem antes saber o que era a sorte
Buscaste a paz depois do combate
E a chuva sucedeu à vida.


IRENE

1
Minha mãe foi operária
Nas manhãs se vestia da cor dos telhados
E nas noites lia o coração de todos os rapazes

Jamais entregou seus sonhos ao canto dos pássaros
Nem sua vida às árvores que morriam como o homem
Com a fumaça das fábricas

Um dia
A chuva não distinguiu as letras de suas mãos
E a deixou como uma pomba trespassada
Nas janelas da rua


7

                                         (Ao Ernesto Cardenal)

Nunca te perguntei quem foste
Te quis como eras

Jamais te falei da solidão ou dos trigos
Simplesmente construí minha vida
Com teus silêncios e temores

Gravei em mim teu olhar como um ramo de açucenas
Que foi para mim
A única esperança de meus bosques

Fui-te franco, também me foste
Por isso jamais houve entre nós
Mentiras e rancores

Agora
no entanto
Tudo é mais simples
Tua morte converteu-me
No órfão mais triste da noite.

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