sábado, 31 de dezembro de 2011

título

...preciso de ritmo
preciso de um título

escrever é como viver precisamos de direção

desencanado

cansado de perguntar
resolvi responder
isso não me torna melhor
apenas me permite viver

sonhos

cheio das nossas besteiras humanas

esfrego uma maçã amassada por anos de calor calado

no rosto de minhas preocupações

recheio de realizações sonhadas

torta

se é parte não é arte

se reparte não é arte

a arte é feita com recheio de provocação e paixão
amor pelo calor humano

inteira sensação
torta de imaginação

inteiro

um homem
não pode
não deve
desejar ser parte...

...inteiro com meus erros e desejos

escrevo

(por amor à arte)

FLUENTE OU INFLUENTE?

(IN) fluente! Porque escrevo o que sinto e sinto muito não ter como dar maiores explicações.
Tudo, todos nos atingem e só atingimos o cume se prestarmos atenção aos nossos anseios.
Creio em Deus, pai todo poderoso (?), então é sorte ter chegado no estado latente de emancipação do meu eu (?). Seu domínio é nenhum ou alguém quer arriscar segurar as rédeas da própria vida?
Querido, querida é adjetivo utilizado e pouco vivido. Vivo, sim, vivo no perigo de escrever o que penso. E olha que penso um bocado e escrevo outro. Com Pessoa, sei, o outro não existe, mas os poetas insistem em inventar com quem conversar.
Tecer, criar a árvore, o cheiro do fruto... Crio um mundo, pois sou criador, brinco com ela... da saudade me fiz caçador.
Aperfeiçoei meu faro, fino trato com palavras que são asas, borboletas, ex-lagartas...desbaratam a solidão.
Essa a verdadeira intenção do poeta, brincar de viver, escrevendo uma história cujos laços nos liguem ao presente sem esquecer o último passo, cultivando um jardim sem muros chamado futuro.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2012

Dois mil e onze, duro ano esse em que perdi minha mãe, alguns caminhos foram traçados em meu rosto, pelos outros conhecidos como rugas, para mim foram desilusões. Algumas sensações foram únicas e por terem sido já se foram e só restou o gosto amargo da saudade: a alegria que ela tinha num show e suas palmas fora do ritmo me animavam mais do que qualquer mil assobios; o sorriso do meu filho de cinco me vendo e depois, com seis, cantando comigo; o olhar de compreensão dos meninos mais velhos...Admiração é o que sinto por todos que têm coragem de ser do jeito que são. Meu anjo, uma revolução nos seus olhos cansados de menina, que atura uma família de artistas, sendo também ela um signo de criação. Leão, leoa e seus filhos leõezinhos, tantos meninos, que só ela, sendo amor total poderia administrar essa fauna com total valor. Tudo lindo e seguindo sempre sendo do jeito que pode ser e será, sempre do jeito que a dor se apresenta e do jeito que permita que o amor a surpreenda!

Grande ano de 2012!

Marco Plácido e família.

Texto postado no último dia de 2010

DESILUSÃO
Irmão
Descobri
Com você
Que iria
Morrer
E
Foi essa desilusão
Que começou a me preparar para o que viria
Outras descobertas
Foram bem-vindas
Depois da sua partida
As coisas me afetavam mais e quanto mais era afetado mais me assustava com os rumos que a vida estava tomando
Disso tudo me recordo pouco
Tenho só uma leve sensação
Intuição
(É o jeito que nos revelamos
Com a revelação)
Passado o susto
Só me restava o futuro que viria
(E veio de qualquer modo)
e segui
Rolando como roda de carroça
Desengonçado e sério pelas responsabilidades advindas com a missão que era seguir...
...até que chegamos ao dia
cinco de maio de dois mil e oito
Data da criação do poema Frederico, em sua homenagem...
...Bom o resto
Já é bastante conhecido...
(Amigos, agradeço a oportunidade, nesse ano, sabendo-me lido, pude amadurecer na dura empreitada de fazer, ou melhor, postar um poema por dia. Para o próximo ano desejo a todos saúde e realizações, informando que o projeto “365 dias com poesia” foi devorado pelo blog “PeNsAmEnToS eM mOvImEnTo”. Abraços, Marco Plácido).

joia

não sei se palavras salvam
mas pelo menos exalam
perfume de razão
dificilmente
posso dizer não
a uma emoção legitimada
por um carisma de mina
que lavra em mim uma possibilidade
rara

são

penso
sangue

arte

quando machuca
quando anula
o nulo

sugo

o fluxo
desvio-o
do alívio
uma incompreensão

são

sorrisos

o final de ano é apenas mais uma ilusão
todos os dias nascemos, quando acordamos
e
morremos, quando dormimos
todos os dias podem ser os últimos e portanto deveríamos nos lembrar disso e parar de economizar sorrisos

uma quimera

...(o amor é...)

...nuvem de borboletas que espalham pólen, semeiam
chuva de intensidade branda que molha as plantas, cultivando-as
sol em brilho de primavera que nos faz esperar
uma quimera

o amor e a paixão

os poetas não precisavam perder tempo
tentando definir o amor
posto que á chama como disse o professor
o amor é o óbvio perfume da ilusão
sentimento forte de inclusão
ataques sísmicos de tensão
perigoso momento de compaixão

(já a paixão...)

a paixão
é inconsequente espirro, explosão

sintonia-fina

O que desejar para o próximo ano?
um amor e tanto daquele de tirar o fôlego daquele assim do tamanho de um piscada próxima de boca daquele assim meio porra louca com a intensidade de trinta anos daquele assim doidivano libriano canceriano iguano igual ao dos seus pais ou não como diria Caetano um amor sempre-de-fim-de-ano com a ilusão dos ciganos pobres por fora e ricos por dentro um amor sintonia-fina-de-um-poema-de-Drummond

minhoca

...fadado a continuar
essa a sina
do ser humano que não vai atentar contra a própria vida
se temos de continuar que continuemos na moral
sem ficar pulando de buraco em buraco
(não somos macacos
não gostamos de galho)
queremos sim plantar uma árvore frondosa
com frutos gorduchos
com cheiro de futuro

(queremos ter tempo para do andar da minhoca tirar algum ensinamento)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

rabugento

solidão é silêncio na escuridão?
ou
solidão é o barulho rabugento aqui de dentro?

ALMA PERDIDA, de Valery Larbaud (Tradução de Drummond)

ALMA PERDIDA

A vós, aspirações vagas; entusiasmos;
cismas depois do almoço; impulsos do coração;
enternecimento que vem com a satisfação
das necessidades naturais; clarões de gênio; apaziguamento
da digestão bem feita; alegrias sem causa;
distúrbios da circulação do sangue; recordações de amor;
perfume de benjoim do banho matinal; sonhos de amor;
minha enorme molecagem castelhana, minha imensa
tristeza puritana, meus gostos especiais;
chocolate, bombons, doces de derreter, bebidas geladas;
charutos entorpecentes e vós, acalentadores cigarros;
alegrias da velocidade; doçura de ficar sentado; delícia
do sono na completa escuridão;
grande poesia das coisas; noticiário de polícia; viagens;
tziganos; passeios de trenó; chuva no mar;
loucura da noite febril, sozinho com alguns livros;
oscilações do temperamento e do tempo;
instantes de outra vida, reaparecidos; recordações, profecias;
ó esplendor da vida comum e do ramerrão quotidiano,
a vós esta alma perdida.

malhação

...nessa fase fico pensando se ainda há algum tema sobre o qual ainda não tenha escrito e realmente não me lembro se ficou faltando algo o esforço foi tão grande tão concentrado que até me esqueci de mim e agora que algumas letras pendem do alto dos cadernos mal conservados acho que já é hora de começar a malhar

íris

íris
menina dos olhos
de alguém
menina
simples assim
ísis
jasmim
de um jardim
de estrelas

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

LIBERTÉ (poema de Paul Éluard, tradução de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade)

UM ÚNICO PENSAMENTO

Nos meus cadernos de escola
Nesta carteira nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome

Em toda página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome

Nas imagens redouradas
Na armadura dos guerreiros
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome

Nas jângales, no deserto
Nos ninhos e nas giestas
Nos ecos da minha infância
escrevo teu nome

Nas maravilhas das noites
No pão branco da alvorada
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome

Em meus farrapos de azul
No tanque sol que mofou
No lago lua vivendo
Escrevo teu nome

Nas campinas no horizonte
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome

Em cada sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome

Até na espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome

Nas formas resplandescentes
nos sinos das sete cores
E na física verdade
Escrevo teu nome

Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome

No fruto partido em dois
De meu espelho e meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo teu nome

Em meu cão gulosos e meigo
Em suas orelhas fitas
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome

No trampolim desta porta
Nos objetos familiares
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome

Em toda carne possuída
Na fronte de meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome

Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome

Em meus refúgios destruídos
Em meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome

Na ausência sem mais desejos
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome

Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome

E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar


Liberdade

Oração ao Deus (que sou eu)

Senhor Deus,
que cada machucado se transforme em estrela dolorindo com seu brilho minha caminhada assustada
que cada lágrima seja cultivada como uma nova paixão assumindo em mim um clarão de fogo abrindo floresta
que cada perda de pessoa amada seja florada perfumando-me de lembranças
que cada olhar desavisado identifique-me e se afaste assustado com o tamanho da minha verdade
que cada simples letra mal arrumada seja lida como um poema-medalha das poucas vitórias conquistadas
que cada humano que cruze meu caminho sinta o cheiro do fascínio que tenho de estar vivo
que cada perigo seja pequeno e seja um ensinamento que me leve para mais perto dos meus filhos
que a cada dia eu continue um menino na esperança tanta de colher um buquê de rosas das palavras tortas que me dirijam
que a cada dia eu seja na vida das pessoas adubo mesmo que tenha de chorar para uma semente-esperança germinar
que a cada dia eu entenda que uma flor me protege mais do que um pedaço de árvore

Senhor Deus, agradeço toda manhã a oportunidade de poder me comunicar consigo (comigo).

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

tormentas

nunca compraria um barco para navegar
já me navego
desviando das rochas
surgidas nas marés das minhas tormentas

expressão

os desejos do ano passado
esquecidos foram
ultrapassados
dormiram
magoado
sigo cego
sigo sendo
interessado
mais em mentir do que
me exprimir

anos cinquenta

Porra! O fim de ano já chegou e eu ainda nem comecei a cumprir a primeira promessa, incrível como o tempo passa rápido expresso do oriente tente pensar e fazer tente errar e escrever puxa vida! tantas promessas jogadas ao vento tantos requintes de argumentos sendo produzidos com a rapidez de uma grande mentira sinta o cheiro das verdades espremidas entre as regras de português e aquele cara vermelho, irlândes... sinta o medo sinta o veneno daqueles que ficam olhando o cu alheio velhos de copacabana espremendo entre os dedos enredos duros como pão dormido o colarinho de cervejas já ultrapassadas esquentando mais a vida daquelas senhoras vizinhas em olhos acessos da saudade quente do verão vermelho dos anos cinquenta do que qualquer fofoca do prédio com as luzes acesas sem emoção

extraterrestre

difícil escapar das armadilhas da vida moderna
o tempo em que poderia estar escrevendo estou comendo lendo facebokeando encolhendo e tento tento tanto me livrar de tudo para começar mas há uma preguiça atávica uma vontade danada de não pensar e acabo não pensando para acreditar num lugar melhor em outro lugar outro mundo talvez outra existência

crer é mais fácil que saber

domingo, 25 de dezembro de 2011

bom velhinho

os sapatos na varanda continuam vazios...
como vazios estavam a um ano atrás
quantos argumentos foram inventados para manter o bom velhinho existindo
quantos livros foram lidos em busca de uma resposta
quantas esquinas foram gastas como pílulas
e nada
de nada acontecer e nada de nada acontecer...

língua portuguesa

quem disse que papai Noel não existe?
toda fantasia existe
todos precisamos sonhar
quem foi que disse que o real é preciso como relógio suíço?
quem foi que disse que é errado desejar?
onde vamos colocar os sapatos se não acreditarmos no bom velhinho?
por que não acreditar?
é mais fácil viver conscientes?
quem foi que disse que desejo apagar minhas memórias?
a primeira bicicleta foi que me deu o primeiro arranhão no joelho
a primeira mordida de cão foi que me deu a vontade de correr
a primeira mão estendida foi que me ensinou o caminho da amizade
o primeiro emprego foi que me mostrou que eu era um cara de um jeito que não combinava com aquele mundo engravatado
o primeiro beijo foi que me ensinou o valor da língua portuguesa

sábado, 24 de dezembro de 2011

Led

Led tocando
enquanto choro o silêncio de dentro
interno sentimento
sem melodia que me dê um poema
onde estão aqueles loucos anos de intensa ingenuidade?
para onde foram as flores que plantei?
quando o chão se abrirá numa canção de asas?

ceia

num sábado de Natal estou aqui tentando me provar que ainda consigo escrever algo que tenha um gosto próprio chester, presunto e ócio
ceia preferida

razão calada

em tantos momentos discutimos com os outros querendo provar argumentos quando o entorno de inteligência e consideração já demonstra a quantidade de razão calada

chiclete

a alegria às vezes traz um discurso arco-íris, grande e bobo, a tristeza é completa no silêncio chiclete de poucas palavras

pipoca

quando estou triste o circo me salva das pipocas amargas recordações

trapalhão

olhando o palhaço
no circo
desejei a graça
sem saber o trabalho que dava
esquecer dos problemas da rotina e conseguir fingir a trapalhada sacra

areia movediça

na areia movediça do tempo
me movo
com cuidado e relevo
sopeso alguns dos poucos argumentos que me sobraram
alguns que o vento do tempo ainda não tinha me tomado

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

cancelas

como Picasso disse a infância na arte demora a chegar
quebrar as regra é para uma criança que desconhece o sabor da vingança daqueles que vivem para acertar

Contrarregras

(ator puto com o meu atraso)

...Cadê aquele contrarregra?!

...Cadê aquele poeta?!

hera

Papai Noel quero um presente
uma sobra do vivido
como Pessoa disse
não quero criar nada
quero a sobra dos sonhos dos outros (?) quero uma apara do tecido de ouro do gigante do pé de feijão botões de prata cortina enluarada palavras estreladas num livro de caule uma lágrima será a salvação de uma folha
será uma possibilidade

Ela

se o erro da vida é a morte
sonhar é um norte
mas não é sonho de padaria
é sonho de tentar realizar
sem medo de errar
pois o único erro mal resolvido
é o já deveras conhecido

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

plantas

sorrisos me agridem imagino tudo em que não estou envolvido e termino me arrependendo por não ter tentado tentação não é dos demônios é dos antônimos que realçando o contrário dos sins que deveríamos cultivar, sendo planta, realça quem somos nossos medos, e enquanto ruminamos deixamos de realizar algo que pode nos fazer voar nas asas que insistimos em podar

urro

um baixo ajuda a um sax chorar
enquanto a guitarra grita, como eu, por atenção
o baterista bumba tudo
massacra o som curto
com a vontade do urro de um urso

rezado

não brigue pela escolha dos outros para encarar a solidão
cada um de nós finge não saber que estamos sós
escolhas são folhas
de papel
pintado
amassado
chorado
rimado
ou
rezado

solenes

crianças não sentem solidão
solidão é saudade ardente
consciência dos nãos
sim, é isso sim
por não terem a consciência da solidão
as crianças não sentem saudade
não mentem e não sofrem
solenemente

Buquê (Nova Música)

Por que você me deixou?
Onde foi nosso amor?
De quê cor sorrio agora?


Para onde você se deixou?
Onde foi nossa dor?
Que flor está lá fora?

A chuva chega
A manhã se apressa
Meus dedos escorrem solidão


Seu sorriso me trouxe de volta
Agora já posso dançar
Cultivar um buquê de rosas
Agora já posso sonhar
Cultivar seu olhar trouxe meus solos de volta

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

regente

À Beth Dargam

da dificuldade um sorriso sangra
em lágrimas de alegria
tamanhas
viagens à lua
imagens de uma realidade sua
fruta na salada diária de família feliz
continue sendo
sendo sempre
sempre sem temer
sem temer serpente
sabedoria de fina flor do fazer
sem perder o rumo
regente de sinfonia para surdos

Senhora

adulto é quem conhece a Senhora solidão

criança quem convive com a amiga ilusão

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

estampa do Sal e Idade, Saudade

ritualizava a rotina
talvez para se sentir santo
espancava as notícias em prantos


manco de realizações
estampa a esperança como tatuagem indígena

cobertor do Sal e Idade, Saudade

uns, ansiosos,correm atrás da desconhecida sabedoria
outros, ingênuos como nós, acreditam na lanterna existente na ponta dos pés

cada passo um futuro brilhante

domingo, 18 de dezembro de 2011

premissas

erro da vida
a morte pode
estabelecer algumas premissas
se sei que vou morrer
quanto vale uma opinião contrária?
por que me preocupar com caras amarradas?
por que não parar de falar e começar algo que me dê prazer?

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

natação

não aguento mais rimar mar com o sal das minhas retinas
não aguento mais esse sentimento de menina num corpo exalando memória
não aguento mais tanta casca de história identificando-me
não aguento mais salvar no braço todas as primeiras conjugações do suicídio de um poema sem emoção

limítrofe

onde começa o litoral?
onde concebo a linha limítrofe de um mar de lágrimas e a terra do nada?

pequeno mar (nova modificação)

essa lágrima caída é pequeno sal nas minhas retinas cansadas de ser mar

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

solto

...em sua boca navego lágrimas roucas de tanto serem caladas
soltas as amarras
irei me lançar
sem porto que me traga recordações...

pequeno mar (poema caída modificado)

essa lágrima caída
é pequeno mar nas minhas retinas cansadas de salgar

ausentes

os ansiosos vivem o futuro
os saudosos os passados
e os mortos o presente, ausente

aperitivos

barcos coloridos são aperitivos para a tempestade que espreita aliviada a ingenuidade de brancos uniformes eivados de solidão

óleo

olho
as manchas
gaivotas insanas esquecem de morrer brancas

porto

no meio do oceano navego ansiando por um porto onde aportar meus sonhos

tempestades

canção de saudade é a lágrima salgada escorrendo em olhos cansados de tempestades

bronzeados

a lágrima que vês caída é mar
o verde dos olhos que vês é esperança de olhar
os cílios bronzeados são o sol de um olhar

caída

essa lágrima caída não é pequena é mar
maré nas minhas retinas

sombras

as sombras só acontecem porque me chamas

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

inteiro

não quero água não quero pão não quero a marcha dos ponteiros (numa direção sufocada...) sigo o cheiro do medo dos outros estou um cara meio cansado mas inteiro por estar vivo

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

montanha russa

montanha russa emocional de escrever acostumar com as curvas é o pior mas quem disse que nos acostumamos? quem disse que desejamos colocar no papel aquilo que nos machuca cuspimos palavras como crianças cospem balas de gosto amargo de fato seria mais fácil continuar engolindo até que algo nos adoentasse e pudéssemos ter a desculpa de não ter começado

domingo, 11 de dezembro de 2011

sábado, 10 de dezembro de 2011

crucifixo

nesse minuto estou rezando para a tempestade nos deixar nosso barco é pequeno e da cor do amor que deixamos na partida devemos voltar porque temos família os amigos, todos, devem estar rezando apreensivos pelo que imaginam nós rezamos para estancar o medo que sentimos por desconhecermos o tamanho do perigo de nos navegarmos

petróleo

navegar é parábola da vida salgada tentativa divina de satisfazer nossas vontades em águas que ardem invadem mistérios vazamento de óleos submersos

cabo

onde começa o rio e acabo de amar?

cantoria

amar sentimento que se explica pela intensidade do tempo a paixão é fogo ardendo olhos vermelhos irracionais o amor é espaço perfeito tempo de maturação da semente em flor o néctar é o sabor de dois corpos que aprenderam a se adubar transformando ondas em cantoria

ri mar

prometi que nunca utilizaria rimas da primeira conjugação mas o mar é mais forte do que qualquer promessa amo o mar e o temo nunca navegarei de verdade e por isso só me resta rimar amar navegar pelas palavras salgadas

imensidão

...há um momento em que só há o mar e os companheiros de aflição a respiração é música de crenças com vendas nos olhos crédulos rezo para me tornar imensidão

areia

do barco ao longe vejo pessoas na praia figuras apenas delineadas sem rosto sem voz sem nada que me prenda a elas fantasmas velejando na areia

profundo

procuro na distância do mergulho encontrar algum ponto de luz a areia do fundo do mar em minhas mãos são salvação cheguei ao ponto mais profundo agora é ter a crença do fôlego para a ressurreição

submerso

debaixo d'água
o tempo para
não há ondas
o nada é nada
não há azul
o silêncio é sem cor
penso tanto
escuro aqui estou
sendo uma parte submersa do céu

Cantante

...é, escrevo como quem sabe que vai morrer! Por isso, sai forte, rápido, certeiro, grão de arroz num palheiro, preciso! Preciso ter um motivo, um mote, um alvo, muitas vezes invento palavras, as que aí estão já perderam as asas, foram domesticadas, por isso saio para caçar e se, num dia, não mato, invento e pronto está! Assim, mas não confunda, não é fácil, não sou ágil, sou destemido, sinto dor, sem grito, para não espantar as perdizes (Todos somos aprendizes!). Em cada manga uma espada, de ouros, sufoco, todo dia ter de me espantar para do susto me fazer imaginar. O cansaço quase sempre me mói, mas também constrói um cidadão, conhecido por amanhecer falando, continuo cantando em versos nossa solidão.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

professor

Não temo a morte, porque não temo o tempo. O tempo é meu aliado, por isso o silêncio, respeitoso. Admiro o amigo com um olhar protetor. Ele já me disse que não terei do que me queixar. O azul do mar é um presente que satisfará minha rotina de letras. Se quiser posso me gabar, me disse. O futuro está construído com tijolos das rimas do sofrimento de não tê-lo compreendido num primeiro momento. Agora, não! Agora, tomamos chá, todo dia, cantamos a canção do amor que há...Em todas as coisas, a cor do amor deixa suas marcas...Não, não é loucura, é consciência do seu valor. O amigo tempo foi meu professor!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

tatuados

...queremos ser livres?
queremos ser livros?
tatuamos queixas
esperando ser lidos?

WISH YOU WERE HERE

Aos Pinks

Temos os mesmos medos
dividimos o mesmo segredo
de estarmos inteiros
num céu de brigadeiro
(que não existe mas é só nosso)
gostamos do ócio criativo de olhar
a brisa e dela fazermos uma pirueta de cabelos soltos
em bocas soltas soltamos quem somos
mordemos cílios e por isso ainda choramos juntos
um quarto (de lua?) é nosso mundo

(fico fingindo ser um muro quando sou uma flor...)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

almirante

retinas são meninas
meninas dos olhos
nos olhos esquinas são dobras
de vida
confortáveis mentiras
em céu de almirante

Família

família...família rima...pão com margarina, sabor com tia, pai com sabão, avó com satisfação de ver o neto crescendo, aprendendo a andar, comer, falar...amar...a chupeta atrapalhando, o gato miando, o cachorro mordendo canelas e argumentos contrários todos estamos trocando pneus de carros em movimento todos estamos sofrendo juntos as dores tanto da separação como da aglutinação: um é chato, o outro está no armário, um é isso ou outro é aquilo, um é esquisito, o outro artístico, um é pequeno o outro é enorme na vontade, imensidão de mar, querendo espalhar gotas de letras, bombons-poemas, todos olham o futuro com gosto e medo, todos contamos os ponteiros do relógio-segredo...de quem somos? (quem queremos ser?) todos nos acostumamos com o prazer? até o fim?

(viemos separados mas precisamos viver separados?)

crediário

ontem mais um lindo dia se perdeu entre engarrafamentos, trafêgo aéreo e aumentos estratosféricos nos produtos de limpeza mais um dia desperdiçado entre um crediário de ventilador e a dor de ser sabedor que aquele dia passou sem acontecer nada de extraordinário

devemos querer isso, comprar aquilo ou sonhar?

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

rotina

...é só mais um dia...

todos os dias são só mais um

às vezes nos aborrecemos com a rotina mas sem ela não conseguimos aprender a suportar a constância que nos avisa a hora de mudar...

atenção e paciência

atenção e paciência é do que preciso como escritor devo prestar atenção nos modos próprios e alheios ver a discussão do pássaro com a onda que o impede de descansar ver a areia sendo lambida e o esforço da maré por entalhar tempo às rochas devo observar o andar do velho e a queixa do impaciente garoto que óbvio não se vê desmanchando devo observar a quentura do sol de manhã nos joelhos descarnados no banco de frente da farmácia apinhada de experiências desgastadas pela falta devo continuar procurando em mim aspectos que delineiam os outros cidadãos dessa cidade febril devo escrever sobre a febre que me domina quando sinto a impaciência chegando e dominando os termos de uma oração às vezes devo ter paciência para me dizer: não devo continuar!

sábado, 3 de dezembro de 2011

pulmão

embarcações em procissão esperando algo
um vento de pulmão curando um olhar solidão

tênue

um pássaro
no meio do nada
é um esperança de terra
verde
herança tênue que trago

saudades

escrevo n'água
com a tinta de lágrimas

(saudades da alma em que me navegava)

sereias

sereias são pedras que cantam no meu desatino?
(miragens d'água no princípio do fim?)

criação

Deus criou o céu para ser reflexo de mar em nossas retinas?

pálido

quantas músicas clássicas
inebriaram os olhos de um simples sofredor?
(sóbrio no seu amor pálido)

ausências

Não sei como explicar, mas vou tentar. Algumas palavras não podem deixar de ser ditas e quando descobri que devia dizê-las, não parei mais. Quem não sabe o que é navegar, tendo ouvido falar ou apenas tendo lido em algum poema de Camões ou de Pessoa, não sabe que isso é um verdadeiro vício. Desde o início, com o poema Frederico, soube que nunca mais seria o mesmo, como não fui. Escrevendo me descobri e repensei tantas coisas...tantas notícias foram recebidas e produzidas e no meu entorno várias pessoas sofreram a consequência do não entendimento. Até porque ninguém sente da mesma maneira. O que para mim era a coisa mais séria para os outros poderia ser uma grande besteira. Assim a vida seguiu até o momento da minha primeira experiência como escritor. No lançamento dos meus três primeiros livros o que era uma desconfiança passou a ser verdade -- queria ser escritor, poeta! --, e faria qualquer esforço para conseguir meu intento. E fiz! Abri mão do convívio com as pessoas, todas, e me esqueci em mim. Esse torpor poético durou aproximadamente um ano e meio. tempo no qual produzi uns dez manuscritos, na verdade, teclusdigitus, como inventei! Agora que já consigo respirar, identificando ausências, sinto tudo de um modo estranho...meio diferente de como ocorreu...porque agora efetivamente eu sou eu!

passarinho

não consigo mais te imaginar
seu perfume foi esquecido
seu sorriso
em meus olhos
de menino passei a homem procurando uma rima que sempre lembrasse seu nome
suportei todas as palavras ingratas
que me faziam te esquecer
e
carregando o sentimento da pedra
sem caminho
escrevo
para voar

maresia

quando menino
navegava na alegria de seus olhos
de passarinho
inquietos e gentis
simples na risada de menina levada
irada quando impedida de brincar
agora mãe
quem irá me ajudar a transformar a maresia
em seu perfume de vida?

sextante

...não é que tema o mar
temo sua rotina de ondas
sua água salgada
assusta uma doce ilusão
rara
de precisar mais do céu do que de mapas

o risco

os amadores o temem...

o mar é para quem tem necessidade de testar onde acabam os instintos
e onde começa o risco de naufragar

espelho

as sombras da cidade estão chegando
quero chegar?
quero cegar?
ou
como as gaivotas
quero bailar
tendo o mar
como espelho

sou.l

entre teses e tetos sigo reto na angústia de saber o que eu quero severo na busca da compreensão sabedor da falta de tempo dos outros para identificarem quem são, sou.l

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

2012, o fim

num mundo de possibilidades todo mundo pode escolher fazer tudo e no entanto só escolhemos bobagens o ditado ultrapassado a autoajuda miúda o conselho de caminhão tratamento de choque seria imaginar uma lista de coisas que nos agradam e começar a fazê-las antes do mundo acabar em 2012?

salgado

de tanto navegar
não penso no mar
sinto sua força
suas correntes
seus ventos
de revés
sinto o mar salgado e salgado sigo sendo

estuário

meus desejos naufragaram nos seus argumentos contrários arbitrários contra o estuário

náufrago

enquanto a vida dos meninos segue, navego
enquanto os vizinhos brigam pelo melhor pedaço de chã, navego
enquanto os jogadores dos times de futebol estão indo dormir , já de manhã, navego
enquanto navego, navego

vivos

às velas
vamos aproveitar o vento
o movimento
nos manterá vivos
para partir

chão

...ar marinho...passarinhos...da cabine sinto a presença da terra...como companheiro o timão e um coração ansiando chão

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

desejo

...apesar de tudo a vida vale a pena...a plena consciência...Ah! quem a deseja?...quem dela fugirá? sabedor da dor da saudade escrevo para parar de arder

Boa Viagem

Caminhava pelo calçadão da praia de Icaraí, indo em direção ao Ingá, bairro próximo a São Domingos e me lembrei das remadas de prancha à Ilha ali perto, embaixo do museu do MAC. Continuei e a brisa atrapalhava meus cabelos que atrapalhavam meus pensamentos. Sem me dar conta, logo estava no forte do Gragoatá, fato que meus pés denunciaram. Dei meia volta e na descida da Boa Viagem lembrei de visitar meu pai. Fazia tempo que não conversávamos sobre sua nova rotina sem minha mãe...

renascer

já não sei mais por quê mergulhei me arrependi na primeira gota salgada que engoli e do mergulho assisti um novo homem nascer como se soubesse que um mergulho é uma desculpa molhada um mergulho foi tudo que eu podia fazer para renascer

procissão

num minuto capturo a intenção escuto o sal apuro a dimensão de um olhar saudoso marítimo majestoso como uma procissão

canção

um marinheiro assobia uma canção que desconheço
canção de sal?
canção de idade?
canção de saudade...

bico

avisado do perigo por ilhas, encho o peito de ar marinho, fecho os olhos e desejo encarnar o espírito livre da gaivota que brinca enquanto caça
enquanto desaba solta atrás da outra vida perseguida
que bica

de navio

peixes pulam,riscando o mar com um cardume
eu, sem prestar atenção,
oro por uma dormida de navio no meu desatino

prece

olho o mar e de onde estou a constãncia das ondas parece uma prece de vila
me traz paz
o sabor dessa dança me enche os pulmões de esperança de santa

Oceanos

Quanto de oceano separa nosso desengano?

Quanto de oceano trago em mim humano?

Quantos oceanos me separam de um eu te amo?

Em quantos anos curaremos nossos desenganos?

íris

íris procuram-me
deslocam-se com retinas azuis
apavoram-se
apavoram-me
devoram imagens azuis
de um mundo cinza da cor da mentira
comum

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

os nós

...nunca irei navegar...
o mar me lembra histórias horríveis com monstros gigantes com ondas gigantes com Moby Dick crises de marujos que só podiam rebelar-se o medo deles é o meu e eu também me rebelo contra o sal o sol a falta de ilhas no cérebro contra capitães insinceros contra a rotina de maresia contra os nós que me afastam da família me rebelo e sem navegar escrevo vomitando desejos

capitães

os filhos dos capitães não são crianças por saudade são adultos fingindo...

ardência

em crianças não sabemos a força das ondas, não sentimos a ardência da areia quente na sola dos pés, porque estamos protegidos pelos que ainda estão aqui, não pensamos que o mar salgado sempre manda um recado de sabor de sal que com a idade vira saudade

captura

O mar forja o caráter de todos: dos que navegam, que sofrem com o medo de não voltar, e dos que ficam, que passam a conhecer o amargo sabor da saudade; aqueles exercitam o não poder olhar o olhar familiar, esses não sentem o hálito de sabor do café passado com amor; aqueles não ouvem um boa noite do filho no pé do ouvido, esses não se sentem agasalhados pelo cheiro de loção de barba do pai capturado pelo oceano odiado.

Comandante

Um comandante da Marinha Mercante era meu avô. Com dois filhos ensinou o valor de uma mulher, que solitária era minha avó. Alfredo saía para no mar ganhar a vida. Deixava sozinhos três sonhos de família. Tinha a certeza da precisão, certeza de capitão...os filhos junto a mãe eram uma multidão de batalhas perdidas, muitas, poucas ganhas, na incerteza de diversas despedidas. Ardidas as lágrimas forjaram seus corações e todo dia, afirmo, rezavam pelo reencontro com as ordens do pai severo mas amoroso. Capitão de ilusões marítimas, tino de artista, sofria com a saudade que guardou até se aposentar aos quarenta e cinco anos. Como prova criou netos como filhos e viveu feliz até os noventa e dois anos, navegando pelos sorrisos dos meninos que somos.
(E ele sempre dizia:"navegar não é preciso e viver é impreciso").

capitão

com quantos nós se faz uma canoa?
com quantas cordas se prende uma solidão?
um violão talvez consiga afinar a voz de um capitão

velocidade

meço minha velocidade pelos nós
quanto mais sós
menos me alcanço

a volta

da areia fico esperando alguma notícia
um vento diferente me dá medo
quero acreditar que a volta está próxima

próxima de quem?

o sal

nossa saudade é o perfume
a maresia é apenas uma parte do sal das lágrimas gastas nas viagens longe de casa

marinheiros

se vestem de branco, por respeito
é um luto antecipado, pelo medo
de não voltarem aos seus lares
medo de salgarem
todos os sentimentos de saudade

calados

esse mar tão decantado por poetas e navegadores
alguma vez se cansou de cantar
os amores por ele roubados?
os dissabores proporcionados aos apaixonados
que conheceram calados
sua fúria?

calado

sigo calado a força do vento
calado penso
calado sinto o caldo marinho
azul-perigo
calado ouço o som do motor
calado
calado
calado
sou o mar

aptidão

no instante em que minhas mãos abordam as cordas da escada como se fossem nossos laços um cansaço do tamanho do mundo comprova minha aptidão para a emoção

ultramarinas

o mar é um descanso em minhas retinas fatigadas por notícias ultramarinas

prático

o barco vai na direção do navio um sacrifício derrotar a maré que cisma em me afastar do meu destino insisto no desafio diário de tentar me estacionar sendo navio de um porto imaginário

o quadro

aquele quadro de nós na parede me lembra
dos nós do meu tempo de enquadrado...

cru

onde está o cisne branco da canção?
onde está a lagoa azul?
onde está o norte?
onde fica o sul?

(só vejo cru, azul e solidão)

aliança

por tantos anos
por tantos mares
conheci a vida
em muitos lugares fui feliz
quis ser feliz
e acho que consegui
me iludi
iludi
esqueci de mim
me achei me perdi
te achei
te quis aqui
perto de mim
por isso um poema é nossa aliança

gaivota

daqui de cima
vejo um mar
vejo um mar de retinas
cristalinas
azuis
piscinas com peixes
cinzas
como a minha vida

(gaivota, queria estar nessa brisa...)

timão

a gaivota de cima vê o vento de mãos...
o esforço do homem
tentando alcançar a escada de cordas...
na cabine o capitão
espera
espera para passar o timão

parte de sua solidão

facebook

o facebook é tratado como igreja confissões são feitas às dezenas...
é tanta felicidade que enjôa o novato padre
acostumado com paróquias mais verdadeiras

terça-feira, 29 de novembro de 2011

nasce, cresce e morre

À Isabel Scassa

a poesia nasce da necessidade de criar flores em balde; nasce da necessidade de explicar a angústia da solidão; nasce da emoção que o poeta tem de mostrar a emocionante aventura de estar emocionado com os fatos da vida; a poesia nasce do encontro de dois corpos que são, num momento, um único sólido e da emoção da despedida, o poeta tece fios do ouro saudade num poema dilacerado; nasce de todos os olhares que se perderam nesse mundo e que nunca mais se encontrarão por não haver tempo de se encontrarem, simples assim, mas por isso mesmo, cruel; a poesia nasce de todos os choros recolhidos dos homens-palhaços que precisam se esconder atrás do nariz vermelho e dos pés pequenos em sapatos enormes; a poesia nasce porque tem de nascer porque algo tem que acontecer entre o instante do susto e o da exclamação, a interrogação é estrume para a terra molhada pelas lágrimas amarguradas do poeta-menino assutado que escreve em apneia...

a poesia cresce em um coração de menino, que anseia por novas brincadeiras num mundo sem tempo para pique-esconde, amarelinha e salada de frutas; cresce junto com todos nós que não desatamos nossas vidas e ficamos olhando o tempo passar sem nos importar em sermos felizes, minimamente que seja, pelo menos vendo uma lagarta se transformar (precisamos todos voar?...); a poesia cresce e aparece sempre nos momentos de crise, sempre que os homens estão tristes, meio sem noção, sem orientação...(num mundo perfeito sorrisos seriam rimas e as palavras seriam desnecessárias para explicar a solidão -- que não existiria)...

a poesia morre quando o homem acha que o mundo é dele e mata a mata e mata com sede de vingança todos os outros seres todos os outros homens são meros joguetes em suas mãos de louco cientista pagão; a poesia morre sempre que um morador de prédio pensa que será assaltado por um mendigo que reclama de não ser ouvido (como ouvirmos um mendigo se não ouvimos aos nossos anseios?); toda vez que uma criança chora de fome a poesia falece e toda vez que morre a poesia nos entope a todos como se estivéssemos num quarto fechado esfumaçado de gás carbônico exalado por nossas torpezas; a poesia morre quando nos deixamos levar por nossas certezas e esquecemos de buscar o antigo olhar infantil que nos salvará a todos como uma religião que pudesse juntar o melhor de todos, nós sendo um só!

o céu

esqueço o sal da água e me concentro no reflexo azul da minha calma

sol ou chuva

já sei
posso voar
perdi o medo de altura
aprendi a mexer os braços
a respirar
vários foram os anos que quase me deixei sufocar
ficava parado esperando
esperando talvez
uma onda
que pudesse me levar

(agora com sol ou chuva continuao a nadar...)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

a serpente

silenciosamente a serpente se espreme entre pedras e matos
sinuosamente esconde-se em buracos silvando o sabor da sensação doce
antes da mordida que lhe dá prazer por expelir veneno
a vítima não é alimento é apenas a sensação de poder atacar
satisfatoriamente

sábios

esgueirando-se entre becos e bancos de praça o poeta exala iniquidade
destaca-se pela capacidade de sentir
coisa perseguida pelos ditadores do saber de então
sábios em suas teses de que o ser humano não tem mais salvação

ameríndio

dentro de um homem simples podem existir furacões?
a cultura traz possibilidades ou traga sensibilidades?
um duro homem ameríndio possui a necessidade de saber o porquê das coisas?
um poeta se forma na biblioteca ou na terra?

um rio

um rio não é mar
é um pedaço de mar sem graça
porque sem sal
sem maré que mude a visão do nada

omar

...conheço pelo cheiro
conheço pelo som
sua voz de trovão
seu tamanho imenso
sua capacidade
de instigar
de pirar
de fazer sonhar
conheço pelo reflexo no céu
pelo cansaço das pedras...

o mar

o mar atrai os poetas
porque é como a vida
não para
é salgado
e
é próprio às despedidas

frieza

por que paramos de dizer amar quem amamos e ficamos esperando não sei o quê que virá?

sal

precioso olhar
cheiro de mar nas retinas
cansadas de marejar
de esperar
por algo que não seja sal

cristal

não é que deseje mar é que o mar é mais forte em minhas retinas escorrem histórias cristalinas seu cheiro suas batidas meu medo meu cheiro de sal as salinas de Cabo Frio estão presentes desde sempre e é engraçado como o nariz pode se acostumar com sua ausência cristalizada dentro das quatro paredes do meu impreciso olhar

vodka

escrever
é uma loucura branda
vodka com fanta
exercício parado
criando barriga

galés

é preciso amar
preciso amar
o mistério
impreciso das marés
se há mar
há galés
barcos precisos em lidar com a imprecisão do (a)mar

marinhas

é preciso amar
é preciso amar
se
há mar
há vida
há ondas
há despedidas
marinhas

gripe

é sempre o som é sempre o som que me leva para a emoção é sempre o som que me incita me excita me provoca pelos eriçados me provoca a garganta seca de tesão é sempre o som do seu coração é sempre a gripe é sempre o grito o exercício da imaginação

domingo, 27 de novembro de 2011

fila

uma eleição me ensinou que existe fila
ninguém chega do nada e conquista um lugar
as pessoas têm de se acostumar com sua existência
Primeiro não gostam, por desconfiar
Depois ainda não gostam, por desacreditar
E muito tempo depois passam a admirar sua coragem de se lançar sabendo do modo que seria não acolhido

móveis

(insatisfeito com os móveis da sala me pergunto: os móveis estão em mau estado ou sou eu que estou mudado?)

fim de ano

...novembro acabou
o ano está acabando...
já não há tempo para realizações
agora é hora de relembrar dos planos que cultivamos nesse mesmo período e que foram na sua maioria esquecidos

(agora é hora de voltar a nos enganar)

a rosa

o azul pediu o lenço emprestado para o amarelo e chorou pelo amor da rosa que confessou para o verde gostar de outra cor

a menina

entre a solidão da dor e o amor
nasce
uma menina
a rima
linda
com os olhos do pai
e os lábios da mãe
chora de fome
como o pai escreve
de fome
o homem some com o medo e produz desejos

sábado, 26 de novembro de 2011

batismo

(esse poema nasceu da necessidade de explicar ao meu filho Thiago porque eu digo que todos somos poetas)


quem quer ser poeta?!

ninguém?!

-- Eu quero tio! Mas eu não nunca fiz um poema!

-- Então, leia esse...

(ao acabar de ler um poema qualquer, eu lhe falei:)

-- Na qualidade a mim atribuída por mim mesmo, eu lhe declaro poeta!
De agora em diante tens uma obrigação, olhe sempre ao redor, não julgue e tente ajudar alguém de alguma maneira, mesmo que seja com um simples poema.

biscoitos

quem são os poetas?

todos!

quando faço um poema, sou poeta!

quando leio um poema também!

Porque todos inventamos um jeito de entender aquelas pequenas letras que são nossos biscoitos com leite dados pela vovó

Plácido

Fisicamente como é um poeta?
em andrajos
em Andrades
Esperto
Lispector
Pessoa
de Minas
de fina estampa
Calvo
Alvo
Magro
Plácido?

Ágora

Ah!
Agora
sei o que significa
Ágora
praça
livre
para pessoas de livre opinião
dileta sensação de que é importante aprender para crer

solidão

solidão é estar só?
não existe numa multidão?
uma criança sabe seu nome ou para ela é só ilusão?

composição

um pescador fisga peixes
o palhaço faz graça
um poeta fisga olhares
prende no papel borboletras
o poeta não é o palhaço
mas
sim
a sensação da graça na criançada
a risada ou lágrima
é a letra da sua composição

solidão

estrume

crenças
próprias lendas
administradas com fervor
lágrimas produzidas pelo temor
de dar direção
errada
quando o erro
é o estrume do produto final
eu flor

pescoço

sábia solidão vã
dedos de uma mão
pagã?
encontro de minh'alma sã
com corpos reais
tantos
santos?
poemas pontificam o desgosto
pelo amargo sal
sobrado de suor de pescoço
torto em não saber a direção
que olhar

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

temperamento

quando é que o ser humano se perde de si?
vários conhecidos com o perfume de poder ficaram irreconhecíveis
se esqueceram do som da própria voz
quando é que nos perdemos de nós mesmos e por quê?

cisne

aquele garoto parece que tem quatro bocas e nenhum ouvido ele é o cúmulo do sacrifício não para quieto reclama de tudo aquele garoto é esperto mas sem noção sem coração sempre espreme pretensão esquecendo-se que outros garotos também sabem pensar às vezes um pensamento mais simples mais cisne mais real às vezes é necessário aprender antes de calar

levado

menino levado com botas de crina de cavalo pintado por Deus nariz de palhaço na testa alegre imagem de festa não para todo dia rala os joelhos que estão negros de sujeira da areia do picadeiro menino cercado de artistas que o fazem sonhar...Ah! a equilibrista...é tanta emoção que é difícil falar!

velocidades

adequar velocidades
essa a dificuldade da vida
quero passar no vestibular -- primeiro tenho que estudar
estudar é deixar de sair, namorar...
depois quero um emprego -- devo saber inglês, devo saber conversar...calar...
quero casar -- com quem?, quando? onde?
pois bem...
quem disse mesmo que a vida é fácil?

poeta-mãe

meu futuro não é muro é da derrubada que falo é um simples estalar de tijolos no chão simples mas necessário a força é meu ganha pão todos os dias escuto que não posso escuto vozes falando que não devo vejo olhos se esforçando em me impedir e a força necessária para parir um poema é que me dá a dimensaõ do amor de mãe

menino de circo

se tudo já foi escrito eu continuo menino de circo brincando no picadeiro antes do show começar invento histórias palhaças me escondo na arquibanca esperando o leão amansar e quando de novo tudo começar pego um saco de pipoca e fico esperando a emoção me cercar

Fernando Pessoa, ANDAIME

O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah! quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!

Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão,
Este seu correr vazio
Figura, anônimo e frio,
A vida vivida em vão.

A esperança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola criança
Sobe mais que a minha esperança,
Rola mais que o meu desejo.

Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dia, anos, breves
Passam -- verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.

Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.

Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente dexei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.

Som morto das águas mansas
Que correm por ter que ser,
Leva não só as lembranças, mas as mortas esperanças --
Mortas, porque hão de maorrer.

Sou já o morto futuro.
Só um sonho me liga a mim --
O sonho atrasado e obscuro
Do que eu deva ser -- muro
Do meu deserto jardim.

Ondas passadas, levai-me
Para o olvido do mar!
Ao que não serei legai-me
Que cerquei com um andaime
A casa por fabricar.

mate-me

mate
mate em você
a erva daninha da certeza vã
mate-me de amor
mate-me de dúvida
mate-me de verde saudade
mate em si a dó de mim
mate as besteiras e floresça-se

Marte

...não se iluda tudo que arde cura
tudo que é arte é dura fruta recolhe dos entulhos flores dos pensamentos
tudo que é arte é uma parte sobra da vida sobra de nosso planeta
marte certeza
que nos dá vida nos faz esquece a ordem subentendida: MATE!

MMA

a única coisa certa na vida é a morte então por que esperar pela sorte? por que não partir para dentro para a porrada
esqueça se vai apanhar ser nocauteado pode ter alguma graça pelo menos para descobrir se ainda temos força para levantar

berro

peço espero peço observo peço sincero espero espero espero erro erro erro provecto berro berro berro correto

o Rei

...a importância do contexto?
por exemplo:
uma coisa é comparar os gols do Maradona com os do Pelé
outra
é saber que na hora da encrenca
naquele empate que poderia tirar o título do Santos
os jogadores, todos, ficavam esperando a jogada fatal que o Rei faria (e fez) para o gol salvador

perfume

vi nos olhos do menino a silhueta de um guerreiro das letras e me descobri tirando a roupa da esperança pouca na nossa salvação humanidade tola que procura alimento em momentos em instrumentos de veneno esquecendo quem está perto e desde o nascimento a ama sem julgar humanidade que finge que é super quando é covarde em valorizar a vivacidade fugaz a mentira combinada a sem-cerimônia de piadas de salão nesse mundo cão que poderia ter menos pulgas e mais perfume de verdade

o rabo

...ainda não sei por que escrevo
quando souber talvez pare
talvez me aborreça querer saber o motivo de tudo
querer analisar os fatos e alisar as besteiras do rabo do meu cachorro que é feliz porque vive com seus instintos animais apenas a balançar por aí

a vida

sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e
sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor

cicatrizes

...queria ter morrido de amor
mas seus olhos me amarraram de tal forma de tal forma continuei amarrado e aqui estou amordaçado, por isso escrevendo, senão gritava aos quatro ventos amar-te não quero imaginar-te seria mais fácil quero senti-la ardida magoada ferida pelos meus dardos de sexo sou ferro quente deixo marcas tatuagens imaginárias em carne podre de vida somos duas cicatrizes benditas!

picadeiro

...sou o vento...sou o tempo...sou a chuva...a loucura do momento
não paro não falo não fala repara em mim pois estou passando
estou amando estou sofrendo estou como o tempo parado observando o vai e vem dos desassistidos oprimidos tomando comprimidos diários de esperança sou a pança do palhaço que chora escondido sou o menino que ri às gargalhadas da tristeza-sorriso do palhaço sou o lábio de histórias de circo de memórias divididas nos picadeiros da vida sou a bala caída no chão pisada pelo sapato gasto do velho pipoqueiro pai da malabarista namorada do motorista que também queria ser o vento o tempo a chuva a loucura do momento...

soldados

onde estão os generais que ganhavam guerras com declarações de amor de canhões?
eles se foram por que morreram ou por que nós acabamos com sua munição?
eles se foram deixando saudade de pólvora?
eles nos deixaram mesmo ou somos soldados soldados em memórias de pátrias amadas?

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

planos ou sonhos

...se são sonhos ou planos?
sonhos são saudade de uma coisa não vivida?
são memórias de uma imagem refletida?
sonhos são esperanças de crianças divertidas?
planos são passos dados n'alguma direção?
são divertidos palmos de mãos sãs?
ou
planos são nossos olhos carregando vontades vãs?

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Release Poético

Sabe o que é MPB? Música Popular Brasileira? Músicas e Poesias Brasileiras? Tudo
isso, mas também Marco Plácido Brasileiro.
Poeta e cantor, que em poemas se apresenta.
CRISTÃO
Nascido na Tijuca há quarenta e cinco anos roxo meio torto como o anjo de
Drummond tio bêbado quase se matou de felicidade avó mãe e pai único filho
durante um período o doente da família depois disso tive tudo de ameba a tifo
rimos muito fomos felizes num apartamento apertado de Icaraí mudei aos dez e talvez
isso tenha me dado uma dor mudança de cor tamanho e quem não sabe disso? Vinte
poucos anos depois voltei pai e aflito com meu destino não conseguia parar de me
preocupar aos quarenta a vida não demora a passar e quando dei por mim não queria
mais brincar de nada que não fosse poesia e música onde estavam todos esses anos
em que fui seguindo sem um plano desenganado pelo estamos seguindo como a vida
nos leva e agora que sei o que quero estou achando que ainda espero algo de que
temo o nome meu nome continua sendo marco aurélio cruz plácido filho irmão marido
pai e cristão até quando até quando?

CAMINHANDO E RIMANDO
Nenhum olhar atravessado nenhuma lei nem a do silêncio nenhum carro nenhum
engarrafamento nenhum emprego nenhum desemprego nenhum sim muito
menos um não nenhum montão de coisas ruins nenhuma crítica nem mesmo
um comentário de contrários nenhum podia ser melhor nenhum Bon Jovi nenhum
fresco som da garotada que ainda não sabe que está errada nenhum zero nenhum
universitário seja forró seja sertanejo nenhum realejo nenhum filho de famoso
nenhum colosso de osso nenhuma gravadora equivocada nenhum bando muito menos
uma banda...
De um impulso descobri que podia escrever e numa homenagem ao meu falecido
irmão lancei três livros de poesia, seus nomes já dizem tudo: DENTRO DE MIM,
OCULTO e PRÓPRIO AMOR. Dentro de mim ocultava meu próprio amor e foi o
que me levou a querer expandir meu destino, comecei menino a cantar, mas só
mostrei depois de lançar o CD "Coleção de Besouros", montei banda e em shows - no
Leblon, na livraria Daconde, SESC-Niterói e na Lapa -- vi que podia tentar uma nova
carreira.
Agora, em treze composições estou finalizando o CD "MPB - Marco Plácido Brasileiro”.
Poeta, cantor e compositor.... inteiro, ora pois.

Blog: marcoplacido.blogspot.com

terça-feira, 22 de novembro de 2011

porta-retrato

quando meus dedos deslizam com dificuldade por parte do meu rosto descubro louco que os anos se passaram meus olhos me enganaram e não me deixaram identificar que aquele senhor sem brilho sou eu o grisalho dos meus cabelos lembram um vovô num porta-retrato escondido no armário esse velho sou eu? posso me enganar em ser quem não sou?

assentos

todos sabemos muito bem tudo o que nos machuca aquelas palavras mudas escondidas num guardanapo de restaurante chinês de quinta poderiam nos fazer chorar de amor e no entanto nos separam tanto que nos transformam quase em estranhos (insuportáveis assentos de frente)

o vulcão

por que ainda estamos juntos
quando fendas separam nossas desilusões arrastam um passado de amizade para o lodo do vulcão-solidão-impressão

o louco

o louco afirma tudo
imagina ser real a futura partida de futebol
entre o Santos de Pelé e o Barcelona de Messi
vê realidade na vontade do ponta-esquerda Pépe de chutar forte em direção ao gol do Felipe
(que joga no Flamengo, mas isso é apenas um pequeno detalhe)
o louco afirma tudo e não pode ser contrariado
porque sabe
(Oh! como sabe)
que tudo está nos livros, nos filmes, nos vídeos
apenas se esquece de tentar entender por quê vive só

passado flor

o passado não passou
é um sonho que se solidificou
em mim
tudo está junto
está como a vida de uma flor
que sobrevive à tempestade porque tem raízes

suor

...o desespero é um cheiro
exala o medo
dos animais acuados
marca o chão com pingos d'água do suor de pensamentos enfadados com o próprio sofrimento

os tênis

...chuva linda...
lindo esforço de relembrar o sabor das águas salgadas
doce vida
lindas marcas d'água

o peso dos tênis molhados são dificuldades afogadas

o fim

estamos há alguns dias do fim do mundo
olho em volta
e o medo é absurdo
ninguém se olha
ninguém conversa
ninguém quer saber...

por que o fim do mundo afeta tanto quem não sabe o que é morrer?

nome

nesse exato momento tenho a sensação de que sei por que escrevo esse espaço em branco tem de ser preenchido por relevos terços credos medos sexos nexos...

perto de mim uma letra pisca o próximo nome

acrobatas

quem dera que uma pedra hera de maontanha pudesse ser a solução acaba sendo uma precipitação de lágrimas acaba sendo um deserto de ideias de mágicas empáfias salvo umas rimas acrobatas

bombril

...tenho fome...
tenho fome de flores
das cores farei um arco-íris
com ou sem hífen
farei mil detalhes com bombril
contarei de um a mil
para inventar um rosto
serei um colosso mesmo que de osso...

kriptonita

...o contrário do super-homem ...
acaba sendo o poeta
enquanto o outro realça suas super habilidades
escondendo o medo da kriptonita
o poeta...
o poeta...
acaba sendo...
a kriptonita

sábio

aquele que vejo já se foi de mim
reconheço-me e num instante chego ao fim
de milhares de rostos posso ser um só?
posso me limitar a uma imagem quando todos acham que me conhecem
quem sabe quantos olhares nos refletem?

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Sobre os heterônimos de Fernando Pessoa

"Caeiro tem uma disciplina: as coisas devem ser sentidas tal como são. Ricardo Reis tem outro tipo de disciplina: as coisas devem ser sentidas não só como são, mas também de modo a enquadrar-se num certo ideal de medida e regras clássicas. Em Álvaro de Campos, as coisas devem ser simplesmente sentidas. (Opinião de Thomas Crosse, outro heterônimo de Pessoa, idem posts anteriores).

Álvaro de Campos (heterônimo de Pessoa), opinião

"...com emoções farei só música. Com emoções que caminham para as ideias...fareis o canto. Com ideias só...fareis poesia. Por isso, " quanto mais fria a poesia, mais verdadeira". (idem ao post anterior).

Ricardo Reis (heterônimo de Pessoa), opinião

" a poesia é uma música que se faz com ideias, e por isso com palavras" (idem do post anterior).

Fernando Pessoa, opinião

"Palavras expressam ideias, voz transmite emoção. A poesia, como expressão de ideias, nasce das palavras. O verso, como expressão de emoções, nasce da voz. Em sua origem a poesia era oral, era cantada. A expressão da ideia exige explicação. A expressão da emoção exige ritmo. Comunicar essa emoção é retirar-lhe o pensamento, mantendo essa expressão." (Trecho do Livro Fernando Pessoa, uma quase autobiografia, de José Paulo Cavalcanti Filho).

guidão

único animal em que o tamanho não importa parado apenas com o cérebro escrevo uma ópera de longe um cientista-médico ajuda numa operação um esquimó pode fazer uma canção sobre índios brasileiros que anoitecem com a mata e no entanto não matam minha sofreguidão Picasso com um guidão fez um touro um bigode definiu nossa andança surrealista outro bigode quis acabar com uma nação

domingo, 20 de novembro de 2011

auto ajuda

esperemos as consequências de nossos acertos tênues erros nos fizeram aprender para construir essa nova história algumas falhas na memória nos capacitaram a continuar
tudo diferente dos nobres livros de auto ajuda?

gago e falho

canto com voz de sombra do encanto que vejo nos seus olhos de fado
enquanto sonho falo
amanheço falho de oportunidades
soluço gaguejo cuspes tolos
maculados pelo medo de desconhecer minha própria voz
enquanto canto o encanto de pertencer-te
espero anoitecer-me em seus melódicos braços

tenho...

tenho que ligar
tenho que pagar
tenho que fazer
tenho que acontecer
tenho que rezar
tenho que parar
tenho que me proteger
tenho que te proteger
tenho...
tenho...
tenho...

TENHO QUE PARAR DE TER E SER!

embutida

não há como um poeta inventar uma palavra?
penso
e cansado de tentar responder
penso uma resposta
com outra pergunta
é importante
inventar palavras
ou
é mais necessário descrever sentimentos?

chamada

o botãozinho da imaginação me pegou
mas não é fuga
compreendo cada vez mais essa vida de luta e luto do meu jeito com rimas e apetrechos típicos de um poeta não me iludo somos nós os revolucionários aqueles que chamam as pessoas à fala aqueles que cobram carinho e atenção não só para nós outros mas para todos para nós outros habitantes desse espaço de tempo em que pretendemos marcar nossos passos

brotoeja

ela é erva
eu sou mate
ela é arte
eu encaixe
ela é linda
eu ferida
ela é meiga
eu brotoeja
ela é fruto
eu sou susto
ela é mundo
eu absurdo
ela é minha
eu daninha

simples assim

ninguém sabe o que sinto ninguém sabe o que sinto quando do palco vejo os meninos vendo o esforço do pai empurrando um navio ninguém vê o que eu vejo ninguém vê o instante em que somos o mesmo o mesmo sonho o mesmo sentimento único simples sons simples sins simples assim

sábado, 19 de novembro de 2011

salgadas

desejo olhos são beijos?
em quartos estreitos seremos sempre ondas salgadas?
acumularemos batalhas sangrentas em camas quadradas?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

a vez

"...aos amigos tudo
aos inimigos a lei!"

lema brasileiro?
ou apenas um jeito engraçado de falar a verdade?
em todos os lugares os enturmados têm vez?
ou quem tem talento pode esperar sentado queimando a tez?

saia

não é que seja fácil
mas
as palavras estão penduradas
nos galhos
nos chapéus
nas bengalas
em tudo há vida
na ferida
na cotia
na menina que passa de saia
o poeta apenas repara
repara a saia
repara a bengala
e o sorriso envergonhado da senhora sem graça
que repara no reparo do poeta sem saia

um pastor

um amigo meu é pastor é pastor e me avisou me avisou que um amigo pastor escreveu e não mostrou não mostrou mas escreveu importante solução para um pastor amigo meu

amargo

em olhares vagos me apoiei e passei a criar espaços jamais imaginados pelos desesperados fingidores do doce da realidade do amargo da imaginação

antevisão

será que quem está me vendo agora está se vendo nessas letras e percebe que um poema é só um modo de um homem só envolver-se em palavras ninar-se se dar medalhas premiando uma coragem de criança?

o tombo

quantos estão aí do outro lado julgando-me jogando-se para o alto esperando que o tombo seja só o meu?

condon

algumas vezes me confundem, porque escrevo
algum paspalho
acha que escrever é fácil
é o máximo mostrar carências e absurdos do mundo
é um jogo
com um jogador
jogando alto
jogando fora o fardo de entender-se sem proteção

pinto

as palavras
de vez em quando escapam
criam asas
de palha
Ícaro renascido
um pinto
procurando a mãe
escapa das mãos
de quem
lhe dará alimento
e
algum calor

ironia em tintas

escritores são flores
de um jardim de verdades
mágoas da coragem de olhar cruelmente para as feridas expostas em linhas em páginas
descritas com tintas da fina ironia de um homem só

o circo...

...é perigo para os meninos citadinos que querem voar

marujos

as barcas na baía encontram barcos que não têm uma história brasileira
navegam sem fronteiras desenvolvendo a solidão dos marujos
brutos homens que choram escondidos
enquanto rimo

bondinhos

...e agora que acabaram com os bondes onde se escondem aqueles sentimentos antigos que estavam resguardados pelo barulho dos trilhos?

mendigos

mendigos bêbados têm contato com Deus?
pergunto sem querer ofender
pergunto por não saber quem são os escolhidos quem são os que podem fugir do atrito dessa vida de esquina

folha

sinto saudade
vivo choro grito imploro pelas imagens pelo cheiro pela inteira folhagem da árvore que me criou

folha

invenção

por ser verdadeiro
é inteiro
imenso
na única possibilidade
de ser tudo incrível
invenção de vacuidade

sábio

aquele que vejo já se foi de mim
reconheço-me e num instante chego ao fim
de milhares de rostos posso ser um só?
posso me limitar a uma imagem quando todos acham que me conhecem
quem sabe quantos olhares nos refletem?

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

utopia

alegria dividida
agradável utopia
de dia brilha
à noite soluça de solidão
o brilho dos olhos de alguns poucos é solução

utopias

...mais difícil não é seguir
é seguir com rumo
sendo corrente
de fundo
repleta de algas e peixes
sendo o mundo sorvendo correnteza de gentes
sendo água salgada sem maresia
sendo um mundo de descascadas utopias
encerrando-me ferro
num mar acobreado de pisadas rimas

falidos

vendo o vento interferir
vendo, vejo o olho partir
na direção contrária
à minha aura
ossos partindo
coincidências
resvalando em maledicências
torpes indececências
cênicas
de desalmados
armados
com dentes
falidos

Poemeu "Sendo dor"

A Fernando Pessoa

Sendo dor
sinto os dedos tremerem
os dedos do poeta que geme
a sabedoria de sentir-me presente

os leitores sentem-me latente
dor do poeta entristecido
pela existência que finge
em pingos

que espremo sendo razão
nas calhas de roda
comboio de corda
do poeta que se chama coração

O poeta pelos poetas

Para Keats, um poeta é a coisa menos poética da existência, porque ele não tem identidade.

Para Edgar Allan Poe, todo pensamento, para ser breve, é sentido por cada um como uma afronta pessoal à própria pessoa.

Para Walt Whitman, dentro do homem há multidões.

Para Nietzche, um homem só, só com suas ideias, passa por louco; e meu coração...força-me a falar como se eu fosse dois.

Para Rimbaud, eu é um e outro.

Para Flaubert, Madame Bovary sou eu.

Para Baudelaire, o artista só é artista com a condição de ser duplo; e quem não sabe povoar a sua solidão também não sabe estar só em meio a uma multidão atarefada. O poeta goza do imcomparável privilégio de ser, à sua vontade, ele mesmo e outrem. Como as almas errantes que procuram corpo, ele entra, quando lhe apraz, na personalidade de cada um.

(Trechos do livro Fernando Pessoa, uma quase autobiografia, de José Paulo Cavalcanti Filho).

Sonetinho do falso Fernando Pessoa, de Carlos Drummond de Andrade

"Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
Muitas há que não vi.

Sem mim como sem ti
Posso durar. Desisto
De tudo quanto é misto
E que odiei ou senti.

Nem fausto nem Mefisto,
À deusa que se ri
Desse nosso oaristo, (conversa íntima)

Eis-me a dizer:assisto
Além, nenhum, aqui,
Mas não sou eu, nem isto.".

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Explicações, algumas, do poema AUTOPSICOGRAFIA

"São muitas as interpretações para esses versos. Na maioria, considerando que fingir é qualidade de uma dor que deveras sente, é aquilo que se atinge quando o fingimento é completo -- assim o tem Manuel Gusmão. Ou sugerindo que não se trata de simular, mas de sublimar, que o leitor não sabe nada acerca do sentimento do poeta -- segundo August Willemsen. Ou indicando o reconhecimento da dor como base imprescindível da criação poética, incorporando esse fingimento ao seu próprio estilo -- palavras de Gaspar Simões. Sendo um "fingidor", o poeta não finge, em verdade, a dor que não sentiu, mas, sim, a dor de que teve experiência direta. A dor real ficou na carne, não chegou à poesia. A dor que a poesia exprime é exatamente a que os leitores não têm.". (Trecho retirado do livro Fernando Pessoa, uma quase autobiografia, de José Paulo Cavalcanti Filho.).

AUTOPSICOGRAFIA, poema de Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

a casa

não existem casas
a casa somos nós
habitantes dos vãos
amantes dos sãos desejos amadeirados
apaixonados pelo tom das telhas de nossas cabeças

perdão

concentre a mente no momento presente concentre a mente no momento presente presenteie o momento presente com a mente no momento concentre a mente no presente esqueça o futuro perdoe o passado

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

doce olhar

ainda ontem você me ensinou a rezar e as mulheres à minha volta eram tias ainda ontem conseguíamos brigar e era uma raiva de quem se amava raiva de guardar abraços e beijos para depois ainda ontem esqueci de mim e lembrei do seu doce olhar de menina

seis meses

a última vez que nos vimos tem seis meses aquele olhar nunca acabará em mim nas minhas retinas sua imagem está cristalino um sorriso de querer e não poder abraçar

aquecido

minha mãe como eu não tinha medo de nada não tinha tempo para erratas vivia a vida do modo mais simples amando viver e conhecer os seres humanos que somos amando o tempo com pessoas de carne e osso hoje o vento frio no rosto me lembrou seu olhar de fim e aquecido sigo

um milhão

hoje eu fui numa rua que tinha um milhão de pés um milhão de mãos um milhão de culpas um milhão de desculpas

um milhão chorando solidão

pomba

sede
leão
abraço
urso
pulo
poodle
tamanho
elefante
pescoço
girafa
voo
da paz

colo

colo
oco do ócio
óbvio
sócio
sólido
bolo
fofo
monto
solto
louco
colo

mã(o)s

revolver a terra
germinada em lágrimas
da criança
desesperada
por brinquedos
verdadeiros numa vida real sofrida solitária pela ausência daquelas mãos

revólver

com as pás-poemas revolvo a terra desencavo sentimentos do terreno da infância escondida que precisava de uma brincadeira mesmo com revólver de espoleta

facebooks

os mais velhos criticam os orkuts facebooks da vida mas esses aparelhos como a faca são só instrumentos tanto matam como cortam a maçã do tempo

dores

Solte-as ao vento, perca palavras, não sentimentos...larvas, borboletas com o tempo...

salvador

vi um feto agarrar a mão do médico que acabara de salvar-lhe a vida chorei a emoção do encontro entre seis dedos me fez sentar e escrever que somos os olhos que veem bondades escolhemos quem podemos salvar? então salvemos

domingo, 13 de novembro de 2011

a ira

a porrada comeu alguém se perdeu e não fui eu sempre acho vantagem deixar explicitada a ira alheia com fingimento um inimigo sempre consegue seu intento

vaso

letro lego palavras sem nexo arrumo um motivo para escrever palavrão que não é palavra grande é palavra de emoção da batida do pé na calçada da porrada do cotovelo na pia do banheiro sou um sujeito abismado com o pouco espaço para o vaso nesse banheiros moderninhos

letras

letras sobem somem se escondem de mim de ti letras procurando papel pessoas procurando anel ônibus carro moto viagens viajo sozinho e parado olhando a paisagem de letras formando uma vida cismando em ser palavras proibidas

tributo

as raízes nutrem a frondosa árvore que chora frutos como tributo

tuba

um tombo barulho de tuba fim de festa desafino de orquestra grama em tumba

gruta

no fluxo a vida segue no seu fluxo incontrolável de sustos e rugas lei da gravidade absoluta inexorável como escuridão em gruta

Dom

entre a espada e a loucura
o cavaleiro solitário anda
enfrentando moinhos
enfrentando a bravura de lutar contra o nada
de lutar contra a estrada
contra o vento
de seus transloucados pensamentos
reais pare ele que é de papel

floreios

...um sofrimento...
ver a folha em branco pedindo
implorando uma linha
um rabisco
ansiando
por um fio
de esperança
por uma dança
inventada por meus meios por meus floreios

titãs

"a televisão me deixou burro, muito burro, demais..."
desculpas antecipadas aos que gostam
não me ocupo com a vida alheia
a minha já me dá muito trabalho
a equipe de anjos da guarda
se atrapalha em cuidados
com um cara
irritado com a mania crescente da falta de opções entre cristãos!

assiduidade

não posso temer olhar-me no espelho
(como a maioria
não gosto do que vejo)
não gosto das gorduras adquiridas com o excesso de vida
não gosto do nariz e orelhas crescendo...
mas
me orgulho
das rugas e das olheiras
ganhas
pela extrema assiduidade com que me conheço escrevendo

lição

emociono-me
e a medida em que a emoção se transforma em sensação
eriçando-me
encontro-me comigo e espirro de tensão
escrevo por tensão
e vivo tencionado essa lição

olhares cinzas

uma manhã cinza estimula uma tarde cinza?
uma tarde cinza estimula palavras cinzas?
algumas palavras cinzas estimulam uma noite negra?
uma noite negra não pode ser colorida por estrelas?

(quem terá tempo de olhá-las?)

lenhadores

os nós que queremos desatar são os outros? ou
são nossos desconfortos?
somos talhados para afirmar quem somos? ou
desejamos os engodos que muitas vezes armamos para nós outros sofredores dos entornos?

somos criadores dos fornos que não queimarão nossos laços por falta de carvão?

sensitivos

só somos solitários quando sentimos saudade?

crianças não sabem o que é saudade? ou

sentem mas não sofrem porque desconhecem o nome da sensação?

apoios

com quantos dedos contamos para um explícito apoio?
o polegar saiu para namorar...
o anelar está com problemas conjugais...
o indicador indica mais não faz...
o médio...é médio...
e o mínimo, coitado foi usado para salário...

Forrest Gump

desculpem
não posso perder tempo com contas e vencimentos
que nunca poderiam fazer parte da minha rotina
ainda mais agora
perseguida
pelas rimas
que não me deixam fechar os olhos para inventar uma mentira
a verdade todo dia arde em meu cristalino
olhos de menino num mundo de homens
selvagens porque sem tempo para as bobagens que serão contadas como mentiras aos netos se é que eles perderão tempo com um velho contador de histórias...

sábado, 12 de novembro de 2011

tubarão

àqueles que procuram fórmulas mágicas e genialidade
insisto em dizer
que o talento deve ser diariamente treinado testado no limite da exaustão o talento deve ser cuidado como um pássaro cuida do ninho como um tubarão cuida do seu instinto assassino

assobios

as opiniões agora descansam em paz
por saber-me desprovido de ouvidos
por saber-me destituído de princípios
para seus assobios sem estilo

são paulina

em torno do desgosto
sou fevereiro
contagiante energia de carnaval
sem perder o tino
de que o negócio é sério
é ferro na boneca
não é o tempo-Bahia
é o fermento nostalgia-são-paulina

chicos e caetanos

todos estão fazendo tudo de um jeito um pouco civilizado demais
me parece que estão querendo ser chicos ou caetanos mas isso já passou nem os próprios conseguem ser o que já foram e isso é normal por que não tentamos fazer algo novo sendo nós mesmos?

maré

economizemos as folhas esqueçamos cadernos de anotação escrevamos poemas na areia da praia fotografemosa ilusão antes do instante da maré fujamos da ralé sensação padrão

sucos

juntos somos o sumo da liberdade adquirida entre a familiar sensação de bem querer mucos de vida laranjas espremidas pingando realidades sucos de sonhos de gargalhadas de parque

esbarrão

as vírgulas nos separam, as entrelinhas não nos deixam tocar, os hífens são entraves

tudo que mais quero é o esbarrão do primeiro olhar

gripe

é sempre o som é sempre o som que me leva para a emoção é sempre o som que me incita me excita me provoca pelos eriçados me provoca a garganta seca de tesão é sempre o som do seu coração é sempre a gripe é sempre o grito o exercício da imaginação

estanho

estamos estranhos?
estamos estanho?
protegemos da corrosão... e da emoção?

sóis

enquanto germino a palavra esperança
espera água e carinho
para poder nascer
recebe o sol
com prazer
de olhos que não sabem o porquê
das coisas
mas acreditam
sem precisar o motivo
acreditam e por isso frutificam
em olhares de girassóis
em milhares de si bemóis
que agitam os pés pequeninos de crianças sóis


(que somos nós...)

impolutos

enquanto estivermos juntos
enquanto estivermos mundos
enquanto estivermos fecundos
enquanto estivermos surdos
enquanto estivermos impolutos

JUNTOS

JUNTOS

FUNDOS

MUNDOS

FECUNDOS

TRUCOS

IMUNDOS

CRUZ

Estanhos

Por que não nos amamos
enquanto estamos juntos?
Por que necessitamos brigar?
Por que a rotina invade nossas vidas?
Por que não inventamos canções de ninar?
Por que não nos perdoamos
cantando rimas?
Por que não necessitamos nos olhar?
Por que as palavras saem intranquilas?
Por que não nos amamos
enquanto ainda
juntos estamos?

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

pais

possível paz num mundo em guerra
homens desacostumados a se ver
sem tempo para temer
exercem a liderança empurrados pela necessidade nada santa
precisão de fortaleza num mundo de irrestrita ganância
atores num palco em que se desconhece a palavra sim


pais

todosdas

algunsmeninossãofortessãounidosalgunsmeninosprecisamdasmãostodosdasmães

labaredas

quando algumas palavras entram e te fazem chorar não são palavras são verdades que ardem que ardem

pipa

papel colado com cuspe
em varetas de árvores plantadas
com as mãos fechadas
de saudade
isso é
poesia

mala

quem tem um amigo
é um felizardo
passarinho no ninho
urubu vendo o flamengo ganhar
um amigo é uma outra mão ajudando a carregar mala
pesada sina versada, às vezes
um amigo muitas vezes é o princípio de uma revolução
alimenta aquela palavara que falta...

ninhos

não tenha medo
não sou grande nem pequeno
sou do tamanho dos meus desejos
que ardem em dedos
agressivos em escrever
verdades
árvores
de raízes profundas
com ninhos de passarinhos

velhice

não me olhe assim
cada uma dessas rugas tem uma história
todas contam o colar de pérolas que perdi em cada batalha
mas
sobrevivi
como você pode ver
senti o gosto de terra na boca
(gosto de asfalto)
e levantei...
(e você?)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

tempero

a arte é a interpretação da vida do sentimento do medo do artista como tempero

esconderijo

hoje em dia
onde as crianças podem ter calma?
onde podem brincar de polícia sem ouvir tiros?
onde podem exercer a mínima ingenuidade de meninos?
onde podem se esconder para chorar?

almas

sou feliz?
ou não sei o que se passa na carcaça?
a
caça
foge do lobo
como seus olhos fogem dos meus?
como sua alma foge zangada da luz de lua da minha alma?

suspiro

não existe nada que não seja passado e futuro tudo aqui agora é sopro de ilusão chama ardente no tempo de um suspiro d'alma

fração

li
escrevi
e
venci
o medo...

(de começar a dedilhar
as letras
símbolos
fálicos
que quase me deixou inteiro
mas
fracionado por dentro...)

os os

pretender andar pelas estradas da vida sem ficar com marcas é grande bobagem todos os dias enfrentamos nossos fantasmas e os poucos sins foram conseguidos de desavisados nãos sãos somos todos quando enfrentamos o medo o desejo os defeitos os dilemas os problemas os poemas

vampiro

se quer escrever sem pensar
é melhor falar
se quer crer sem pensar
é melhor rezar
se quer ler sem pensar
é melhor se crucificar

terça-feira, 8 de novembro de 2011

chave

o que eu tenho de escrever
eu escrevo
mas
às vezes
leio

a leitura funciona para destravar a chave do segredo

cordas

sabendo do final da história resolvi mudar o rumo da prosa e começar a dedilhar as cordas das rimas que são lindas na sua ingenidade de falar a verdade que arde em todos nós que fingimos desconhecer como dói envelhecer

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Êxito

A Maykon Rodrigues

Não me excito
Com
O êxito
De
ontem
Hoje hesito...
Para ter amanhã


(“Mosquito”, apelido dado a esse poema pelo homenageado).

OS BEBEÇAS RODGERS (parte 4)

...e os três bebeças se encontrarm...saiu faísca, claro! Ti ago com a história da injeção que acalmava fiofó, ouviu do Nicolas outra tão engraçada quanto...dizia Cage que existia uma injeção de laranja que curava tosse...essa não foi mole! Vivico só ficava sorrindo e balançando a perninha, dançava um roque muito embalado, devia ser da Rita Lee ou do Justin Biba, sei lá! Cada criança tem seu artista preferido, o do Ti ago é a Xuxa! O do Nicolas o pai e o do Vivico é o menino com verruga na bunda!

Júnior

no silêncio da manhã
duas coisas chamam minha atenção
o barulho arrulhado do computador
e o salto assustado de um coração canino apaixonado por um menino

padaria

de repente deu saudade da rotina
aquelas brigas
aquela padaria
aqueles pães sem graça
de repente desejei voltar
só porque você existia

dia de inverno

às cinco da manhã nem vento há
o sol ainda não acordou
a cidade está vazia
de repente um ar de verão se instalou
botando esse dia de inverno para correr
as ruas começam a arrulhar
as pessoas passam de ônibus voando
perto das seis a manhã já está em sua rotina
as pessoas respiram porque têm de respirar

a brisa vazia vem me chamar

domingo, 6 de novembro de 2011

O PALHAÇO

A Selton Mello


Mais uma alma salva na delicadeza da calma nem sempre há graça no palhaço a lágrima que escorre invisível mostra a gravata borboleta dilacerada entre o mundo real e as fortes cores da ilusão da lona do circo menino grande o palhaço esboça nossa esperança em pequenos gestos gigantes de amizade tão reais que escondem sua mágoa com as dificuldades circulares da vida

sábado, 5 de novembro de 2011

encruzilhada

querem me amarrar em segredos vividos na ilusão de pedreiros de muros de flores viciadas querem me prender com as amarras de coloridas velas quebradas falsas chamas de fósforos emprestados querem me parar como param um carro desgovernado numa encruzilhada

ilusionistas

ilusão é escrever sobre fatos da vida real por metáforas ou viver esperando viagens interplanetárias?

aceitação

como é ruim fazer arte?!
se sou expressamente do meu jeito e ainda sou aceito...

carvão

instrumentos introdutórios é o que são as palavras apresentam o âmago da questão o carvão das ideias a chama interna de um poeta

Pessoa (ainda) Soa

"Quando era criança, o circo de domingo divertia-me toda semana. Hoje só me diverte o circo de domingo de toda semana da minha infância."
Quando o palhaço chora, o circo sou eu
Quando o leão ruge, o circo sou eu
Quando o picadeiro depois de cheio fica vazio, o circo sou eu

Pessoa Soa

"Deus criou-me para criança de deixou-me sempre criança. Mas por que deixou que a Vida me batesse e me tirasse os brinquedos e me deixasse só?"
Fez isso e se fez não é Deus, amigo, é o destino que ficou para nos guardar!

VIRGÍLIO, poema nata

"A alma treme só de lembrar" (Virgílio)
do tempo em que o tempo era calma
do tempo em que o tempo era leite com nata...

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

casulo

todos os erros registrados no papel arrumei um maço de problemas e uma tonelada de experiências acumuladas que acabaram desaguando em novos filhos que me levaram a escrever ainda mais aflito sobre o risco de temer errar que transformou poemas em melodias...

harmonia

vamos sair para dançar?

mas

onde estão as músicas de nossas vidas?

onde encontro as melodias que relembrem nossa harmonia?

súmula

...é de suma importância ouvirmos todos tudo pode modificar nosso modo de raciocinar as estatísticas provam muito do que estamos a estudar...patatipatatá... pá daqui, pá de lá

(subterfúgios para adiarmos aquilo que temos que fazer...)

egípcio

aquele rosto egípcio fotografado num quadro de vaidades me lembrou o meu rosto acordado por um mar de ardentes tardes

última ruga

...de passagem...
todos estamos de passagem
sem massagem nos pés não vale a pena ficar
sem passagem que nos estimule a viajar pelos caminhos da mente da enchente de águas da cachoeira da história, própria
de passagem estamos todos e cada dia é um milagre acordarmos respirando instintos estimulando cuidados clínicos para continuarmos meninos até a última ruga

garças

minhas músicas devem a vida à métrica dos poemas
devem ser gratas
como as garças à lagoa
como os filhos aos mestres
como os poetas aos problemas
que nos dão medo
e por isso escrevemos

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

OS BEBEÇA RODGERS (parte 3)

Ah! Geralmente as maiores traquinagens eram idealizadas pelo menino de verruga na bunda, que, para alguns, tinha o apelido de Pimentinha. O bichinho não parava quieto, pulava o dia inteiro. De cá para lá, de lá para cá. Quando estava animado, que era sempre, jogava bola, comia, bebia, falava, falava, falava pelos cotovelos. Doido para aprender a escrever, sofria tentando ler tudo que era letra, as figuras não tinham mais graça, as figuras, agora, eram caretas. Como seu avô que sempre brigava com ele quando ele não queria comer feijão. O danado comia de tudo, mas implicou com o coitado do feijão. Que chamava de ruimzão!

filósofo

inevitável
sou meu passado
minha mãe cantava
meu pai tocava violão
um tio avô escrevia
minha avó vivia cercada de artistas

a vida é uma sequência diz meu sogro filósofo português

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

no mínimo onze

aprendemos desde muito cedo a contar
mas
continuamos contando errado
um e um não são dois
são vinte e dois motivos para uma briga
quatro mais quatro
pode ser oito que deitado é o infinito de soluções impensadas
um solitário
se tiver imaginação
transforma sua responsabilidade em inclusão

de Drummond

preciso de Drummond
como um viciado precisa de ar
como um político precisa de lar
como um mineiro precisa de mar

sangue

...contra os céus
o mais puro humano sangue pingando na terra de nossas preocupações

...poesia

tintureiro

um pintor
pinta com tintas
um poeta
pinta com sombras de despedidas

rimas e despedidas

esse cara que senta na frente do computador para escrever é igual a todos vocês que estão aí do outro lado apenas um pouco mais calejado, treinado em dispor das letras, como um professor dispõe das cadeiras numa sala de aula esquecido das repercussões que possam ocorrer das opiniões que possam fazer ligado apenas no fato de estar digitando uma parte da vida que acaba tendo menos rimas e mais despedidas

primeiras letras

escrever é fácil
sentir é que é difícil

quando quero escrever sobre saudade lembro das pessoas que partiram me deixando solitário em lágrimas
quando quero escrever sobre felicidade lembro dos olhos dos meninos ganhando um presente inesperado no Natal
quando quero escrever sobre escrever lembro de mim começando a soletrar as primeiras letras

relógio

para o poeta
aos minutos se somam seus atributos
qualidades e defeitos
são os ponteiros do relógio da vida
em poesia

apontadores

todos sonham
e os poetas é que são loucos

justamente aqueles que registram os sonhos..?

lúcido

com a rapidez
da palavra exata
com a robustez
da palavra mágica
com a lucidez
da palavra lágrima

poetiso porque sem poesia a vida é apenas fantasia

suco

numa sociedade de consumo
tudo é consumido
o gesto
a palavra
o olhar
tudo é rápido e mal mastigado
digerido
como um suco
tomado no armário
sem luz
sem brisa
sem sol

tudo é cruel porque cruéis somos todos

herança

tudo aquilo que Drummond perdeu
porque morreu
acabou pequeno por sua falta
a simplicidade
rara de suas palavras
retirou a magia da vida comum
transformou em pó
pétalas
da flor-poesia
que ele cultivara
como herança de
um simples gesto

preconceitos

quem abre mão do tempo
desconsidera o contexto
universal
sem tempo para reflexões
as verdades são espelhos dos preconceitos

o o

quando nada te faz feliz
você é um infeliz
quando o nada te faz feliz
tudo já está explicado

brasões

capas de livros
não são
invólucros
capas de livros
são brasões
históricos!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

heráldica

exímio arremessador de facas poéticas rimas enfáticas fátimas de crianças catárquicas exata noção de fluência heráldica

to be or...

quer se ver livre?
ou
quer se ver livro?

quero-quero-quero

uso hífen quando quero
quero-quero-quero-quero
uso hífen quando quero
não me interessam sou do tipo
as-regras-só-servem-àqueles-que-se-esquecem-de-descobrir-a-matéria-poética

conjugação

não exijas solidão de pessoas dedos-entrelaçados
corpos-ardentes-para-sempre
exigirão
a correta conjugação

amanteigado

nada aqui é feito de improviso faço rápido mas é resultado de muita dor e de muito pensar peso os ingredientes dessa torta maneira de me expressar e expresso imprimo me interesso por tudo por todos os momentos aqui nada é passageiro fica tudo registrado na retina de um olhar de um olhar amanteigado pela esperança de dias rimados

Rio de Janeiro

cenário de meninos batedores de falta nas areias da praia de Icaraí nada ali amedronta porque imagem parada irreal cadência, ardência, demência de figuras acostumadas aos movimentos das estrelas

fios

sua colcha de medos foi costurada em quantos segredos?

alaranjados

alguns eleitos elegem eleger outros eleitos e descartam pelo nascimento os de pouco talento verdes para eles
os amarelos eleitos são eleitores de uma cor alaranjada pela vermelhidão descarada de seus medos secretos

armadilhas

a vida é fácil
o difícil na vida é não se entregar às dificuldades
não aceitar as bobagens que acabam se fixando nas nossas cabeças de crianças crescidas
ignorantes por não ignorarmos todas as armadilhas divinas, cretinas, amigas

ao relento

...esse cheiro de sentimento
na verdade é de um desejo
desejo de ser melhor
desejo de ser paciente
desejo de conseguir ver os meninos crescerem
desejo de comer a maçã do tempo
e de não precisar temer o relento
desejo de não precisar de um coberto para aquecer minhas vergonhas...

Carlos Drummond de Andrade -- Homenagem, Poema Minas

Agora te entendo
agora também já tenho segredos
ouço a voz do vento
(sua voz fina)
buscando meus pensamentos...

(agora já sei por que escrevo)

agora já consigo chorar
escrever aquelas palavras tão duras
de vidas
desgastadas que para os outros são cascas
e para nós outros
são
Minas...

OS BEBEÇAS RODGERS (parte 2)

Os Bebeças Rodgers, eram Bebeças, porque tinham cabeças inteligentes, e Rodgers, porque achavam que podiam fazer de tudo, típico jeito de crianças dos dois aos oitenta anos!

Ti ago tinha dois irmãos. Cocozinho parrudo e Apaca. Cada um com sua mania, um cuspia, o outro só pensava em falar Apaca. Era apaca isso, apaca aquilo... Não entendeu, já explico, tipo: Apaca vai chover, Apaca não quero... Por que fazia isso? Sei lá! Ah! o outro adorava sabiá!
Cage, Nicolas Cage adorava carrinhos, implicava com um vermelho, seu preferido. Abria o maior berreiro se algum dos outros artistas de sua banda de rock imaginária se metia a querer brincar com aquele seu objeto de velocidade. O moleque com aquele carrinho fazia cada arte!
Vivico era o menorzinho e por isso mais paparicado pelas primas, esperto fazia cara de santinho, se abandonava em gargalhadas, enquanto planejava alguma traquinagem... (continua num próximo episódio).

domingo, 30 de outubro de 2011

Do Ensaio SILÊNCIO OLHAR AZUL

Capitulo 3 – Olhar azul


O que é um olhar azul?

Queria te ver feliz todos os dias, felicidade é utopia? Esquina de cidade do interior que não existe no Rio...todo dia é um desafio enfrento trânsito, sinais, perigo de vida. Todo dia esqueço uma rima para me lembrar de você. Todo dia sonho com sorrisos, mas enfrento dentes mesquinhos. Todo dia, todo dia, é uma luta diária, todo dia tenho dor na arcada, mas não paro de enfrentar (de me enfrentar),
a dor me lembra de estar vivo. Olhar azul é estar vivo, olhando...olhando tudo.

Gosto do gosto de Deus no rosto, uma linha de gozo dedilhada nas cordas de um violão abluesado, pintado de um azul de céu estrelado...conhecimento da situação, única sensação de pertinência... essência de tudo que não seja maldade. Bondade é olhar azul.

Alimento-me do ensejo, como a boca do beijo, como o dente deseja fartura, como os olhos desejam a culpa. Desejos são olhar azul.

Uma foto de um menino sorrindo, não é uma foto é um ninhode bolações, criações alucinadas de uma criança amada. Amar e ser uma criança amada é olhar azul.

Engraçado quando vejo olhos procurando mentiras que agradam só a quem ouve...couve agrada só a quem vende...verdades agradam só a quem fala. Verdades são olhar azul.

Um olhar da lua, olhar azul, nova visagem, nova sugestão nova lua nova. Olhar azul...a perspectiva de um menino querendo acordar cansado de tanto brincar...Olhar azul é a intenção muito mais do que a razão.

Quem trouxe esse mundo cinza ao meu olhar azul? Foi o tempo com sua rotina de perdas?

Inimizade

pouco provável que haja solução...
um relacionamento depende de vontade e emoção, positivas
quando um olha para o outro e só vê defeitos, alguns que incomodam porque são os mesmos, a vaca já foi para o brejo
detesto dizer isso, mas acho que desisto de tentar...

(algumas vezes é necessário parar de testar nossos limites)

OS BEBEÇAS RODGERS

Os quatro garotos aprontavam. três primos com sua banda de rock imaginária e o menino de verruga na bunda. Cage, Nicolas Cage, Ti ago e Vivico se esbaldavam. Corriam, gritavam, pulavam por toda a extensão do sítio do avô. O sítio do pica-pau Azul era lindo, tinha lago, patos, marrecos, pintinhos...
Cage, era um papagaio, repetia tudo o que o primo mais velho falava. Se Ti ago falasse: "Soltei um pum!", ele imediatamente repetia, com uma vozia de criança feliz: "Soltei um pum!. Vivico era o menorzinho, mas não podia ver os outros dois, juntos ou separados, que abria aquele sorriso de fazedor de merda. Brincadeiras a mil, ajudados pelo menino de verruga na bunda, que adorava nadar no lago, acho que para mostrar o motivo do apelido. O garoto era um azougue, só pensava em se divertir...falava para os amigos que um dia iria partir dali.... (continua numa próxima oportunidade).

sábado, 29 de outubro de 2011

...escrevo...

...a folha caindo amarelecida pelo tempo
o pássaro pedindo comida
o menino olhando a revista
a mãe de mão dada com o pequeno
o pai preocupado com o resultado do campeonato
o jornaleiro esperando a hora passar...

...vida passando não esperando nada...

tatoo

o sol arrasa meus olhos tatua em meu corpo um hálito de suor sal de encontros ao redor de mim tudo se desfaz porque espraia a essência da falta de coragem para me queimar

SILÊNCIO OLHAR AZUL, nome do Ensaio

Silêncio olhar azul é o silêncio solidão solitário do astronauta da lua olhando a terra azul é a descoberta da verdade científica que muda tudo que mudo muda o silêncio do homem que se descobre só solidifica a sensação tênue aqui na Terra que temos com quem conversar de lá tudo é azul um silêncio solitário azul de um homem que sabe que não adianta chorar

pequenos olhos

todo dia eu me lembro de mim esqueço de tudo e me lembro de mim (é extremamente necessário lembrar-se de si) em ti amanheço e não esqueço somos únicos lembranças de momentos (esquecemos de vez em quando o começo) sinfonia de melodia romântica românica-latina brevidade clínica de nossas melhores lágrimas essências de árvores demos frutos e o mundo sorri para nossos pequenos olhos felizes

espelho

sinto medo e desespero
medo de sentir medo
medo de estar só
medo do medo

desespero de demonstrar esse medo e de me acharem medroso
todos os corajosos julgam-me assam-me em seus fornos de incompreensão
todos os corajosos continuam a correr atrás dos próprios sonhos desdenhando da emoção do outro (da minha emoção, pequena mas minha) que não existe positivamente, existe
sendo sombra do medo refletido em meu desespero

irmãs

onde estão todos?
onde estão os tolos?
onde estão os toldos que cobriam nossas vergonhas?
onde estão os caroços de manga?
onde estão os jardins que renovavam nosso ar?
onde estão a alegria e a ingenuidade no carnaval?
onde estão os espaços que provocavam nossa criatividade?
onde estão amizade e saudade?

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

o vento

emocionante a ilusão por um instante entre aquilo que o ouvido ouve e o vento de música que fiz pensando em você

o azul

não é estilo
é um menino sentimento:
da ilusão do voo do passarinho sou o azul da pena que cai

sóbrio

o sóbrio sabor do chão esgotou as possibilidades da minha boca
gosto amargo de saudades adiadas

o gosto

cadeiras no quarto
sendo
oito pedaços de madeira
de chão solitário
sem tábua
sem reflexo
sem água de olho
sem desgosto
sem cheiros
sem medos

(esse é o gosto da solidão?)

severo

observo o servo servil servindo sirvo-me do seu significado cego sendo solução saúdo a saudável salinidade sistêmica suo sendo severo

afogamento

...irritado com os poucos erros...

estou fazendo as coisas no padrão
sem tesão sem imaginação
soltar as amarras me permitiu criar
me afogar em ilusões
e transformar cada suspiro em palavra
cada dor em devassas lágrimas de incompreensão
cada gota de suor em paixão

inconformado com o que escrevo
subverto-me

caduco

não posso me comunicar como eu quero

a culpa é dos verbos intransigentes
intransitivos
não quero depender do magistério (já me ferrei com um professor caduco)

a ligação será feita com a mesma emoção do encontro de gerações com predicados alongados com adjetivos de holanda com a laranja do suco de vida

só assim só desse jeito terei tempero!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Drummond

Doce criatura
De pedra
Das minas
De metais preciosos
Como as esquinas do rio
Musgo
Estio
Simples como seu sotaque
Duro como as montanhas encaracoladas das Minas
Gerais odores são seus amores escritos com a delicadeza
Da calça xadrez de um palhaço-menino

goiaba

...um amor profundo pelo mundo...
pela brincadeira de criança que não acredita em pedrada
que não mata passarinho
que não espreme barata
criança levada, sim
comendo goiaba, jabuticaba e laranja no pé
no pé com asas...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

beijos

indo para o trabalho
vejo beija-flores
beijando flores
beijo flores
como beija-flores
com a boca com penas
sorrio surpresas

domingo, 23 de outubro de 2011

esquilos

...fingem...
...fingimos...
todos sabemos nossos defeitos e todos pretendemos escondê-los um tolo segredo como os doces que comemos escondidos como esquilos pulamos de galho em galho sem nos darmos conta do perigo que é esquecer do tempo que precisamos para os estragos da maquiagem mal feita pó de arroz de time de várzea
em cara amarrotada

sábado, 22 de outubro de 2011

BERNARDO SOUZA, poeta

Ao Poeta Marco Plácido

Poesia é como semente
Brota dentro da gente
Deixando todos contentes!

como o ar

Ao poeta Bernardo Souza

um poeta que não escrevia
me ensinou a ser poeta
por um dia
um único dia
que vem se prolongando...

(um dia que nunca acabará...).

diabo

o diabo não é mau por maldade
nem por arte
é mau por idade

mefisto

crio
creio
mito
meio
mítico
melindre
mefisto

erva-mate

certo de algumas certezas
cego para o ego
livre das asperezas
próprias e impróprias
me concentro no talento
herdado
erva-mate de verdades

prazo de validade

relevante questão me trouxe de volta à poesia:
continuo cultivando meus sins
ou acreditando na força de seus não?
outra:
um poeta precisa ser lido ou basta brincar de ser menino?
e a última:
existe prazo de validade?
(explico)
aos quarenta parece que a opinião dos outros é bobagem

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

brincantes

o menino de verruga na bunda queria brincar
chamou os amigos da gangue auto-proclamada bebeças rodgers
os garotos eram demais
vivico, ti ago e cage, nicolas cage eram uns batutinhas
lindas criancinhas sem a menor vontade de obedecer as ordens de parar de brincar
se esbaldavam tanto que sorriam até de dor de dente
o menino de verruga na bunda adorava aprontar com eles
quatro capetas
quatro serelepes
certezas de felicidade
quatro cabeças brincantes
quatro seres esperanços

segredo de (a)mar

queria escrever uma coisa bem bonita queria mas...
só de pensar me lembro que seu sorriso está apagado pelo cheior de mar
a rotina da saudade te azucrina desanima seu jeito de se ninar
os carros na esquina são jarros desarrumados são ensaios de retinas querendo chorar
as cores dispostas nos vestidos das meninas maltratam...
relembram momentos tão próximos e tão comoventes que não existe um passado a sonhar
à beira d'água uma declaração de amor rabiscada na areia é só um desabafo segredo de (a)mar

OS IDIOTAS E A POLÍTICA

Primeiro artigo que faço sobre política e provavelmente o último, prefiro as rimas às idiossincrsias humanas. Os idiotas e a polítca é para tentar explicar a "geração Google", da qual, graças a Deus, não faço parte.

A geração Google, já tão famosa, sendo inclusive nome de patologia médica, tipífica seres humanos que acham que porque conseguem ler e, pretensamente, entender as informações disponibilizadas por aquele site de buscas, têm a capacidade de entender o mundo em que vivemos.

Cidadãos que não votam, não gostam, não colam, não suportam diferenças, sim, porque cidadãos que não suportam sins. Levam a vida buscando produzir os próprios nãos e, lógico, não se adequando à vida real.Animal político, o ser humano não pode abrir mão de tentar entender as diferenças entre ele e os outros habitantes do planeta Terra, sejam judeus, turcos, brasileiros, flamengusitas, corintianos.

Alguns, por terem estudado um pouco mais, inclusive, acham que podem dar lição, sem nunca ter frequentado a escola da vida. Acham que entendem porque o Sarney continua se reelegendo, porque o Maluf continua flanando em São Paulo ou porque o Lula foi agraciado na Sorbonne.

Acham por achar, acham por inventar terem os poderes especiais do Super-homem, ou melhor, do Super-computador, esquecendo-se de que mais importante do que ter a informação é trabalhar o raciocínio para entendê-la. Não à toa que Einstein, reconhecido gênio, disse ser a imaginação mais importante do que o conhecimento. Isso, qualquer um pode entender, repetir conhecimento não é criar conhecimento.Por isso, talvez, os artistas se sintam tão especiais. Pequeno comentário (sardinha na brasa), volto à questão fundamental.

Como pessoas sem nenhuma experiência de vida podem se arvorar a ensinar algo a outras somente por que leram no Google informações totalmente sem contexto?

Aquilo que em Direito se chama subsunção, que é a adequação de um texto ao arcabouço jurídico geral, também deve ser observado nas nossas relações sociais e políticas. Ora!

Para finalizar, é importante destacar que o contexto universal é o tempo e sem tempo para reflexões as verdades são espelhos dos preconceitos.(Marco Plácido. Niterói, em 19/10/2011.).