A poesia exige um silêncio abismal. E isto pode levar à vertigem. Ou: a
poesia é quando se está à beira de si mesmo. Cair em si, sem se perder,
ou achar-se do outro lado de si mesmo. Isto exige perícia. Pois há que
ouvir sons, ruídos, mensagens que fluem também do lado de fora, no
exterior.
Certa vez fiquei duas horas sobre as pedras do Arpoador, à toa, apenas ouvindo o mar. O marulhar do mar. O marulhar da alma. É preciso uma certa ousadia para se ouvir o nada. O nada é onde tudo começa. É de onde surge a voz da poesia.
Estranha relação entre o eu e o mundo. O pessoal e o social. Há de haver uma orquestração.
Não é de uma valia ficar chorando pelos cantos. O choro pessoal ainda não é poesia. Tem que haver algo mais: converter-se em coro. Por isso a voz do poeta é uma voz de utilidade pública. Quando não sabemos como dizer certas coisas, pedimos a voz do poeta emprestada e entoamos uma verdade simbólica.
Rainer Maria Rilke, poeta alemão, pediu emprestado um castelo para, isolado, ouvir melhor o que os querubins lhe diziam.
Victor Hugo foi para as ruas e barricadas ouvir a voz do tempo.
Rimbaud, de repente, calou-se para sempre. Ficou mudo. Um zumbi perdido nos desertos africanos. Sem voz.
Quando Orfeu soava seus versos, as bestas mais ferozes se acalmavam e até as pedras o entendiam.
Como cada pássaro tem um canto especial, o poeta tem que descobrir qual a sua voz interior. Não se pode cantar com a voz do outro.
Claro que alguns, na literatura e na vida, começam imitando o canto alheio. É um aprendizado.
Camões ouvia Virgílio e Homero. João Cabral de melo Neto começou ouvindo Carlos Drummond.
Na música popular a mesma coisa: Dalva de Oliveira gerou Angela Maria. Mas João Gilberto não pode cantar como Orlando Silva ou Nelson Gonçalves. Ou vice-versa.
Cada qual no seu canto. Na sua voz.
E já que ouvir a voz interior é um risco, alguns a ouvem, e desesperam. Outros tapam os ouvidos. Enchem sua vida de ruídos espetaculares.
O múisco (como o poeta) faz falar o espaço em branco. Faz falar o indizível. Pausa a múisca. Música é pausa no ruído cotidiano. Música é a salvação do ruído.
E como esse mundo ficou barulhento, meu deus!
E se poesia é voz oculta sob prosa, em certas épocas a voz do cantor e do poeta são perigosas.
Eles fazem falar o silêncio, o que foi calado, reprimido.
As ditaduras nos dão estranhas lições de poesia.
repito: poesia exige um silêncio abismal.
Ler, escrever ou ouvir poesia é abismar-se.
Certa vez fiquei duas horas sobre as pedras do Arpoador, à toa, apenas ouvindo o mar. O marulhar do mar. O marulhar da alma. É preciso uma certa ousadia para se ouvir o nada. O nada é onde tudo começa. É de onde surge a voz da poesia.
Estranha relação entre o eu e o mundo. O pessoal e o social. Há de haver uma orquestração.
Não é de uma valia ficar chorando pelos cantos. O choro pessoal ainda não é poesia. Tem que haver algo mais: converter-se em coro. Por isso a voz do poeta é uma voz de utilidade pública. Quando não sabemos como dizer certas coisas, pedimos a voz do poeta emprestada e entoamos uma verdade simbólica.
Rainer Maria Rilke, poeta alemão, pediu emprestado um castelo para, isolado, ouvir melhor o que os querubins lhe diziam.
Victor Hugo foi para as ruas e barricadas ouvir a voz do tempo.
Rimbaud, de repente, calou-se para sempre. Ficou mudo. Um zumbi perdido nos desertos africanos. Sem voz.
Quando Orfeu soava seus versos, as bestas mais ferozes se acalmavam e até as pedras o entendiam.
Como cada pássaro tem um canto especial, o poeta tem que descobrir qual a sua voz interior. Não se pode cantar com a voz do outro.
Claro que alguns, na literatura e na vida, começam imitando o canto alheio. É um aprendizado.
Camões ouvia Virgílio e Homero. João Cabral de melo Neto começou ouvindo Carlos Drummond.
Na música popular a mesma coisa: Dalva de Oliveira gerou Angela Maria. Mas João Gilberto não pode cantar como Orlando Silva ou Nelson Gonçalves. Ou vice-versa.
Cada qual no seu canto. Na sua voz.
E já que ouvir a voz interior é um risco, alguns a ouvem, e desesperam. Outros tapam os ouvidos. Enchem sua vida de ruídos espetaculares.
O múisco (como o poeta) faz falar o espaço em branco. Faz falar o indizível. Pausa a múisca. Música é pausa no ruído cotidiano. Música é a salvação do ruído.
E como esse mundo ficou barulhento, meu deus!
E se poesia é voz oculta sob prosa, em certas épocas a voz do cantor e do poeta são perigosas.
Eles fazem falar o silêncio, o que foi calado, reprimido.
As ditaduras nos dão estranhas lições de poesia.
repito: poesia exige um silêncio abismal.
Ler, escrever ou ouvir poesia é abismar-se.
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