Quero escrever, porém me sai espuma,
quero dizer mitíssimo e me atolo.
Não há cifra falada sem ser soma
nem pirâmide escrita sem cogoilo.
Quero escrever, porém me sinto puma,
quero ter louros, porém me encebolo.
Não há tosse falada além da bruma,
nem deus nem filho seu sem desabrolho.
Vamos, então, por isso, comer erva,
carne de pranto, fruta de gemido,
nossa alma melancólica em conserva.
Nos vamos, vamos, porque estou ferido;
vamos beber o que já foi bebido
e vamos, corvo, fecundar a corva.
(Tradução: Thiago de Mello).
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