domingo, 31 de março de 2013

365 dias com poesia, 31 de março de 2013 -- Oração

Oração


A Rachel Batista

Produzir poemas
É produzir algo
Entre o simples e o achado
Entre a folha e o machado
É registrar um suspiro
Que nos conceitua
Que nos ofusca
Por vezes
É captar o olhar fugidio
De um azul luzidio
De uma declaração num suspiro
Produzir o pão de momentos passados
Chamados amados lembranças
Lenços negros em negras luvas
Um aceno num tormento
Sutil desistência lúdica
Maré de tormenta
Tremendas mãos pedindo oração
Produzir poemas
É produzir silêncios
Num coração assustado pela vida
Grande ferida que não tem tempo de cicatrizar

sábado, 30 de março de 2013

365 dias com poesia, 30 de março de 2013 -- Jesus

Jesus


Jesus
azul ilusão
azul paixão
azul compaixão
Jesus
a vontade que temos de fazer o bem
a vontade que temos de amar
a vontade que temos de perdoar
a vontade que temos de pintar uma imagem
Jesus
que nos dê paz
que nos dê vontade
Jesus
tudo azul
tudo una direção
tudo jaz
Jesus
tudo vem
todos vêem
as cem maneiras de demonstrar o amor
Jesus
espírito azul
Deus
sois céu
sou seu
azul espírito
Jesus

sexta-feira, 29 de março de 2013

365 dias com poesia, 29 de março de 2013 -- PONTE

PONTE


A Antonio Bandeira

Liberdade lembrante

Bandeira desfraldada
Para a infância
Contra a infâmia
Que mia fome

Bandeira desfraldada
Para a errância
Contra a distância entre dois pontos
Que uivamos: PONTE!

Bandeira volte e pinte um nome nesse país

quinta-feira, 28 de março de 2013

Sóis (Marco Plácido e Jorge Veloso), Música Nova

Sóis

enquanto germino a palavra esperança
espera água e carinho
para poder nascer

recebe o sol
com prazer
de olhos que não sabem
o porquê das coisas
mas acreditam

sem precisar o motivo

acreditam e por isso frutificam

REFRÃO

em olhares de girassóis
em milhares de si bemóis
que agitam os pés pequeninos
de crianças sóis, que somos nós...

Othon Bastos, ator (Poema: COLONIALIA)

COLONIALIA

O verdugo de almas,
açoitador de palavras,
algoz de ideias,
da cidade colonial
de paredes, janelas
e treliças coloridas.
Varandas antes de amores
hoje sacads de inquisidores.
De cortejo de armas
e de procissão de mortes
a palavra de ordem,
"matar a palavra".
Luz de candeias,
portas com trancas.
Vozes moucas,
silêncio de bocas,
coragem de nada.
Delatores nas veredas,
morte na calçada,
sangue nas pedras.
Homem na tardeza
de atrevimento,
de ideias.
Cantigas antigas
vindas de lá,
chegadas agora,
sopradas na hora
da morte chegar.
E nas paredes coloridas
da cidade colonial,
o adágio popular:
Calar é morrer

365 dias com poesia, 28 de março de 2013 -- cisco

cisco


Desenho em cor
O perfume que me ficou
Da perda
Pedra
Dum tamanho indescritível
Cerda
De tamanho quase invisível
Mas que incomoda
Em todos os momentos
De olhos abertos, um cisco
De olhos fechados, a sutil possibilidade do sono

quarta-feira, 27 de março de 2013

Moacyr Góes sobre Ítalo Rossi

Pela vida afora, carreguamos algumas palavras que achamos saber o que significam mas que, na verdade, estão à espera de sua mais completa tradução.

Muitas vezes somos capazes de falar profundamente sobre elas, na esperança de que talvez a fala faça-nos crer em sua realidade. Com certeza a fala tem este poder. É uma fala de espera. Uma dessas palavras, que mais gosto, que me faz pensar e sobretudo, para mim, é o grande fascínio do teatro, é o ator.

Sempre falei muito nela, escrevi coisas a seu respeito, li dezenas de livros que tentavam decifrá-la e principalmente investi grande parte de meu esforço na sua construção junto aos atores que trabalham comigo há algum tempo.

Mas para minha grande felicidade tive a rara oportunidade, no ano passado, de encontrá-la na figura de gente: Ítalo Rossi.

Com certeza temos atores e atrizes brilhantes, de todas as idades, e que talvez constituam nossa grande possibilidade de criatividade, subversão e desenvolvimento do teatro. São, os atores, o campo de batalha onde as grandes lutas da encenação contemporânea acontecem.

Falo em Ítalo Rossi porque vejo que nele as coisas são um pouco diferentes. Ítalo chegou a um momento em que não é mais alguém que tem como ofício ser ator. Ele é um ator que tem como pesado fardo ser alguém. Em Ítalo a palavra não o nomeia, ao contrário, ele é quem lhe dá sentido. Quando pisa no palco, ou até em qualquer lugar, Ítalo Rossi é um ator muito peculiar. Despregando-se da vida cotidiana, não dando muita atenção ao que chamamos de realidade, ele tem a extraordinária capacidade de nos revelar o sentido da verdade. Coisa que com certeza só a arte dá alguma dimensaõ de existência. Se, como dizia Artaud, é preciso olhar os girassóis de Van Gogh para saber dos girassóis nos campos, é preciso ver Ítalo Rossi no teatro para saber quem somos na vida.

Nunca me satisfizeram as razões que criamos para explicar por que os atores, ou os grandes atores, querem sempre os melhores papéis, as personagens mais conflituadas e ricas em experiências, os grandes textos, a grande palavra. Justificativas como ego muito grande, exercício profissional mais arriscado, orgulho ou vaidade. Acho até que isso existe também, mas o que o ator Ítalo Rossi me revelou é que é uma questão de existência. Muitas vezes de salvação. Para alguém que já se despregou é fundamental criar uma referência interessante, uma persona, e aí a vida torna-se possível. O que fica claro com ele é o movimento percorrido pelo ator: perde-se da vida para tocar nela.

Alguém deveria escrever sobre o processo de criação de Ítalo Rossi: instaurar a verdade no teatro na medida em que se apropria da palavra, da linguagem. Em sua construção ele faz o mesmo percurso da civilização, só que no seu caso o sentido de verdade não se perdeu em espetáculo. Sua busca é a constituição do corpo da palavra, sua materialidade, e a palavra do corpo, sua significância.

Quando Roland Barthes fala de escritura ele precisa a importância do compromisso entre a liberdade e a lembrança e cunha uma expressão magistral: liberdade lembrante.

Ítalo Rossi, impregnado por uma memória que já constituiu-se teatral e tendo a coragem de ainda ousar, traz para si o que poderíamos dizer: ítalo, o ator da liberdade lembrante.

Antonio Bandeira, conceito de arte

Primeiro me deram de presente as nuvens, depois uma sunga de veludo vermelho, e aí começou a nascer uma liberdade imensa.

Infância gitou em torno de árvore, era um sólido falmboyant vermelho, preto e amarelo que um dia se tornaria quadro, ou melhor, em sequência deles, em pintura, talvez.

Nesse momento, nuvens, mar e árvore já formavam um crepúsculo plástico, um nascimento ou uma morte, uma natividade.

A feia humanidade viria depois, e aureolada com os feitos da vida -- sofrimento e glória -- nem era tão feia assim. Houve até uma compaixão pictórica, tudo se metamorfoseava em belo. A escolha dos temas enchia o coração do homem e a superfície de tela.

Com o correr dos tempos essa humanidade foi se dando a mão, formando ciranda, como uma linha, uma geometria, um desenho, até se tornar um quadro, digo pintura, porque um quadro é o antecedente do quadro presente, continuando no quadro o que vem depois. Uma visão do passado, presente e futuro, cadinho de emoções. E falando em cadinho me vem logo à mente a fundição de meu pai, cadinho de raças, carinho de ferro e bronze, carinho também de carne e alma.

Falando ainda em cadinho creio que fundindo homens e bichos, cidades, trens, navios, árvores e lixos, remexendo bem como no disco de Newton, se poderá conseguir uma confusão ou receita psicoplástico-poética que não é bada e é tudo. Diante dessa emoção o homem não deve rir nem chorar, apenas ficar calado. Assim como a chuva, nuvens e balão, da guerra não, do céu caindo, saobre as flores, pela escada, pelo chão, uma mulher parindo.

Depois vem a grande cidade (estamos nela sempre), mas guardamos e conservamos sempre uma certa paisagem longínqua. Infância, objetos, música, perfumes, seres passados acontecidos ou vividos, ficam eternamente conosco, como conteúdo vivo, como pureza. A imensa cidade do dia e da noite, entre atormentada e tranquila, próxima e distante -- para sofrimento e pedaços de felicidade nossa -- essa mesma cidade, que, às vezes, de tão grande que é, vira uma pequena província.

O campanário de Saint-Germain-des-Prés recordando às vezes um outro, o da igreja de São benedito, em Fortaleza, onde íamos jogar bola de pano, aproveitando a sombra mansa do oitão do templo ( enem sabíamos que estávamos num Templo...só hoje). La Tonnelle, o Bistrot dos Clochards, com plantas verdinhas parecendo a latada de maracujá do quintal de casa. Era verão, havia pombas no chão. Paris era lindo, mais que lindo: era cruel e humano.

Agora vem o vazio, à noite, o minuto da criação, a função da inspiração e transpiração dosada de poesia, o equilíbrio físico e moral. A superfície virgem deve dialogar com o homem.

Devemos purificar, sofrer, rasgar, acarinhar, transformar a matéria vegetal. àgua ou óleo ou terebentina ou espátula ou pincel amolece, açoita, martiriza a superfície em criação. É quase roupa branca se amoldando à manufaturação do homem. O enxugamento, o quarador, a cor, o sol, o cérebro, a mão, e enfim o sentimento de uma mensagem transmitida.

365 dias com poesia, 27 de março de 2013 -- choros

choros


A Walter Salles Jr.

A arte faz
Com que choremos a cada tempo
O que somos
O que fomos
O cosmos que seremos

Em todos os momentos
Precisamos
Do movimento
Da lágrima

terça-feira, 26 de março de 2013

365 dias com poesia, 26 de março de 2013 -- IDADE

IDADE


A Brigitte Bardot

Rios de ressentimentos
E de sentimentos
Rugas
Chuvas num rosto atônito
De beleza fugaz
Sorriso perdido
Na idade da razão
Criança esquecida
Em olhos cansados

(Para onde vão nossos achados?)

segunda-feira, 25 de março de 2013

365 dias com poesia, 25 de março de 2013 -- GROSSOS

GROSSOS


A Luiz Fernando Veríssimo

A gente vai engrossando
Com o tempo
Deixamos de sorrir
Deixamos de ouvir música
Deixamos de nos procurar
Desistimos de tentar curar as feridas
Por experiência
Deixamos de pescar, cantar, namorar
Apenas nos deixamos ir
Engordando de comida, ventos e silêncios

domingo, 24 de março de 2013

365 dias com poesia, 24 de março de 2013 -- estrela

estrela


(poesia)

fogo frio
azul marinho
carinho espinho
que (põe-me)e alerta
que (põe-me)e espeta
que (põe-me)e estreita
que (põe-me)e estrela

sábado, 23 de março de 2013

Antonio Bandeira, pintor (Poema: Noturno)

Noturno

A lua fazendo fundo
olha a coruja na árvore negra
se rindo da humanidade
Eu no meio da noite escura
choro da humanidade
e entre as flores maiores
procuro o meu amor
para ocultá-lo do mundo.
O soldado morto vaga na noite escura
e eleva-se ao espaço
com medo do sorriso da coruja.
Branco, pálido, frio,
o marinheiro bóia no meio do mar
porque não encontrou o rochedo
e não viu o reflexo do farol.
Corro amedrontado
procurando a salvação
que nem a morte me dá
enquanto a coruja sorri na noite eterna.

Antonio Bandeira, pintor (Poema: Poema Artístico)

Poema Artístico

Pintando espalharei pelo mundo
toda minh'alma observadora
mostrarei aos povos as minhas lágrimas
e também as dos que sofrem.
Buscarei nas vielas as prostitutas
para mostrar ao mundo a grande dor.
Subirei aos morros longínquos
e trarei de lá o mormaço e a miséria.
Buscarei o soldado semimorto
e ensinarei ao mundo a dor do ódio
e a da compaixão pela humanidade.
Por cima dos cadáveres derramarei flores
e perfumes e náuseas farei que os povos sintam.
Cintilarei os olhos tristes do inocente
fazendo que ele comece o bom caminho
e me deimeirei dos meus pecados
encontrando na Arte a morada de Deus.

365 dias com poesia, 23 de março de 2013 -- I(n)DIOTAS

I(n)DIOTAS


Minorias vis?
Servis?
Facilmente reconhecidas
Pelo modo típico com que se juntam em tribos?
Vermes?
É o que os índios são
Para os que estão no poder?
E o que os índios são para nós outros?
Peças de uma história mal contada?
Peles-vermelhas americanos
Que gostam de tirar escalpo?
Escapo da idiotia mais simples
Dizendo considerá-los importantes, de longe?

I(n)DIOTAS é o que somos!

sexta-feira, 22 de março de 2013

365 dias com poesia, 22 de março de 2013 -- SUCESSO

SUCESSO


A Carl Jung

Passatempo da consciência
A arte
Nos faz sorrir por instantes
Esquecendo inclusive do tempo
Nosso maior castrador
Pois nos impõe impossibilidades
Pois nos impõe o medo de não conseguirmos
Fazer aquilo que queremos fazer a tempo
De obter sucesso...
O sucesso de agradar aos outros?
Por quanto tempo?

Esse o problema da arte

quinta-feira, 21 de março de 2013

365 dias com poesia, 21 de março de 2013 -- BBB

BBB


Todo ano
Choramos:
O mês de março
E famílias inteiras!
Os políticos se escondem
E não é embaixo do barro que desaba
Infelizmente todo ano
Descobrimos que tudo continua do mesmo jeito
Daquele jeitinho que deixamos ficar
Por não sabermos ser cidadãos e cobrar soluções
Ficamos boquiabertos olhando a incompetência explícita (politicagem cínica)
Preocupados com a importância de nossas vidinhas, secas
Ficamos balançando o rabo para
Viagens, fofocas e idiotices televisivas (frangos de padaria)...

Animais domesticados é o que somos, anestesiados pelo BBB, inseticida de vida!

quarta-feira, 20 de março de 2013

365 dias com poesia, 20 de março de 2013 -- QUINTANARES

QUINTANARES


A Mario Quintana

em barcos ímpares
singulares
sofro de maledicências estelares
ciência dos mares
ronco bruto das marés
angulares velas
velhas
cismas milenares
pele dos palmares
ardem
navegam
circulares
espetam medos
espetaculares
sem cantares
sem quintanares
cem lares
por amares

terça-feira, 19 de março de 2013

365 dias com poesia, 19 de março de 2013 -- sabiás

sabiás


A Tom Jobim

Olhe
Observe
Tudo aqui está girando
A falsa sensação de que tudo está parado
Acontece
Realmente acontece
Mas não é real
O mundo com formigas
Que somos
Gira
Observe
O giro nos ofende
Quando sabemos sem senti-lo
Canto de grilos
Orquestra de sabiás
Sabias
Que cada um tem um canto
E que esse canto exala o espanto
De um mundo vazio?

segunda-feira, 18 de março de 2013

365 dias com poesia, 18 de março de 2013 -- FRANCISCO

FRANCISCO


Ditadores disfarçados de líderes populistas da América Latina
Desesperem-se
Pois
Francisco vem aí
O novo Papa foi escolhido para disputar a tapas
Os pobres de nosso querido continente e do mundo inteiro
Sorridente ao extremo
Não se enganem
Ele está acostumado a ser oposição
A todos os diabos
Sejam
Kirchners
Curiais
Ou ao próprio
Como bom milongueiro
(Com a força dada por Deus)
Nunca perdeu uma batalha
E vem para derrotar a todos os
(Brasileiros petistas)
Esquerdistas
Castristas
Chavistas
Lulistas

domingo, 17 de março de 2013

365 dias com poesia, 17 de março de 2013 -- expressão facial

expressão facial


(por muito tempo fiquei sem entender
e me foi custoso tentar escrever)

o que chamam de impressionismo
é a impressão captada da luz
uma ilusão pictórica
que o pintor quis registrar
muito mais do que aquilo que estava pintando o importante
era o momento
como se tivesse capturado o tempo
o expressionismo
sem esse tipo de preocupação
queria demonstrar
de qualquer forma
(ou até sem forma)
o tamanho da solidão
sentida

sábado, 16 de março de 2013

365 dias com poesia, 16 de março de 2013 -- pretendente

pretendente


À Daniel Passuni

não deve haver confusão
um artista trabalha signos da infância
mas não deve ser infantil
deve fazer a construção
da obra de arte
com partes de suas vivências
passadas revisitadas
presentes na consciência atual
visando um sabor futuro
ninguém
perde tempo para nada
ninguém gasta o que sente
se não sentisse que os outros também sentem e só não sabem ainda dizer
seu nome entre os dentes

sexta-feira, 15 de março de 2013

Kandinsky, sobre arte

Uma obra de arte é constituída por dois elementos: o interior e o exterior. O elemento interior, quando tomado individualmente, representa a emoção da alma do artista. Na verdade, esta emoção é capaz de suscitar na alma do especdor uma emoção correspondente. Enquanto a alma estiver ligada ao corpo, este apenas poderá, regra geral, receber vibrações por intermédio dos sentimentos. O sentimento constitui, portanto, uma ponte que conduz do imaterial para o material (artista) e do material para o imaterial (espectador). Emoção -- sentimento -- obra -- sentimento -- emoção.

365 dias com poesia, 15 de março de 2013 -- setenta

setenta


do zero aos sete anos
formamos nosso caráter
dos sete aos vinte e um
ouvimos os nãos
dos vinte e um aos vinte e oito
dizemos os nãos
dos vinte e oito aos trinta e cinco
nos casamos
dos trinta e cinco aos quarenta e dois
nos separamos

depois de quarenta e dois anos
nos perguntamos:
terei coragem de buscar em mim quem eu era?

quinta-feira, 14 de março de 2013

365 dias com poesia, 14 de março de 2013 -- religiosidade

religiosidade


é do silêncio dum quarto imundo de ilusão que tiro cada letrinha para formar uma oração de vida que nada tem de essencialmente religiosa nos termos ortodoxos da coisa mas é de uma religiosidade espantosa quando percebemos o tamanho da solução

quarta-feira, 13 de março de 2013

365 dias com poesia, 13 de março de 2013 -- Vaticano

Vaticano


sinceros manifestos anexos
incertos medos credos
panfletos negros indiscretos
coretos desconexos sexos
cruzes e credos perto
dentro do Vaticano
perplexo

terça-feira, 12 de março de 2013

Kandinsky, orquestra de cores

O vermelho é, como o imaginamos, cor sem limites e tipicamente quente, produz interiormente o efeito de uma cor muito viva, animada inquieta -- mas não possui o caráter irrefletido do amarelo, tão frequentemente utilizado --, mostrando, apesar de toda a sua energia e intensidade, uma nota poderosa de força imensa que parece ir direta ao objetivo. Nesta agitação e excitação existe, sobretudo dirigida para o interior e muito pouco para o exterior, uma espécie de maturidade masculina.

O azul é a cor celeste por excelência (...) o elemento da calma (...) , permitindo um aprofundamento até aos estados mais sérios onde o fim não existe e onde não pode existir.

Vitória, nova música

Vamos vencer o sol
rir de nossas certezas

Vamos vencer o sol
esconder as asperezas?

Vamos vencer o sol
Vamos vencer com o som
Vamos vencer com o som
as sombras das mentiras

SOLO

Vamos vencer o sol
esconder nossas certezas

Vamos vencer o sol
sorrir das aparências

Vamos vencer com o som
as sombras das mentiras
Vamos nos proteger

Vamos vencer com o sol
as mentiras das certezas
Vamos nos conhecer

Vamos vencer o sol
vamos vencer com o som
vamos convencer todos juntos
o mundo
sorrir de saber



365 dias com poesia, 12 de março de 2013 -- TINTO

TINTO


Não gosto de enredo
Por isso não escrevo romances
Pinto as cores dos significados das palavras em rimas
Quando algo é azul
Pinto azul

Como a solidão sentida
Por aquele cara ali na esquina
Que todo dia
Bebe sozinho
Sorvendo histórias
De quem ele nem ao menos conhece
Não sabe o nome dos sonhos que ri
Então é de tinta azul-solidão que esse verso precisa...

Quando vejo uma criança brincando de pintar
Tenho vontade de copiar sua espontaneidade
Seus sóis são simples e cinzas
Seus céus são sulfúricos simétricos
Seus sapatos são sujos sofridos
De um sofrimento inventado em ocre
(Pimba!outro verso)

Sorte minha conseguir perceber e ao perceber não esquecer de continuar
E continuar sem parar para respirar e de me emocionar pela bendita sina de tintas retinas e esquinas

segunda-feira, 11 de março de 2013

365 dias com poesia, 11 de março de 2013 -- SENTIMENTOS

SENTIMENTOS


Sento e minto
(Desde o princípio escondo tudo porque aprendi assim)
Choro escondido
(Um homem não pode demonstrar o que sente)
Engulo sílabas inteiras sozinho
(O que penso pode ser utilizado contra mim)
Continuo seguindo, tropeço num inimigo, outro ser que não sou eu
(Os outros são quem?)
Sorrio no rio, sinto calor
(Prometo o encontro sem dar endereço)
Agüento, finjo não sentir dor...e sorrio sozinho sentimentos

domingo, 10 de março de 2013

POMBA DA PAZ, próxima música

Pra onde eu vou

tem papai noel?

Pra onde eu vou

tem papel de escrever

Coisas de amor?



Para onde eu vou

tem amor?

Para onde eu vou

tem pavor?

Para onde eu vou

Eu posso espirrar

(ou não precisa?)





Para onde eu vou

Vou ter amigos

Ou só vizinhos esquisitos?

Para onde eu vou

Papai e mamãe

Também podem ir?



Para onde eu vou

A pomba

da paz pode parir?

Para onde eu vou

Todos podem rir?





Para onde eu vou

As crianças podem pular o muro para roubar mangas?

Para onde eu vou

Mangás serão revistas bacanas?



Para onde eu vou

Olhos puxados

Serão apenas olhos puxados?

Para onde eu vou

Não existem buracos?



Para onde eu vou

Qualquer um pode ir?

Para onde eu vou

Quando eu acabar daqui?

365 dias com poesia, 10 de março de 2013 -- MÁ LUFada

MÁ LUFada


Os políticos, caciques de partido, adoram escolher postes como sucessores
Quando conseguem elegê-los, na verdade, elegem a si mesmos
Reafirmando sua liderança
Lançam os postes na batalha eleitoral
Como se quisessem demonstrar que sabem o que o povo pensa, sente
(querem deixar claro que são exímios na esperteza)
É um misto de prepotência com malvadeza
Sempre que precisam fazer o poste levitar mentem sobre suas certezas, fazendo acordo com os ex-inimigos, isto é,
Apertam a mão do capeta

sábado, 9 de março de 2013

365 dias com poesia, 09 de março de 2013 -- pOLÍTICA

pOLÍTICA


Dilma tem o azar do bom aluno que não passa no vestibular
Chavez tornou Lula um estadista
O cara, nas palavras do Obama, o presidente democrata que matou Osama
(Lula, como nós, não se deu conta da óbvia ironia)
Dilma além de não poder falar sobre todos os problemas que herdou
sendo a mulher que tem as mesmas práticas dos homens do partido do mensalão, passará como mera coadjuvante da situação política latino-americana se não apoiar um líder chavista
grande ironia
uma líder democrática apoiando um filhote de ditador!

sexta-feira, 8 de março de 2013

365 dias com poesia, 08 de março de 2013 -- Boné

Boné


Óculos escuros
Tintas
No bigode sobrancelhas e boné
Alguns andantes
Tentam andar na praia sem ser vistos
Negando o tempo
Negam as histórias
Que pintaram seus pêlos
Difícil tentar explicar algo que deveria ser óbvio
Lógico que todos sofremos mas não podemos nos esquecer que aquele reflexo
Fortuito num vidro de carro estacionado somos nós sobrevivendo

quinta-feira, 7 de março de 2013

365 dias com poesia, 07 de março de 2013 -- COSA NOSTRA

COSA NOSTRA


Com chave
Eles se reúnem e discutem o futuro
Da grande empresa da fé
Que é a Igreja Católica Apostólica Romana
Quase dois bilhões de fiéis
Trinta e dois bilhões de euros nos cofres
Intrigas futricas orgias
(os Bórgias se revirando nos túmulos, ou não)
Nas discussões tudo é levado em conta
O novo Papa deve ser
Brasileiro?
Argentino?
Romeno?
Africano?
Italiano?
Siciliano?

quarta-feira, 6 de março de 2013

Rubén Darío, poeta nicaraguense -- O FATAL

Feliz a árvore que é somente sensitiva
E muito mais a pedra dura que nem sente,
que dor maior não há do que a dor de ser vivo
nem mais funda pena do que a vida consciente.

Ser e nada saber, e ser sem rumo certo,
e o temor de haver sido e um futuro terror...
O espanto inevitável de amanhã estar morto,
e sofrer pela vida e pela sombra e por

tudo que mal sabemos e mal suspeitamos
e esta carne que tenta com seus racimos frescos
e a tumba que aguarda com seus fúnebres ramos
e ignorar aonde vamos e de onde foi que viemos!...


(Tradução: Thiago de Mello).

Alfonso Cortés, poeta nicaraguense -- PASSOS

Quando, no tumulto da Terra,
sintam os seres sua solidão,
dará uma trégua eterna à guerra
do Ruído; nos tempos fundirão

seus passos a Mulher e o Homem,
sulcarão a ruga da fronte
de Deus, onde o antigo êxtase
se ergue vapor incessantemente.

E restarão os enamorados
-- como despertos -- e dois a dois
a mirada fixa nos sagrados
poros, de eterno suor banhados,
da fronte enrugada de Deus.


(Tradução: Thiago de Mello).

Claribel Alegría, poeta nicaraguense -- AS AMENDOEIRAS FLORESCEM

As amendoeiras florescem
em Mallorca
e não estás para vê-las.
De noite, do meu balcão
eu vi quando floresceram.
Te chamei por teu nome,
conjurei teu fantasma,
te perfilei de pétalas caídas
e uma rajada de ar
te rasgou.


(Tradução: Thiago de Mello).

SET LIST dos shows de 2013


1 -- Contra;

2 – Brigas;

3 – Minas;

4 – Little Wing;

5 – Desafios;

6 -- À Cecília;

7 – Andarilho;

8 – Choro da Menina (com Renata Rubim);

9 – Pedra;

10 – Constelação;

11 – Cegos;

12 – Sweet Sina;

13 – Loucos;

14 – O Alvo;

15 – Sim;

16 – A Saudade/Blues do Medo;

17 – Truques;

18 – Jaques Som;

19 – Não vá Embora(com Renata Rubim);

20 – Crazy.

365 dias com poesia, 06 de março de 2013 -- pimenta

pimenta


Hoje
(Agora)
Pensei ter ouvido a sua voz
Como numa ligação do além
Você querendo me dizer que
Todos temos nossas histórias
E que é bom não sabermos quando acabarão
Que de cima tudo tem outra perspectiva
Que os problemas são menores do que parecem
E que a família e os amigos são mais importantes do que admitimos
Nessa correria desenfreada
Que deveríamos parar para nos enxergar
Olhar profundamente durante horas para qualquer espelho e admitirmos nossas falhas
Nos vendo mais humanos não privando nossos filhos de nossa humanidade sem capa pois não somos super-heróis e a redoma que colocamos neles dando a desculpa de proteção é na verdade a redoma para nos protegemos para que possamos esconder deles a verdade:

Temos medo de tudo que arde!

terça-feira, 5 de março de 2013

365 dias com poesia, 05 de março de 2013 -- Cello jazz

Cello jazz


Quando conhecemos alguém e quando nos conhecemos a morte não existe
Porque ela é a saudade que trazemos (entre os dedos escrevo sobre esse sentimento
Ardendo vontade de reconhecê-lo) um cello tocando uma melodia triste de qualquer jazz
Serve para me ajudar a lembrar e continuar esse poema que está me ajudando a dizer que a morte só existe quando um de nós não está triste

segunda-feira, 4 de março de 2013

365 dias com poesia, 04 de março de 2013 -- SORRIO

SORRIO


O Rio de Janeiro continua lindo
O Rio de Janeiro continua sendo

Olugardagarotadeipanemaviolênciasexoeporradanamadrugadaolugardemorros
pacificadosqueimandomentirasdegovernadoresdeminasdegovernadoresdesgo
vernadosdesãobernardospingandoressentimentopornãosabercomocomeçaruma
obradeartenapraiatudoacabaemventoemmentessemtempodeproduziralgodiferente
poistodosqueremibopeeesquecemqueobopecontinuanasruasnuasmatando

Rio de janeiro, cidade maravilha purgatório da beleza e do caos

(eondeestániteróinomapa?dooutroladodapontederessaca!)

domingo, 3 de março de 2013

365 dias com poesia, 03 de março de 2013 -- urgência

urgência


não sou uma imagem
soo palavras suo indigna solidão
sofro porque a vida parece cinza
cinco motivos de encontro para pintá-la
de vermelha
suficiente cor para lembrar da
imagem que soa a urgência

sábado, 2 de março de 2013

Fernando Silva, poeta nicaraguense -- O SILÊNCIO

Abaixo da quebrada
numa poça profunda
onde a água é muito clara
um pedaço de céu
se funde entre círculos
de luz amarelada
até o plano da poça
onde se vê mover-se
a barbatana de um peixe
que vem à flor da água
e logo afunda,
enquanto ficam
em cima umas borbulhas
que logo se desfazem.


(Tradução: Thiago de Mello).

Gioconda Belli, poeta nicaraguense -- E DEUS ME FEZ MULHER

E Deus me fez mulher
de cabelo comprido,
olhos,
nariz e boca de mulher.
Com curvas e pregas
e suaves profundidades
e me cavou por dentro,
me fez uma oficina de seres humanos.
Teceu delicadamente meus nervos
e balanceou com cuidado
o número de meus hormônios
Compôs meu sangue
e me injetou
para que irrigasse todo meu corpo;
nasceram assim as ideias,
os sonhos,
o instinto.
Tudo o que criou suavemente
a marteladas de sopros
e as perfurações de amor,
as mil e uma coisas que me fazem mulher todos os dias
pelas quais me levanto orgulhosa
todas as manhãs
e bendigo o meu sexo.


(Tradução: Thiago de Mello).

Homero Icaza Sanches, poeta panamenho -- SERENATA

Não disfarces com luzes de tragédia
esses acordes de ternura clara
que em teus gestos fulgura sempre que amas
sem nem pensar nas coisas desta terra.

Não reconhece amor esses valores
que apregoam o número e o pêndulo
e há mais poesia numa flor noturna
que num verso de dom Luís de Góngora.

Vem sem medo. Vivamos como crianças.
Um e um podem ser cinco e por teus olhos
corre um rio coberto de amapolas

deixa eu te beijar sem nostalgia.
E deixa que eu te queira até que o pranto
brote de tanto amor enamorado.


(Tradução: Thiago de Mello).

Hector Collado, poeta panamenho -- AGORA

Agora,
cansado da idade
e do trajeto;
do dia, cheirando a
derrota,
que se alimenta de
espectros
e negações;
cansado do adeus
dessangrando
mão de mulher
em algum porto
cansado de desviver,
de malversar os dias
outorgados para acumular
filhos
e avós mortos;
aferrado à minha sede de
eternidade,
torno a começar.


(Tradução: Thiago de Mello).

Elvio Romero, poeta paraguaio -- ÁGUA FORTE

Preso a madeiros em cruz,
um homem quieto,
sobre os dois paus de uma cruz
e cordas entre os ossos.

E, abaixo, o vento.
Minha terra acaso atada
como um tambor de couro
sobre os dois paus de uma cruz.

Em frente, o vento.

A pátria inteira no chão
Sobre os dois paus de uma cruz.

E, em cima, o vento.


(Tradução: Thiago de Mello).

Cesar Vallejo, poeta peruano -- INTENSIDADE E ALTURA

Quero escrever, porém me sai espuma,
quero dizer mitíssimo e me atolo.
Não há cifra falada sem ser soma
nem pirâmide escrita sem cogoilo.

Quero escrever, porém me sinto puma,
quero ter louros, porém me encebolo.
Não há tosse falada além da bruma,
nem deus nem filho seu sem desabrolho.

Vamos, então, por isso, comer erva,
carne de pranto, fruta de gemido,
nossa alma melancólica em conserva.

Nos vamos, vamos, porque estou ferido;
vamos beber o que já foi bebido
e vamos, corvo, fecundar a corva.


(Tradução: Thiago de Mello).

Carlos Germán Belli, poeta peruano -- CEPO DE LIMA

Como crista de galo apunhalado
uma vasta, pelanca granulada
excessiva lhe pende na garganta

e na sola das minhas duas plantas
cascões, que não de gesso, mas de carne
como murchos escombros de uma casa.

Mas por que estes cascões, ásperos montes
e tão feia pelanca, mal meu grado
se magro nem curvado velhos sou?

E por teu cepo, ai Lima, muito sei
que tanto berço quanto tumba é sempre
para quem nasce, vive e morre aqui.


(Tradução: Thiago de Mello).

Arturo Corcuera, poeta peruano -- BALADA DA ÚLTIMA OFERENDA

Me nego a que apodreçam estas veias
pelas quais meus pais e outros meus
navegam vindo de tão longe;
não quero um final assim para estes olhos
com os quais vejo e choro;
que estes pés
que bebem fatigados sobre a terra
a sede dos caminhos;
não se volverão carniça nem merenda
de vermes este cérebro
nem este coração quando fiquem sem irrigação
imóveis;
nasceram meus braços para abraçar. Chegará o dia
de se abraçar; incinerai o que reste
deste corpo.
Não sabe fazer outra coisa senão arder,
Este é o seu destino,
Este será o incenso que oferecerei aos deuses.

(Tradução: Thiago de Mello).

365 dias com poesia, 02 de março de 2013 -- infinitivos

infinitivos


Violência e urgência
No silêncio que precede os incêndios
Água pura de puro instinto
Apaga
Verbos infinitivos
Que exalam
Paz e calma
Após
Cachoeira de significados infinitos

sexta-feira, 1 de março de 2013

Cesar Calvo, poeta peruano -- PARA ELSA, POUCO ANTES DE PARTIR

(fragmentos)

Porque escrevo estas linhas não somente com minha vida
mas com o respiro de todos os fantasmas
que me amaram,
de todos os fantasmas que morreram e renasceram
com o rosto voltadop para uma feroz desolação
culpando-me

Porque com culpa escrevo, com o lento rumor
de tuas roupas
caindo na penumbra de Genebra, quando ainda era
tempo
e os relógios ignoravam o perigo, suas agulhas
como o abraço de um náufrago na feliz profundidade,
minha boca perseguindo teu ventre no silêncio
que precede os silêncios
e as almofadas úmidas e os olhos que não verei nunca
mais
girando nos espelhos na noite infinita.
(...)

Já me esquecera de algo tão simples e verdadeiro
como beber um vaso de água, levantar-se na sombra, dos quartos emprestados, deixar correr o tempo
ainda entre sonhos e logo acordar com a sede de
teu pescoço

Eu me esquecera que a vida também está feita de
todos esses ínfimos, esses heróicos acontecimentos
que se cumprem mal sabendo
entre um corpo desnudo e outro corpo desnudo,
entre o leito do rio e o vaso da boca.
(...)

Me esquecera de escrever simplesmente,
como quem bebe
ou ama, sem que o Olimpo me suba à cabeça.

Me esquecera de que um poema se prepara
com minuciosa alegria
como um presente que já ninguém espera,
e se modela com urgência
e violência, com irrepetível, com irremediável
ternura,
como fazer o amor com uma mulher
que vai morrer amanhã.


(Tradução: Thiago de Mello).

365 dias com poesia, 01 de março de 2013 -- dentista

dentista


A Leandro Passos

não sei se devo falar...às vezes me vejo sendo um velho homem querendo relembrar e da lembrança gostar de chorar esperança de tudo aquilo que me trouxe até aqui e me fez estar ainda aqui ferido mas sorrindo dentro das minhas parcas possibilidades todo dia voo e voo como só uma borboletra poderia voar em letras encontro sempre um caminho de volta e me pacifico esperando que outros olhos vejam tudo aquilo que estou plantando e não são sonhos desculpem não posso concordar com uma palavra que engorda mas minimiza o jardim de doces em que estou cativando um futuro menos duro mais ou menos como um dentista que arranca os dentes de leite porque sabe que logo num piscar de olhos aquelas crianças que sangram serão adultos que sangram esse desejo de ver o que está a me esperar que chamam de esperança chamo de vontade e calor um sol por isso durmo sem cobertor e me sinto tranquilo quando alguém desconhecido vem em minha direção como se houvesse uma conspiração de emoção como se todos já soubessem que um poeta só morre por falta de crença