quarta-feira, 19 de março de 2014

Hélio Oiticica sobre Carlos Vergara

DESENHO é planejamento e recolhimento de material bruto recolhido e posto em estado bruto: segundo Vergara, é memória e projeção: o cigarro que queima a fumaça de cor expressionista que acaba no desenho como foto-decalque da infância: um outro que já projeta decalque de foto-CARNAVAL: anotação e antecipação: cerne-espinha do que vem a explodir e seguida em forma de projetos maiores: não considerá-los por isso mesmo menores: continuarão a emergir e o devem: pre-veem:


Os superdesenhos crescem das caixas-estruturas-cenários caligarianos: espalham-se pelo chão, desenham-se-recortam-se: folhagens de papel barato: moitam-se desgarram-se: invadem, por seu turno, o ambiente -- colher os cantos-recantos brasis que os teóricos academizantes não conseguem: brasil sensível, não cultural -- tudo terá que desembocar fatalmente em estruturas mais gerais, em proposições que crescem em ambição: em algo que seja mais importante que galerias ou museus: que prescinda delas para sobrevivência - a consciência de que essa face, deva ser exportável, assim como a fizeram os americanos (Warhol, p. ex., mais do que Oldenburg, que se resume mais a uma "imagem-américa" -- Warhol realmente criou o que se poderia chamar de face-américa) - tirar do saco o que deve ser tirado, o que interessa - Vergara quer ser a consciência vigilante dessas instân(cias) (tes), mais geral que a moda e a forma: o lugar e o tempo, só cabe a ele construir: e ambos são fundamentais aqui: a busca do tempo-lugar perdidos no subdesenvolvimento-selva: as perguntas, as respostas, as questões: validade delas: de onde abordar  a conceituação de valor? Nem a "arte" nem a "cultura" importam aqui: muito mais: o comportamento como uma forma viva das opções criativas -- vivatuante, vigilante: uma consciência.


Vergara quer construir em bloco uma instância: o instante Brasil -- a face -- mesmo que para isso tenha que se apegar aos restos, às proposições antigas, que aparecem aqui para formar este bloco: sua facilidade em desenhar, em decorar, recortar, enriquecer o ambiente etc.; não interessam aqui coisas como "mensagens" anedóticas, sem eficácia: a ambição de criar esse bloco-face Brasil absorvendo tudo, deixando de lado certos pudores esteticistas; nisso reside sua coerência: ir ao final, sem sobras.


A cabeça
A máscara: o recorte da cabeça que está em aberto pra receber a máscara
mascarar-se: escolher identidade

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