terça-feira, 30 de novembro de 2010

SACANAGENS

eu
escrevo coisas sérias
e
falo sacanagens
por que é bobagem falar bobagem?
escrevo como penso e penso direto sem ensaio ou intervalo
como durmo canto falo pensando
e é isso que todos fazemos
uns poucos escrevem
como pensam
e pensam já meio que escrevendo
é só isso
nada demais

DIGO

quero pescar, por isso
pesco
quero pregar, por isso
prego
quero ferrar, por isso
ferro
quero amar, por isso
escravo
digo
escrevo

VENCIDO

sou incapaz de errar
sou capaz de te magoar
quem com ferro fere com ferro será ferido
quem esquece do certo dorme com o errado e acorda vencido

PoESIa ruSSA 2


Espaço P E dAço sem CONSIDEr ação

Sem à

C

O s

N

C

A ve

T

E z

naçÃo eS

ordemalEAatóriasEMrumo

AÇÃO é D I Z E R não!

(Tradução:Espaço, pedaço sem consideração, sem concatenação, ordem aleatória sem rumo, às vezes ação é dizer não!)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

SEM NEXO TAMBÉM

GRATO, por me deixar falar

FARTO, de ter tanta coisa pra contar

GARFO, como tudo que estiver à mão

MATO, inclusive...

PRATO, objeto indispensável

SACO, idem

RATO, tenho nojo

ARFO, de felicidade abusada

ATO, idem

AÇO, meu sobrenome, me pertence -- Dá licença!

DE GRATIDÃO

Todos querem saber de tudo e mal sabem de si
aprontam trajes quando deveriam ser ver nus
destaques pagam para sair no carnaval
poetas afinal escrevem algo que não seja cheque
e eu nessa merda de vida querendo aprender mas não tem com quem recorri aos mestres que escrevem e se excedem em letras que não são promissórias mas estão me deixando uma grande dívida

de gratidão

PoESIa ruSSA

EssE SERIA uM exemplom

D

E a

P

O i

E

S s

I ou menos assim

A RUSSAnãoseassusteÉ

domingo, 28 de novembro de 2010

Desculpe, Cecília.

Desculpe, Cecília. Não consigo ver a natureza com olhos de poesia, não consigo me fixar em abelhas, flores, passarinhos, em quitanda, em verduras, em aventais e fogão a lenha, tudo isso me causa estranheza, fui criado na praia, água e sol, curtiram esse cara que sou. Não consigo falar de verdes -- gosto de azuis --, caules e percevejos são meio que estranhos num ninho pouco sutil de prédios e ruas ainda vazias àquela época, com poesia. Desculpe, Cecília, apesar disso, muito admirei seu poema "Verdes Reinos Encantados", tanto que o postei no blog. Rimas lindas, alta poesia, emoldurando nossa agitada vida de presos sem algemas numa cidade extremamente violenta, desalmada, diria. Como Quintana -- sou criança, mas uma criança rebelde que talvez um dia consiga ver a beleza da flor sendo gerada, da cor sendo maturada em sombra e água, da dor sendo aplacada pelo simples gesto de um regador nas mãos certas.

CRIANCICE

o cara que bate o pé porque é famoso e não quer ficar em fila...
o recém-empossado que quer ser chefe sem saber onde é o banheiro...
o cara que fica em pé cinco minutos no supermercado e reclama do caixa contar o dinheiro...
poetas que reclamam de um que escreve o dia inteiro...

LUA

em cada pedaço de fruta
há uma muda
que seca
dará vida a uma nova vida
se um pouco
de luz e água ajudarem

em cada pedaço de noite
há uma lua
que muda
dará vida a uma nova vida
se um pouco
de sofrimento e orvalho ajudarem

em cada pedaço de vida
há uma ingenuidade
que refletindo
dará vida a uma nova vida
se um pouco de olhos e ouvidos ajudarem

televisão

em cada pedaço de poema há um espaço um sistema que às vezes não tem nem muita consideração pelo outro pedaço mas é de qualquer maneira um achado encaixo uma palavra após a outra e de vez em quando aprovo a ordem aleatória vou seguindo sem rumo sabendo que estou no perigo de não conseguir concatenação ação às vezes em outras palavras é dizer não ao pensamento dizer não e ir escrevendo ir fazendo sem tempo para pensar se alguém está lendo comendo perdendo tempo com meus pequenos problemas sem solução às vezes é mais fácil ficar vendo televisão...

VIVA CECÍLIA! (4)

"...Como a chuva caía das grossas nuvens, perfumosa!
E o papagaio como ficava sonolento!
O relógio era festa de ouro: e os gatos enigmáticos
fechavam os olhos, quando queriam caçar o tempo.

Vinham morcegos, à noite, picar os sapotis maduros,
e os grandes cães ladravam como nas noites do Império.
Mariposas, jasmins, tinhorões, vaga-lumes
moravam nos jardins sussurantes e eternos.

E minha avó cantava e cosia. Cantava
canções de mar e de arvoredo, em língua antiga.
E eu sempre acreditei que havia música em seus dedos
e palavras de amor em minha roupa escritas.

Minha vida começa num vergel colorido,
por onde as noites eram só luar e estrelas.
Levai-me aonde quiserdes! -- aprendi com as primaveras
a deixar-me cortar e voltar sempre inteira!".

VIVA CECÍLIA! (3)

"...Gosto da gota d'água que se equilibra
na folha rasa, tremendo ao vento.

Todo o universo, no oceano do ar, secreto vibra:
e ela resiste, no isolamento.

Seu cristal simples reprime a forma, no instante incerto:
pronto a cair, pronto a ficar -- límpido e exato.

E a folha é um pequeno deserto
para a imensidade do ato...".

sábado, 27 de novembro de 2010

15 X 20

sucesso fácil
é punheta
sexo é sucesso
conseguido
com manha
com lábia
com a dificuldade necessária
para não se arrepender de nada
que foi feito
da cantada ao cesto de pães na manhã seguinte
durante todos os próximos
quinze vezes vinte


LONGAS

se os pássaros voam
por que não voamos?
se pensamos
amamos
rodamos longas-metragens
por que não voamos?
se
falamos
sonhamos
flanamos
por que não voamos?

FUNCIONA

...funciona
mais ou menos assim...

estou p da vida
com alguma coisa ou alguém
(fácil para um cara esquentado)
sento com vontade de mandar a pessoa para aquele lugar que rima com Brasil
e
começo a escrever...

Num poema...

...da hierarquia
de ideias e posições
nasce a apatia
(a impossibilidade de mobilidade...)
quando acho que estou em primeiro não arrisco e com isso não aprendo
continuo o mesmo
o mesmo sereno nas minhas certezas
que não põem mesa nem cama
se me vejo
sendo o último
se não desanimar
tenho que melhorar e aí com mais trabalho e análise crítica
contando com um pouquinho de talento
(que ninguém merece sofrer tanto)
a coisa começa a aparecer
e quiça
será contada num poema...

CHOCADO

CHOCADO

muito chocado
com a perda da nossa mínima ilusão de morar na "cidade maravilhosa cheia de encantos mil..."

difícil parar e ter estrutura emocional para escrever, escrever é analisar e querer acreditar em algo que não seja: SAIAM, VAMOS QUEIMAR TODOS OS CARROS!

ARRELIA

diante de tanta violência difícil ter ânimo para escrever poemas são a consagração da alegria de viver mas...como ter alegria seria muita fantasia seria quase um arrelia ignorando toda a ignorância e continuando continuando buscando o sorriso do garoto que diferente de mim conhece o barulho de metralhadoras fuzis será que não é válido ter alguém que ainda pensa numa infância em alguma infância feliz?

Os Olhos

medo de abrir os olhos

medo de sair
medo de partir
medo de parir
medo de acostumar a mentir

medo de fechar os olhos

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

APOSENTADOS

sorrateira
chega
emprenha
se embrenha
no mato faz morada
se chega
acocorada
sabida
safada
retira
a visão
a atenção
aumenta a tensão
diminui o tesão
e quando nos acostumamos
somos convidados a nos retirar

Num cachorro

um menino acredita num cachorro
a vida com o amigo se expande
e
late junto
morde junto
leite junto
gane junto
um menino vira extensão do animal
que sabe que é amado pelo menino que
late
morde
leite
gane
junto de todos nós seus pais

FÓSFORO

enquanto o mato cresce
o verde resplandece
quando o sol queima tudo
o amarelo-palha
dá fruto
amarronzando
a vegetação
que triste
chora por uma vermelhidão
que não sabe donde vem
mais vem e refém se tornam as plantas
cirandas
se dão com o vento
espirais
de pétalas
jogadas enganam insetos
que pensam estar
diante de um caleidoscópio
de fósforo
E não conseguem parar de girar

AZIAGO

engano o espelho...
acontecimentos
cimentam em mim desespero
meu corpo me engana
emagrece
engorda...
aziago
espero e quero
não saber
me comportar
como querem
como esperam
necessito
interferir
fazer arte é
ferir sem matar
ferir (-se) e não morrer

VIVA CECÍLIA! (2)

"...Este odor da tarde, quando começa o cansaço dos homens.
Quando os pássaros têm uma voz mais longa, já de despedida.
Declina o sol -- esta é a notícia que a terra sente, na floresta e no arroio.
Uma nova brisa percorre a murta e resvala na relva.
E os faisões gravemente passeiam as marchetadas plumas.
Docemente perdem as flores sua esperança, o perfume, a memória.
Todos os dias assim, neste caminho de auroras e crepúsculos.
E então o odor da terra é uma exalação de saudade,
um suspiro de consolos, também, e o orvalho que as plantas formam,
com seus íntimos sumos, de silenciosa confidência,
parece igual à lágrima,
e cada folha, nas árvores, é um outro rosto humano...".

ASFALTO

o cara que enrola não é culpado?
o pauzinho no fim de tarde não tem nada a ver?
a bala para dançar até se acabar não atrapalha?
o asfalto não fala?

DE FICÇÃO

as letras fogem
hoje
fogem de mim
parece que também estão com medo
de sair de casa

aquela volta na esquina
de antigamente
aquele sorvete dois quarteirões depois
aquela olhada no mar
no fim de tarde

tudo isso no Rio
virou
obra de ficção

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

CIDADE MARAVILHOSA

hoje não consegui escrever
precisa explicar por quê?
ilhados
num estado em que mesmo as autoridades se sentem indefesas
autoridades que deixaram por anos a coisa chegar a esse ponto... e nós não ajudamos? nos drogando? achando que é bonito nos entupirmos de bebida, cigarros e remédios não necessariamente nessa ordem como pretender ter cabeça para resumir nosso estado de sítio perigo iminente de bala perdida eminentes discutem protegidos por carros blindados desalmados tacam fogo em carros, ônibus e na nossa ilusão de viver mos num mundo melhor... cidade maravilhosa de bosta!


EXISTÊNCIA

...começou com a televisão
mas a culpa
entendo
não é só dela...
os planos de saúde acabaram com a possibilidade de conversa entre familiares...
vejam
médicos que atendem um paciente em quinze minutos
treinando-nos a expormos nossos podres
nos mesmos quinze minutos
todos impacientes
não conseguimos começar muito menos terminar
algum tipo de raciocínio
nos famigerados quinze minutos
definimos
nosso histórico
de doenças
onde estão os doutores
que entendam de seres humanos
se estamos espremidos por míseros minutos como vamos definir nossa existência?

O BOBO

...o poeta
não é
o bobo
escolheu ser
o palhaço
para conviver com
o riso
exaltado
das crianças

das crianças
que temos
perto
dentro da gente

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

MANOEL DE BARROS, em Memórias Inventadas (4)

"Soberania

Naquele dia, no meio do jantar, eu contei que tentara pegar na bunda do vento -- mas o rabo do vento escorregava muito e eu não consegui pegar. Eu teria sete anos. A mãe fez um sorriso carinhoso para mim e não disse nada. Meus irmãos deram gaitadas me gozando. O pai ficou preocupado e disse que eu tivera um vareio da imaginação. Mas que esses vareios acabariam com os estudos. E me mandou estudar pra frente. Aprendi a teoria das ideias e da razão pura. Especulei filósofos e até cheguei aos eruditos. Aos homens de grande saber. Achei que os eruditos nas suas altas abstrações se esqueciam das coisas simples da terra. Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo -- Alberto Einstein). Que me ensinou esta frase: A imaginação é mais importante do que o saber. Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira. Botei um pouco de inocência na erudição. Deu certo. Meu olho começou a ver de novo as pobres coisas do chão mijadas de orvalho. E vi as borboletas. E meditei sobre as borboletas. Vi que elas dominam o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no corpo. (Essa engenharia de Deus!) E vi que elas podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as próprias asas. E vi que o homem não tem soberania nem pra ser um bentevi.".

QUEIXO

cabelos

negros
lembrando fumaça de incêndio
um olho
pôr-do-sol
outro
noite enluarada
por isso vejo
corujas e garças

sinto todos os perfumes
nariz
de floresta
desconfiado
com mãos que queimam
que se deixam levar por enxadas

queixo
empinado

corajoso
de menino levado

menino arruado

enrolado em instintos

levo a vida

longe de desgraças

terça-feira, 23 de novembro de 2010

MANOEL DE BARROS, em Memórias Inventadas (3)

"Pintura

Sempre compreendo o que faço depois que já fiz. O que sempre faço nem seja uma aplicação de estudos. É sempre uma descoberta. Não é nada procurado. É achado mesmo. Como se andasse num brejo e desse no sapo. Acho que é defeito de nascença isso. Igual como a gente nascesse de quatro olhares ou de quatro orelhas. Um dia tentei desenhar as formas da Manhã sem lápis. Já pensou? Por primeiro havia que humanizar a Manhã. Torná-la biológica. Fazê-la mulher. Antesmente eu tentara coisificar as pessoas e humanizar as coisas. Porém humanizar o tempo! Uma parte do tempo? Era dose. Entretanto eu tentei. Pintei sem lápis a Manhã de pernas abertas para o Sol. A Manhã era mulher e estava de pernas abertas para o sol. Na ocasião eu aprendera em Vieira (Padre Antônio, 1604, Lisboa) eu aprendera que as imagens pintadas com palavras eram para se ver de ouvir. Então seria o caso de se ouvir a frase para se enxergar a Manhã de pernas abertas? Estava humanizada essa beleza de tempo. E com seus passarinhos, e as águas e o Sol a fecundar o trecho. Arrisquei fazer isso com a Manhã, na cega. Depois que meu avô me ensinou que eu pintara a imagem erótica da Manhã. Isso fora.".

MARESIA

Se o cara se acha foda não arrisca e quem não arrisca não petisca se estagna fica parado não põe em movimento isto é não se emociona mas...será que alguém consegue não se emocionar? o raciocínio não é impeditivo de sentimento o problema é que com o tempo aprendemos errado a não dar vazão às nossas emoções e viramos um poço de desilusões que certamente irão transbordar em doenças e nesse círculo vicioso do mar só ficamos com as socas e a maresia

Ebulição

aos dez
em formação
aos vinte
em expansão
aos trinta
em ebulição
aos quarenta
VULCÃO

LARANJA

intensidade
maior característica de um poeta
escrever é outra
mais de menor importância
saber ver a vida
dar valor
à casca e a laranja
saber
que o grão depende do bico
que o são depende de abrigo
que palavras são o calor do vento

Núcleo

...Jazzman
o filósofo é um jazzman
usa o blues
(a poesia)
como matéria-prima
núcleo
de seu raciocínio melódico

CALOS

Não existe solução melhor

Existe solução possível

cada um sabe onde lhe aperta o sapato...

DOCE

...breve contra a solidão
soluço da solução
doce tentativa absurda
perfume do mundo cão

poesia

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

EQUILÍBRIO

difícil equilíbrio
fazer sucesso
em arte
se desvenda caminhos
abrindo a mata
imperfeições
são mostradas
expondo as marcas
do tempo
dos conceitos
e
dos preconceitos
para as pessoas
que comporiam a platéia

PARADOXO

o poeta
catuca suas imperfeições
pretendendo
cicatrizar feridas
o cantor
quer cantar para grande audiência...

esse o verdadeiro paradoxo

ESPIGA

Verdadeiro
bluesman
o poeta
com o calor
de suas mãos
retira
pipoca
de espiga de milho

sábado, 20 de novembro de 2010

TRADIÇÃO

Palavras são palavras...
um bom dia de um amigo
é um bom dia
de um inimigo
é ironia

um Deus-lhe-pague de um amigo
é um agradecimento
de um vigário
uma tradição

um filho-da-puta de um amigo
é uma sacanagem
de uma puta
é conhecimento de causa

MANOEL DE BARROS, em Memórias Inventadas (2)

"Latas

Estas latas têm que perder, por primeiro, todos os ranços (e artifícios) da indústria que as produziu. Segundamente, elas têm que adoecer na terra. Adoecer de ferrugem e casca. Finalmente, só depois de trinta e quatro anos elas merecerão ser chão. Esse desmanche em natureza é doloroso e necessário se elas quiserem fazer parte da sociedade dos vermes. Depois desse desmanche em natureza, as latas podem até namorar com as borboletas. Isso é muito comum. Diferentes de nós as latas com o tempo rejuvenescem, se jogadas na terra. Chegam quase até de serem pousadas de caracóis. Elas sabem, as latas, que precisam chegar ao estágio de uma parede suja. Só assim serão procuradas pelos caracóis. Sabem muito bem, essas latas, que precisam da intimidade com o lodo obsceno das moscas. Ainda elas precisam de pensar em ter raízes. Para que possam obter estames e pistilos. A fim de que um dia elas possam se oferecer às abelhas. Elas precisam de ser um ensaio de árvore a fim de comungar a natureza. O destino das latas pode também ser pedra. Elas hão de ser cobertas de limo e musgo. As latas precisam ganhar o prêmio de dar flores. Elas têm de participar dos passarinhos. Eu sempre desejei que as minhas latas tivessem aptidão para passarinhos. Como os rios têm, como as árvores têm. Elas ficam muito orgulhosas quando passam do estágio de chutadas nas ruas para o estágio de poesia. Acho esse orgulho das latas muito justificável e até louvável.".

ESPREGUIÇO

Invejoso e preguiçoso.

Invejo
a capacidade que a borboleta tem de pousar
preguiço
não consigo me fazer escutar

Invejo
a certeza que a lagarta tem de voar
preguiço
já tentei fazer luz

Invejo
todas as manhãs calmas
preguiço
me esforço para achar um canto almo


BOMBA RELÓGIO

Um poema
é
uma violenta demonstração de carinho
é
uma explosão sem pavio
uma tímida declaração de princípios

um poema
deveria ser chamado
de bomba relógio

APETITE

...depois da tempestade vem a bonança...
e bonança sangra?
bonança é mansa sofreguidão?
bonança é fera mansa sem apetite?
bonança é estado de apendicite?

Será que a tempestade não nos mostra o tamanho de nossa insignificância perante a natureza?

DESAFIO POÉTICO

Em certo sentido, todos sabemos tudo. Eu sei, é uma afirmação muito abrangente, mas tente entender a poética mente de um poeta. Quando crianças, apesar da habilidade natural de alguns para algumas coisas, em princípio, não nos sentimos inibidos de tentar. Dessa tentativa certamente irá se dar alguma descoberta e dessa descoberta descobriríamos um dom. Descobriríamos um dom, se tentássemos! A educação formal, infelizmente, acaba sendo a educação de nos ensinar a não tentar. Com isso nascem os requisitos para nos tornarmos seres humanos típicos, preguiçosos e, por isso, invejosos! Mesmo sabendo disso, a coragem do poeta é continuar, continuar tentando nos tirar a todos da inércia! Tirar da inércia, esse o verdadeiro desafio!

PENTEADO

é perfeitamente normal...(quase um decimal) e tal qual os pais a garota é normal animada ao extremo os extremos estão crescendo canta dança sapateia se anima com a primeira nota da macarenha adora se jogar no papel parece nascida para a piscina branca letras mansas numa cabeça totalmente demais ademais não irá parar porque já aprendeu que dom não cansa dom é trança permite qualquer penteado

O BANDIDO

...massacrado por uma vida sem infância o bandido tenta justificar sua violência...

justificar o quê?!

JOÕES

...de barro...
...de barros...

sobra de orvalho
sobra de
joões
sertões
mãos
calejadas
seguindo em frente

...retrato amassado...

CONSTRUÇÕES

...deitado...
na beira do caminho tinha um passarinho
caminho sem pedra
porque de nuvens
branco
fresco
(sem tapume)
sem obras
com sobras
de sons
de sonhos
de construções
de imagens
incríveis
de infância feliz

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

MANOEL DE BARROS, em Memórias Inventadas

" O Apanhador de Desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.".

SOUL POESIA

...poesia da alma
Acalma
Porque estanca o sangramento
De dentro
De perto todas as letras
São palavras
Todas as palavras
São poemas
Esperando um som qualquer
(um qualquer sou)
para rimar

SIAMESAS

...um mesmo corpo
com
duas cabeças
dois temperamentos
racional, o esquerdo
artístico, o direito
dois hálitos
dois hábitos
alcançando
o mesmo corpo
dividido
entre
pensamento e sentimento

ALHO

infância:
Nossa Senhora de Copacabana
perto de uma loja de flores
praia forte
medo de me perder
Tio e avó
arroz cheiroso de alho
falho
em não dizer amá-los
agora...
só as letras me salvam...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ARÁBICAS

...o seu
começa onde termina o meu...meu olhar...

saudade é palavra mágica
saudade é palavra que rima com mar
somos nossas memórias
somos histórias que ainda não foram contadas
somos arábicas...
mil e uma noites
açoites de sonhos
somos o que multiplicamos

DESCRENTES

...seria muito mais fácil ser igual a todos
e ficar reclamando de tudo
do engarrafamento ao estatuto do adolescente
descrentes
crentes que estão desabafando quando estão mostrando terem se deixado abafar por
olhares opiniões mímicas químicas
quais sejam
de indivíduos acesos
com o talento alheio
que desconhecem o processo de melhorar dia a dia
sem precisar destilar ódio
sem precisar chorar de arrependimento pelo tempo que ficaram pensando em...

DESCULPAS

Para que servem os poetas?
para nos lembrar que somos humanos
para nos lembrar que apesar de sermos egoístas e preguiçosos
somos capazes de
amar sonhar fazer de conta
somos todos capazes de tudo
mesmo mudos podemos nos comunicar com as mãos
somos cidadãos desse mundo
único mundo que um homem mata sem precisar de desculpa
por isso não precisamos pedir desculpas por gostarmos da vida!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Fogão a lenha

nesse retângulo tudo pode pode tudo elogio ao mar ondas caindo por espingardas ônibus dourados e submarinos azuis aqui vale tudo que não seja violência e desamor Roma com leões sem dedos polegares vales de lágrimas já foram pintados seus lábios seus lábios cílios de estilo poetas pimpões circos glutões sentimentos blues soluços da solução ontem já se foi e eu não me nego quero ferro na receita que inventei de cozinhar nesse fogão retângulo a lenha

BACANA

um grande escritor
amigo do meu editor
lhe confidenciou
que escrevo
como quem anda nas areias de Copacabana...

estou em dúvida...
não sei se acredito
(e me acretino)
ou aproveito
e vou mergulhar...

Tempestade

(não me chame...)

não sou chama
tempestade
chamo
chuva
o vento uiva
meu nome
a vegetação
se apaixona
pela intensidade
a mata
dança
arde
com a força
de meus soslaios
nos extraio
em nós outros
vôo

Unguento

Dói, mas não é porque dói que deixará de ser feito
um poema
não é uma combinação de letras
e sim de sofrimentos
muito mais do que poucas palavras
um poema sangra
nossas falhas
lágrimas
de expansão de temperamento

unguento

MIL PESSOAS

entre mil pessoas
eu seria a última opção
ninguém apostaria um tostão furado em mim
garoto só pensava em bola
o tempo todo
no recreio
na praia
na pracinha
várias horas por dia
queria ser jogador
depois faculdade
sem dificuldade nenhuma vi que tinha jeito para Direito
aos vinte e cinco
funcionário público comecei a pensar em escrever
mas
só pensei
e a vida foi seguindo
com sofrimentos se acumulando
eu me assustando
e quando vi tinha feito o poema
Frederico

VÍCIOS

Poesia...
Sofrimentos:
do garoto que perdeu a bola
do rapaz choroso pela namorada
ou da nota da escola
do homem que não consegue um salário digno
e que por isso vê a família desmoronar
do senhor que não tem com quem conversar
sofrimentos
quais sejam
mais ou menos significativos
todos temos nossos vícios...
e sofremos...

SACRIFÍCIO

Sangue, suor e lágrimas
quem não quer se livrar
daquele instante
em que a vida
nos presenteia com
sangue
suor
e
lágrimas
mas
sem isso
daríamos valor ao sacrifício que é viver?

Viver é difícil porque não é fácil conviver

terça-feira, 16 de novembro de 2010

EQUAÇÃO

De uma melodia
a alegria nasceu
cresceu
e se multiplicou
diminuiu a cor
das letras
de um poema
que somou muito ao meu modo
dividido
de entender o amor

Sonho, logo...

Estamos mortos?
Não?!
estamos vivos, então?
Como sabemos?!
Por que falamos, respiramos?
mas...
os animais também não estão respirando, comendo...
Como nos diferenciamos?...

Porque sonhamos!...

(animal faz conta?
animal faz de conta?)

SOPÉ

minhoca da galinha
gota da maré
grão do sopé
careta da mania
mentira da escrita

INVENTOR

peguei uma letra e fiz um poema
peguei uma casca e fiz uma mata
peguei uma asa e fiz uma águia
peguei uma flor e fiz um amor

PEDRINHOS

...não se assustem
eu não sou tão novo quanto aparento
sento e respiro para esperar o susto acalmar
esqueçam que fui eu quem disse pensem no que estou a desabafar
deixem de se ocultar
não existem sonhos
não existem riscos
tudo pode ser aprendido
em menino
sabíamos disso e nada era impossível tentem errem se arrebentem na correnteza cresçam sem se perder cresçam sem deixar de crer em papai noel visconde de sabugosa pedrinhos somos todos basta querer escrever uma história de vida

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O QUADRADO

Minha percepção é circular...

Entendo

que o quadrado demore

A aparar

as arestas

Mas

Isso nada tem a ver

Com seu triângulo

Digo

Com o modo

Elíptico

Que tenho de ver a vida

COMER, BEBER E F@D#R

Não faz nem um minuto estava no escuro pensando em como tudo começou e olha que foi tão forte que acho que nunca terminará. Outro dia, ouvi algo de um menino amigo que me emocionou, me disse ele: Marco, sua vantagem é que você sabe que encontrou o caminho, seu caminho... Bonito, um filósofo tão novo e disposto a dividir sabedoria, quem diria que ainda aprenderia algo tão singelo, espero, realmente espero, poder ajudar outras pessoas que se encontram tão perdidas quanto eu estava. Estava, verbo ser no passado, imperfeito era meu estado de antes de começar a escrever, que nada mais é do que nos examinarmos cruelmente, e, por isso, assusta num primeiro momento, e em todos os demais momentos também. Alguém quer ter consciência? Melhor comer, beber e f@d#r...

Sementes

Um pássaro voa

Por instinto

Seu corpo não lhe pertence

É usado pela natureza para procriar e espalhar sementes

Nós humanos...

Por que aqui estamos?

EX-VOCÊ

...cadê aquele cara que se vestia de super-homem para salvar o mundo o garoto que com óculos iria ser presidente dum país contente por ter erradicado a miséria e a mortandade infantil? cadê aquele adolescente que só pensava em estudar para poder ajudar queria ser piloto de caça caçava e gostava de ser presa cadê aquele cara que tirava onda pegando onda e dizia que queria ser médico para salvar as pessoas na guerra cadê meu irmão aquele cidadão que fez direito e sempre foi contra a violência cadê a paz que você pretendia pregar onde estão as marcas que te fizeram mudar? onde se encontram as letras tatuadas? onde se escondem seus sorrisos? onde estão seus amigos? onde está o ex-você?

ZODÍACO

procuro sonhos
vendo risonhos
sorrisos
de ocasião
procuro emoção
vendo satisfação
do dever cumprido
procuro signos
aquários com peixes
escorpiões, touros e caranguejos
certeza de estar no zodíaco
como astro
gêmeos espasmos

agitado sagitário

AÇÃO

Há pelo menos meia hora... Estou olhando a tela em branco já há alguns minutos, passa tanta coisa na cabeça...o começo...o lançamento dos livros...como mudei em apenas dois anos e meio...

São tantas imagens misturadas...com certeza daria um poema enorme, seria uma grande ideia...começar... quem sabe?!

Vou sair da inércia, deixar de pensar e partir para a ação!

domingo, 14 de novembro de 2010

S

Simples assim, tudo na vida pode acontecer -- se não controlamos nada --, por que deixar de fazer?

Ah! Não sabe responder?! Então, deixe de pensar e arrisque se queimar na fogueira da vida

Uma vez pelo menos faça do carvão um arvoredo

Dê sua contribuição.

A população irá adorar saber que você quer ajudar, se preocupe em se

Doar, não se

Economize

Quântico

...não quer dizer que não vá morrer...

a morte é uma passagem

dizem os vendedores de ilusão

a morte é apenas física me fisga o físico quântico

crédulo amante secreto de uma ordem secreta de segredos eternos modernos?

...pensamentos...

quantos pensamentos sinceros se revelam

verdadeiros deuses

de mundanos desesperados-sincréticos

peruanos

incas-diluvianos que eu não sei nem se existem aliás como essa vida que inventei para mim

ALFABÉTICAS

potência poética:
leitura de imagens
em palavras
imagens
que falam
que entalham
cada letra
tem seu devido lugar
esculturas
alfabéticas

PÉS

Sinto o vento
vindo
e o vento canta
o vento
derrama
o cheiro
da rama
da cana
da rã
sinto o vento
no mato
riacho
chacoalhando
pedras
limando
vento
apagando rastros
da palha
pisada
por pés
que só querem
sentir...

ARTE POÉTICA (2)

Continuando o tema. Por exemplo, hoje já consigo identificar o processo do que ocorreu comigo. Instado por circunstâncias adversas a escrever o que sentia, escrevi. Daí fiz meus primeiros poemas e quando me dei conta tinha material para os meus três primeiros livros, tirando um ou outro poema quase todos os poemas foram colocados na ordem cronológica, ou seja, os primeiros no primeiro livro -- Dentro de Mim, os sucessivos, no Oculto e os últimos, dessa primeira leva intuitiva, ficaram no Próprio Amor.

A partir desse momento, continuei escrevendo muito mas já começava a ter uma consciência, mínima que fosse, de que alguma ordem no trabalho me ajudaria. Disso, veio uma sistematização de colocar nome nos manuscritos e o nome passou a me dar a possibilidade de separar os poemas de acordo com o conceito dos futuros livros.

Essa forma de sistematização me ajudou a fazer meus novos três livros: Declamador de Sonhos, Intensaidade e Pensamentos em Movimento, cujos conceitos são, respectivamente, poemas mais românticos, menos românticos e opinativos.

Continuando a tentar amadurecer no processo de feitura dos poemas, devo ter feito uns vinte manuscritos, até que fechei a questão com os manuscritos dos meus livros a serem lançados em 2015, quando irei fazer cinquenta anos.

Meu Vagabundo Olhar, Soul Poesia, Imaginar-te, No Tempo do Vento, E =mc2 e Pelas Janelas Amarelas já serão livros totalmente adaptados ao meu jeito de fazer poesia, que é fazer soltando os bichos sem pensar e, depois de deixá-los maturando, escolher os de melhor safra para a exposição aos leitores.

ARTE POÉTICA

A arte poética possui várias misturas, alguns ingredientes, no entanto, lhe dão característica: o uso de rimas, de metáforas, texto curto, etc. Porém, considero seu elemento mais precioso a transposição de imagens em palavras e vice-versa. E explico: a capacidade do poeta de escrever imagens -- isso mesmo, não é descrever imagens ou paisagens, como alguns poetas se utilizam.

Descrever paisagens ou objetos também pode ser uma técnica poética, porém, acho, que o que aumenta a potência do texto poético, particularizando o poeta, é a imediata visualização pelo leitor daquilo que acabou de ser lido.

O poeta, não me perguntem como, consegue tanto falar como escrever utilizando imagens que se fixam na cabeça do leitor, proporcionando imediata identificação. Do mesmo modo, como escreve buscando imagens, o poeta se vê influenciado por elas e aí percorre o caminho inverso, meio que colocando em palavras suas sensações intuitivas sobre elas.

Perguntado, outro dia, se sou intuitivo, afirmei ser totalmente intuitivo, porque faço sem pensar, mas depois do poema pronto passo a utilizar a parte intelectiva para enquadrá-lo num futuro livro ou mesmo descartá-lo, muito tempo depois, por ter feito outro mais inteiro ou por acabar desgostando do dito-cujo.

NO TEMPO

certeza da morte e o tempo que viveremos são duas angústias medos e dificuldades se somam e temos as condições ideais para o nascimento de uma obra de arte falta nessa equação o personagem humano o ou a artista entra nessa mistura como o mago como a cura possível o elemento externo que seria o público talvez nem seja tão necessário pelo menos num primeiro momento haja vista tantas obras que ficaram esquecidas no tempo

A CORAGEM

a coragem do poeta
é
em sabendo que o ser humano
é
essencialmente egoísta
continuar esticando as mãos
digo
continuar escrevendo
entendendo
que essa
é
a sua missão

Remédios

válvula de escape
dos sofrimentos
não julguemos
todos estamos
fadados
a sofrimentos
as letras são
unguentos
combinadas fazem sarar
poemas são
remédios para a alma

MANTRA BLUES

a visão nuclear de um blues me encanta não há sobras só é dito o que precisa ser dito e ouvimos aquilo que deve ser ouvido diferente de um poema não há espaço para interpretações quase um mantra batendo nos ouvidos: não devemos nos deixar abafar não devemos nos deixar abafar não devemos nos deixar abafar

Aprendizes

Chove
lá fora...
qual é o peso da água nas nossas mágoas?
acumulamos lama nas galochas
sujamos o chão
deixando marcas
onde só havia
lembranças
de...
pedaços de pão
me comovem
com manteiga são...
pedaços da infância
que agora vejo chegar em meus netos
vida
que continua na gargalhada feliz
de crianças
aprendizes

DIFERENÇAS

Indiferença
é um não
às diferenças
as dificuldades que temos em aceitar diferenças é inversamente proporcional diria um elevado à nona da nossa capacidade de conseguirmos aceitação carisma é o outro nome para isso simpatia gratuita que exalamos não confunda com liderança que é outra coisa liderança é confiança e aí seguimos sem carisma e sem liderança... e pretendemos chegar aonde?

sábado, 13 de novembro de 2010

PATOTA

...sempre fui chato
o chamado
cricri
agora
que aprendi como as coisas funcionam
estou muito pior
falo o que penso
e olha que penso
não paro...
parar não me satisfaz
faço do meu jeito
a patota não gosta
não estou fazendo para agradar
escrevo o que tem que ser escrito
às vezes repito
para implicar
ninguém quer me conhecer
eu também não faço questão de conhecer ninguém
tem tempo de saber
quem é
quanto mais quem somos...

Alegrias Miúdas

...e se não fosse o tempo estaríamos juntos,
rindo do passado,
nos completaríamos
brigando, inclusive.
Seguiríamos sempre com sorrisos prontos para pular do pescoço
como um perfume todos sentiriam
nossos odores de
dores, muitas e alegrias miúdas
espalharíamos boa vontade
provando que otimismo rima
com amor
continuaríamos levando a vida
como se não fosse difícil
quase impossível
continuar...

SILICONES

ter a sensação de ter feito um poema bem feito

é a felicidade

de achar que a vida pode dar certo

mas...

como dar certo?

se escrevo torto

por linhas que nem tortas são?!

escrevo por linhas virtuais

como a vida da maioria...

pessoas que fingem...

cabelos com tintas dentes com jaquetas silicones estéticos adereços

externos, jóias e roque em rou

me respondam:

como um poema pode dar certo?!

Paciência

uma minhoca em peixe
uma lagarta em borboleta
uma lágrima em poema
uma unha em arranhão
um beijo em declaração

paciência

MINHOCAS

...sem tempo
para tentar
entender essa mania
de querer saber da vida alheia
me prendo na minha
pequenina
mas
ajeitada
lata amassada
que logo
servirá de abrigo
de minhocas
que virarão peixes
apenas com um pouco de paciência

DE FUMAÇA

cuidado
ao se aproximar
posto que sou
chama
queimo
para fazer sarar
a água
não é inimiga
serve
para lançar
sinais de fumaça

NO PONTO

um livro nada mais é do que uma possibilidade de aprendizado mais do que revistas tv fofocas o tempo desperdiçado não volta se volte para seus resultados esqueça a vida da vizinha seriados esqueça-se em si dance com a música de seus sonhos se não houver invente-a nem que seja numa caixinha de fósforos acenda sua angústia coloque-a ao ponto no ponto de se livrar de seus olhos tristonhos olhos sem direção

ATRITO

do atrito
sai fagulha
do fogo
sai fumaça
da parreira
sai vinho
do livro
sai ensino

GÊNIO

tudo na vida se consegue com coragem e trabalho mas trabalho é ter tido a coragem de começar algo e continuar Picasso dizia saber que em seu ramo a receita do sucesso era de noventa por cento de transpiração e dez por cento de inspiração todos gostamos dos gênios pois nos tiram a sensação de não podermos alcançá-los mas os gênios sabem que não são gênios sem trabalho Picasso também dizia que a sorte o bafejava sempre que estava trabalhando...Picasso era gênio porque sabia o quanto tinha que trabalhar...agora... se ele trabalhava... imagina o quanto temos que ralar!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

NOVO ROSTO (modificado)

...último reflexo

Quebrado

Em cacos

pedaços do meu rosto...

me lembrei

era eu mesmo

Ontem

Me livrei do cinismo

Um caco

espelhos quebrados

me presentearam

um novo rosto

desgosto

ironia

indo...

falhas

retas

refletindo curvas

ÓCULOS

Lhoscomata?scolorão

precipidospeícioslas

nosLabiremliintosdarmos

abismdadesossas?

dificul

Ah! Coloquei os óculos!

Labirintos são

abismos?

precipícios

coloridos pelas nossas dificuldades

em lidarmos com atalhos?

PROFISSÃO

um sapo de fralda visão nada encantada ogro verde insistente um lobo sem vovózinha contos contas com quantas histórias se faz uma vida? cisma trina em cima da árvore tem um galho com um duende desse tamanho do tamanho de um galho de arruda há fruta amarela espera que vou te dar um presente sente sentes a semente de uma nova profissão?

VIVA CECÍLIA! (1)

"Verdes Reinos Encantados


...No mistério do Sem-Fim,
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro:
no canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o Sem-Fim,
a asa de uma borboleta.".

ESPADA

...poesia não é
troca
de rimas
de fralda
de nostalgias
não aquieta
protege
por ser escudo
contra a incompreensão
poderosa arma
contra a hipocrisia
contra a autoindulgência
contra nós outros e a solidão
voz
do poeta
espada
desembainhada
contra
tudo que não seja a favor

BADALO

...nunca gostei de agitação
não havia pensado sobre o motivo
agora
um pouco mais vivido
resta claro
nunca gostei de badalação
fora
porque
sou animado
aqui
dentro

CONFUSÃO

wvas8m3p4
r3mas9lt1q
sete0m3ç59
wx6tuvxz23...

nossa, que poeta confuso!

Personagem

...escolheu se emocionar por foto
não anda de moto
não sabe o que é
o vento no rosto
prefere livros
finos
os grossos
dão dor nas mãos

sem saber escolheu ser um personagem

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A IDEIA

A ideia é em uns dois anos ler pelo menos um livro de cada autor de poesia consagrado para poder aquilatar de qual gosto mais e entender o estilo e processo poético de cada um. Nessa levada vou lendo e postando para vocês, meus três leitores que, por incrível que pareça, estão espalhados nesse mundão de Deus!

Pelas postagens já perceberam que li: Pessoa, Gullar, Dickison, Rilke, Bukowisk, Borges, os mimeografados, os do haicai, começando agora a ler um livro de Cecília Meirelles. (Fora Blake, Baudelaire, Veríssimo, Millôr Fernandes, etc.). Nessa contagem não entram livros de Drummond, Quintana, Vinícius, Bandeira e Oswaldo de Andrade, velhos companheiros de jornada!


Abraços, Marco.

VIVENDO BORGES... (6)

Ensina o mestre argentino, de tantas pátrias:

" Minha sina é o que se costuma chamar poesia intelectual. A palavra é quase um oximoro; o intelecto (a vigília) pensa por meio de abstrações, a poesia (o sonho), por meio de imagens, de mitos ou de fábulas. A poesia intelectual deve entretecer a contento esses dois processos.

Dá logo adiante exemplo de um "poema puramente verbal...de Jaimes Freyre:

Peregrina paloma imaginária
que avivas os últimos amores
alma de luz, de música e de flores,
peregrina paloma imaginária.".

VIVENDO BORGES... (5)

" um livro

Apenas uma coisa entre as coisas
mas também uma arma. Foi forjada
na Inglaterra, em 1604,
E carregada com um sonho. Encerra
Som e fúria e noite e escarlate.
Minha palma a sopesa. Quem diria
Que contém o inferno: as barbadas
Bruxas que são as parcas, os punhais
Que executam as leis da sombra,
E o ar delicado do castelo
Que vai ver-te morrer, a delicada
Mão capaz de esanguentar os oceanos,
A espada e o clamor de uma batalha.

Esse tumulto silencioso dorme
No espaço de um daqueles livros
Da sossegada estante. Dorme e espera.".


AGRADECIMENTO

Os vídeos das músicas À CECÍLIA e CONTRA foram produzidos pela vivacidade, inteligência e esforço de um jovem talento chamado Gabriel Dargam. Valeu, Gabriel!

Vídeo da música Contra

Vídeo da música À Cecília

SAÍDA

...eu sei

É tudo comigo

Cada um toma conta do seu umbigo

E é isso que nos deixa aflitos

Sentindo o perigo que é ter coragem de viver

E ver e ler e saber que é com a gente cogente competente

Ai daquele que parar de pensar em alguma saída

SIMÉTRICO

só será céu se silenciarmos

só será sal se sufocarmos

só será certo se silêncio

só será sexo se simétrico

MOFO

só sei céu indiferença em entender inferno certo credo convence cidadãos muito melhor medo mesmo sendo super sincero espero experiências especiais empurrando-me em espirais para poder perecer pendendo pelas palavras pátria patas patacas infinitos escritos insignificantes enquanto moto mofo morto

INSANA

já reparou?
seu sopro tenta me apagar
mas
me inflama
aliás
insana
mania
de me chamar

HIPPIES

as pessoas desconhecem uma verdade que não tenha versão todos só querem aparecer na hora boa ninguém arca com as consequências da execução todos são bonzinhos e inteligentes todos adoram ver gente comentando seus comentários todos adoram se ver no noticiário reclamando de falta de cidadania todos sabem o que é cidadania? onde estão os hippies do pré-guerra? arautos da pós-inflação? todos somos políticos com partido ou não todos todos todos fomos eleitos para governar... governar a nossa vida pelo menos

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

VIVENDO BORGES... (4)

"ao espelho

Por que persistes, incessante espelho?
Por que repetes, misterioso irmão,
O menor movimento de minha mão?
Por que na sombra o súbito reflexo?
És o outro eu sobre o qual fala o grego
E desde sempre espreitas. Na brunidura
Da água incerta ou do cristal que dura
Me buscas e é inútil estar cego.
O fato de não te ver e saber-te
Te agrega horror, coisa de magia que ousas
Multiplicar a cifra dessas coisas
Que somos e que abarcam nossa sorte.
Quando eu estiver morto, copiarás outro
e depois outro, e outro, e outro, e outro...".

VIVENDO BORGES... (3)

Lição, sobre um poema: " Vejo o fim e vejo o princípio, não o que se encontra entre os dois. Isso gradualmente me é revelado, quando os astros ou o acaso são propícios. Mais de uma vez tenho de voltar sobre meus passos pela zona de sombra. Tento intervir o menos possível na evolução da obra. Não quero que seja torcida por minhas opiniões, que são o que temos de mais frívolo.

...A palavra teria sido no princípio um símbolo mágico, que a usura do tempo desgastaria. A missão do poeta seria restituir à palavra, ao menos de modo parcial, sua primitiva e agora oculta virtude.".

VIVENDO BORGES... (2)

Ensina o mestre:

"O tempo me ensinou certas astúcias: evitar sinônimos, que têm a desvantagem de sugerir diferenças imaginárias; evitar hispanismos, argentinismos, arcaísmos e neologismos; preferir as palavras habituais às palavras assombrosas; intercalar num relato traços circunstanciais, exigidos agora pelo leitor; simular pequenas incertezas, pois, se a realidade é precisa, a memória não o é; narrar fatos (isto aprendi em Kipling e nas sagas da Islândia) como se não os entendesse totalmente; lembrar que as normas anteriores não são obrigações e que o tempo se encarregará de aboli-las.".

O CANAL

Na infância
morei perto de um canal
Rua Comendador Queiroz, 19
A profundidade do canal
era enorme
me espantava
era do tamanho dos meus medos
em menino
até dez anos
sonhava mais ou menos
dia sim dia não
com a queda no canal
hoje vejo que a profundidade
bate
nas minhas canelas

agora me cega a imensidão do céu



CAMPINAS

Sob a vigília e um sonoro sono
segredos
são guardados
na relva
escondidos sob crateras
desabrocham em vulcão...
longa nova crina de sal
cavalga em campinas
tranquilas
enterra mitologias
engendra respostas astutas
perguntas argutas
desaguam mágoas afinal

SINOS

Os anos me consumiram
do sino
era o badalo
açúcar escuro
mascavo
os símios
mascam a goma da minha desilusão
mascaro
encontro com a pretensão
de consumir-me
em cima
em sonoros sins
de Platão

MONUMENTO

O que não dorme, o tempo
O que não come, o vento
O que não bebe, o excremento
O que não esquece, o monumento

SOLUÇO

mancha de estopa
paladar da boca
perfume do pescoço
estrume do fosso
a gota do poço
define a direção...

o poema do poeta
soluço da solução

terça-feira, 9 de novembro de 2010

BARULHOS

O olvido
se fazendo presente
sons mato ausente
sempre estou
quando ouço
falar de amor
sentimento irreal
num mundo imemorial

NOVO ROSTO

Ontem
achei que tinha visto meu último reflexo
em cacos quebrados
juntei pedaços do meu rosto
lembrando de quem havia sido
Ontem
o cinismo se retirou de mim
em cacos
espelhos quebrados
definiram meu novo rosto
sem desgosto
sem ironia
de um bobo em suas certezas
falhas
pretensas retas
quebradas
esfareladas em curvas

BANDEIRA

Onde estão os felizes?
A alegria é poderosa e mundana?
Se perdôo sou feliz?
Em que sentido terá sentido uma vingança?
Quero ser pomba, a paz ou bandeira manchada de sangue?

LABIRINTOS

Labirintos são
abismos?
precipícios
coloridos pelas nossas dificuldades
em lidarmos com atalhos?
inexatos status?

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

TINTA

...desenho de criança colorido
é isso que somos
porém
nos deixamos descolorir
lentamente
a vida
o trabalho
as pessoas que
não sabem ser
centrípetas
não sabem ser
centros nervosos
dos próprios desejos
ócios
obscuras opiniões
grito sem som
tudo isso
decompõe
nossa tinta de criança colorida

domingo, 7 de novembro de 2010

VIVENDO BORGES... (1)

"heráclito

O segundo crepúsculo.
A noite que mergulha no sono.
A purificação e o esquecimento.
O primeiro crepúsculo.
A manhã que foi a aurora.
O dia que foi a manhã.
O dia numeroso que foi a tarde gasta.
O segundo crepúsculo.
Esse outro hábito do tempo, a noite.
A purificação e o esquecimento.
O primeiro crepúsculo...
A aurora sigilosa e na aurora
o soçobro do grego.
Que trama é esta
do será, do é e do foi?
Que rio é este
por onde corre o Ganges?
Que rio é este cuja fonte é inconcebível?
Que rio é este
que arrasta mitologias e espadas?
É inútil que durma.
Corre no sonho, no deserto, num porão.
O rio me arrebata e eu sou o rio.
De matéria perecível fui feito, de misterioso tempo.
Talvez o manancial esteja em mim.
Talvez de minha sombra
surjam, fatais e ilusórios, os dias.".

RILKE 4

Nos ensina o mestre:
" A religião é a arte dos que nada criam. Na oração eles se tornam produtivos: formam seu amor e sua gratidão e seu anseio, e assim se libertam. Também adquirem uma espécie de cultura de curta duração, pois se soltam de muitos objetivos para agarrar apenas um. Todavia esse objetivo único não lhes é inato; é comum a todos. Mas não existe uma cultura comum. Cultura é personalidade; aquilo que é chamado desse modo numa multidão é consenso social sem fundamentação intena.".

ALEMÃO

Outro dia lembrei de uma viagem nós com nossas famílias lembra disso? um amigo com dengue o outro com dengo um dedo preto dois problemas sérios como todo problema dos homens mulheres correndo com as crianças para cima para a praia cozinhando e nós dois garotos reclamando do calor de dor nos pés banheiro entupido os meninos tocando o zaralho e a vigilância sanitária querendo amostras do nosso sangue...cadê você alemão? pare de voar e venha para cá!

LENÇO

...não se ofenda
às vezes
minha espontaneidade
é um problema
mas
nunca premeditei te magoar
palavras
às vezes
são letras
fora do lugar
verdadeiras
apesar de não espelharem totalmente
o sentimento guardado
um lenço molhado
por vezes
diz
tudo aquilo que
quase sempre
escondemos

BOSSA-NOVA

conversei com um amigo músico
que está morando no interior de São Paulo
o cara é pilhado
como eu
vê o ritmo
de cágado dos caras e se assusta como eu
somos heavy
enquanto são samba-canção
somos Led (Zeppelin)
os caras são
Bossa-nova
música de meninos para gringos

ÔNUS OU BÔNUS

ônus e bônus
tudo na vida tem...

todos queremos nos achar na vantagem
ir no fim de semana almoçar com a sogra
é ônus
passar as férias em sua casa de praia
é bônus
ir ao supermercado fazer compras
é ônus
jantar um risoto especial
é bônus

ficar parado esperando algo acontecer
é ônus ou é bônus?



OPINIÃO

religião, perdão
paixão, sensação
tensão, preocupação


opinião, perdão
mão, sensação
acomodação, preocupação

sábado, 6 de novembro de 2010

Fazenda

Fazenda

faz

vestido calça e aparo

mato

e

gado

fazem fazenda

carne

fazendo

saudade

carne

fazendo

saudade

FANTASMA POETA

Outro dia depois de ter acabado de fazer o poema Homeless, o poeta fiquei achando que ali existia o embrião de uma peça de teatro que seria em dois atos com o poeta, espectro, interferindo com poemas meus e dos mestres na vida real das pessoas personagens que encenavam contavam suas histórias no intervalo imagino que os espectadores se perguntariam qual o motivo daquela encenação no fim do segundo ato o poeta fantasma iria ficando mais concreto e os outros personagens espectros demonstrando claramente que a verdade está na arte

...Deus também

Deus existe
pois
é nossa crença
no futuro
O Diabo existe
pois
está em nós
é
nossa consciência
no escuro

O DIABO

Ninguém gosta de falar o nome do desgraçado mas quem conhece o criador tem que dar valor ao espetador de consciências o Diabo é que ninguém liga mais para quem está ao seu lado procuramos as beldades descartando inteligências a bem do serviço público publico livros sabendo que ninguém quer ler tomar ciência do que está acontecendo desperta perguntas de difíceis respostas: Estou gostando do que vejo? Qual minha posição nesse brinquedo? Terei coragem de mudar esse meu jeito?

A moeda

Morte e vida
dois lados da mesma moeda
Deus e o diabo
também seriam
dois lados da mesma moeda?
mas
quem inventou a moeda?


DEUS É ARTE!

Deus é o futuro
porque
seguimos acreditando que devemos seguir algo que nos deu sombra
Arte é o futuro
porque
uma obra de arte é uma obra que nos ensina a caminhar para frente
com a sombra de Deus que é a experiência: sofrimentos do futuro
desejos do passado
Se tudo isso tiver algum significado
Deus é arte!

W Y K

nem todas as letras
formam palavras
em português
w
y
k


desperdícios
de tinta

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A correnteza

...ainda há pouco estava brincando de aprender a falar andava na praia e meu pai duvidava de quantos cachorros-quentes eu iria comer não faz muito tempo aprendi a ceder um pedaço de bife para meu filho mais novo os mais velhos sofreram com um pai lutando pela vida sem saber muito bem qual direção tomar para descansar hoje na idade em que os cabelos brancos vão aparecendo estou sempre aprendendo que não posso parar a vida nos empurra como a correnteza nos puxa para dentro do mar

ASAS

CUIDADO! as palavras pesam mais do que adagas ferem mais do que punhos cerrados a que se fez aqui se paga só abra a boca com palavras certas tente esconder sua inveja e vomitará as tripas ninguém consegue esconder a desdita ninguém nasceu para santo anjos existem mas anjos com uma só asa precisamos do outro para nos diferenciarmos das baratas

O ESPAÇO

Os segredos pertencem aos olhos a alma também um corpo morto é um boneco sem impulso sem eletricidade todos querem sentir sem levar o choque que é saber-se indesejado a priori o espaço que ocupo podia ser seu...meu espaço é único e é meu... como resolver um dilema dessa proporção?

ELÃ

cada poeta tem seu
elo
ela
elã
cada poeta tem seu
medo
queda
imã

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Quiromancia

Um índio olha
uma estrela cadente e não sabe explicar mas entende...
um garoto olha
um crime na esquina e não sabe explicar mas entende...
um poeta faz um poema e não sabe explicar mas entende...
entende
que alguém mesmo sem entender
sentirá

SEM 365 DIAS COM POESIA

...tudo já foi escrito...
todas as revelações já foram coladas
numa folha em branco
todas as nuvens de figuras-psicológicas
são brancas na minha memória
...não tenho mais palavras para dizer o quanto já valeu a pena começar a escrever

-Juntos-

não tenho
nenhuma intenção
de convencer ninguém
de nada
poetas
não existem para isso
existem para
se conhecendo
estamparem o susto
com o tamanho do abismo
entre todos nós
seres humanos
poetas são insanos
por acreditarmos
na lenda
de que
somos-melhores-juntos-e-não-separados

O COMEÇO

...aquele garoto que um dia mostrou uma revista em quadrinhos para o professor de literatura e foi sacaneado não entendeu o motivo e abismado se desinteressou aquele garoto que ouvia dizer que não sabia escrever não sabia por quê e meio que se desinteressou aquele garoto que quis um dia treinar para poder escrever bem começou a ver que se tivesse o que dizer poderia tentar e se interessou aquele garoto não tão garoto assim discutiu consigo mesmo envelheceu e começou

Pedaço de Espelho

...não existe não ter tempo
quando queremos algo
e persistimos
perseguimos nosso objetivo até o fim
a maioria não sabe o que é isso
poucos como nós gostam tanto de algo que poderiam abandonar-se em palavras
poucos como nós gostam tanto de mágicas
recordações são motivação de não parar
enquanto tiver fôlego quero digitar
mesmo que em papel de pão
não abro mão de mesmo que num pedaço quebrado de espelho ver se me reconheço

CACHECÓIS

...brinquedos de ontem...
infância
que até hoje de manhãzinha encontrava num edredon
envelhecemos rápido
nos rachas com a turma depois da escola
já é tarde
num piscar de olhos estamos
vendo o pôr-do-sol
sentimos frio nos pés
velhice chegando com cachecóis

CANÇÃO

...a música
é uma fantasia
perfume de rosas
num mundo de homens enterrados até o pescoço em
merda
melodia que embala cegos e mudos
no engano de dança em musicais
sorrisos de surdos
sortudos por não dançarem
o erro
matemática de sons
que chamamos canção

SIMPLISMO

...a vida é simples?

Como adequar o ritmo da vida

ao meu?

amarrá-lo

ao seu?

Como contornar seus desejos?

Como alcançar meus desejos?

EGO

O ego
do artista
é mostrar quem ele é
não interessa
se
poeta
ou
palhaço

IMPOSSÍVEL

para se dar
trato de especiais
algumas pessoas dizem que poesia é difícil
difícil aonde?
tudo na vida
ou
é fácil
ou
impossível

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O ATO DA ESCRITA

...são tantas dificuldades a serem transpostas tantas trouxas a serem carregadas um tanto de lágrimas a ser relevado tudo conspira contra tudo...
da menina que ri do primeiro verso ao professor que não teve tempo e leu sem cuidado
do irmão sacana ao seu lado ao amigo que por qualquer razão acha coisa de menina escrever
hoje entendo
todos com suas dificuldades não podem se abrir para tentar compreender dificuldades alheias e por tudo isso é quase impossível começar mais fácil citar comparar e se perder em receitas
fulano escreveu isso
sicrano aquilo...
o tempo passa as coragens já não são as da adolescência e
se não surgir algum problema verdadeiramente grandioso tudo que poderia ter começado será jogado na primeira lata do lixo que se encontra embaixo da mesinha do quarto

MANTO

quando firo
interfiro
quando berro
fere o ferro
quando canto
cozo um manto
quando paro
não disparo

São?

enxergar mais um pouco

louco

estar no padrão

são?

DUAS PEDRAS

dos desequilíbrios
da
vida
e
do
poeta
(duas pedras)
nasce
a faísca

A arte chama

O SEGREDO

para escrever
é necessário
um silêncio
outras artes
talvez
sobrevivam na balbúrdia
escrever
é quase clausura
de tal sorte
que um norte
mostre a direção do seu sorriso

GANGORRA

quando vivo
na masmorra
de hierarquias e posições
vejo sempre todos abaixo ou acima
quando me acho
estou por cima da carne seca
e o humilho
se me humilho
com suas qualidades
estou por baixo

por que não consigo me ver nivelado?

PSEUDO

não há vergonha
de não ser cumprimentado...

quando estendo a mão
intenciono
menos ser cumprimentado
e mais realçar o ato
de comunhão
estender a mão
é
de fato
um ato de coragem
quase revolucionário
nesse mundo de pseudo-cidadãos

terça-feira, 2 de novembro de 2010

CRIANÇADA

...e por hoje é só
criançada
lembrem-se
escovem bem os dentes
rezem por todos de casa
e sonhem muito
sonhem bonito
sonhar e acreditar
é o que nós mais velhos esperamos de vocês

ORIGINAL...

Rilke disse isso...
Pessoa aquilo...
Drummond achava por bem...
Quintana também...

Erudição é o maior mal de quem quer ser original...