terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

vômito

o mundo gira
e eu me arrasto
caco de consciência
exato na constância de
letras-andrajos
que convivem com
farrapos de sentenças

em goles de impurezas vomito incertezas

consciência

Numa manhã um bebê nasceu
a sede de saber dos pais o acolheu
doeu?
doeu
na água era mais fácil nadar
a demora da caminhada
às vezes leva uma vida inteira de nada
e a sorte de nascer na família certa
com a dose diária de amor
sempre fez, faz e sempre fará a diferença
a escola ensina que os amigos existem
mas
muitas vezes as críticas
acabam ensinando mais
muito mais queremos
e muito mais iremos lutar para
obter
o quê com quem, onde e quando
são perguntas de que não nos livramos facilmente
e a vida segue frequente na rotina que nos alivia de pensar
(para quê preciso de arte?)
dizemos todos
quase todos que no momento certo saberemos como nos expressar
só que a falta de treino muitas vezes acontece naquele momento crucial em que deveríamos ter aprendido a nos posicionar
não houve conversa
não houve som
agora só há solidão
beber?
comer?
foder?
ou correr?
para onde e de quem?
nos escondemos em nossas ilusões
e muitas vezes em ações torpes
que nada resolvem e nos atrasam na busca por saber quem somos
e até onde alcancei é aí que mora o perigo
de repente nos vemos aflitos
sem amigos
sem parentes
em quem confiar
sem ninguém
e como queremos ser alguém sem ter com quem brigar?
novamente a rotina nos impede de nos motivar e na maioria
das vezes escolhemos em qual evento iremos descontar
fulano é metido!
sicrano é bicha!
o síndico ladrão!
a cantora sapatão!
e a vida continua seguindo sem emoção
ou com a emoção adulterada por drogas, lícitas ou não, e opiniões sobre relacionamentos de pessoas que nem ao menos conhecemos (?)
loucura de uma sociedade totalmente pirada na ânsia exagerada pelo sucesso imediato
cansado disso tudo resolvi um dia por exaustão fazer um primeiro poema em homenagem ao meu irmão falecido, chamado Frederico e bom... cá estou a falar da dor de viver consciente

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

estações

o frio traz o inverno comigo
um tropeção, o verão
enquanto soluço
penso no giro do mundo
nas folhas do outono
infecundo
e um sorriso dum filho
satisfaz
a primavera

retinas

prefiro
as manhãs
frias
a neblina
turva
minhas rotinas

domingo, 26 de fevereiro de 2012

bílis

...não lembro do que escrevo...

não escrevo para lembrar
escrevo para retirar
as pedras
dos rins
das minhas memórias
secretas
até adentrarem o papel e se mostrarem como são:
esverdeadas e solitárias

Ao Fluminense

Pai
de cores diferentes
mas de dores e vitórias
somos iguais
companheiros de luta
pela vida
afora
pelo doce da fruta
que satisfaz
a flor do desespero às vezes nos sorri

Vitorino Nemésio, poeta português

A Concha

A minha casa é concha. Como os bichos,
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos;
O horto e os muros -- só areia e ausência. (...)
A minha casa... Mas é outra história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.

Carlos de Oliveira, poeta português

"Pensando bem não tenho biografia. Melhor, todo o escritor português marginalizado sofre biograficamente do que posso denominar complexo de iceberg: um terço visível, dois terços debaixo de água"

"Os factos abonam pouco a seu favor e as datas são para esquecer"


Vento

As palavras
cintilam
na floresta do sono
e seu rumor
de corças perseguidas
ágil e esquivo
como o vento
fala de amor
e solidão: quem vos ferir
não fere em vão,
palavras.

Eugénio de Andrade, poeta português

Quase nada

Passo e amo e ardo
Água? Brisa? Luz?
Não sei. E tenho pressa:
levo comigo uma criança
que nunca viu o mar.

4 estações

A Vivaldi

...quatro estações...

o inverno seria frio, mas é onde me esquento
o verão seria quente, mas é quando me sinto vazio
no outono as folhas cairiam, mas não cobrem minhas vergonhas
na primavera as cores apareceriam, mas não se prestam ao cinza que trago, à fumaça que exalo

namoro

uma muda olhou-me de soslaio tentando alcançar-me mal sabe a dificuldade de fazer-me árvore

lacrimejos

uma semente sem água é grão

uma flor sem água é pasto

uma árvore sem água é deserto

um pessoa sem água é esqueleto

muda (r)

dos três tempos
o verdadeiro
é o presente
o único que posso tentar mudar algo
e
transformar (-me)
em
árvore

tol(d)o

arrumo um jeito, uma desculpa
arrumo um seixo, uma muda
arrumo tudo de um modo surdo que me permita mentir enquanto me encubro

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Paradiso

A Ennio Morricone

quando as letras nos afastam das diferenças
seja de idade
seja da majestade
seja dos dilemas
quando as letras nos juntam
como seres humanos
amamos
e amando somos os outros e por sermos os outros perdoamos

o presente

quando escrevo
eu não sou eu
eu sou o melhor que há
em mim
o melhor que há
em nós
desato surpresas
invento certezas

ogro

A Akemi

ogro
morgo
ogro
logro
ogro
mofo
ogro
logo
sogro

palhaço Repeteco

(depois do espetáculo)

no lusco-fusco do quarto
eu, menino de doze anos,
sonhava acordado
com as estrelas que havia pintado no teto
dormia repleto de travessuras
apaziguado na candura
do gosto do algodão doce

...de manhã era um encanto
tomava café com a toalha de lona
colorida
em sanfona
que me dava um ar discreto
do palhaço Repeteco

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

PAlavras

PAlavras
lavras do Pará?
aparas
de larvas?
de som?
de sombras?
de estafas?
de significados
rasgados?
de bandeiras desfraldadas?
ou apenas um som um olfato de mato exato no ato poético enfático?

Pó ética

A ética dos poetas é sintética
sincrética
na medida exata dos seus
credos e cruzes
incertos
indiretos
pretextos desconexos
amarelos
em sua incidência clara
cristalina
essência rara
qualidade parda
em olhos sem perdão

COISAS

...existam...
existam...
coisas que significam
queimem meus dedos
mas
insistam
em me avisar
dos jogos de palavras silensiosas

os peixes

em anos tudo o que ficou preso foi solto e o estorvo foi desovado como um cadáver num estuário seguiu rio abaixo deixando a cor de sangue escorrer alimentando os peixes do saber

letra-fera

cada letra de um verso por menos que seja tem sua certeza tem sua importância não adianta tentarem menosprezá-la pois ela sabe que é fera solta das amarras

relâmpagos

o sucesso das músicas-relâmpago são gravadoras-relâmpago colocando em rádios-relâmpago sons para pessoas-tempestade

selvagens

não há bondade em animais selvagens
há sobrevivência
existência comprovada a cada mordida a cada carne dilacerada todo dia é um novo começo na busca de presas na busca de um alimento para o corpo já que a alma não existe para quem não se comunica de ilusão

palhetas

mistura de cores
o verde é a possível floresta numa vida de palhetas
o azul a vontade do sim
o rosa a espera do carmim
o amarelo um sorriso do fim

sabor

o sol e o sal da água salgada combinam com queimaduras
as feridas produzidas
são
armaduras
para os que querem se proteger da vida

à beira-mar até a ardência tem sabor

cascas

onde estão os outros
com suas diversões baratas
com seus olhares caninos
onde estão os outros
que sobrevivem como cascas de opiniões contrárias

parque

abro mão de pensar
para
cheirar
poemas
são
maçãs do amor
de um parque de diversões
que ainda insiste
em me animar

maçã

uma maçã
não é uma empresa
elétrica
não é uma empresa
de pecados
é uma declaração
do amor herdado
uma vontade de cheirar

mundo azul

uma letra
traz
um suspiro
tão fundo
que preciso
de uma palavra-mundo
para definir-me
em azul

sílabas

...não sei mais o que escrevo mas continuo com medo e portanto não paro de digitar teclas são companheiras momentâneas e tenho de gostar da música estranha medonha que expressam tenho um indigesto cenário expresso em sílabas tônicas numa vida catatônica

furtivas

aquele olhar me persegue como um cheiro de queimado magoado com a falta de tato em que tive que me meter olhar de mãe que se foi que pedia ajuda a um homem perdido em furtivas lágrimas antecipadas de perder

indecências

nesse galho de consciência em que me ocupo de minhas inconsistências onde estão as carências colhidas como maledicências estranhas a um corpo de indecências?

quase poema

quase mulher
quase colher
quase ralé
quase cafuné
quase é um pouco de tudo que arde

palavras-sementes

as sombras que em mim trago
exalam
raiz

folhas demonstram os ventos
barulhos de galhos
trovam
travam
palavras-sementes

flores
ainda ausentes

árvore

toda vez
que sua sombra
me invade
faz de mim
árvore

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

dois homens

não houve troca de olhares
porque não havia o que dizer
uma família o esperava
outra foi enterrada
a verdade da vida gemia
em olhos de experiência
como se a essência tivesse sido perdida
e de algum modo tenuemente recuperada
a falta de palavras aumentava a
angústia do silêncio
que era por um acúmulo de sobrevivência
maturado em pequenos desvios
de olhares de dois homens
magoados
pelo ensinamento maior:
a vida é um sofrimento único
e só!

Variações preparatórias para o poema "dois homens"

Três poemas foram feitos quase como uma preparação para o poema "dois homens" que virá a seguir. Então posto os três aqui:

Cães

ele aqui
eu ali
dois destinos
inexistentes
laços
cínicos traços
dois homens
trocando
olhares
caninos



Tontos

a vida
os ensinou
nos ensinou
a duvidar
mortes
famílias inteiras que já não se encontram
tantos sentimentos tontos
onde está o caminho?
como encontrar nosso destino?


desconhecidos

desconhecidos trocam
olhares caninos
dúvidas são certezas
em cabeças siamesas
o caminho errado virou
experiência
e eles ainda não se
encontraram para conversar

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

máscaras

me arrepio com as máscaras de alegria com que sou acordado em todo carnaval são sorrisos misturados a olhos magoados que me pôem para despertar

tridimensão

aquelas pinturas rupestres eram nosso medo de humanos desesperados com os ruídos de fora da caverna aqueles desenhos são nossas fantasias carnavalescas tridimensionais expressando a estética canhestra de fingidores profissionais

carnaval

mais um carnaval
fantasio-me da alegria mais barata
mais furtiva
uma purpurina
como lágrima
não me permite chorar
aqueço-me dos tamborins
soluço com os bumbos
sigo surdo
em recordações

arvoredo

o mundo não é do tamanho
que pretendemos
o mundo é do tamanho da lágrima que temos por dentro
de olhos da cor da imaginação de um arvoredo
(extinto cedo)

luar

a noite é longa
ouço a areia da praia ao longe encaracolar com o vento
sendo nosso segredo
serpenteio na cama
em posição de luar

Credos

O que é o amor
se não uma sucessão de credos
uma ilusão num deserto
uma amarração de brinquedos
uma declaração de princípios
o amor
nada mais é
do que querer crer
nada mais é do que ver no outro você

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Bebê

agora
não há mais solidão
o passado e o presente
se encontraram e geraram
um fruto
um futuro
chamado
Jesus

(a crença é uma mãe ouvindo o bebê chorar)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

boca

...imagino...
imagino e rimo
imagino e rio
imagino um fio
imagino uma imagem
imagino uma linguagem

abro a boca e mostro a língua

talheres

os sabores do passado são o molho do presente?
e o futuro ainda ausente é no máximo os talheres imaginários?

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

cartório

provamos o tempo
em histórias do passado
desejamos o futuro
sem saber se o conheceremos
e o presente?
no presente só existimos se outro olhar nos confirmar

ouros

os outros são o tempo

outros olhos
outros históricos
outros momentos sólidos

os outros sem o tê são o quê?

domingo, 12 de fevereiro de 2012

adubo

ficus
pinho
ninho
nicho
fixo
lixo

(futura árvore)

nicho

quem em sã consciência se importaria em ler algo escrito por outrem que seria uma declaração de outro quem tem tempo para se negar e esperar a próxima palavra quem conseguirá encontrar um caminho que não passe pelo seu ninho nicho fixo?

borboletra

num mundo de imagens que não valem mil palavras
onde encontro a lagarta que provará que uma letra pode se transformar?

pesadelos

as imagens que trago aqui dentro
se transformam em palavras e criam outras que são escondidas por um tempo dentro dos olhares abismados dos leitores sabedores de tudo o que lhes incomoda e escondedores profissionais dessas mesmas palavras que escondidas por um tempo passam a causar pesadelos

natureza

cheiro de chuva
não indica chuva
indica um paladar para as águas que caem do céu
indica uma espécie de esperança

uma fé na natureza das coisas

árvore-momento

Há amor
porque há vida
porque há ferida
fingimos não nos machucar
com nossas próprias palavras
mas
as lágrimas
demonstram nossa mania de maquiar
sentimentos
são folhas
caindo
da
árvore-momento

cicatriz

poesia
seiva
cera
ameixa
raiz

cicatriz

sábado, 11 de fevereiro de 2012

lâmina

a palavra
é a espada
que transforma o poeta em lutador
luta tanto
que se torna um sofredor
pela dor que sente
como o amor
que inventou

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

testa

inventei em mim um sorriso
para receber as congratulações das pessoas que não se importam com o quê escrevo
que não sabem guardar ( na testa) esse segredo

invencionices

as pessoas somem de nossa frente e os outros não entendem por quê procuramos inventar momentos felizes?

sombras

...sonhei com seu sorriso e me peguei rindo de toda a bagunça que fazíamos quando faltava luz lá pelos idos dos anos setenta aprontávamos sombras nas paredes do pequeno apartamento em que éramos uma família feliz

sorvetes

em menino tinha uma vontade de voar de passarinho
mas também tinha o medo como segredo
(como se os adultos não identificassem os mesmos olhos compartilhados)
o voo solitário era impossível como impossíveis eram os sonhos de sorvetes de canela
agora
já não tão jovem assim
continuo acreditando
na magia do voo
no canto do sonho
no olhar compartilhado
no sabor de sorvetes de nossos lábios

raça

(...)
para uns uma babaquice sem limite
para outros loucura possível num mundo irreal
para mim
declaração de princípios
declaração de que apesar da torpeza humana
reconhecida e muitas vezes exercida
temos de ter fé
nas possibilidades limitadas pelo tempo
e temos de ter fé na nossa capacidade de não perdermos a esperança
numa melhora de raça
da raça humana

instantânea

todo dia preciso me lembrar de rezar pedindo paciência e esperança a oração da saudade é instantânea

confete e serpentina

os sujos chegaram
trouxeram a falsa alegria da serpentina
os foliões
se espremem para sorrir
gritam nomes
de antigos carnavais
sem saber para onde ir
enquanto dançam
procuram no chão o confete
(lágrimas disfarçadas jogadas para cima)
de sua ilusão

barba

os outros não são os outros e só
os outros
são o tempo
notícias do movimento
para um outro
parado
que reclama do nada
que reclama da barba crescendo até os pés

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Set List do CD MPB -- Marco Plácido Brasileiro

1 -- Sim;

2 -- À Cecília;

3 -- O Alvo;

4 -- Pedra;

5 -- Constelação;

6 -- Brigas;

7 -- Andarilho;

8 -- Desafios;

9 -- Cegos;

10 -- Minas;

11 -- Contra;

12 -- Truques;

13 -- A Saudade/Blues do Medo.


As músicas de números 4,7 e 11 são composições só minhas. A de número 3, minha e de Jorge Veloso. A de número 12, minha com Sérgio Suzano e as demais minhas com Tom Marques.

Algumas dessas músicas podem ser ouvidas no site soundcloud ou no meu facebook: Marco Plácido.

Livro RASCUNHOS POÉTICOS, meu novo livro de poesias já esta à venda na WOOK

Rascunhos Poéticos
Em segundos, mundos passam pelo papel
de Marco Plácido
Edição/reimpressão: 2011
Páginas: 237
Editor: Chiado Editora
ISBN: 9789896974039
Coleção: Prazeres Poéticos

desgosto

A Lèvinas

o outro traz o desgosto do tempo
quando só me sinto ausente do tempo
me entrego inteiro ao presente de estar comigo

neuroses

A La Bruyère

as crianças estão presentes
têm presente
são o presente

(nós ausentes da criancice de outrora
esquecemos as horas em neuroses
atemporais)

(pesado)

se a vida real é um presente
prefiro
ausente
sentar e chorar um futuro
ainda não
passado
(pesado)

tormento

tempo: tormento
momentos suculentos
perdidos
no atraso
da vida real

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Silêncios

silêncios cantam aqui dentro

(...na cabeça
esqueço momentos
sibilam angústias
melodia
de palavras sentidas
poesias
querem escapar...)

silêncios cantam aqui dentro

tristeza

olhar azul (desculpe, faço blues pequenas letras em grandes poemas) um olhar de surpresa pela certeza da vida que é una:despedida, rima...a melodia não consegue deixá-la menos triste
"...triste é viver na solidão da dor cruel de uma paixão..."

surto

mais um verão se foi difícil passagem em uma ano tanta coisa aconteceu tantos planos
(mais desenganos)visão da vida como um susto um surto de falta de criatividade tudo o que mais negamos é e o que mais sabemos e esse ano que passou aconteceu

sansão

...só linhas sendo preenchidas algumas lições ensinam que a tinta pode adoçar depende do olhar depende da direção escolhida depende do suspiro sincero da saudade aguada e ardida espremido por silêncios fiz um poema
(mas não se preocupe
são só linhas preenchidas...)

Cabelos

Dos meus dedos escorrem medos
escorrem segredos
dos meus dedos
escorre o tempo
areia fina
como seus cabelos

a lembrança me empresta você para mim

doce água

de repente me vi no escuro de um quarto de hospital sonhando dormir dez minutos quando um mundo estava ali ansiando por minha pronta resposta um mundo de amor e abdicação me deixou naufragando em doce água de sonhos

Tango

esperanço
(espera com ranço de esperança)
rango de esperança tanta
tango para minha ilusão tanta

Suco

sempre sinto sol
Stella
sendo norte
simples suco de
suor
sorte
some susto de sonhar

O sentimento

...É
a memória
da emoção
sentida no passado
Que volta
de roldão
quando nos vemos
apertados
numa situação

o sentimento é bambalalão...

marés

Se você leu e não entendeu não é problema meu
normalmente meus poemas são de fácil entendimento
luta explícita contra
o tempo
o vento
argumentos padrões
facilmente desafiados
por um mínimo de inteligência em observar o andamento
das marés
dos pés
dos manés

PARA-LAMA

A Bukowski

todas
todas
me querem
todas
as letras
as palavras
são
mulheres
me servem
e eu servil
continuo
tratando-as como colheres
apoio para meu farnel
de palavrões azuis
sujo uma melodia de blue
estico suas vidas no papel
faço delas o azul
o azul
do Deus que trago em mim

não me engano
me fiz assim
como Bukowski
aprendi
a olhar minhas entranhas
nas esquinas
ensinei-me beijando lama...

sem sucesso
mas sigo
íntegro na necessidade ímpar
na canalhice simples de um bêbado

em goles
engoli meus segredos

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

inimiga

um menino no primeiro dia de aula me perguntou se eu sabia correr, se seu sabia falar, amar, cantar, pique tá...aí pensei: a pressa não é inimiga da perfeição é inimiga da falsa ilusão de que o que está parado é mais relaxado...

Cantor de MPB

Depois da estética punk como deve se comportar no palco mesmo um cantor de MPB? Ficará com cara de tacho, cara de macho, cara de intelectual da novela das seis? Ou se comportará à americana: fazendo um show performático?

Punk Verdade

ninguém é melhor do que ninguém pelo simples motivo de que estamos todos lutando pelo mesmo objetivo: nos manter vivos!

caneta

o ouro das copas
é o futuro
num papel escrito
onde o pau da árvore, lápis, será substituído
pela espada do poeta
armado a caneta

ouros

ouros
copas
espadas
paus
vendo cartas
sem letras
apenas a sorte dos números está à venda

Árvore ou Imagem

Dois corpos em movimento geraram um sonho um menino roxo logo falou e se comunicou pelas bochechas avermelhadas fazia um sucesso era o terror da praia andou cedo e aproveitava todos os momentos que pudesse passear na escola brincava sem parar tinha aos cinco uma namorada de nome Fernanda nanda não ficou sem flores num dia em frente à Igreja encontrou com o irmão pedindo esmola aos dez já dava aula de como fazer novos amigos e a vida seguia sempre na praia cercado protegido pela sombra das árvores aos trinta já casado mudou-se e havia uma árvore no seu caminho no meio do terreno em que iria construir sua casa havia uma árvore sem saber o que fazer resolveu sentar e escrever um poema que pudesse lhe ajudar a responder a questão: árvore ou imagem?

Pólenmica

não quero polemizar
já chamei as abelhas para conversar

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

pedras de sal

quando olho no espelho e vejo o estrago que foi feito em poucos meses escrevo mas não é efeito é a mais pura verdade carrego pedras de sal da saudade que sinto de tudo que há pouco estava aqui ao alcance das minhas mãos e agora necessita de um esforço de uma coragem de memória para passar a existir pelo menos em cheiro

serena

lágrimas
dessalgam
minh'alma
não há calma
num corpo inerte

há apenas desistência serena

religiosidade

é do silêncio dum quarto imundo de ilusão que tiro cada letrinha para formar uma oração de vida que nada tem de essencialmente religiosa nos termos ortodoxos da coisa mas é de uma religiosidade espantosa quando percebemos o tamanho da solução

os três patetas

um irmão olha e pensa: eu posso dançar. Posso tudo porque não há palmada, há mágica nos meus encantos de criança... O outro mais velho, um pouco menos inquieto, pensa: eu também já fui assim. Conseguia colocar a língua no nariz... O outro, ainda mais velho do que o segundo, olha e ri: Ainda vou ter um filho assim...

lago

não sei somos algo além de corpos eletricidade talvez por alguns chamada de alma espíritos alegres na ingenuidade calma de crianças sem medo da seriedade da vida reflexo num espelho de cristal quando afinal nos damos conta da encrenca toda passamos de príncipes a sapos e é difícil viver sem um lago

sapos

a poça que a chuva formou foi pisada as primeiras pegadas formaram valas e depois buracos incompreendidos pelos sapos do brejo perto dali o reflexo da lua fazia de lanternas os buracos que assustavam aqueles animais que ao coaxar gritavam o não entendimento

nozes

quebradas as nozes
ainda são nozes as nozes
gotas nas nozes não modificam suas qualidades de nozes
apenas molham suas cascas
de nozes
que seguem sendo até secar

girafa

a
e
m
o
ç
ã
o
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o
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l
t
a
r
s
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a
l
e
i
t
u
r
a

abelhas

o silêncio daqui de dentro
não é total silêncio
porque bate nas teclas
bate asas
arrebata
esmaga ressentimentos e espalha mel das abelhas
que zumbem todos os dias nos meus ouvidos sem motivos

traçado

pé ante pé
marco
um traçado
nas areias da praia de minhas recordações
animado por lembrar do passado
espero conseguir ler o poema
surdo
que fiz no escuro do meu futuro

livro

a que horas o sol que me aquece aqui fora
me aquecerá por dentro
a que horas o suor do trabalho produzido não será desperdiçado em lágrimas
em quantas páginas de vidas terei uma simples noção da carga de dramaticidade acolhida por uma cidade aflita, perdida, em imagens refletidas, nesse ambiente imaculado, porque branco, chamado livro

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O futuro

A Wittgenstein

não desconheço a morte

a vida é um presente
eterno momento
em que hoje sou
a semente
a árvore
e o fruto

verdadeira verdade

não tememos a morte
até porque não a conhecemos
tememos sua possibilidade
verdadeira verdade

À beleza

A Schopenhauer


...lembro...
e se lembro acendo em mim uma paisagem boa
uma memória que não será desperdiçada em verdade
será aquilo que quis que fosse
com a beleza da vaidade

O osso

A Nietzsche

nossas memórias é que nos fazem sofrer
o animal continua roendo o osso sem se perder
em pensamentos
em necessários momentos passados de prazer

(as folhas continuam caindo
enquanto somos árvores do saber)

Origami

A Descartes


memórias
são
dobras da alma
roupas arrumadas
com o cuidado da calma

(pedaço de papel guardado no bolso onde está escrito nosso nome)

Interrogações

Sorrir ou partir? Sumir ou parir? Se ligar ou cortar? Escutar ou cantar?

lâmpada

certo da rapidez azeda da clara certeza acessa cega aos insucessos que não sei soletrar
sigo sendo tênue uma luz de lâmpada quente consequente razão para gritar

feixe

olhares olham a escuridão ilumi-
nada
e piscam e ciscam um canto
para
a solidão
combi-
nada
estrelada
de razão
olhares olham a minha sombra e nadam
empeixando o feixe de luz procuram água

(o nada?)

EVA, A COBRA OU ADÃO, Capítulo 6 do Ensaio poético SILÊNCIO OLHAR AZUL

Somos corpos ou ossos? Somos fósseis ou remorsos? Somos blue ou azul? Somos norte ou sul? Somos o mundo! E todo dia é nosso, quando esquecemos que não podemos, que não devemos praticar o nobre esporte bretão de rolar a bola...

Somos Eva, a cobra ou Adão? Somos o mundo todo o tempo todo tudo somos e por isso ainda estamos aqui.

Para nós o mundo começa no instante do nascimento. Sem entrar na discussão religiosa, de que a vida começa com o feto, depois que nascemos começa a encrenca. E quando vai parar? Não sabemos e por isso cremos, amamos, casamos, brigamos, viajamos...

Tudo no mundo pode ser nosso enquanto tivermos a crença nessa verdade. A consciência que vem com a idade não impede, mas dá uma maior noção da nossa pequeneza, portanto acabamos tendo de escolher se iremos seguir, parar ou nos esconder sendo Adão, Eva ou a cobra.

E então, nobre leitor, quem você escolherá ser?

Adão é o macho padrão. Aquele que casa, é pai e não quer papo com as diferenças apresentadas pela vida.

Eva é a mulher padrão que casa, é mãe e não quer saber de nada que esteja fora do seu vocabulário doméstico.

A cobra serão aqueles que escolherão pecar. Só que, nesse caso, pecar é só escolher mudar... E aí, como iremos nos comportar?

Seres humanos...e como tais duvidamos... animais humanóides é o que somos, todos temem...se recolhem no medo...temos o outro como inimigo, naquele que poderá nos despossuir. Deveríamos grunhir, cuspir em nossos segredos? Por isso os artistas são loucos -- poucos, gênios, quebram padrões de comportamento e por isso seus defeitos, mais do que seu trabalho, são destacados -- gordos, bichas, drogados -- falhos, como todos nós que ao redor estamos procurando onde estamos, para onde vamos com esse saco de preconceitos que nos inibe a aprender com o erro alheio!

Espremidos pelo tempo seguimos rodando em argumentos, normalmente torpes, enganos de amadores (quem leu o manual de viver?). Os mais afoitos interrompem coitos para tentar convencer os outros, como se todos fôssemos tolos...O ouro é só para quem quer tentar descobrir a direção dos nãos!

sábado, 4 de fevereiro de 2012

pacífico

...não sei por quê explico
talvez seja para mim mesmo talvez seja uma forma reduzida de falar, ampliada de pensar quando falo sou obrigado a raciocinar e tentar simplificar argumentos complexos que às vezes ainda não entendi por completo e quando começo a traçar uma estratégia de simplificar me explico e me pacifico simples assim

círculo de amizades

absolutas verdades cenas maravilhosas do nada e quanta falha espalhada cada qual na sua parte cada um no seu quadrado num círculo falso de amizades partes de vários detalhes que nunca fecham num todo nunca servem para carvão são vários sins desejando um verdadeiro não

um do cada

chato
é o um de cada um
o cada um do um é legal
fenomenal
até o caroço
o um então é o um que só aprecia o um do cada quando lhe esbarra

timbre

o timbre do seu dom
finge me avisar
da cor pintada em tinta
que me identifica
e me esconde de suportar
a carência cínica de dizer voar
em letras desprevenidas

Artérias

...mudo sentimento
NOTURNO

que grita lágrimas
que insiste em me dizer a verdade
arde
o som do violino invade as artérias que não sabem, sérias, até onde aguentarão
o som seu seca cedo a sofreguidão que me entorna em gotas
que me enforca a possibilidade pouca de dizer algo parecido com amor

canário

quero inventar
por isso nunca serei músico quero me soltar
desrespeitar as cifras
as notas musicais serão asas
nunca pautas
nunca datas de um concerto imaginário
quero ser canário e cantar
até sangrar
até fazer as maçanetas corarem
até quando as crianças gritarem:
NÃO PARE!

jururu

casmurro, dom
cabeçudo, som
carrancudo, tom
macambúzio, com

Sea-Shell

A Daniel Passuni

Um oceano de notas
um violino sem cordas
também serve para preencher minha sofreguidão
um acorde
que acorde meu coração
um ás de copas
numa mão
que salve-me da última derrota
sofra
a força de uma paixão...

plácido

enigmático quanto a pretensão
panfletário quanto a sofreguidão
plácido quanto a filiação
sorumbático quanto a repressão

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

cristãs

...que sua ansiedade para o meu malogro te enrole na preguiça da sua insensatez
...que sua vontade de realizar algo em prol de seu legado seja efetivada ao invés da pirraça que vejo quando estamos no mesmo ambiente
...que todos aqueles momentos que vocês desperdiçaram juntos não voltem na sua memória porque a revolta será o único sentimento possível
...que um cristo desça dos céus e te abençoe, te perdoe, de todo o tempo irritado com seus medos e idiossincrasias cristãs

Gift or Curse

Presente ou maldição? O dom é um presente de Deus? E se ele não existir? Ele deus, não o dom! ele sou eu ou são três? sou freguês da minha preguiça? que trato a pão de ló que me deixa na certeza de que se tenho um dom, um talento, pode me colocar para trabalhar e a responsabilidade de emocionar é ruim e aí passa a ser uma maldição?

Benjamim

Button viveu a ilusão de que ser jovem bastaria quando percebeu que o seu fuso horário estava ao contrário passou a arriscar sem temer a morte esqueceu-se que poderia ter morrido de qualquer modo...

concluindo, nascendo jovens ou velhos, de qualquer modo iremos morrer portanto não deveríamos temer pequenos arranhões

1,2 e 3

escrever por escrever é para muitos todos os poucos que escrevem com motivo têm de ter o motivo um só é necessário dois é bom três é demais
(estava voltado para cantar e esqueci de melhorar em letras esqueci de inventar certezas)

combustão

estava um marasmo uma rotina de letras que não formavam palavras mas uma resposta apimentada produziu a faísca necessária e os dedos coçaram junto com a risada forçada e aí comecei a sentir um calor e aí tudo se explicou...

Pollock

se não há tecnologia tenhamos a ingenuidade do artista que pinga numa tela em branco pretendendo ser um Picasso insano que resvala na óbvia dificuldade e exala satisfação sexo suor e lágrimas que esparrama detalhes num mundo pouco acostumado ao ócio que estraçalha uma lasanha como um gato esperando ver um corpo onde só há sofreguidão e catchup

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

séculos

preciso de tempo e silêncio
assim posso escutar as primeiras palavras
sussurradas e escrevê-las como se fossem um poema que estava em mim guardado
por horas minutos séculos
e aí cego escrevo como se fosse morrer

Verter

Não! Não quero escrever...
Não! Não quero ferver...
Não! Não quero temer...
Não! Não quero ceder...
Sim! Não quero me perder esperando morrer.

Psiu, Capítulo 10 do Ensaio SILÊNCIO OLHAR AZUL

Psiu, sabes o que é psicologia? É o estudo do nosso jeito de olhar para o sanduíche do outro, do jeito que nos comportamos com o sucesso alheio, do jeito que abraçamos quem amamos, do jeito que choramos de amor...
...de amor, de ódio, de qualquer sentimento. Devemos chorar até de arrependimento, por termos duvidado dos outros por não acreditarmos em nós mesmos. Quantas vezes já pensamos que fulano não pode conseguir aquilo...lógico que não!...quem ele pensa que é!

Ora, pois! Porque o desgraçado que suou sangue não pode tentar conseguir algo com o esforço próprio? País em que o sucesso é visto como uma maldição. Isso quem disso foi o Tom Jobim, craque da música brasileira, que só passou a ser valorizado depois que Frank Sinatra, numa maré de insucesso, ligou e conseguiu realizar uma parceria musical com Tom, trabalho esse que o levou novamente às paradas americanas de música popular.

Nosso maestro teve de sair do país para, ajudando o grande cantor americano, ver seu talento ser reconhecido no grau que já deveria ter sido há muito tempo.

Então cabra, cuidado! Inveja mata!


São os ossos que me sustentam, a carne fraca fracassou,se nega a me manter rosa, vermelho que seja, se nega e negando-me me desfalece, enfraquece...toda a teoria é um simples nada, toda ilusão lustra a estrada da vida que é embaçada, azulada pelo nevoeiro de nossos defeitos.

A arte explica a sensação, imita os atos para contestá-los, atinge o alvo quando magoa os olhos torpes, que à toa buscam entreterimento onde só há insatisfação...

Onde estacionei meus desejos tinha um fusca, um fusca de receios...seus anseios, seus seios servem, me servem, me condenam ao estado de ferrugem, se não me abro, se não te abro, me sinto,me sinto um cadeado.


Cadeado! Quando desconhecemos ou não tentamos conhecer nossas potencialidades somos um cadeado, fechado!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

cerva

..está assim ó
assim de falsos malandros
neguinho conhece duas músicas e diz que já canta tango
neguinho faz uma música e já quer ir para a praia arrumar um pé de saia
já quer tirar onda de artista aqui no Rio é assim neguinho geral gosta de marra gosta de praia gosta de sombra com cerva gosta do fácil gosta do que não me seduz quero as estrelas mas quero conquistá-las nas ideias

Seguidores

...é provável que tenha mais de cinco leitores...

qualquer coisa que se faça sem a certeza do êxito é pirraça
uma teimosia própria de quem acredita que não poderia ser de outro jeito
uma crença no talento
não sei o que é
e já não me importo mais
o melhor é ter com quem conversar e por isso agradeço todos os dias quando ao acordar posso ligar o computador e dizer para meus cinco seguidores oficiais: "olá, bom dia!".

sincero

sinceramente?
sepulto sem cerimônia senhoris palavras servis
cegas sossegadas certas até mas sem suco sumo de vida
seco certo sim da razão de trocar dois argumentos corretos por um insinuante

a razão

a razão não é o contrário da emoção
a razão é a elaboração da emoção com direção