quarta-feira, 30 de novembro de 2011

os nós

...nunca irei navegar...
o mar me lembra histórias horríveis com monstros gigantes com ondas gigantes com Moby Dick crises de marujos que só podiam rebelar-se o medo deles é o meu e eu também me rebelo contra o sal o sol a falta de ilhas no cérebro contra capitães insinceros contra a rotina de maresia contra os nós que me afastam da família me rebelo e sem navegar escrevo vomitando desejos

capitães

os filhos dos capitães não são crianças por saudade são adultos fingindo...

ardência

em crianças não sabemos a força das ondas, não sentimos a ardência da areia quente na sola dos pés, porque estamos protegidos pelos que ainda estão aqui, não pensamos que o mar salgado sempre manda um recado de sabor de sal que com a idade vira saudade

captura

O mar forja o caráter de todos: dos que navegam, que sofrem com o medo de não voltar, e dos que ficam, que passam a conhecer o amargo sabor da saudade; aqueles exercitam o não poder olhar o olhar familiar, esses não sentem o hálito de sabor do café passado com amor; aqueles não ouvem um boa noite do filho no pé do ouvido, esses não se sentem agasalhados pelo cheiro de loção de barba do pai capturado pelo oceano odiado.

Comandante

Um comandante da Marinha Mercante era meu avô. Com dois filhos ensinou o valor de uma mulher, que solitária era minha avó. Alfredo saía para no mar ganhar a vida. Deixava sozinhos três sonhos de família. Tinha a certeza da precisão, certeza de capitão...os filhos junto a mãe eram uma multidão de batalhas perdidas, muitas, poucas ganhas, na incerteza de diversas despedidas. Ardidas as lágrimas forjaram seus corações e todo dia, afirmo, rezavam pelo reencontro com as ordens do pai severo mas amoroso. Capitão de ilusões marítimas, tino de artista, sofria com a saudade que guardou até se aposentar aos quarenta e cinco anos. Como prova criou netos como filhos e viveu feliz até os noventa e dois anos, navegando pelos sorrisos dos meninos que somos.
(E ele sempre dizia:"navegar não é preciso e viver é impreciso").

capitão

com quantos nós se faz uma canoa?
com quantas cordas se prende uma solidão?
um violão talvez consiga afinar a voz de um capitão

velocidade

meço minha velocidade pelos nós
quanto mais sós
menos me alcanço

a volta

da areia fico esperando alguma notícia
um vento diferente me dá medo
quero acreditar que a volta está próxima

próxima de quem?

o sal

nossa saudade é o perfume
a maresia é apenas uma parte do sal das lágrimas gastas nas viagens longe de casa

marinheiros

se vestem de branco, por respeito
é um luto antecipado, pelo medo
de não voltarem aos seus lares
medo de salgarem
todos os sentimentos de saudade

calados

esse mar tão decantado por poetas e navegadores
alguma vez se cansou de cantar
os amores por ele roubados?
os dissabores proporcionados aos apaixonados
que conheceram calados
sua fúria?

calado

sigo calado a força do vento
calado penso
calado sinto o caldo marinho
azul-perigo
calado ouço o som do motor
calado
calado
calado
sou o mar

aptidão

no instante em que minhas mãos abordam as cordas da escada como se fossem nossos laços um cansaço do tamanho do mundo comprova minha aptidão para a emoção

ultramarinas

o mar é um descanso em minhas retinas fatigadas por notícias ultramarinas

prático

o barco vai na direção do navio um sacrifício derrotar a maré que cisma em me afastar do meu destino insisto no desafio diário de tentar me estacionar sendo navio de um porto imaginário

o quadro

aquele quadro de nós na parede me lembra
dos nós do meu tempo de enquadrado...

cru

onde está o cisne branco da canção?
onde está a lagoa azul?
onde está o norte?
onde fica o sul?

(só vejo cru, azul e solidão)

aliança

por tantos anos
por tantos mares
conheci a vida
em muitos lugares fui feliz
quis ser feliz
e acho que consegui
me iludi
iludi
esqueci de mim
me achei me perdi
te achei
te quis aqui
perto de mim
por isso um poema é nossa aliança

gaivota

daqui de cima
vejo um mar
vejo um mar de retinas
cristalinas
azuis
piscinas com peixes
cinzas
como a minha vida

(gaivota, queria estar nessa brisa...)

timão

a gaivota de cima vê o vento de mãos...
o esforço do homem
tentando alcançar a escada de cordas...
na cabine o capitão
espera
espera para passar o timão

parte de sua solidão

facebook

o facebook é tratado como igreja confissões são feitas às dezenas...
é tanta felicidade que enjôa o novato padre
acostumado com paróquias mais verdadeiras

terça-feira, 29 de novembro de 2011

nasce, cresce e morre

À Isabel Scassa

a poesia nasce da necessidade de criar flores em balde; nasce da necessidade de explicar a angústia da solidão; nasce da emoção que o poeta tem de mostrar a emocionante aventura de estar emocionado com os fatos da vida; a poesia nasce do encontro de dois corpos que são, num momento, um único sólido e da emoção da despedida, o poeta tece fios do ouro saudade num poema dilacerado; nasce de todos os olhares que se perderam nesse mundo e que nunca mais se encontrarão por não haver tempo de se encontrarem, simples assim, mas por isso mesmo, cruel; a poesia nasce de todos os choros recolhidos dos homens-palhaços que precisam se esconder atrás do nariz vermelho e dos pés pequenos em sapatos enormes; a poesia nasce porque tem de nascer porque algo tem que acontecer entre o instante do susto e o da exclamação, a interrogação é estrume para a terra molhada pelas lágrimas amarguradas do poeta-menino assutado que escreve em apneia...

a poesia cresce em um coração de menino, que anseia por novas brincadeiras num mundo sem tempo para pique-esconde, amarelinha e salada de frutas; cresce junto com todos nós que não desatamos nossas vidas e ficamos olhando o tempo passar sem nos importar em sermos felizes, minimamente que seja, pelo menos vendo uma lagarta se transformar (precisamos todos voar?...); a poesia cresce e aparece sempre nos momentos de crise, sempre que os homens estão tristes, meio sem noção, sem orientação...(num mundo perfeito sorrisos seriam rimas e as palavras seriam desnecessárias para explicar a solidão -- que não existiria)...

a poesia morre quando o homem acha que o mundo é dele e mata a mata e mata com sede de vingança todos os outros seres todos os outros homens são meros joguetes em suas mãos de louco cientista pagão; a poesia morre sempre que um morador de prédio pensa que será assaltado por um mendigo que reclama de não ser ouvido (como ouvirmos um mendigo se não ouvimos aos nossos anseios?); toda vez que uma criança chora de fome a poesia falece e toda vez que morre a poesia nos entope a todos como se estivéssemos num quarto fechado esfumaçado de gás carbônico exalado por nossas torpezas; a poesia morre quando nos deixamos levar por nossas certezas e esquecemos de buscar o antigo olhar infantil que nos salvará a todos como uma religião que pudesse juntar o melhor de todos, nós sendo um só!

o céu

esqueço o sal da água e me concentro no reflexo azul da minha calma

sol ou chuva

já sei
posso voar
perdi o medo de altura
aprendi a mexer os braços
a respirar
vários foram os anos que quase me deixei sufocar
ficava parado esperando
esperando talvez
uma onda
que pudesse me levar

(agora com sol ou chuva continuao a nadar...)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

a serpente

silenciosamente a serpente se espreme entre pedras e matos
sinuosamente esconde-se em buracos silvando o sabor da sensação doce
antes da mordida que lhe dá prazer por expelir veneno
a vítima não é alimento é apenas a sensação de poder atacar
satisfatoriamente

sábios

esgueirando-se entre becos e bancos de praça o poeta exala iniquidade
destaca-se pela capacidade de sentir
coisa perseguida pelos ditadores do saber de então
sábios em suas teses de que o ser humano não tem mais salvação

ameríndio

dentro de um homem simples podem existir furacões?
a cultura traz possibilidades ou traga sensibilidades?
um duro homem ameríndio possui a necessidade de saber o porquê das coisas?
um poeta se forma na biblioteca ou na terra?

um rio

um rio não é mar
é um pedaço de mar sem graça
porque sem sal
sem maré que mude a visão do nada

omar

...conheço pelo cheiro
conheço pelo som
sua voz de trovão
seu tamanho imenso
sua capacidade
de instigar
de pirar
de fazer sonhar
conheço pelo reflexo no céu
pelo cansaço das pedras...

o mar

o mar atrai os poetas
porque é como a vida
não para
é salgado
e
é próprio às despedidas

frieza

por que paramos de dizer amar quem amamos e ficamos esperando não sei o quê que virá?

sal

precioso olhar
cheiro de mar nas retinas
cansadas de marejar
de esperar
por algo que não seja sal

cristal

não é que deseje mar é que o mar é mais forte em minhas retinas escorrem histórias cristalinas seu cheiro suas batidas meu medo meu cheiro de sal as salinas de Cabo Frio estão presentes desde sempre e é engraçado como o nariz pode se acostumar com sua ausência cristalizada dentro das quatro paredes do meu impreciso olhar

vodka

escrever
é uma loucura branda
vodka com fanta
exercício parado
criando barriga

galés

é preciso amar
preciso amar
o mistério
impreciso das marés
se há mar
há galés
barcos precisos em lidar com a imprecisão do (a)mar

marinhas

é preciso amar
é preciso amar
se
há mar
há vida
há ondas
há despedidas
marinhas

gripe

é sempre o som é sempre o som que me leva para a emoção é sempre o som que me incita me excita me provoca pelos eriçados me provoca a garganta seca de tesão é sempre o som do seu coração é sempre a gripe é sempre o grito o exercício da imaginação

domingo, 27 de novembro de 2011

fila

uma eleição me ensinou que existe fila
ninguém chega do nada e conquista um lugar
as pessoas têm de se acostumar com sua existência
Primeiro não gostam, por desconfiar
Depois ainda não gostam, por desacreditar
E muito tempo depois passam a admirar sua coragem de se lançar sabendo do modo que seria não acolhido

móveis

(insatisfeito com os móveis da sala me pergunto: os móveis estão em mau estado ou sou eu que estou mudado?)

fim de ano

...novembro acabou
o ano está acabando...
já não há tempo para realizações
agora é hora de relembrar dos planos que cultivamos nesse mesmo período e que foram na sua maioria esquecidos

(agora é hora de voltar a nos enganar)

a rosa

o azul pediu o lenço emprestado para o amarelo e chorou pelo amor da rosa que confessou para o verde gostar de outra cor

a menina

entre a solidão da dor e o amor
nasce
uma menina
a rima
linda
com os olhos do pai
e os lábios da mãe
chora de fome
como o pai escreve
de fome
o homem some com o medo e produz desejos

sábado, 26 de novembro de 2011

batismo

(esse poema nasceu da necessidade de explicar ao meu filho Thiago porque eu digo que todos somos poetas)


quem quer ser poeta?!

ninguém?!

-- Eu quero tio! Mas eu não nunca fiz um poema!

-- Então, leia esse...

(ao acabar de ler um poema qualquer, eu lhe falei:)

-- Na qualidade a mim atribuída por mim mesmo, eu lhe declaro poeta!
De agora em diante tens uma obrigação, olhe sempre ao redor, não julgue e tente ajudar alguém de alguma maneira, mesmo que seja com um simples poema.

biscoitos

quem são os poetas?

todos!

quando faço um poema, sou poeta!

quando leio um poema também!

Porque todos inventamos um jeito de entender aquelas pequenas letras que são nossos biscoitos com leite dados pela vovó

Plácido

Fisicamente como é um poeta?
em andrajos
em Andrades
Esperto
Lispector
Pessoa
de Minas
de fina estampa
Calvo
Alvo
Magro
Plácido?

Ágora

Ah!
Agora
sei o que significa
Ágora
praça
livre
para pessoas de livre opinião
dileta sensação de que é importante aprender para crer

solidão

solidão é estar só?
não existe numa multidão?
uma criança sabe seu nome ou para ela é só ilusão?

composição

um pescador fisga peixes
o palhaço faz graça
um poeta fisga olhares
prende no papel borboletras
o poeta não é o palhaço
mas
sim
a sensação da graça na criançada
a risada ou lágrima
é a letra da sua composição

solidão

estrume

crenças
próprias lendas
administradas com fervor
lágrimas produzidas pelo temor
de dar direção
errada
quando o erro
é o estrume do produto final
eu flor

pescoço

sábia solidão vã
dedos de uma mão
pagã?
encontro de minh'alma sã
com corpos reais
tantos
santos?
poemas pontificam o desgosto
pelo amargo sal
sobrado de suor de pescoço
torto em não saber a direção
que olhar

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

temperamento

quando é que o ser humano se perde de si?
vários conhecidos com o perfume de poder ficaram irreconhecíveis
se esqueceram do som da própria voz
quando é que nos perdemos de nós mesmos e por quê?

cisne

aquele garoto parece que tem quatro bocas e nenhum ouvido ele é o cúmulo do sacrifício não para quieto reclama de tudo aquele garoto é esperto mas sem noção sem coração sempre espreme pretensão esquecendo-se que outros garotos também sabem pensar às vezes um pensamento mais simples mais cisne mais real às vezes é necessário aprender antes de calar

levado

menino levado com botas de crina de cavalo pintado por Deus nariz de palhaço na testa alegre imagem de festa não para todo dia rala os joelhos que estão negros de sujeira da areia do picadeiro menino cercado de artistas que o fazem sonhar...Ah! a equilibrista...é tanta emoção que é difícil falar!

velocidades

adequar velocidades
essa a dificuldade da vida
quero passar no vestibular -- primeiro tenho que estudar
estudar é deixar de sair, namorar...
depois quero um emprego -- devo saber inglês, devo saber conversar...calar...
quero casar -- com quem?, quando? onde?
pois bem...
quem disse mesmo que a vida é fácil?

poeta-mãe

meu futuro não é muro é da derrubada que falo é um simples estalar de tijolos no chão simples mas necessário a força é meu ganha pão todos os dias escuto que não posso escuto vozes falando que não devo vejo olhos se esforçando em me impedir e a força necessária para parir um poema é que me dá a dimensaõ do amor de mãe

menino de circo

se tudo já foi escrito eu continuo menino de circo brincando no picadeiro antes do show começar invento histórias palhaças me escondo na arquibanca esperando o leão amansar e quando de novo tudo começar pego um saco de pipoca e fico esperando a emoção me cercar

Fernando Pessoa, ANDAIME

O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah! quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!

Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão,
Este seu correr vazio
Figura, anônimo e frio,
A vida vivida em vão.

A esperança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola criança
Sobe mais que a minha esperança,
Rola mais que o meu desejo.

Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dia, anos, breves
Passam -- verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.

Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.

Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente dexei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.

Som morto das águas mansas
Que correm por ter que ser,
Leva não só as lembranças, mas as mortas esperanças --
Mortas, porque hão de maorrer.

Sou já o morto futuro.
Só um sonho me liga a mim --
O sonho atrasado e obscuro
Do que eu deva ser -- muro
Do meu deserto jardim.

Ondas passadas, levai-me
Para o olvido do mar!
Ao que não serei legai-me
Que cerquei com um andaime
A casa por fabricar.

mate-me

mate
mate em você
a erva daninha da certeza vã
mate-me de amor
mate-me de dúvida
mate-me de verde saudade
mate em si a dó de mim
mate as besteiras e floresça-se

Marte

...não se iluda tudo que arde cura
tudo que é arte é dura fruta recolhe dos entulhos flores dos pensamentos
tudo que é arte é uma parte sobra da vida sobra de nosso planeta
marte certeza
que nos dá vida nos faz esquece a ordem subentendida: MATE!

MMA

a única coisa certa na vida é a morte então por que esperar pela sorte? por que não partir para dentro para a porrada
esqueça se vai apanhar ser nocauteado pode ter alguma graça pelo menos para descobrir se ainda temos força para levantar

berro

peço espero peço observo peço sincero espero espero espero erro erro erro provecto berro berro berro correto

o Rei

...a importância do contexto?
por exemplo:
uma coisa é comparar os gols do Maradona com os do Pelé
outra
é saber que na hora da encrenca
naquele empate que poderia tirar o título do Santos
os jogadores, todos, ficavam esperando a jogada fatal que o Rei faria (e fez) para o gol salvador

perfume

vi nos olhos do menino a silhueta de um guerreiro das letras e me descobri tirando a roupa da esperança pouca na nossa salvação humanidade tola que procura alimento em momentos em instrumentos de veneno esquecendo quem está perto e desde o nascimento a ama sem julgar humanidade que finge que é super quando é covarde em valorizar a vivacidade fugaz a mentira combinada a sem-cerimônia de piadas de salão nesse mundo cão que poderia ter menos pulgas e mais perfume de verdade

o rabo

...ainda não sei por que escrevo
quando souber talvez pare
talvez me aborreça querer saber o motivo de tudo
querer analisar os fatos e alisar as besteiras do rabo do meu cachorro que é feliz porque vive com seus instintos animais apenas a balançar por aí

a vida

sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e
sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor e sofrimento e amor

cicatrizes

...queria ter morrido de amor
mas seus olhos me amarraram de tal forma de tal forma continuei amarrado e aqui estou amordaçado, por isso escrevendo, senão gritava aos quatro ventos amar-te não quero imaginar-te seria mais fácil quero senti-la ardida magoada ferida pelos meus dardos de sexo sou ferro quente deixo marcas tatuagens imaginárias em carne podre de vida somos duas cicatrizes benditas!

picadeiro

...sou o vento...sou o tempo...sou a chuva...a loucura do momento
não paro não falo não fala repara em mim pois estou passando
estou amando estou sofrendo estou como o tempo parado observando o vai e vem dos desassistidos oprimidos tomando comprimidos diários de esperança sou a pança do palhaço que chora escondido sou o menino que ri às gargalhadas da tristeza-sorriso do palhaço sou o lábio de histórias de circo de memórias divididas nos picadeiros da vida sou a bala caída no chão pisada pelo sapato gasto do velho pipoqueiro pai da malabarista namorada do motorista que também queria ser o vento o tempo a chuva a loucura do momento...

soldados

onde estão os generais que ganhavam guerras com declarações de amor de canhões?
eles se foram por que morreram ou por que nós acabamos com sua munição?
eles se foram deixando saudade de pólvora?
eles nos deixaram mesmo ou somos soldados soldados em memórias de pátrias amadas?

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

planos ou sonhos

...se são sonhos ou planos?
sonhos são saudade de uma coisa não vivida?
são memórias de uma imagem refletida?
sonhos são esperanças de crianças divertidas?
planos são passos dados n'alguma direção?
são divertidos palmos de mãos sãs?
ou
planos são nossos olhos carregando vontades vãs?

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Release Poético

Sabe o que é MPB? Música Popular Brasileira? Músicas e Poesias Brasileiras? Tudo
isso, mas também Marco Plácido Brasileiro.
Poeta e cantor, que em poemas se apresenta.
CRISTÃO
Nascido na Tijuca há quarenta e cinco anos roxo meio torto como o anjo de
Drummond tio bêbado quase se matou de felicidade avó mãe e pai único filho
durante um período o doente da família depois disso tive tudo de ameba a tifo
rimos muito fomos felizes num apartamento apertado de Icaraí mudei aos dez e talvez
isso tenha me dado uma dor mudança de cor tamanho e quem não sabe disso? Vinte
poucos anos depois voltei pai e aflito com meu destino não conseguia parar de me
preocupar aos quarenta a vida não demora a passar e quando dei por mim não queria
mais brincar de nada que não fosse poesia e música onde estavam todos esses anos
em que fui seguindo sem um plano desenganado pelo estamos seguindo como a vida
nos leva e agora que sei o que quero estou achando que ainda espero algo de que
temo o nome meu nome continua sendo marco aurélio cruz plácido filho irmão marido
pai e cristão até quando até quando?

CAMINHANDO E RIMANDO
Nenhum olhar atravessado nenhuma lei nem a do silêncio nenhum carro nenhum
engarrafamento nenhum emprego nenhum desemprego nenhum sim muito
menos um não nenhum montão de coisas ruins nenhuma crítica nem mesmo
um comentário de contrários nenhum podia ser melhor nenhum Bon Jovi nenhum
fresco som da garotada que ainda não sabe que está errada nenhum zero nenhum
universitário seja forró seja sertanejo nenhum realejo nenhum filho de famoso
nenhum colosso de osso nenhuma gravadora equivocada nenhum bando muito menos
uma banda...
De um impulso descobri que podia escrever e numa homenagem ao meu falecido
irmão lancei três livros de poesia, seus nomes já dizem tudo: DENTRO DE MIM,
OCULTO e PRÓPRIO AMOR. Dentro de mim ocultava meu próprio amor e foi o
que me levou a querer expandir meu destino, comecei menino a cantar, mas só
mostrei depois de lançar o CD "Coleção de Besouros", montei banda e em shows - no
Leblon, na livraria Daconde, SESC-Niterói e na Lapa -- vi que podia tentar uma nova
carreira.
Agora, em treze composições estou finalizando o CD "MPB - Marco Plácido Brasileiro”.
Poeta, cantor e compositor.... inteiro, ora pois.

Blog: marcoplacido.blogspot.com

terça-feira, 22 de novembro de 2011

porta-retrato

quando meus dedos deslizam com dificuldade por parte do meu rosto descubro louco que os anos se passaram meus olhos me enganaram e não me deixaram identificar que aquele senhor sem brilho sou eu o grisalho dos meus cabelos lembram um vovô num porta-retrato escondido no armário esse velho sou eu? posso me enganar em ser quem não sou?

assentos

todos sabemos muito bem tudo o que nos machuca aquelas palavras mudas escondidas num guardanapo de restaurante chinês de quinta poderiam nos fazer chorar de amor e no entanto nos separam tanto que nos transformam quase em estranhos (insuportáveis assentos de frente)

o vulcão

por que ainda estamos juntos
quando fendas separam nossas desilusões arrastam um passado de amizade para o lodo do vulcão-solidão-impressão

o louco

o louco afirma tudo
imagina ser real a futura partida de futebol
entre o Santos de Pelé e o Barcelona de Messi
vê realidade na vontade do ponta-esquerda Pépe de chutar forte em direção ao gol do Felipe
(que joga no Flamengo, mas isso é apenas um pequeno detalhe)
o louco afirma tudo e não pode ser contrariado
porque sabe
(Oh! como sabe)
que tudo está nos livros, nos filmes, nos vídeos
apenas se esquece de tentar entender por quê vive só

passado flor

o passado não passou
é um sonho que se solidificou
em mim
tudo está junto
está como a vida de uma flor
que sobrevive à tempestade porque tem raízes

suor

...o desespero é um cheiro
exala o medo
dos animais acuados
marca o chão com pingos d'água do suor de pensamentos enfadados com o próprio sofrimento

os tênis

...chuva linda...
lindo esforço de relembrar o sabor das águas salgadas
doce vida
lindas marcas d'água

o peso dos tênis molhados são dificuldades afogadas

o fim

estamos há alguns dias do fim do mundo
olho em volta
e o medo é absurdo
ninguém se olha
ninguém conversa
ninguém quer saber...

por que o fim do mundo afeta tanto quem não sabe o que é morrer?

nome

nesse exato momento tenho a sensação de que sei por que escrevo esse espaço em branco tem de ser preenchido por relevos terços credos medos sexos nexos...

perto de mim uma letra pisca o próximo nome

acrobatas

quem dera que uma pedra hera de maontanha pudesse ser a solução acaba sendo uma precipitação de lágrimas acaba sendo um deserto de ideias de mágicas empáfias salvo umas rimas acrobatas

bombril

...tenho fome...
tenho fome de flores
das cores farei um arco-íris
com ou sem hífen
farei mil detalhes com bombril
contarei de um a mil
para inventar um rosto
serei um colosso mesmo que de osso...

kriptonita

...o contrário do super-homem ...
acaba sendo o poeta
enquanto o outro realça suas super habilidades
escondendo o medo da kriptonita
o poeta...
o poeta...
acaba sendo...
a kriptonita

sábio

aquele que vejo já se foi de mim
reconheço-me e num instante chego ao fim
de milhares de rostos posso ser um só?
posso me limitar a uma imagem quando todos acham que me conhecem
quem sabe quantos olhares nos refletem?

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Sobre os heterônimos de Fernando Pessoa

"Caeiro tem uma disciplina: as coisas devem ser sentidas tal como são. Ricardo Reis tem outro tipo de disciplina: as coisas devem ser sentidas não só como são, mas também de modo a enquadrar-se num certo ideal de medida e regras clássicas. Em Álvaro de Campos, as coisas devem ser simplesmente sentidas. (Opinião de Thomas Crosse, outro heterônimo de Pessoa, idem posts anteriores).

Álvaro de Campos (heterônimo de Pessoa), opinião

"...com emoções farei só música. Com emoções que caminham para as ideias...fareis o canto. Com ideias só...fareis poesia. Por isso, " quanto mais fria a poesia, mais verdadeira". (idem ao post anterior).

Ricardo Reis (heterônimo de Pessoa), opinião

" a poesia é uma música que se faz com ideias, e por isso com palavras" (idem do post anterior).

Fernando Pessoa, opinião

"Palavras expressam ideias, voz transmite emoção. A poesia, como expressão de ideias, nasce das palavras. O verso, como expressão de emoções, nasce da voz. Em sua origem a poesia era oral, era cantada. A expressão da ideia exige explicação. A expressão da emoção exige ritmo. Comunicar essa emoção é retirar-lhe o pensamento, mantendo essa expressão." (Trecho do Livro Fernando Pessoa, uma quase autobiografia, de José Paulo Cavalcanti Filho).

guidão

único animal em que o tamanho não importa parado apenas com o cérebro escrevo uma ópera de longe um cientista-médico ajuda numa operação um esquimó pode fazer uma canção sobre índios brasileiros que anoitecem com a mata e no entanto não matam minha sofreguidão Picasso com um guidão fez um touro um bigode definiu nossa andança surrealista outro bigode quis acabar com uma nação

domingo, 20 de novembro de 2011

auto ajuda

esperemos as consequências de nossos acertos tênues erros nos fizeram aprender para construir essa nova história algumas falhas na memória nos capacitaram a continuar
tudo diferente dos nobres livros de auto ajuda?

gago e falho

canto com voz de sombra do encanto que vejo nos seus olhos de fado
enquanto sonho falo
amanheço falho de oportunidades
soluço gaguejo cuspes tolos
maculados pelo medo de desconhecer minha própria voz
enquanto canto o encanto de pertencer-te
espero anoitecer-me em seus melódicos braços

tenho...

tenho que ligar
tenho que pagar
tenho que fazer
tenho que acontecer
tenho que rezar
tenho que parar
tenho que me proteger
tenho que te proteger
tenho...
tenho...
tenho...

TENHO QUE PARAR DE TER E SER!

embutida

não há como um poeta inventar uma palavra?
penso
e cansado de tentar responder
penso uma resposta
com outra pergunta
é importante
inventar palavras
ou
é mais necessário descrever sentimentos?

chamada

o botãozinho da imaginação me pegou
mas não é fuga
compreendo cada vez mais essa vida de luta e luto do meu jeito com rimas e apetrechos típicos de um poeta não me iludo somos nós os revolucionários aqueles que chamam as pessoas à fala aqueles que cobram carinho e atenção não só para nós outros mas para todos para nós outros habitantes desse espaço de tempo em que pretendemos marcar nossos passos

brotoeja

ela é erva
eu sou mate
ela é arte
eu encaixe
ela é linda
eu ferida
ela é meiga
eu brotoeja
ela é fruto
eu sou susto
ela é mundo
eu absurdo
ela é minha
eu daninha

simples assim

ninguém sabe o que sinto ninguém sabe o que sinto quando do palco vejo os meninos vendo o esforço do pai empurrando um navio ninguém vê o que eu vejo ninguém vê o instante em que somos o mesmo o mesmo sonho o mesmo sentimento único simples sons simples sins simples assim

sábado, 19 de novembro de 2011

salgadas

desejo olhos são beijos?
em quartos estreitos seremos sempre ondas salgadas?
acumularemos batalhas sangrentas em camas quadradas?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

a vez

"...aos amigos tudo
aos inimigos a lei!"

lema brasileiro?
ou apenas um jeito engraçado de falar a verdade?
em todos os lugares os enturmados têm vez?
ou quem tem talento pode esperar sentado queimando a tez?

saia

não é que seja fácil
mas
as palavras estão penduradas
nos galhos
nos chapéus
nas bengalas
em tudo há vida
na ferida
na cotia
na menina que passa de saia
o poeta apenas repara
repara a saia
repara a bengala
e o sorriso envergonhado da senhora sem graça
que repara no reparo do poeta sem saia

um pastor

um amigo meu é pastor é pastor e me avisou me avisou que um amigo pastor escreveu e não mostrou não mostrou mas escreveu importante solução para um pastor amigo meu

amargo

em olhares vagos me apoiei e passei a criar espaços jamais imaginados pelos desesperados fingidores do doce da realidade do amargo da imaginação

antevisão

será que quem está me vendo agora está se vendo nessas letras e percebe que um poema é só um modo de um homem só envolver-se em palavras ninar-se se dar medalhas premiando uma coragem de criança?

o tombo

quantos estão aí do outro lado julgando-me jogando-se para o alto esperando que o tombo seja só o meu?

condon

algumas vezes me confundem, porque escrevo
algum paspalho
acha que escrever é fácil
é o máximo mostrar carências e absurdos do mundo
é um jogo
com um jogador
jogando alto
jogando fora o fardo de entender-se sem proteção

pinto

as palavras
de vez em quando escapam
criam asas
de palha
Ícaro renascido
um pinto
procurando a mãe
escapa das mãos
de quem
lhe dará alimento
e
algum calor

ironia em tintas

escritores são flores
de um jardim de verdades
mágoas da coragem de olhar cruelmente para as feridas expostas em linhas em páginas
descritas com tintas da fina ironia de um homem só

o circo...

...é perigo para os meninos citadinos que querem voar

marujos

as barcas na baía encontram barcos que não têm uma história brasileira
navegam sem fronteiras desenvolvendo a solidão dos marujos
brutos homens que choram escondidos
enquanto rimo

bondinhos

...e agora que acabaram com os bondes onde se escondem aqueles sentimentos antigos que estavam resguardados pelo barulho dos trilhos?

mendigos

mendigos bêbados têm contato com Deus?
pergunto sem querer ofender
pergunto por não saber quem são os escolhidos quem são os que podem fugir do atrito dessa vida de esquina

folha

sinto saudade
vivo choro grito imploro pelas imagens pelo cheiro pela inteira folhagem da árvore que me criou

folha

invenção

por ser verdadeiro
é inteiro
imenso
na única possibilidade
de ser tudo incrível
invenção de vacuidade

sábio

aquele que vejo já se foi de mim
reconheço-me e num instante chego ao fim
de milhares de rostos posso ser um só?
posso me limitar a uma imagem quando todos acham que me conhecem
quem sabe quantos olhares nos refletem?

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

utopia

alegria dividida
agradável utopia
de dia brilha
à noite soluça de solidão
o brilho dos olhos de alguns poucos é solução

utopias

...mais difícil não é seguir
é seguir com rumo
sendo corrente
de fundo
repleta de algas e peixes
sendo o mundo sorvendo correnteza de gentes
sendo água salgada sem maresia
sendo um mundo de descascadas utopias
encerrando-me ferro
num mar acobreado de pisadas rimas

falidos

vendo o vento interferir
vendo, vejo o olho partir
na direção contrária
à minha aura
ossos partindo
coincidências
resvalando em maledicências
torpes indececências
cênicas
de desalmados
armados
com dentes
falidos

Poemeu "Sendo dor"

A Fernando Pessoa

Sendo dor
sinto os dedos tremerem
os dedos do poeta que geme
a sabedoria de sentir-me presente

os leitores sentem-me latente
dor do poeta entristecido
pela existência que finge
em pingos

que espremo sendo razão
nas calhas de roda
comboio de corda
do poeta que se chama coração

O poeta pelos poetas

Para Keats, um poeta é a coisa menos poética da existência, porque ele não tem identidade.

Para Edgar Allan Poe, todo pensamento, para ser breve, é sentido por cada um como uma afronta pessoal à própria pessoa.

Para Walt Whitman, dentro do homem há multidões.

Para Nietzche, um homem só, só com suas ideias, passa por louco; e meu coração...força-me a falar como se eu fosse dois.

Para Rimbaud, eu é um e outro.

Para Flaubert, Madame Bovary sou eu.

Para Baudelaire, o artista só é artista com a condição de ser duplo; e quem não sabe povoar a sua solidão também não sabe estar só em meio a uma multidão atarefada. O poeta goza do imcomparável privilégio de ser, à sua vontade, ele mesmo e outrem. Como as almas errantes que procuram corpo, ele entra, quando lhe apraz, na personalidade de cada um.

(Trechos do livro Fernando Pessoa, uma quase autobiografia, de José Paulo Cavalcanti Filho).

Sonetinho do falso Fernando Pessoa, de Carlos Drummond de Andrade

"Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
Muitas há que não vi.

Sem mim como sem ti
Posso durar. Desisto
De tudo quanto é misto
E que odiei ou senti.

Nem fausto nem Mefisto,
À deusa que se ri
Desse nosso oaristo, (conversa íntima)

Eis-me a dizer:assisto
Além, nenhum, aqui,
Mas não sou eu, nem isto.".

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Explicações, algumas, do poema AUTOPSICOGRAFIA

"São muitas as interpretações para esses versos. Na maioria, considerando que fingir é qualidade de uma dor que deveras sente, é aquilo que se atinge quando o fingimento é completo -- assim o tem Manuel Gusmão. Ou sugerindo que não se trata de simular, mas de sublimar, que o leitor não sabe nada acerca do sentimento do poeta -- segundo August Willemsen. Ou indicando o reconhecimento da dor como base imprescindível da criação poética, incorporando esse fingimento ao seu próprio estilo -- palavras de Gaspar Simões. Sendo um "fingidor", o poeta não finge, em verdade, a dor que não sentiu, mas, sim, a dor de que teve experiência direta. A dor real ficou na carne, não chegou à poesia. A dor que a poesia exprime é exatamente a que os leitores não têm.". (Trecho retirado do livro Fernando Pessoa, uma quase autobiografia, de José Paulo Cavalcanti Filho.).

AUTOPSICOGRAFIA, poema de Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

a casa

não existem casas
a casa somos nós
habitantes dos vãos
amantes dos sãos desejos amadeirados
apaixonados pelo tom das telhas de nossas cabeças

perdão

concentre a mente no momento presente concentre a mente no momento presente presenteie o momento presente com a mente no momento concentre a mente no presente esqueça o futuro perdoe o passado

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

doce olhar

ainda ontem você me ensinou a rezar e as mulheres à minha volta eram tias ainda ontem conseguíamos brigar e era uma raiva de quem se amava raiva de guardar abraços e beijos para depois ainda ontem esqueci de mim e lembrei do seu doce olhar de menina

seis meses

a última vez que nos vimos tem seis meses aquele olhar nunca acabará em mim nas minhas retinas sua imagem está cristalino um sorriso de querer e não poder abraçar

aquecido

minha mãe como eu não tinha medo de nada não tinha tempo para erratas vivia a vida do modo mais simples amando viver e conhecer os seres humanos que somos amando o tempo com pessoas de carne e osso hoje o vento frio no rosto me lembrou seu olhar de fim e aquecido sigo

um milhão

hoje eu fui numa rua que tinha um milhão de pés um milhão de mãos um milhão de culpas um milhão de desculpas

um milhão chorando solidão

pomba

sede
leão
abraço
urso
pulo
poodle
tamanho
elefante
pescoço
girafa
voo
da paz

colo

colo
oco do ócio
óbvio
sócio
sólido
bolo
fofo
monto
solto
louco
colo

mã(o)s

revolver a terra
germinada em lágrimas
da criança
desesperada
por brinquedos
verdadeiros numa vida real sofrida solitária pela ausência daquelas mãos

revólver

com as pás-poemas revolvo a terra desencavo sentimentos do terreno da infância escondida que precisava de uma brincadeira mesmo com revólver de espoleta

facebooks

os mais velhos criticam os orkuts facebooks da vida mas esses aparelhos como a faca são só instrumentos tanto matam como cortam a maçã do tempo

dores

Solte-as ao vento, perca palavras, não sentimentos...larvas, borboletas com o tempo...

salvador

vi um feto agarrar a mão do médico que acabara de salvar-lhe a vida chorei a emoção do encontro entre seis dedos me fez sentar e escrever que somos os olhos que veem bondades escolhemos quem podemos salvar? então salvemos

domingo, 13 de novembro de 2011

a ira

a porrada comeu alguém se perdeu e não fui eu sempre acho vantagem deixar explicitada a ira alheia com fingimento um inimigo sempre consegue seu intento

vaso

letro lego palavras sem nexo arrumo um motivo para escrever palavrão que não é palavra grande é palavra de emoção da batida do pé na calçada da porrada do cotovelo na pia do banheiro sou um sujeito abismado com o pouco espaço para o vaso nesse banheiros moderninhos

letras

letras sobem somem se escondem de mim de ti letras procurando papel pessoas procurando anel ônibus carro moto viagens viajo sozinho e parado olhando a paisagem de letras formando uma vida cismando em ser palavras proibidas

tributo

as raízes nutrem a frondosa árvore que chora frutos como tributo

tuba

um tombo barulho de tuba fim de festa desafino de orquestra grama em tumba

gruta

no fluxo a vida segue no seu fluxo incontrolável de sustos e rugas lei da gravidade absoluta inexorável como escuridão em gruta

Dom

entre a espada e a loucura
o cavaleiro solitário anda
enfrentando moinhos
enfrentando a bravura de lutar contra o nada
de lutar contra a estrada
contra o vento
de seus transloucados pensamentos
reais pare ele que é de papel

floreios

...um sofrimento...
ver a folha em branco pedindo
implorando uma linha
um rabisco
ansiando
por um fio
de esperança
por uma dança
inventada por meus meios por meus floreios

titãs

"a televisão me deixou burro, muito burro, demais..."
desculpas antecipadas aos que gostam
não me ocupo com a vida alheia
a minha já me dá muito trabalho
a equipe de anjos da guarda
se atrapalha em cuidados
com um cara
irritado com a mania crescente da falta de opções entre cristãos!

assiduidade

não posso temer olhar-me no espelho
(como a maioria
não gosto do que vejo)
não gosto das gorduras adquiridas com o excesso de vida
não gosto do nariz e orelhas crescendo...
mas
me orgulho
das rugas e das olheiras
ganhas
pela extrema assiduidade com que me conheço escrevendo

lição

emociono-me
e a medida em que a emoção se transforma em sensação
eriçando-me
encontro-me comigo e espirro de tensão
escrevo por tensão
e vivo tencionado essa lição

olhares cinzas

uma manhã cinza estimula uma tarde cinza?
uma tarde cinza estimula palavras cinzas?
algumas palavras cinzas estimulam uma noite negra?
uma noite negra não pode ser colorida por estrelas?

(quem terá tempo de olhá-las?)

lenhadores

os nós que queremos desatar são os outros? ou
são nossos desconfortos?
somos talhados para afirmar quem somos? ou
desejamos os engodos que muitas vezes armamos para nós outros sofredores dos entornos?

somos criadores dos fornos que não queimarão nossos laços por falta de carvão?

sensitivos

só somos solitários quando sentimos saudade?

crianças não sabem o que é saudade? ou

sentem mas não sofrem porque desconhecem o nome da sensação?

apoios

com quantos dedos contamos para um explícito apoio?
o polegar saiu para namorar...
o anelar está com problemas conjugais...
o indicador indica mais não faz...
o médio...é médio...
e o mínimo, coitado foi usado para salário...

Forrest Gump

desculpem
não posso perder tempo com contas e vencimentos
que nunca poderiam fazer parte da minha rotina
ainda mais agora
perseguida
pelas rimas
que não me deixam fechar os olhos para inventar uma mentira
a verdade todo dia arde em meu cristalino
olhos de menino num mundo de homens
selvagens porque sem tempo para as bobagens que serão contadas como mentiras aos netos se é que eles perderão tempo com um velho contador de histórias...

sábado, 12 de novembro de 2011

tubarão

àqueles que procuram fórmulas mágicas e genialidade
insisto em dizer
que o talento deve ser diariamente treinado testado no limite da exaustão o talento deve ser cuidado como um pássaro cuida do ninho como um tubarão cuida do seu instinto assassino

assobios

as opiniões agora descansam em paz
por saber-me desprovido de ouvidos
por saber-me destituído de princípios
para seus assobios sem estilo

são paulina

em torno do desgosto
sou fevereiro
contagiante energia de carnaval
sem perder o tino
de que o negócio é sério
é ferro na boneca
não é o tempo-Bahia
é o fermento nostalgia-são-paulina

chicos e caetanos

todos estão fazendo tudo de um jeito um pouco civilizado demais
me parece que estão querendo ser chicos ou caetanos mas isso já passou nem os próprios conseguem ser o que já foram e isso é normal por que não tentamos fazer algo novo sendo nós mesmos?

maré

economizemos as folhas esqueçamos cadernos de anotação escrevamos poemas na areia da praia fotografemosa ilusão antes do instante da maré fujamos da ralé sensação padrão

sucos

juntos somos o sumo da liberdade adquirida entre a familiar sensação de bem querer mucos de vida laranjas espremidas pingando realidades sucos de sonhos de gargalhadas de parque

esbarrão

as vírgulas nos separam, as entrelinhas não nos deixam tocar, os hífens são entraves

tudo que mais quero é o esbarrão do primeiro olhar

gripe

é sempre o som é sempre o som que me leva para a emoção é sempre o som que me incita me excita me provoca pelos eriçados me provoca a garganta seca de tesão é sempre o som do seu coração é sempre a gripe é sempre o grito o exercício da imaginação

estanho

estamos estranhos?
estamos estanho?
protegemos da corrosão... e da emoção?

sóis

enquanto germino a palavra esperança
espera água e carinho
para poder nascer
recebe o sol
com prazer
de olhos que não sabem o porquê
das coisas
mas acreditam
sem precisar o motivo
acreditam e por isso frutificam
em olhares de girassóis
em milhares de si bemóis
que agitam os pés pequeninos de crianças sóis


(que somos nós...)

impolutos

enquanto estivermos juntos
enquanto estivermos mundos
enquanto estivermos fecundos
enquanto estivermos surdos
enquanto estivermos impolutos

JUNTOS

JUNTOS

FUNDOS

MUNDOS

FECUNDOS

TRUCOS

IMUNDOS

CRUZ

Estanhos

Por que não nos amamos
enquanto estamos juntos?
Por que necessitamos brigar?
Por que a rotina invade nossas vidas?
Por que não inventamos canções de ninar?
Por que não nos perdoamos
cantando rimas?
Por que não necessitamos nos olhar?
Por que as palavras saem intranquilas?
Por que não nos amamos
enquanto ainda
juntos estamos?

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

pais

possível paz num mundo em guerra
homens desacostumados a se ver
sem tempo para temer
exercem a liderança empurrados pela necessidade nada santa
precisão de fortaleza num mundo de irrestrita ganância
atores num palco em que se desconhece a palavra sim


pais

todosdas

algunsmeninossãofortessãounidosalgunsmeninosprecisamdasmãostodosdasmães

labaredas

quando algumas palavras entram e te fazem chorar não são palavras são verdades que ardem que ardem

pipa

papel colado com cuspe
em varetas de árvores plantadas
com as mãos fechadas
de saudade
isso é
poesia

mala

quem tem um amigo
é um felizardo
passarinho no ninho
urubu vendo o flamengo ganhar
um amigo é uma outra mão ajudando a carregar mala
pesada sina versada, às vezes
um amigo muitas vezes é o princípio de uma revolução
alimenta aquela palavara que falta...

ninhos

não tenha medo
não sou grande nem pequeno
sou do tamanho dos meus desejos
que ardem em dedos
agressivos em escrever
verdades
árvores
de raízes profundas
com ninhos de passarinhos

velhice

não me olhe assim
cada uma dessas rugas tem uma história
todas contam o colar de pérolas que perdi em cada batalha
mas
sobrevivi
como você pode ver
senti o gosto de terra na boca
(gosto de asfalto)
e levantei...
(e você?)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

tempero

a arte é a interpretação da vida do sentimento do medo do artista como tempero

esconderijo

hoje em dia
onde as crianças podem ter calma?
onde podem brincar de polícia sem ouvir tiros?
onde podem exercer a mínima ingenuidade de meninos?
onde podem se esconder para chorar?

almas

sou feliz?
ou não sei o que se passa na carcaça?
a
caça
foge do lobo
como seus olhos fogem dos meus?
como sua alma foge zangada da luz de lua da minha alma?

suspiro

não existe nada que não seja passado e futuro tudo aqui agora é sopro de ilusão chama ardente no tempo de um suspiro d'alma

fração

li
escrevi
e
venci
o medo...

(de começar a dedilhar
as letras
símbolos
fálicos
que quase me deixou inteiro
mas
fracionado por dentro...)

os os

pretender andar pelas estradas da vida sem ficar com marcas é grande bobagem todos os dias enfrentamos nossos fantasmas e os poucos sins foram conseguidos de desavisados nãos sãos somos todos quando enfrentamos o medo o desejo os defeitos os dilemas os problemas os poemas

vampiro

se quer escrever sem pensar
é melhor falar
se quer crer sem pensar
é melhor rezar
se quer ler sem pensar
é melhor se crucificar

terça-feira, 8 de novembro de 2011

chave

o que eu tenho de escrever
eu escrevo
mas
às vezes
leio

a leitura funciona para destravar a chave do segredo

cordas

sabendo do final da história resolvi mudar o rumo da prosa e começar a dedilhar as cordas das rimas que são lindas na sua ingenidade de falar a verdade que arde em todos nós que fingimos desconhecer como dói envelhecer

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Êxito

A Maykon Rodrigues

Não me excito
Com
O êxito
De
ontem
Hoje hesito...
Para ter amanhã


(“Mosquito”, apelido dado a esse poema pelo homenageado).

OS BEBEÇAS RODGERS (parte 4)

...e os três bebeças se encontrarm...saiu faísca, claro! Ti ago com a história da injeção que acalmava fiofó, ouviu do Nicolas outra tão engraçada quanto...dizia Cage que existia uma injeção de laranja que curava tosse...essa não foi mole! Vivico só ficava sorrindo e balançando a perninha, dançava um roque muito embalado, devia ser da Rita Lee ou do Justin Biba, sei lá! Cada criança tem seu artista preferido, o do Ti ago é a Xuxa! O do Nicolas o pai e o do Vivico é o menino com verruga na bunda!

Júnior

no silêncio da manhã
duas coisas chamam minha atenção
o barulho arrulhado do computador
e o salto assustado de um coração canino apaixonado por um menino

padaria

de repente deu saudade da rotina
aquelas brigas
aquela padaria
aqueles pães sem graça
de repente desejei voltar
só porque você existia

dia de inverno

às cinco da manhã nem vento há
o sol ainda não acordou
a cidade está vazia
de repente um ar de verão se instalou
botando esse dia de inverno para correr
as ruas começam a arrulhar
as pessoas passam de ônibus voando
perto das seis a manhã já está em sua rotina
as pessoas respiram porque têm de respirar

a brisa vazia vem me chamar

domingo, 6 de novembro de 2011

O PALHAÇO

A Selton Mello


Mais uma alma salva na delicadeza da calma nem sempre há graça no palhaço a lágrima que escorre invisível mostra a gravata borboleta dilacerada entre o mundo real e as fortes cores da ilusão da lona do circo menino grande o palhaço esboça nossa esperança em pequenos gestos gigantes de amizade tão reais que escondem sua mágoa com as dificuldades circulares da vida

sábado, 5 de novembro de 2011

encruzilhada

querem me amarrar em segredos vividos na ilusão de pedreiros de muros de flores viciadas querem me prender com as amarras de coloridas velas quebradas falsas chamas de fósforos emprestados querem me parar como param um carro desgovernado numa encruzilhada

ilusionistas

ilusão é escrever sobre fatos da vida real por metáforas ou viver esperando viagens interplanetárias?

aceitação

como é ruim fazer arte?!
se sou expressamente do meu jeito e ainda sou aceito...

carvão

instrumentos introdutórios é o que são as palavras apresentam o âmago da questão o carvão das ideias a chama interna de um poeta

Pessoa (ainda) Soa

"Quando era criança, o circo de domingo divertia-me toda semana. Hoje só me diverte o circo de domingo de toda semana da minha infância."
Quando o palhaço chora, o circo sou eu
Quando o leão ruge, o circo sou eu
Quando o picadeiro depois de cheio fica vazio, o circo sou eu

Pessoa Soa

"Deus criou-me para criança de deixou-me sempre criança. Mas por que deixou que a Vida me batesse e me tirasse os brinquedos e me deixasse só?"
Fez isso e se fez não é Deus, amigo, é o destino que ficou para nos guardar!

VIRGÍLIO, poema nata

"A alma treme só de lembrar" (Virgílio)
do tempo em que o tempo era calma
do tempo em que o tempo era leite com nata...

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

casulo

todos os erros registrados no papel arrumei um maço de problemas e uma tonelada de experiências acumuladas que acabaram desaguando em novos filhos que me levaram a escrever ainda mais aflito sobre o risco de temer errar que transformou poemas em melodias...

harmonia

vamos sair para dançar?

mas

onde estão as músicas de nossas vidas?

onde encontro as melodias que relembrem nossa harmonia?

súmula

...é de suma importância ouvirmos todos tudo pode modificar nosso modo de raciocinar as estatísticas provam muito do que estamos a estudar...patatipatatá... pá daqui, pá de lá

(subterfúgios para adiarmos aquilo que temos que fazer...)

egípcio

aquele rosto egípcio fotografado num quadro de vaidades me lembrou o meu rosto acordado por um mar de ardentes tardes

última ruga

...de passagem...
todos estamos de passagem
sem massagem nos pés não vale a pena ficar
sem passagem que nos estimule a viajar pelos caminhos da mente da enchente de águas da cachoeira da história, própria
de passagem estamos todos e cada dia é um milagre acordarmos respirando instintos estimulando cuidados clínicos para continuarmos meninos até a última ruga

garças

minhas músicas devem a vida à métrica dos poemas
devem ser gratas
como as garças à lagoa
como os filhos aos mestres
como os poetas aos problemas
que nos dão medo
e por isso escrevemos

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

OS BEBEÇA RODGERS (parte 3)

Ah! Geralmente as maiores traquinagens eram idealizadas pelo menino de verruga na bunda, que, para alguns, tinha o apelido de Pimentinha. O bichinho não parava quieto, pulava o dia inteiro. De cá para lá, de lá para cá. Quando estava animado, que era sempre, jogava bola, comia, bebia, falava, falava, falava pelos cotovelos. Doido para aprender a escrever, sofria tentando ler tudo que era letra, as figuras não tinham mais graça, as figuras, agora, eram caretas. Como seu avô que sempre brigava com ele quando ele não queria comer feijão. O danado comia de tudo, mas implicou com o coitado do feijão. Que chamava de ruimzão!

filósofo

inevitável
sou meu passado
minha mãe cantava
meu pai tocava violão
um tio avô escrevia
minha avó vivia cercada de artistas

a vida é uma sequência diz meu sogro filósofo português

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

no mínimo onze

aprendemos desde muito cedo a contar
mas
continuamos contando errado
um e um não são dois
são vinte e dois motivos para uma briga
quatro mais quatro
pode ser oito que deitado é o infinito de soluções impensadas
um solitário
se tiver imaginação
transforma sua responsabilidade em inclusão

de Drummond

preciso de Drummond
como um viciado precisa de ar
como um político precisa de lar
como um mineiro precisa de mar

sangue

...contra os céus
o mais puro humano sangue pingando na terra de nossas preocupações

...poesia

tintureiro

um pintor
pinta com tintas
um poeta
pinta com sombras de despedidas

rimas e despedidas

esse cara que senta na frente do computador para escrever é igual a todos vocês que estão aí do outro lado apenas um pouco mais calejado, treinado em dispor das letras, como um professor dispõe das cadeiras numa sala de aula esquecido das repercussões que possam ocorrer das opiniões que possam fazer ligado apenas no fato de estar digitando uma parte da vida que acaba tendo menos rimas e mais despedidas

primeiras letras

escrever é fácil
sentir é que é difícil

quando quero escrever sobre saudade lembro das pessoas que partiram me deixando solitário em lágrimas
quando quero escrever sobre felicidade lembro dos olhos dos meninos ganhando um presente inesperado no Natal
quando quero escrever sobre escrever lembro de mim começando a soletrar as primeiras letras

relógio

para o poeta
aos minutos se somam seus atributos
qualidades e defeitos
são os ponteiros do relógio da vida
em poesia

apontadores

todos sonham
e os poetas é que são loucos

justamente aqueles que registram os sonhos..?

lúcido

com a rapidez
da palavra exata
com a robustez
da palavra mágica
com a lucidez
da palavra lágrima

poetiso porque sem poesia a vida é apenas fantasia

suco

numa sociedade de consumo
tudo é consumido
o gesto
a palavra
o olhar
tudo é rápido e mal mastigado
digerido
como um suco
tomado no armário
sem luz
sem brisa
sem sol

tudo é cruel porque cruéis somos todos

herança

tudo aquilo que Drummond perdeu
porque morreu
acabou pequeno por sua falta
a simplicidade
rara de suas palavras
retirou a magia da vida comum
transformou em pó
pétalas
da flor-poesia
que ele cultivara
como herança de
um simples gesto

preconceitos

quem abre mão do tempo
desconsidera o contexto
universal
sem tempo para reflexões
as verdades são espelhos dos preconceitos

o o

quando nada te faz feliz
você é um infeliz
quando o nada te faz feliz
tudo já está explicado

brasões

capas de livros
não são
invólucros
capas de livros
são brasões
históricos!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

heráldica

exímio arremessador de facas poéticas rimas enfáticas fátimas de crianças catárquicas exata noção de fluência heráldica

to be or...

quer se ver livre?
ou
quer se ver livro?

quero-quero-quero

uso hífen quando quero
quero-quero-quero-quero
uso hífen quando quero
não me interessam sou do tipo
as-regras-só-servem-àqueles-que-se-esquecem-de-descobrir-a-matéria-poética

conjugação

não exijas solidão de pessoas dedos-entrelaçados
corpos-ardentes-para-sempre
exigirão
a correta conjugação

amanteigado

nada aqui é feito de improviso faço rápido mas é resultado de muita dor e de muito pensar peso os ingredientes dessa torta maneira de me expressar e expresso imprimo me interesso por tudo por todos os momentos aqui nada é passageiro fica tudo registrado na retina de um olhar de um olhar amanteigado pela esperança de dias rimados

Rio de Janeiro

cenário de meninos batedores de falta nas areias da praia de Icaraí nada ali amedronta porque imagem parada irreal cadência, ardência, demência de figuras acostumadas aos movimentos das estrelas

fios

sua colcha de medos foi costurada em quantos segredos?

alaranjados

alguns eleitos elegem eleger outros eleitos e descartam pelo nascimento os de pouco talento verdes para eles
os amarelos eleitos são eleitores de uma cor alaranjada pela vermelhidão descarada de seus medos secretos

armadilhas

a vida é fácil
o difícil na vida é não se entregar às dificuldades
não aceitar as bobagens que acabam se fixando nas nossas cabeças de crianças crescidas
ignorantes por não ignorarmos todas as armadilhas divinas, cretinas, amigas

ao relento

...esse cheiro de sentimento
na verdade é de um desejo
desejo de ser melhor
desejo de ser paciente
desejo de conseguir ver os meninos crescerem
desejo de comer a maçã do tempo
e de não precisar temer o relento
desejo de não precisar de um coberto para aquecer minhas vergonhas...

Carlos Drummond de Andrade -- Homenagem, Poema Minas

Agora te entendo
agora também já tenho segredos
ouço a voz do vento
(sua voz fina)
buscando meus pensamentos...

(agora já sei por que escrevo)

agora já consigo chorar
escrever aquelas palavras tão duras
de vidas
desgastadas que para os outros são cascas
e para nós outros
são
Minas...

OS BEBEÇAS RODGERS (parte 2)

Os Bebeças Rodgers, eram Bebeças, porque tinham cabeças inteligentes, e Rodgers, porque achavam que podiam fazer de tudo, típico jeito de crianças dos dois aos oitenta anos!

Ti ago tinha dois irmãos. Cocozinho parrudo e Apaca. Cada um com sua mania, um cuspia, o outro só pensava em falar Apaca. Era apaca isso, apaca aquilo... Não entendeu, já explico, tipo: Apaca vai chover, Apaca não quero... Por que fazia isso? Sei lá! Ah! o outro adorava sabiá!
Cage, Nicolas Cage adorava carrinhos, implicava com um vermelho, seu preferido. Abria o maior berreiro se algum dos outros artistas de sua banda de rock imaginária se metia a querer brincar com aquele seu objeto de velocidade. O moleque com aquele carrinho fazia cada arte!
Vivico era o menorzinho e por isso mais paparicado pelas primas, esperto fazia cara de santinho, se abandonava em gargalhadas, enquanto planejava alguma traquinagem... (continua num próximo episódio).