domingo, 12 de dezembro de 2010

AZOUGUE 10 anos -- Gerardo Mello Mourão

Na entrevista:"...Toda a filosofia de Heidegger está fundada em cinco proposições de Hölderlin. A primeira é essa: a poesia é a mais inocente das coisas. Dentro da linguagem de Heidegger o que é inocente? É unschuldig, não-culpado. A poesia é a coisa menos culpada, não tem pecado original. Inocente na nossa língua latina é inocere, é o que não faz mal. A poesia é a única que não prejudica nada nem ninguém. Mais adiante, Heidegger se fixa num outro texto de Hölderin, afirmando que a poesia é a mais perigosa das coisas. Porque ela pode deformar, matar e liquidar com a simples enunciação de um nome. A poesia quer nominar, dar o nome verdadeiro das coisas. Nominar, denominar, dar o nome verdadeiro. Se você der o nome errado às coisas você está matando. Se eu chamar um gato de tigre estou matando o tigre e estou matando o gato. Por isso a poesia nomina as coisas. A grande poesia, seja grega, alemã, todas elas gostam de nominar. O Rilke dizia, num dos Sonetos a Orfeu, "cantar é ser". A coisa passa a ser quando você pronuncia o nome dela, quando você a canta. Cantar é ser. Tirando daí você prejudicou e falsificou o ser. Daí a importância dos nomes de cada coisa. Alguns grandes poetas repetem, repetem, repetem o mesmo, o que é um reflexo da realidade que é a poesia. Que poesia escrevemos, que livro pensamos nós podermos escrever? Todos nós pensamos em escrever um livro. Alguns mais ambiciosos pensam em escrever um grande livro de poesia. Na verdade só há um livro a ser escrito, como queria Mallarmé. Só há um livro. Todos nós trabalhamos para fazer esse grande livro. E alguns de nós teremos balbuciado algumas linhas desse grande livro.".

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