domingo, 31 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 31 de agosto de 2014 -- um artista



um artista

Esse artista tem um desespero no peito
Um jeito de olhar ao mesmo tempo insano e infantil
Carrega em si a experiência, pela idade
Mas não abre mão de fazer-se ilusão
Cativa emoção quando chora em palavras
Canta a saudade que não basta que não passa que não tem lugar para ficar
Esse artista que pinta o sete fazendo arte sabe que sonhar é só para quem acredita em si em algo em notas tintas rimas e pinta uma saída intensa contra o esforço de fechar os olhos para descansar...

sábado, 30 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 30 de agosto de 2014 -- Maré Miles



Maré Miles

À memória de Miles Davis

Quando Miles tocava
O tempo parava
Porque sua angústia era dividida
E assim se perpetuava
Nuvem de sons
Sons de embarcações fantasmas
Palavras arremessadas num vidro de óculos
Retina de instintos que trazemos mudos e com medo
Quando Miles soprava
Assoprava perguntas que nuas nos desnudavam
Nadavam em mentes que coitadas tentavam não morrer sufocadas por tanta maré
Quando ele determinava o som da vida só havia a condição de como náufragos tentar sobreviver

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 29 de agosto de 2014 -- pés



pés

Duma imagem que vi no face...

uma bailarina
desfolha a solidão:
um pé diz sim
o outro diz não
uma canção
escorre de seus olhos:
PAIXÃO!
quando iremos descansar de sua pirueta?
da seca folha
nasce a possibilidade
do ar na árvore
e ávida a bailarina nos avisa sobre a
velocidade da vida

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 28 de agosto de 2014 -- brisa azul



brisa azul

...e a vida já me ensinou a perder
o sol continua o mesmo
as nuvens também
só eu nublei
absorvida toda infância
concentrado nas infâmias
diárias
diários
escritos escondidos no quarto
se partiram
me parti
(partirão?)
em tantas palavras parecidas
roxas rosas amarelecidas
estragadas estragadas em azul
sempre em azul em azul silencio
sempre em azul silêncio mantenho um sinal de esperança escrevendo

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 27 de agosto de 2014 -- pó de terra



pó de terra

Nascemos livres dos compromissos sociais
Crescemos olhando o céu o sol o mar
Um pouco mais tarde passamos a aproveitar a natureza
Sem nos sentirmos parte
Usufruímos dela e não aprendemos a cuidar dela que faz parte do nosso DNA
Mais velhos achamos inclusive bonito arranhá-la com sons sujeiras canivetes em árvores que não pedem para ser testemunhas de amores que se vão
Depois nem olhamos o céu estrelado não temos tempo estamos ensimesmados com tanta preocupação que compramos e seguimos ansiando por algo que não sabemos o que é e se tivermos fé um dia alcançaremos o paraíso que negamos desde o início?

terça-feira, 26 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 26 de agosto de 2014 -- tigre triste



tigre triste

somente quem tem a capacidade de ser feliz por um mínimo segundo que seja pode se arriscar a escrever sobre a tristeza o risco é de se deixar sofrer com o sofrimento que existe quando na verdade devemos apenas identificá-lo e amá-lo como a um tigre triste tristes domadores da fera em riste que trazemos firme dentro de nós os tristes profissionais sucumbiriam à primeira lágrima sofrida que parece amor mas é piedade de si mesmo pior sentimento inventado que temos (melhor se enganar e amar (-se) até a última lágrima)

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 25 de agosto de 2014 -- O beijo



O beijo

Vendo um quadro que pintei...

Num ambiente altamente azul
Porque pintado
Um beijo está sendo dado
As apostas falam mais alto
E acham que são dois monstros
Pretendendo se engolir
Acho um beijo doce entre dedos gêmeos de alma
Acho e quero entender ser o amor exalando calma
Exalando a possibilidade rosa D’ele existir

domingo, 24 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 24 de agosto de 2014 -- banho-maria



banho-maria

É do despertar que a arte fala
É da ausência que cala
Que passamos a precisá-la
Assá-la em banho-maria
Em banhos de marias josefinas adrianas beatrizes
A arte serve para que nos limpemos de todo o mau-agouro horrendo
Vendido pelos vendilhões do templo como sendo ouro
Quando quem é de ouro prata e bronze somos nós
Homens mortais sabedores de que é a essência do nosso cheiro que vendemos mesmo sem querer (e, preciso falar: NUNCA VENCEMOS!)

Então porque ao invés de matar o que temos por dentro não pintar o tempo inventando na vida cores de sabor?

sábado, 23 de agosto de 2014

Música: Manhã (Tom Marques /Marco Plácido)



Manhã

A
Esta manhã deveria ser única
Nós deveríamos ser únicos também

Esta manhã deveria ser longa
Nós deveríamos ser longos também

B
A falha da vida é que ela acaba
Por isso choramos amamos tão bem

C
Pintamos enfilhamos suamos histórias
Rimamos cantamos desejando histórias


Pintamos enfilhamos suamos histórias
Rimamos cantamos amando os Beatles também

Música: Talvez (Tom Marques/Marco Plácido)



Talvez

A
Quando cai a noite é sinal de um amanhã talvez
Quando chega o dia é sinal que eu vou te ter talvez
Se a vida é de incertezas quero ter a certeza de ser alguém

E sendo estar com você  X2

B
Quando cai a noite é sinal de um novo espanto talvez
Quando chega o dia é sinal que a noite serenou sem

Sonhos que são desejos
Desejos que são emoções X2

Quadro: DES (equilíbrio) -- 50 X 50 cm, tinta acrílica


365 dias com poesia, 23 de agosto de 2014 -- sobreviventes



sobreviventes

Certo está que quando o quando chegar desapareceremos
Ninguém conseguirá nos olhar ninguém conseguirá nos escutar ninguém Conseguirá apertar nosso peito contra o próprio peito
Num abraço sentido
Ninguém conseguirá se interessar por nós
(sim, só quando morremos sobrevivemos)

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 22 de agosto de 2014 -- felinos



felinos

A Victor Plácido, aos 18 anos

Não tema nada
Seus olhos, juntos, podem transformar o mundo
Suas mãos, juntas, podem voar e inventar o azul do pássaro que está voando
Seus pés, juntos, podem fazer da areia castelos
Nosso amor, mudo, está do tamanho da melodia do cello
Tocando a música do mundo que fez faz fará cinco dançar
Signos felinos da história que vivemos inventando sorrisos

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 21 de agosto de 2014 -- estação



estação

...está começando a clarear aqui dentro...
Clareia com sobras da areia da construção do muro futuro que intuí
Agora só falta escolher a cor para esconder o barro-terra parecido com tudo o que vivi
Muito provavelmente será um muro azul
Da cor do céu da cor dos olhos de Beatriz
Com as beiradas perto da mata pintadas de amarelo ouro
Brilho duradouro que as crianças acreditarão
Nunca serão proibidas mensagens de amor
Até porque poucos e bons tentarão
E assim as nuvens não mais me assustam
Porque agora sei que a chuva é apenas parte duma estação

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 20 de agosto de 2014 -- buquês



buquês

após dez anos de anestesia
(morte palavra proibida)
a vida me apresentou uma saída depois de muita sofreguidão
muitos poemas vomitados
(transformei mato em adubo)
colho buquês dos entulhos
colocados à minha disposição

(o cheiro das flores não me deixa mentir)

terça-feira, 19 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 19 de agosto de 2014 -- geleira



geleira

Vendo um quadro que pintei...

E essa água gelada de lágrimas
Apagou o que de mais sincero existia em você?
Quantas vezes nos perguntamos por que erramos sem saber a que mãos recorrer?
Existe algo que possa um verso apaziguar?
Com quantas rimas terei que inventar-me em si?

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Partindo alto (Música: Antonio Mario/Letra: Marco Plácido)

assim que vc me deixou
pensei em morrer
mas mais interessante seria ser feliz
melhor vingança
sorrir pra vc
e te ver desejar me ter outra vez 

agora
que já te fiz sofrer também
quero que vá embora
pode desistir
nunca mais nossa vida 
será aquilo que sofri

365 dias com poesia, 18 de agosto de 2014 -- bengala



bengala

À memória de Emily Dickinson

Solto – nas correntes da loucura
Contesto o perigo
Nisso a maioria me apóia? – Não corre o risco!
Tenho ótimo senso -- de solidão
Não discrimino -- o apoio da bengala é abjeta sensação!

domingo, 17 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 17 de agosto de 2014 -- cicatrizes



cicatrizes

Ouvindo Milonga del angel, de e com Astor Piazzolla

Um anjo chora...
Será de amor?
Será de pavor do monstro de olhos enormes da vida real?
Um anjo chora
Choro também
De amor ódio urgência
De carência da falta de sombra da mãe-árvore que se foi e nem acariciei seus cabelos...
Nesse dia frio esquento-me nas recordações mais lindas tomo um chá quente
Aqueço as mãos digitando solidão...

(algumas rimas como algumas pessoas são raras pena que acabam como todos nós...cicatrizes)

sábado, 16 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 16 de agosto de 2014 -- Minotouro



Minotouro

Picasso era o Minotauro
Não temia nada nem ninguém
Não havia toureiro que o enfrentasse
Até porque o único que ele reconhecia
Era Matisse, o Minotouro
“Quando ele se for não háverá mais ninguém”, disse o Minotauro
“Só ele me entende”, disse o Minotouro
Dois homens que escolheram retratar
A natureza selvagem da existência humana
Um com cores, o outro com amores

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 15 de agosto de 2014 -- colecionador



colecionador

De cada poema lido, antigo
Retiro uma palavra, símbolo
O sentido se houver foi por sorte
Porque o que pretendi foi apenas guardar cada palavra
Como guardo cada momento de um olhar d’amor

Am’olhar d‘amar

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 14 de agosto de 2014 -- derivada



derivada

À memória de Eduardo Campos

A verdade verdadeira:
Controlamos pouco nosso destino
Então como querer controlar o processo criativo que deriva diretamente do medo do precipício?

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 13 de agosto de 2014 -- Jung



Jung

Vendo um quadro meu...

na parede da caverna que inventei com roxo e amarelo
pintei em três pequenos quadros
um olho uma barriga e um pé
ruminei por dias para tentar conseguir
algo parecido com o que foi feito há cinco mil anos
por parentes distantes ofegantes com a angústia mesma que tenho
como não temos algo em comum?

o mundo continua crescendo e nosso medo continua o mesmo

terça-feira, 12 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 12 de agosto de 2014 -- doloridos



doloridos

À memória de Robin Willians

O chão está pintado porque os quadros estão pintados
Várias telas aqui do lado do meu computador me espremem se espremem e fedem tintas secam secam lágrimas que se foram em imagens inexatas
O colorido engana ilude a solidão sãos (?) somos todos pedantes fingidores medrosos atores de vidas medíocres que só sorriem quando coloridas...

domingo, 10 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 10 de agosto de 2014 -- céu de verdade



céu de verdade

Aos meninos: Vinícius, Victor e Thiago e ao meu pai: Jorge

Quem não tem não sabe
E nunca vai saber se não tiver
Um filho é uma extensão sua
É você sendo de novo
Errando acertando tentando de novo
Nova oportunidade
Por isso arde
Porque é você de novo não sendo você
Um pouco de novo em outro ser
Doendo
Vivendo a vida que você já errou
Podendo te imitar ou acertar e ao acertar
Sendo o céu de verdade
(ou o inferno da vaidade)

sábado, 9 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 09 de agosto de 2014 -- quadro verde



quadro verde

Vendo um quadro que pintei...

Um quadro verde
Está marcado pela dificuldade
Arranhado pela maldade
De querer pintar sem saber
Um quadro verde está queimado
Como a mata avariado como a mata arriado como a mata
Que não mais existe mas por isso ele deve existir

(Essa é a dor de pintar algo de memória...)

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Quadro: dor -- 50 X50 cm, tinta acrílica


Millôr Fernandes, sobre manchetes



MANCHETES – Se você gosta de aparecer, roube, mate e esfole. As manchetes não se interessam pela virtude, nem pelo bom comportamento.

Millôr Fernades, sobre nepotismo



NEPOTISMO – Democracia relativa: relative democracy. É isso aí, bicho; em inglês fica mais claro: democracia dos parentes.

Millôr Fernandes, sobre o pós-modernismo



PÓS-MODERNISMO – Mancha de tinta ou gordura sobre o assoalho sai facilmente com um bom detergente. Caso porém não saia, corte-a com serrote, enquadre-a numa moldura bem escrota e envie-a pra Bienal de São Paulo com um título bem genial. Sugestão: Assoalho.

Millôr Fernandes, sobre o movimento punk



PUNK – Punk? Punk? Pra que tanta pressa, garotada? Aos poucos todo mundo vai ficando punk...

Millôr Fernandes, sobre a invenção da roda



RODA – A invenção da roda foi de importância relativa. A ideia genial foi botar uma carga em cima da roda e, na frente dela, puxando a roda e a carga, um homem pobre. Inventava-se, ao mesmo tempo, a tração animal e o proletariado (Peça A história é uma istória).

Millôr Fernandes, sobre Sancho Pança



SANCHO PANÇA – A verdade é que, apesar de todo seu sacrifício, conformado heroísmo e fidelidade absoluta a Dom Quixote, nunca ninguém disse que Sancho Pança era quixotesco. (Em tempo – Donkey – pronúncia dônqui – burro em inglês, vem das duas primeiras sílabas do nome do herói de Cervantes).

Millôr Fernandes, sobre segurança



SEGURANÇA – Se você não atravessar a rua, dificilmente será atropelado; se não entrar num avião, é quase impossível que um avião lhe caia em cima; se evitar correntes de ar, terá menos resfriados; se não prevaricar, manterá mais firmemente a harmonia do lar; se não beber, cometerá menos desatinos; se gastar menos do que ganha, terá sempre uma reserva para os dias difíceis. O preço da segurança é o eterno saco.

Millôr Fernandes, sobre viagens



SÍNTESE – Hoje uma pessoa pode sair da violência de São Paulo de manhã, estar à tarde num choque entre a polícia e os estudantes de Paris, e ainda chegar a tempo de ser assassinado num metrô de Nova York antes do sol raiar.

Millôr Fernandes, Novocabulário



Semeliante é idêntico ao criminoso. Curajoso é um padre sem medo. Fâmigerado é um admirador facínora. Identeficação é o reconhecimento feito pelos dentes. (Novocabulário. Eufonia hereditarada e prosódia sem prosa. 1958)

Millôr Fernandes, sobre a vida



SUBPRODUTO – Com tantos livros profundos, sábios e poéticos, com tantos filmes brilhantes e emocionantes, com tantos programas elegantes na televisão, por que vocês ainda se preocupam tanto com essa porcaria cotidiana que é a vida?

Millôr Fernandes, sobre a superioridade feminina



SUPERIORIDADE – Há muito está estabelecido; as mulheres são seres superiores. Vivem mais que os homens, têm dos seios que fazem sucesso infinitamente maior do que os nossos testículos – será por que não aprendemos a enfeitá-los com suporte de rendinhas? – agüentam melhor dieta pra emagrecer, jamais esquecem de exigir alimentos quando se separam, não têm problemas na próstata e nem se importam se o sinal está verde ou vermelho. Por que estou escrevendo isso? Pra isso mesmo – pra mostrar como o homem é fraco. Pra mostrar o perigo de reivindicações feministas exageradas acabarem matando o galinho dos ovos de ouro. (1981)

365 dias com poesia, 08 de agosto de 2014 -- Alguns



Alguns

Alguns voam
Alguns louvam

Alguns bebem
Alguns enlouquecem

Alguns isso
Alguns aquilo

Alguns correm
Alguns entopem

Alguns esquecem
Alguns escrevem

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 07 de agosto de 2014 -- Naturalmente humanos



Naturalmente humanos

É como se homens soubéssemos que não precisaríamos roubar mentir matar e dessa certeza pudéssemos estender as mãos e com um sorriso não receberíamos nada que não fosse um abraço um abraço da vontade de abraçar a vida a coragem o amor e tendo amor expressaríamos esse amor amando por gestos olhares frases muitas vezes sem nexo mas que floresceriam nos ouvidos de todos os que quisessem acreditar (e todos quereriam) animais humanos irmanados com a natureza de sermos quem somos...

(...um poema, escrito cantado pintado)

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

365 dias com poesia, 06 de agosto de 2014 -- famiglia



famiglia

Alguns me perguntam o que é mais importante para mim
Respondo de pronto e sem hesitação:
Meus poemas fazem parte da minha família!